Evolution: Parte 3 escrita por Hairo


Capítulo 8
Sonhos e Pesadelos


Notas iniciais do capítulo

Aqui começamos uma nova fase em Evolution, com Dave e Jake tendo de viajar sozinhos. Gostei da ideia de explorar esses dois, principalmente o Jake, que vem sendo sempre deixado nas sombras do Dave e da Mindy, ou da MJ.

Espero que vocês gostem.



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Capítulo 8 – Sonhos e Pesadelos

A escuridão o envolvia novamente, mas Dave sentia-se em casa naquele vácuo flutuante. Uma sensação de conforto familiar percorria seu corpo enquanto ele voltava a se encaminhar diretamente para a mesa negra parada no centro de todo o infinito. Dessa vez, porém, o menino estranhou o conteúdo da mesa. Onde normalmente havia quatro, restava apenas uma, a com o brilho amarelado, terceira da esquerda para a direita.

A pedra brilhava mais intensamente do que sempre brilhara, forçando o menino a tomar um segundo para sua vista se acostumar à luz, mas ele não sabia bem se deveria ou não se preocupar com o restante. Onde, afinal, teriam ido elas? Algo o convenceu que deveria se interessar pelo paradeiro das outras pedras, mas não sabia nem por onde começar a procurá-las. Subitamente tudo a sua volta estava muito mais escuro do que o normal. Decidiu então pegar a única pedra que lhe restava na mesa.

Aconchegou-se com o familiar e reconfortante surto de energia que a pedra fez jorrar pelo seu corpo, mas percebeu que dessa vez tudo estava mais forte. A corrente fez com que todos os pelos no seu corpo se arrepiassem e o menino tentou, sem sucesso, largar o objeto. Em vez disso a rocha se prendeu a sua mão e brilhou ainda mais forte, quase o cegando. Percebeu então que com aquela pedra nas mãos teria a energia e a luz que seria preciso para procurar as outras.

Distanciou-se da mesa e começou a percorrer a escuridão profunda com o braço estendido à sua frente. A luminosidade da pedra era forte, mas tudo o que o menino via era o preto sem fim. Foi então que ouviu um barulho familiar e viu que Eevee o seguia de perto, aparentemente muito preocupado. Parou e esperou que o Pokémon lhe alcançasse. Ele se agachou para cumprimentá-lo sorrindo, mas a pequena raposa marrom parou a poucos centímetros do braço estendido de Dave, olhando fixamente para a pedra brilhante em sua outra mão.

– O que houve rapaz? – disse Dave, dando um passo na direção de seu amigo. Eevee, porém, também recuou – Do que você está com medo?

Dave deu mais um passo a frente, mas Eevee deu outro passo atrás e mostrou os dentes desafiadoramente, assustando o menino. Dave ficou de pé sem saber o que pensar. O que está acontecendo?! Foi então que ouviu algo estranho atrás dele. Quando se virou o garoto se deparou com Mary Jane olhando debochadamente nos seus olhos.

– Tão tolo... – disse ela

– O que você fez com as pedras?! – disparou o menino, raivoso. Sabia que ela tinha alguma coisa a ver com o desaparecimento das pedras - O que você fez com o Eevee?

– Não fiz nada Dave. Até deixei uma pedra para você... Todo o resto você perdeu sozinho – disse a menina, começando a rodear o menino.

– Mentirosa! Traidora! Você roubou minhas pedras!

– Eu não roubei nada Dave. Você que tem a predisposição a deixar tudo o que gosta se afastar de você. E agora até o Eevee – A garota parou ao lado do pequeno Pokémon marrom, fez-lhe um suave carinho e o pegou no colo.

– Larga ele! – disse Dave, assustado.

– Você quem pediu...

Mary Jane riu e lançou Eevee para o vácuo da escuridão. Dave tentou segurá-lo, mas não foi rápido o suficiente e ele sentiu seu amigo passar a centímetros da ponta de seus dedos. Um buraco negro se formou em meio ao nada e Dave viu enquanto Eevee era sugado lentamente pelo vazio. De repente, sentiu passar por si, em grande velocidade, as três pedras que tanto procurava. Primeiro a verde, seguida pela azul e por ultimo a vermelha. Tentou segurá-las, mas elas estavam rápidas de mais. E então, sem que ele pudesse explicar como, ouviu Jake gritando ao longe, enquanto a figura do menino de repente surgia sendo sugada pelo buraco negro.

Os olhos do garoto já estavam cobertos de lágrimas quando ele perdeu o ar. Tudo porque a poucos centímetros dele uma menina de cabelos morenos se materializou e lhe sorriu. De repente ele teve esperanças novamente, mas a menina se assustou com alguma coisa. Seus fios de cabelo começaram a flutuar para trás e ele sentia o corpo da menina se afastando aos poucos enquanto o pânico tomava a sua feição. Logo em seguida foi sugada também pelo buraco negro.

– Dave! Dave socorro! – gritava ela enquanto era sugada.

– Mindy! Mindy não! – berrava Dave enquanto ouvia ao fundo a voz de Mary Jane rindo divertidamente.

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– Dave! Acorda Dave! – berrava Jake agachado ao seu lado, sacudindo o amigo – Acorda!

Dave abriu os olhos e sentou-se com o coração disparado em seu peito. Arfava pesadamente como se ele tivesse acabado de correr alguns quilômetros. Estava ensopado de suor. Jake caiu sentado com o súbito despertar do menino e olhava para ele assustado. O dia estava claro, mas obviamente as primeiras horas da manhã ainda não haviam passado, pois a fria brisa da madrugada ainda fazia as folhas balançarem e os pelos dos meninos se arrepiarem.

– O que houve?! – perguntou Jake, alarmado.

– Nada. Nada, foi só um pesadelo – disse Dave, ainda tentando recuperar o controle sobre si mesmo. Eevee se aproximou do amigo e deitou em seu colo, deixando que ele o acariciasse enquanto se acalmava. Dave agradeceu profundamente. Tentou se conter para não agarrar o Pokémon, com medo de que ele desaparecesse sem explicações. Será que eu estou ficando maluco?

– Um pesadelo com a Mindy? – perguntou Jake, insistindo.

– Como você sabe? – perguntou Dave, assustado.

– Ora, porque você estava gritando o nome dela há cerca de dez minutos – explicou o rapaz, como se fosse óbvio.

– Estava? – Dave prendeu a respiração tentando não deixar com que o pesadelo se apagasse na sua memória. Uma das coisas que mais o angustiava era a mania dos sonhos se perderem em sua cabeça logo depois dele acordar. No momento em que acordava tudo estava muito claro eu sua mente, mas na hora do café da manhã já lhe era impossível recordar exatamente o que sonhara naquela noite.

– Sim. Será que você pode me contar como foi? – disse Jake, sentando-se ao lado do menino – Eu sinto muita falta dela sabe...

– Eu também Jake. Muita mesmo. Mas eu prefiro não falar sobre isso, afinal, foi um pesadelo sabe...

Jake fechou a cara, mas não insistiu. Em vez disso, levantou-se e começo a se afastar.

– Para onde você vai? – perguntou Dave, sem entender.

– Ora, buscar alguma coisa diferente para o café. Uma fruta ou algo assim. Faço isso toda manhã, mas normalmente você ainda está dormindo. Hoje, já que está acordado, porque não tenta montar uma fogueira?

– Tudo bem – Dave concordou, agradecendo o tempo sozinho.

Levantou-se e rumou para a sua mochila, não resistindo à tentação de checar se sua pedra do trovão ainda estava no lugar que deixara. Abriu a caixa preta em que Mary Jane havia presenteado o menino e pegou a pedra em suas mãos. Eevee, como sempre, observou com cautela o menino, mas Dave não se traiu em momento nenhum e deixou o olhar fixo na rocha, sem encarar o seu Pokémon. Na sua cabeça ele sabia que com aquela pedra Eevee poderia evoluir em um poderoso Jolteon, mas ele ainda não havia tomado coragem para discutir o assunto com seu amigo.

Ele ficou parado cerca de cinco minutos, observando e girando a pedra em sua mão até que Eevee, de longe, lançou um galho seco em sua direção, acertando a perna do menino. Subitamente de volta a realidade, ele sorriu para o Pokémon e guardou carinhosamente a pedra em sua caixa e a recolocou de volta na mochila. Três dias se passaram desde que Mary Jane abandonara o grupo e presenteara Dave com a pedra, e todos os dias desde então, a toda chance que tinha de ficar verdadeiramente sozinho, Dave tirava o presente da bolsa e perdia alguns minutos admirando-o. Ele pensava que ter uma das pedras em mãos o daria animo para seguir em frente sem se preocupar com o resto, mas tudo o que fizera foi aumentar a sua vontade de obter as outras três.

Enquanto caminhava pelos arredores do acampamento o garoto não conseguia pensar em outro assunto que não o que faria caso conseguisse botar as mãos nas quatro pedras que conhecia. Oddish e Poliwag poderiam fazer uso das pedras da água e de planta, mas Dave possuía apenas a pedra do trovão, portanto era impossível não se imaginar utilizando-a em seu Eevee. Ter um Jolteon seria um grande passo para seu time, que não contava com nenhum tipo elétrico, mas Dave temia dar um passo precipitado. Caso eu consiga as outras pedras, será que eu vou fazer a mesma escolha? Pensou ele antes de se forçar a lembrar de que aquela não era uma escolha dele e sim de Eevee. Decidiu que em breve conversaria com Eevee sobre o assunto.

Recolheu galhos o suficiente para uma fogueira decente e voltou a pequeno acampamento que ele e Jake tinham escolhido para aquela noite. Não encontraram mais clareiras como a que tinha lhes servido de abrigo na noite em que Mary Jane se separara do grupo, mas sendo somente dois, eles não precisavam de muito espaço para dormir, de modo que qualquer espaço entre as árvores grande o suficiente para que pudessem se deitar era o suficiente para um repouso. Mesmo com o plano de Mary Jane, eles preferiam dormir a certa distância da estrada, temendo qualquer viajante que pudesse aparecer, mas até então não haviam encontrado nenhum.

Viajam rapidamente, caminhando o dia inteiro e parando com o cair do sol, quando então começavam os preparativos para o jantar. De acordo com o mapa estavam na direção correta e não deveria ter uma longa jornada a frente antes de chegar ao ginásio de Fuschia, portanto os seus mantimentos não lhes pareciam um verdadeiro problema. Comiam bem, alimentavam os Pokemons e sempre que tinha a chance, Dave dedicava-se a alguns exercícios de treinamento com seus Pokemons, de modo a mantê-los em forma.

Todos lhe pareciam muito bem e o menino estava bastante satisfeito com seu progresso. Sandslash e Pidgeotto, como sempre, eram os destaques do grupo, se mostrando sempre comprometidos e eficientes em tudo o que lhes era pedido, de modo que Dave começou a treiná-los em separado com Eevee para oferecer-lhes maiores desafios. Enquanto isso, a mudança surtiu grande efeito em Poliwag, que passou a sentir mais confiança em si mesmo e também em Oddish, que mesmo sendo o mais novo, se mostrava um dos mais determinados a crescer. Haunter, entretanto continuava a ser um problema. O Pokémon não se mostrava nem disposto a obedecer ao seu treinador nem interessado em crescer e ficar mais forte, de modo que sua presença nos treinos acabava por atrapalhar mais do que ajudar. Dave estava adiando o momento em que teria de conversar com o Pokémon e descobrir o que estava acontecendo, mas não conseguia reunir a coragem para enfrentá-lo.

Jake, por sua vez, que era o responsável tanto pela culinária humana quanto pela Pokémon e preferia gastar o seu tempo lendo algum livro que tivesse trazido junto consigo ou fazendo anotações em um caderno que o acompanhava desde sua casa em Auburn. Dave normalmente vira muitos criadores desenhando as formas e os pequenos detalhes sobre os Pokemons que tinham ou encontravam, mas Dave reparar que Jake não costumava desenhar. Em vez disso, o menino era capaz de passar horas calado, concentrado, escrevendo algo como se aquela fosse a única chance na sua vida de registrar o que quer que estivesse pensando. Dave não podia reclamar do silencio, algo raro com Jake, mas às vezes sentia-se sozinho, mesmo com o menino como companhia. Além disso, morria de curiosidade para saber o que quer que estivesse registrado no caderno.

Depois de montada a fogueira, Dave sentou-se e encostou as costas em uma árvore longa e antiga, aproveitando-se da sombra e do frescor da manhã enquanto esperava que Jake voltasse para acender o fogo. Podia muito bem fazer fogo com os equipamentos de viagem, mas de nada adiantaria uma vez que era o mais novo quem cozinhava. Além disso, Dave não pretendia comer sozinho. Eevee se aconchegou entre as pernas do menino, que automaticamente esticou a sua mão e começou acariciar seu Pokémon enquanto sua cabeça se perdia em sonhos com as possibilidades que as pedras da evolução abriam em seu time. Nunca tinha pensado em seu grupo de Pokemons como um verdadeiro time, mas aproximando-se da liga, percebia com mais clareza aquilo que o Professor Noah sempre tentara lhe falar. Preciso de um time mais completo se quiser ter boas chances de vencer. Preciso estar preparado para tudo.

– Eevee... – chamou o garoto criando coragem. Ele respirou fundo enquanto a pequena raposa marrom virava o rosto e fitava o seu treinador. Dave demorou alguns segundos a mais do que pretendia, mas finalmente conseguiu articular novamente as palavras – preciso conversar com você sobre um assunto delicado.

O pequeno Pokémon se levantou e ajeitou-se de frente para o seu treinador, com as orelhas levantadas e escutando com atenção e concentração. Ele previa o que vinha a seguir, mas não deixou nenhuma reação transparecer.

– Eu não sei bem como falar isso... Na verdade é mais uma pergunta do que qualquer outra coisa… - Dave começou a se perder em pensamentos e o coração começou a bater ligeiramente fora de controle de modo que ele teve que parar para recuperar a calma. Não contava em ficar tão nervoso com o que estava prestes a falar.

– Uee? – disse Eevee, aproximando-se e Dave abaixando ligeiramente a cabeça em um sinal para que ele continuasse.

– Bom... Eevee, na verdade eu queria mesmo te perguntar se... – Dave tomou coragem pela terceira vez naquela manhã e finalmente disse o que queria – Você já pensou alguma vez em evoluir?

Eevee não demonstrou surpresa com a pergunta do menino, nem mesmo aprovação ou reprovação. Na verdade estivera esperando ela desde que Mary Jane lhe dera a pedra como presente, e se surpreendeu que Dave houvesse demorado tanto para tomar coragem de tocar no assunto. Sério e com uma expressão ilegível, Eevee balançou a cabeça fazendo um sinal positivo. Um enorme sorriso apareceu no rosto de Dave, mas o Pokémon continuava sério, parado e encarando profundamente o menino.

Animado com a resposta positiva de seu amigo, Dave sentiu-se mais tranquilo para continuar com o assunto.

– E você já pensou em todas as evoluções que você pode escolher? Você tem algumas opções sabe...

Mais uma vez Eevee balançou positivamente a cabeça e mais uma vez manteve-se sério, enquanto o sorriso no rosto de Dave se alargava.

– Ótimo! – disse ele, ajeitando-se no chão e deixando seus pensamentos fluírem – Então quer dizer que você já sabe em que Pokémon quer evoluir...

Eevee dessa vez fechou os olhos seriamente e balançou negativamente a cabeça o que fez o sorriso de Dave esmorecer rapidamente, antes que ele retomasse o seu animo anterior.

– Ok, sem problemas... – disse ele, ajeitando-se novamente – Nós podemos pensar juntos. Você não gostaria de ser um Jolteon? Eles são fortes e muito rápidos, e eu até mesmo tenho a pedra para te ajudar...

Eevee permaneceu imóvel encarando profundamente seu treinador até dar um grande suspiro como quem esperava que não tivesse que continuar naquele assunto. Ainda assim, ele balançou a cabeça em negativo novamente.

– Tudo bem, Jolteon não – disse Dave, tentando, sem sucesso, esconder o leve desapontamento com a resposta do amigo – Que tal um Flareon? Brincar com fogo é uma habilidade e tanto...

Eevee mais uma vez balançou negativamente a cabeça e encarou seu treinador, fazendo com que Dave, sem mais alternativas, depositasse suas ultimas esperanças em Vaporeon, o Pokémon de água.

– Ele fica invisível na água, sabe? É muito legal!

Infelizmente, porém, Eevee balançou negativamente a cabeça pela terceira vez.

– Mas espera. Você não quer evoluir em nenhuma das suas três evoluções? Por que não?! – perguntou Dave, agora sem entender.

– Uee, ueee, ueevee – disse Eevee, mais uma vez fazendo uma negativa com a cabeça e olhando mais piedosamente para Dave, que agora coçava a cabeça. O menino, já de pé, não estava entendo o que seu Pokémon queria dizer.

– Quer dizer então que você já pensou em evoluir, mas não quer evoluir em nenhuma das suas evoluções? O que isso quer dizer? Que você não quer evoluir? – perguntou ele finalmente.

Eevee respirou fundo mais uma vez, olhou com uma pontada de dor para o rosto de seu treinador e balançou a cabeça positivamente, virando-se de costas e indo deitar-se do outro lado da fogueira ainda apagada, fechando os olhos e deixando claro que não pretendia continuar no assunto. O recado dado fora claro. Dave não teria voz naquela discussão. Aquele assunto era de Eevee e somente de Eevee, e aquela decisão já havia sido tomada há algum tempo.

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Dave, Jake e Eevee caminharam durante todo o dia, parando apenas brevemente para o almoço. A estrada de terra tinha pouco mais de dois metros de largura e percorria com certa liberdade a mata que a envolvia. A brisa era constante e o calor não chegava a incomodar, o que era um sinal de que a mata não era tão densa quanto aparentava ser. Poucos Pokemons se aventuravam a vagar próximos a estrada, preferindo esconder-se mais adentro da mata e Dave e Jake estavam focado de mais em chegar a seu próximo objetivo com segurança para ir a procura de novas adições a seus respectivos times.

Dave nunca tinha estado tanto tempo dentro de uma floresta, mas Jake e os mapas lhe garantiam que estavam no caminho certo para o ginásio de Fuschia, portanto toda a noite ele jantava e então procurava uma clareira com um pouco mais de espaço e claridade para praticar algum tipo de exercício com seu grupo de Pokemons, enquanto Jake sentava e observava de longe, fazendo anotações em seu caderno. Logo o menino de Grené descobriu que treinar era uma ótima maneira de cansar a sua mente e o impedia de focar em tudo aquilo que o assombrava, desde a ameaça de perder Eevee até o abandono e a falta de noticias de Mindy.

Naquela noite não foi diferente. Depois de uma refeição quente preparada por Jake, Dave penetrou alguns passos na floresta à procura de algum lugar apropriado para treinar. O céu estava limpo e a lua brilhava cheia no céu de modo que ele não teve muitas dificuldades em encontrar um caminho seguro por entre as árvores e arbustos mesmo sem ajuda de um guia. Jake sempre o acompanhava nessas pequenas incursões para o interior da floresta e Dave agradecia não somente a companhia, mas também a indispensável ajuda de Vulpix quando a escuridão se apertava a sua volta. Pouco mais de dez minutos após abandonarem a estrada, Dave encontrou uma pequena clareira que poderia lhe servir aquela noite. Não era muito larga, em um formato muito próximo a circulo com seis metros de diâmetro.

Enquanto Dave apoiava sua mochila e fazia os preparativos para começar os seus treinos, Jake procurou abrigo nas arvores na borda do círculo, sentando-se e tirando seu caderno da mochila. Enquanto remexia suas coisas, entretanto, pensou ter ouvido um barulho que não ouvia há muito tempo e paralisou, estático, enquanto se concentrava no som. Dave reparou a preocupação no olhar do amigo e olhou a volta, não percebendo o que podia ter chamado a atenção do menino mais novo. Eevee, porém, também estava em estado de alerta.

– O que houve? - perguntou Dave, apenas para ser calado com um aceno de mão de Jake.

– O que houve? - perguntou novamente, agora em sussurros.

– A não... - disse Jake, quando um par de brilhantes olhos vermelhos finalmente se fizeram visíveis na escuridão da floresta - Beedrills!

Mas Dave não precisava mais ser avisado. Outros três pares de olhos rubis surgiram próximos ao primeiro e continuaram a crescer à medida que quatro grandes abelhas se aproximavam com seus doze poderosos ferrões. Jake levantou-se e se aproximou de Dave, ainda com esperanças de fugir, mas o treinador não parecia interessado em escapar. Em vez disso, deu dois passos para o centro da clareira e se mostrou, sacando uma Pokebola em cada mão, enquanto Eevee se postava ao seu lado. Um sorriso de ansiedade surgiu em seu rosto enquanto ele começava a antecipar o encontro com os Pokemons selvagens. Depois de tanto tempo na cidade, apenas treinando entre si, aquela era uma oportunidade de ouro para colocar seu treinamento em prática. As Beedrills lhe serviriam melhor do que qualquer exercício que pudesse bolar.

As abelhas estavam quase na borda da clareira quando pararam no ar e encararam o menino e o Pokémon que estavam postados a sua frente. Dave então liberou Poliwag e Pidgeotto e elas pareciam entender o desafio.

– Jake - chamou Dave, sem tirar os olhos das imponentes abelhas que voavam ha não mais de cinco metros de distância - Porque não se junta a mim. Aposto que Vulpix precisa de um pouco de ação.

– Mas...

Dave interrompeu o amigo - Jake, você como criador sabe muito bem que um Pokémon pode se aproveitar muito bem de momentos como esse. Porque não deixa o Vulpix aproveitar também?

Rendido, o menino mais novo sacou sua Pokebola e liberou a pequena raposa vermelha para se juntar ao resto dos Pokemons de Dave, que sorriu aproveitando o momento. Ele decidiu tomar a iniciativa e começar os trabalhos.

– Poliwag, use o jato d'água para separá-los! Pidgeotto voe pela direita e Eevee flanqueie pela esquerda, para impedir que nos cerquem!

O ataque de Poliwag surtiu efeito e as abelhas se dispersaram, mas não o suficiente para fugir dos seus atacantes. Pidgeotto encontrou o primeiro adversário na borda direita da clareira e Eevee se viu frente a frente com duas abelhas pelo seu lado. A quarta investiu diretamente contra Poliwag.

– Cuidado, Poli! - disse Dave, enquanto Eevee e Pidgeotto usavam manobras evasivas para se esquivar dos ferrões de seus respectivos adversários. Poliwag mergulhou para o lado e Dave se viu obrigado a fazer o mesmo quando a abelha não interrompeu a investida depois de errar o pequeno Pokémon girino. Dave achou que ela iria fugir, mas na borda da clareira ela deu meia volta e voltou a encarar o treinador.

Enquanto isso, Pidgeotto parecia não encontrar dificuldades em manter-se fora do alcance do seu adversário e Eevee se via cercado, mas ainda assim se mantinha habilmente fora do alcance de ambos os seus. Jake observava com uma pontada de fascínio a velocidade de Eevee quando foi acordado pelo amigo mais velho.

– E então Jake? Quando quiser entrar na brincadeira está mais do que convidado.

– O que?! Ah! Sim, claro! - disse o menino, percebendo que seu Vulpix continuava a postos, porém sem adversários a enfrentar. - Vulpix, ajude o Eevee!

A pequena raposa correu na direção do Pokémon de Dave e cuspiu um jato de fogo que dispersou por alguns segundos as abelhas, abrindo caminho e se postando ao lado de Eevee, pronto para combater. Dave gostou do que viu e percebeu uma oportunidade. Seria bom fazer uma batalha de cada vez, mas eu tenho quatro adversários e tudo isso ao mesmo tempo será mais complicado.

– Eevee, você consegue dar conta delas com o Vulpix? - perguntou Dave, já sabendo da resposta. Apesar dos inúmeros exercícios e desafios que sempre tentara impor a Eevee nos treinamentos, o menino sempre percebeu que o Pokémon podia fazer mais e que seus esforços pouco faziam para que ele crescesse mais. Seu primeiro Pokémon estava um patamar acima daquilo que Dave conhecia e ele sentia que fazia o treinamento servia mais para manter a forma do que para acrescentar alguma coisa. Eevee era um prodígio no campo de batalha. Com o aceno positivo da cabeça de seu Pokémon, o menino voltou a se focar em Poliwag e Pidgeotto.

– Pidgeotto, junte-se ao Poliwag! – Vamos lutar em dupla.

O pássaro desviou de mais uma tentativa de picada da Beedrill que o atacava e se aproximou de seu companheiro aquático, deixando que as duas abelhas agora os olhassem de frente com um pouco mais de receio.

– Muito bem, agora salte para cima dele Poliwag, e ataquem!

O pequeno girino saltou e Pidgeotto o pegou no meio do ar, carregando-o e investindo com velocidade para as abelhas, que abriram caminho e deixaram que a dupla passasse entre elas. Pidgeotto rapidamente ganhou altura e deu meia volta, agora mergulhando e ganhando ainda mais velocidade. Dave pensou ter visto certo receio nos olhos de Poliwag, mas tanto treinamento havia surtido efeito e aquela não seria a primeira vez que a dupla fazia um movimento daquele tipo.

– Pidgeotto, ataque rápido! Poliwag use o tapa duplo!

O Pokémon voador ganhou ainda mais velocidade em sua descida, surpreendendo a abelha que tinha como alvo. Saltando e pegando impulso na velocidade do amigo que o carregava, Poliwag também acertou um alvo surpreso, que mal tivera tempo de se preparar para o golpe. A pequena calda do Pokémon de Dave golpeou duas vezes o rosto da abelha atordoada. Ambos os ataques foram bem sucedidos e a Beedrill atingida por Pidgeotto caiu desacordada enquanto a outra parecia tonta, fazendo esforço para manter-se no ar.

– Muito bem executado gente! - disse Dave, orgulhoso.

Enquanto isso, Eevee e Vulpix batalhavam suas oponentes do outro lado da clareira. Ambas tinham envolvido seus oponentes com uma chuva de mísseis de agulhas, deixando os dois lado a lado enquanto se preparavam para uma investida. Jake não parecia muito confortável na posição de treinador, sem saber muito bem o que fazer com Vulpix. Nunca tinha estudado aquele Pokémon e sabia muito pouco sobre ele. Além disso, achava difícil se concentrar na luta depois que vira Eevee ser atingido por dois dos ferrões venenosos de seus adversários e ainda sim continuar de pé como se nada houvesse acontecido. Ele meio esperava que o Pokémon desabasse a qualquer momento devido aos efeitos do veneno, mas até então nada havia acontecido.

Uma das abelhas começou um ataque de fúria e Jake viu novamente Eevee tirar Vulpix do caminho e ser atingido uma terceira vez por um das agulhas da enraivecida Beedrill, que mudou o foco de seu ataque e conseguiu fazer com que Eevee se separasse de Vulpix. Jake não entendia como o Pokémon de Dave ainda não havia sido afetado. Distraído, ele mal percebeu quando a segunda abelha investiu contra Vulpix com seus dois ferrões prontos para o ataque. Dessa vez a raposa vermelha conseguiu se desviar, mas acabou por afastar-se ainda mais de Eevee, dificultando o combate em conjunto.

Percebendo a estratégia dos adversários, Eevee saltou para trás, desviando mais um dos ferrões de Beedrill e tomando impulso. Quando o golpe seguinte veio, ele pulou para o alto, subindo mais ainda do que o voo da abelha, girou no ar enquanto sua cauda começava a brilhar e atingiu o rosto de Beedrill em cheio com a técnica da cauda de ferro. Sem entender, a abelha foi lançada alguns metros para dentro da floresta, quicando no chão e desaparecendo na escuridão.

Em seguida, o pequeno Pokémon marrom correu em direção a Vulpix que finalmente fora encurralado em uma árvore. Sua Beedrill estava prestes a investir com os dois ferrões de uma só vez e Eevee viu que teria de ser rápido. Saltou por trás da abelha e estava pronto para atacar novamente quando viu Vulpix abrindo sua boca e lançando um poderoso jato de fogo. Imediatamente abaixou o corpo, jogando-se no chão enquanto as labaredas encobriam a Beedrill atacante e a derrubavam ao seu lado.

Dave observou tudo de canto de olho satisfeito enquanto tentava focar no último adversário que ainda continuava no ar. A última Beedrill olhou para os lados a procura de suas companheiras e se viu sozinha, e por um momento Dave pensou que ela iria tentar escapar. Já estava pronto para mandar Pidgeotto interceptar a evasão quando ela investiu novamente contra Poliwag. Corajosa! Dave se viu forçado a admitir.

– Poliwag, evasiva e tente o raio de bolhas!

O pequeno Pokémon girino vinha treinando esse movimento há alguns dias e Dave achou a oportunidade perfeita para usar o golpe fora dos treinos. Com um ágil mergulho para o lado, o Pokémon obedeceu seu treinador e deixou que Beedrill passasse por ele com velocidade para então laçar um poderoso jato de bolhas brilhantes que explodiram nas costas do alvo, derrubando-o finalmente.

As outras abelhas já estavam recuperando os sentidos, mas percebendo o que havia acontecido, viraram-se e fugiram, uma em cada direção. Dave pensou em persegui-las, mas viu a última e mais brava abelha ainda caída na clareira e desistiu. Essa é a mais corajosa. Aposto que não fugiria da batalha pensou ele com um sorriso enquanto sacava uma Pokebola vazia e lançava na direção do adversário desacordado.

A pequena esfera bateu no inseto e o envolveu em um raio vermelho, abrindo-se e recolhendo o Pokémon para dentro. Ela vibrou uma, duas, três vezes, e ainda uma quarta antes de finalmente parar, capturando a Beedrill. Dave aproximou-se com um grande sorriso no rosto e pegou a Pokebola no chão segundos antes dela brilhar e desaparecer. Por um momento ele se assustou e perdeu, até lembrar que tinha seis Pokemons em seu grupo. Aquela Beedrill era o primeiro Pokémon que ele mandava para Cardo e o Professor Noah.

Feliz, ele virou-se para encarar Eevee, Vulpix e Jake.

– Vocês foram muito bem, todos vocês! - disse ele, acariciando seus Pokemons quando eles se aproximaram. Vulpix já estava no colo de Jake, que também o acariciava e parabenizava - Muito bem também Vulpix! Bela luta - cumprimentou o mais velho.

– Sim, sim, bela luta também pra vocês todos - disse Jake, olhando para o sorridente time de Dave e se demorando na pequena raposa marrom - Eevee você está bem?

– Uee! Ueeee! - respondeu animado Eevee, balançando positivamente a cabeça.

– Ainda acho melhor tomar um antídoto - disse Jake, apertando os olhos e observando melhor o Pokémon do amigo - Eu tenho certeza que o vi atingido pelo menos três vezes quando ajudava o Vulpix, e aquelas Beedrills são venenosas.

– Verdade?! - disse Dave, surpreso, voltando-se para seu Pokémon – Me deixa dar uma olhada - Abaixou-se e começou a examinar os pelos e a pele escondida de Eevee, encontrando sem muita dificuldade os pontos onde pequenos inchaços sinalizavam um golpe recente.

Eevee, entretanto, se afastou e mais uma vez reafirmou que estava tudo bem, dando alguns santos e sorrindo.

– Dave, ainda acho melhor que ele tome o antídoto - disse Jake, muito intrigado. Ele pegou na mochila o pequeno frasco amarelo, mas antes que pudesse fazer qualquer coisa, Eevee saltou e tomou-o das mãos do garoto, segurando o frasco com a boca e devolvendo-o a mochila do menino.

Jake ficou sem palavras, mas Dave apenas sorriu e voltou a acariciar um satisfeito e triunfante Eevee - Parece que está mesmo tudo bem - disse ele, chamando de volta seus Pokemons e rumando novamente para mais próximo da estrada, onde eles pretendiam dormir. Para quem já vira seu Pokémon se recuperar rapidamente de esporos paralisantes, não era de surpreender que um pouco do veneno de Beedrill não surtisse lá muitos efeitos.

Mais feliz e realizado do que se permitia admitir, Dave deitou-se com seu saco de dormir e chamou Eevee, que se deitou ao seu lado. Depois de tanto tempo, sentia falta de estar na floresta, batalhando e capturando Pokemons. E ele nem podia imaginar o rosto de satisfação do professor quando percebesse que Dave havia lhe enviado um Pokémon.

Ainda assim, estava ficando tarde e o garoto pretendia seguir viagem cedo no dia seguinte de modo que se convenceu a tentar dormir, reconfortado por ter mais com o que sonhar do que os pesadelos que vinham lhe atormentando. Enquanto isso, Jake passou o resto da noite calado, sentado próximo à fogueira escrevendo durante horas em seu caderno e foi exatamente assim que Dave o deixou quando finalmente fechou os olhos adormeceu.

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– MINDY NÃO! NÃO! MINDY! – berrava Dave quando se sentou em meio à escuridão do acampamento. O susto do pesadelo fora tanto que ele respirava com dificuldade. Eevee pulou acordado com os berros do menino e Jake também abriu os olhos apenas para ver o amigo assustado mais uma vez depois de um sonho ruim.

– Outro pesadelo? – perguntou ele, virando-se de lado, metade dele ainda absorta em um sono profundo – Tente tê-los mais baixo – disse antes de adormecer novamente.

Dave tentava mais uma vez recuperar controle sobre o seu coração disparado. Não entendia muito bem o que estava acontecendo. Esse pesadelo fora diferente de todos os outros de uma maneira que ele não compreendia. O seu sono estava tranquilo e ele sonhava com batalhas na Liga, ou apenas treinamento para elas – não sabia direito agora – mas de repente tudo mudou e ele viu Mindy. O estranho era que agora não sabia por que gritara ou porque estava com medo. Não lembrava o que estava acontecendo com Mindy no sonho, apenas que ela estava lá.

Ele estendeu a mão para acariciar Eevee que estivera há pouco ao seu lado, mas encontrou apenas a grama molhada de orvalho. Em vez disso, viu o Pokémon de pé perto da fogueira que agora ardia apenas com algumas poucas brasas quase frias. A noite estava escura com o desaparecimento da lua cheia e o menino não podia ver muito além do seu Pokémon, a poucos metros dele. Ainda assim conseguia perceber que Eevee estava assustado e em alerta, o que nunca era um bom sinal.

– O que foi? – disse Dave, levantando-se e levando uma das mãos institivamente ao seu cinto com as Pokebolas. Tocou cada uma delas até perceber que a quinta estava faltando. Antes que pudesse falar qualquer coisa, porém, grandes e brilhantes olhos lilases se materializaram na sua frente e o menino pulou de susto, tropeçando em uma raiz atrás de si e caindo no chão. Eevee lançou-se em uma rápida investida e atingiu algo que Dave não soube reconhecer, jogando–o de encontro a uma árvore. Os galhos balançaram e alguns Pokemons que Dave imaginou serem Zubats bateram as asas e se afastaram dos galhos acima. Uma forte risada podia ser ouvida pela noite.

Só então o menino reconheceu Haunter, rindo e encostado na árvore onde o ataque de seu companheiro o havia jogado. O fantasma ria histericamente, incapaz de se levantar não pela força do ataque de Eevee, desconfiava Dave, mas imobilizado pelo surto de risadas.

O som fez o rapaz estremecer enquanto suspirava de alivio ao perceber que seu Pokémon fora a fonte de toda aquela confusão e que eles não estava sob ataque da Equipe Rocket ou de algum Pokémon selvagem. Ele levantou-se enquanto um aborrecido Eevee voltava a deitar no lugar em que estivera e Jake rolava de lado, aparentemente incomodado com toda a movimentação, mas claramente sem disposição para se levantar.

– Haunter! – exclamou Dave por sob a sua respiração, tentando não agitar novamente a conversa – Você não pode fazer isso!

A resposta do Pokémon fantasma foi simplesmente levitar e se aproximar de Dave, fazendo novamente o mesmo truque assustador de fazer seus olhos brilhar com a cor lilás. Dave começou a se perguntar o que ele estaria tentando fazer quando ouviu Jake se remexer em sua cama e começar a sussurrar durante o sono coisas como “não, me larga, não quero fazer isso!”. Só então Dave entendeu que Haunter deveria estar entrando nos sonhos de Jake e assuntando-o. Ele podia apostar a sua vida que ele mesmo tinha sido a vítima anterior dessa brincadeira.

– Pare já com isso! – disse Dave, tentando contê-lo. Usou um tom forte, que não gostava de usar, e a mudança de comportamento chamou a atenção de Haunter, pois seus olhos voltaram a sua cor natural e Jake pareceu se aquietar.

– Haun, haun... – disse o Pokémon, deixando-se chegar mais perto do chão e apagando o sorriso do rosto de gás.

– Haunter – começou Dave, novamente com a voz suave e sentando-se na frente do seu Pokémon. Ele adiara aquela conversa por tempo de mais e por mais que não tivesse planejado tê-la no meio da madrugada, resolveu não deixar passar a oportunidade – Preciso conversar com você.

Eevee se ajeitou e foi sentar-se ao lado de Dave, um pouco a contragosto por causa do sono, mas sabendo que ambos os amigos precisariam de apoio.

– Eu não sei o que houve com você desde que você evoluiu Haunter, mas eu estou preocupado. Você é um grande Pokémon e mostrou ter habilidades bastante impressionantes, como controlar os meus sonhos, por exemplo. Mas por algum motivo tudo o que você faz é criar confusão... – O Pokémon parecia olhá-lo com atenção, mas não demonstrava reação enquanto Dave pensava em como continuar – Não me entenda errado, eu gosto muito de você, de verdade, mas eu queria entender porque você insiste em não me obedecer e em pregar peças sempre que pode...

– Haun! Haun Haunter! – disse o fantasma, rindo e fazendo seus olhos saltarem das orbitas. Tentava ser engraçado até mesmo naquele momento.

Dave deu um leve sorriso, e Haunter retribuiu, mas o menino se viu mais uma vez suspirando.

– Você não tem jeito não é? – disse ele.

Para sua surpresa, o Pokémon balançou negativamente a cabeça e Dave se viu confuso, sem saber se o que interpretar daquilo.

– Você nunca vai me obedecer não é?

– Haun, haun! – disse Haunter, balançando negativamente a cabeça e rindo enquanto dava uma pirueta no ar.

– Você gosta mesmo é dessas brincadeiras... – Dave suspirou uma terceira vez e pareceu aceitar a derrota naquela conversa. Não é uma derrota, não de verdade. Pensou ele, enquanto se encaminhou novamente para seu saco de dormir.

– Haunter, presta atenção. Eu adoraria ter você viajando comigo, mas eu não posso ficar brincando com você o tempo todo. Adoraria brincar com você e confesso que te acho muito engraçado às vezes – Haunter abriu um sorriso, mas Dave ainda não havia acabado - Eu preciso que você entenda que eu também tenho um sonho e coisas que eu gosto e que pretendo alcançar. Não quero que você fique infeliz comigo, por tanto eu vou te mostrar as opções que nós temos, como eu vejo e deixar você escolher – Dave tomou um segundo para se acalmar e ajeitar seus pensamentos - Nós podemos continuar assim, e em um ponto vamos ficar muito tristes um com o outro porque estamos nos atrapalhando em vez de ajudar e eu realmente não gostaria disso; Ou então, você pode aceitar ir para o laboratório do Professor Noah, onde você terá outros Pokemons com quem brincar, mas estará sobre os cuidados e a autoridade do professor. Nós podemos brincar quando eu voltar para lá, mas isso não vai ser sempre, infelizmente; ou então você pode escolher ir embora. Eu não gostaria que você fosse amigo, mas eu juro que se você quiser, você pode. Não quero te prender e não quero que você seja infeliz comigo. Você vai ter todo o mundo para pregar peças, e quem sabe um dia não nos encontramos por ai?

Haunter havia deixado de sorrir e olhava aparentemente incrédulo para seu treinador, enquanto Dave tentava esconder as lágrimas. Dave viu a Pokebola de Haunter aberta no chão ao seu lado e a pegou com a mão, lentamente.

– Eu vou deixar a sua Pokebola ao meu lado, aberta, e vou dormir. Ela ainda é sua se você quiser. Se não quiser... – Dave tomou coragem para olhar fundo nos olhos do fantasma, que não mais sorria enquanto olhava da Pokebola para o rapaz – Foi uma imensa honra ter você no meu time nesse pouco tempo. Eu lhe desejo a melhor sorte do mundo e que você seja muito feliz. Boa sorte, meu amigo.

O menino então se forçou a deitar, virar de lado e fechar os olhos para impedir que as lágrimas finalmente caíssem. Não se permitia olhar, mas ouviu que Eevee e Haunter ainda conversavam entre si. Ele decidiu que nada mais podia fazer e se convenceu de que tomara a decisão correta, deixando o resto nas mãos de Eevee. Adormeceu nervoso, ainda ouvindo a conversa entre os dois Pokemons.

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Jack e Jody ouviram alarmados o telefone de seu quarto tocar, mas dessa vez não lhes foi dado tempo para que atendessem. A tela que cobria uma das paredes de seu quarto luxuoso no esconderijo dos Rockets se acendeu de repente, como nunca antes havia acendido, e assustou a dupla que caiu sentada na cama. Jody tinha um mau pressentimento sobre aquela chamada.

Mais uma vez o rosto sombrio e sem definição surgiu na tela, em um fundo negro e que pouco dizia aos agentes. Aquele semblante era misterioso e assustador, mas ambos passaram a conhecê-lo melhor do que seus próprios reflexos desde que foram confinados ao esconderijo secreto. O supervisor G se materializava em seus sonhos e pesadelos com ordens fictícias e novas cobranças. Aquele semblante sem rosto assombrava cada momento que a dupla passava no luxuoso e tecnológico esconderijo e sempre que resolvia aparecer fora do imaginário frágil da dupla de agentes, as noticias que trazia nunca eram positivas. Jack e Jody muitas vezes se questionavam o porquê de serem mantidos naquela missão, já que claramente seu supervisor não aprovava a dupla.

– Olá agentes – disse a voz metálica que ecoava pelo quarto e faziam arrepios percorrerem o corpo de Jack, levantando os cabelos brancos de sua nuca – Estou imensamente desapontado de ter que vir novamente trazer notícias ruins para vocês.

Jack e Jody respiraram fundo ao mesmo tempo, preparando-se para o que vinha a seguir. O que aquele grupo de moleques havia aprontado daquela vez eles não sabiam, muito menos como aquilo poderia ser culpa deles, mas não lhes cabia questionar o supervisor, que aparentemente só respondia diretamente ao chefe de toda a organização.

– De acordo novamente com as nossas fontes policias, o grupo de Eevee chegou há alguns dias a Saffron, aparentemente para enfrentar o ginásio da cidade. Mais uma vez agentes, temos que contar com nossas fontes policiais para descobrir o paradeiro do grupo. Mais uma vez, vocês se mostraram incompetentes.

Jack lançou a Jody um olhar acusador enquanto a mulher massageava a cabeça com as duas mãos, em um misto de confusão e descrença.

– Supervisor... – começou a falar a mulher, mas, como sempre, fora interrompida.

– Não quero saber de desculpas ou mais histórias, agente Jody. Quero resultados! E você faria muito bem em se lembrar de me tratar com “Senhor” – bradou o semblante, enquanto Jack rolava os olhos para cima.

– Senhor – começou a mulher, enfatizando a palavra – Essa informação não pode estar correta. Ela não condiz com as informações que sabemos. Você tem nossos relatórios...

A voz metálica silenciou-se por um momento e Jody percebeu a sombra se mexer de um modo diferente, como se estivesse se ajeitando sobre a cadeira. Pensou por um momento ver uma mecha de cabelo maior do que já haviam visto pender da cabeça do semblante, antes de ser rapidamente escondida atrás da orelha pelas mãos do supervisor. Ele parecia estar pensando.

– Hoje, incrivelmente, você tem razão, agente.

Jack e Jody sorriram. Não era costumeiro que o supervisor admitir que talvez os agentes pudessem estar certos, e aquilo poderia abrir espaço para que eles pudessem sair em uma missão investigativa, mas suas esperanças tiveram pouco tempo de vida.

– Muito bem, uma missão de investigação será conduzida em Saffron para sabermos das verdades dessas informações. Vocês ficarão onde estão – o supervisor parecia ter percebido a agitação da dupla – Não é aconselhável que agentes conduzam investigações para averiguar a veracidade das informações que eles mesmos tenham transmitido à equipe. Há muitos riscos de modificarem a verdade em favor de vocês.

– Mas senhor, nós nunca... – começou Jack, apenas para ser interrompido.

– Vocês nunca mentiriam, nunca roubariam e nunca fariam nada de errado ou desleal. E eu esqueci que estamos trabalhando em uma organização criminosa... – debochou o semblante na tela escura – Prestem atenção. Prestem bastante atenção, agentes. Revisem seus relatórios, revisem suas informações e pensem. Eu preciso de resultados e não de incompetentes. Torçam para que estejam certos, ou pelo menos para encontrar o erro de vocês antes que eu o faça. Odiaria ter que expulsá-los dessa missão. Até porque, ninguém sai dela com vida...

E, sem mais, a tela se desligou.


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Notas finais do capítulo

E então? O que acharam?
Espero que tenham gostado. Sem querer aumentar expectativas, mas os próximos capítulos são daqueles que eu gosto bastante. =)

Espero vocês nos comentários!



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