Evolution: Parte 3 escrita por Hairo


Capítulo 27
Sacrifício - Parte 1


Notas iniciais do capítulo

Bem vindos ao último capítulo, galera! Mas não se assustem, ele não é mesmo o último! hahahahaha

Originalmente eu fiz um último MEGA capítulo final gigante. O problema é que ele era realmente grande e difícil de dividir.

Agora, na respostagem eu reanalisei e achei dois pontos que poderiam servir para facilitar a leitura do meu monstrinho preferido. Curioso que justo o último capítulo fique com Partes 1, 2 e 3, como a fic. Juro que não foi proposital... hahahhhaha

Vou postar as tres partes hoje, com um intervalo de meia hora cada um, para que quem quiser ler tudo junto como no original consiga.

Espero que curtam!
Boa leitura



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Capítulo 27 – Sacrifício – Parte 1

Mindy sentou-se em sua cela, no canto oposto à Jake, assim que Dave saiu atrás de Blaine. Ela tinha muitas dúvidas se o cientista iria cumprir com a sua palavra, mas eles não tinham outra opção, que não ficar ali sentados, parados, sem nada a fazer como estavam há dias. Aquilo não os levaria a lugar nenhum, e eles precisavam tomar uma atitude. Se Dave não descobrisse nada de útil, ao menos saberia onde encontrar Eevee, e isso já era muito mais do que eles poderiam esperar.

A garota se inquietou, porém, quando percebeu que Jody e Jack não deixaram a cela uma vez quando Blaine e Dave sumiram. A porta secreta se fechou, e eles continuaram do lado de dentro. Um de cada lado de onde a porta estivera, olhando fixamente para os dois prisioneiros. Ela percebeu que Jake também percebeu o quanto aquilo fugia do padrão e do esperado. Mindy não gostava quando a Equipe Rocket começava a entrar no terreno do inesperado. Eles sempre os surpreendiam e ela nunca gostava das surpresas.

Alguns minutos de silencio se passaram, incomodando os presentes com a dúvida no ar. Ela e Jake estavam claramente curiosos e alarmados, e os dois agentes pareciam saber como eles se sentiam. A tensão era palpável, e ainda assim ninguém se pronunciou.

Jake, depois de dez minutos, mais uma vez mostrou a sua falta de talento quando confrontado com o silêncio e foi o primeiro a rompê-lo, não aguentando mais.

– Por que vocês estão aqui? – perguntou, olhando para Jody.

A mulher olhou nos olhos dele e então fixou seu olhar na parede a sua frente, sem lhe dirigir a palavra. Mindy se esforçava para ler a expressão em seu rosto, mas era impossível. Seria hesitação? Seria pena? Ela podia apenas torcer para não ser pena. Não gostava da ideia de Jody ter motivos para sentir pena deles. Isso provavelmente significava que algo muito ruim estava a caminho, e eles não estavam preparados.

Começou a se arrepender de ter se separado de Dave, pensando em o que poderia estar acontecendo com ele. Logo, não conseguiu evitar o sentimento de dúvida quanto a possibilidade de vê-lo novamente. Será que ele desapareceria de sua vida para sempre, de uma hora para a outra assim? Será que a Equipe Rocket o mataria?

Ela lutou contra os pensamentos incessantemente, sabendo que se deixasse que eles tomassem conta de sua mente, em questão de segundos ela estaria em prantos.

Jack estava imóvel, quase sem indicar que estava respirando. Ele, com certeza, era mais frio que sua parceira, e provavelmente mais cruel, Mindy concluiu. Sempre fora o mais perigoso, por mais que Jody talvez demonstrasse um pouco mais de liderança. Subitamente, ela ficou com medo dele.

– Pare de me ignorar, Jody! O que estamos fazendo aqui?! – Jake perguntou novamente, dessa vez mais entusiasticamente, levantando-se.

Jack, dessa vez, virou-se rapidamente para o garoto mais novo.

– Sente-se, moleque. O que fazemos ou deixamos de fazer não é da sua conta... Você é apenas um prisioneiro.

Jody continou se forçando a olhar para frente, mas Mindy se perguntou por que o esforço que ela fazia era tão aparente. Agora a menina podia sentir com mais certeza a sua hesitação, quase com um pequeno toque de medo. Ela parecia estar prestes a fazer alguma coisa que não queria fazer.

– Não vou me sentar! – respondeu Jake, desafiador, surpreendendo a todos na sala. – Estou na minha cela e ando para onde quiser! - Ele caminhou até a frente de Jody e olhou nos olhos dela, enquanto ela tentava desviar o olhar. – O que está acontecendo? Pode me explicar?!

Jack deixou demonstrar raiva pela primeira vez, dando um passa a frente e se colocando entre sua parceira e o garoto com velocidade.

– Você tem o direito de me obedecer, seu moleque!

O homem preparou um soco que estava direcionado para o meio do nariz do menino mais novo e Mindy se apressou para colocar-se de pé. A menina, porém, não foi rápida o suficiente para ajudar Jake. Fora Jody que impedira o parceiro de agredir o menino.

Por um momento todos seguraram a respiração, incluindo os dois agentes. Jack olhava incrédulo para trás, sem entender por que a mulher o segurava. Jody, por sua vez, estava a beira das lágrimas, em um último momento de hesitação, como alguém que já estava se arrependendo de fazer o que estava prestes a fazer.

– O que... - Jack começou a dizer, quando a mão livre de Jody veio fechada em direção ao seu rosto.

Ele cambaleou e Jake deu um passo para o lado, saindo do caminho do homem. Mindy se pôs de pé sem entender o que estava acontecendo, até que o seu olhar se cruzou com o de Jody.

– O que vocês estão esperando? Segurem ele!

A menina se permitiu o seu momento de hesitação dessa vez, olhando para o rosto surpreso de Jack, apoiado contra a parede praticamente ao seu lado. Jake, entretanto reagiu mais rápido e assim que o homem tentou recuperar o equilibrou, o menino atacou suas pernas, aproveitando-se da sua baixa estatura para derrubar o agente maior, que caiu com a barriga virada para o chão.

– o que está acontecendo aqui? – Disse Jack, sem saber o que pensar. – Jody, o que você está fazendo?!

Nesse momento, Mindy pulou em cima do homem caído e prendeu seus braços contra o chão. Jody não precisava de muito mais do que isso. Tirou rapidamente uma seringa da roupa e injetou um liquido transparente no pescoço de Jack. Sua primeira lágrima caiu no momento em que tirou a seringa do parceiro, enquanto ele já começava a perder a força. Jack não conseguiu sequer voltar a se levantar antes de o liquido fazê-lo desabar desacordado no chão.

Mindy saiu de cima do homem e deu um passo atrás, olhando com desconfiança para Jody.

– O que é isso? – perguntou. – O que você está fazendo?!

– O que parece que eu estou fazendo? – respondeu a agente, claramente ainda abalada – Ajudando vocês, é claro!

– Sim! Eu sabia que você ia conseguir, Jody! Obrigado! – Jake correu para abraçá-la, e ela deu um pequeno sorriso como respostas, ainda com lágrimas a escorrer pelo rosto.

– Eu não vou sair daqui sem o Dave – Declarou Mindy, firme. – Aliás, como eu sei que posso confiar em você?!

Jody olhou para ela com raiva, quase a ponto de atacá-la. Mindy não titubeou. Ela pretendia seguir o que disse. Sem Dave, continuaria ali, mesmo que presa.

– Não vamos a lugar nenhum sem o seu queridinho namorado, garota – disse a mulher, com a voz carregada de desprezo. – E se isso não foi o suficiente para você confiar em mim, – disse ela enquanto apontava para Jack, desmaiado no chão – Isso deve ser.

Então Jody tirou do cinto sete pokebolas pequenas, jogando-as para Mindy e Jake, seus respectivos donos.

Mindy não podia acreditar no que estava vendo. De todas as fugas possíveis que imaginara, nunca teria colocado Jody como aquela que a resgataria. Nem ao menos poderia acreditar que tinha suas pokebolas novamente nas mãos.

– Vamos logo! – disse a mulher – Isso não vai apagá-lo por muito tempo.

E assim, eles saíram da cela.

*-*-*-*-*-*-*-*-*

– O que você está fazendo aqui? – perguntou Blaine, visivelmente surpreso. – Eu precisava de pelo menos mais meia hora com ele! Nós falamos isso! Deveríamos nos encontrar no elevador.

– O garoto forçou uma atitude mais rápida – Disse Jody, ofegante, apontando para Jake. – Eu não tive escolha. Teremos que agilizar as coisas aqui também. Por isso vim correndo, senhor.

Dave ainda estava com Eevee em seus braços. Mindy estava estática, olhando para ele esboçando um sorriso que nem ela sabia como dar. Estavam, finalmente, a beira de conseguir o que tinham ido até ali fazer, mas não sabiam como aquilo tinha acontecido. Tudo estava virando de cabeça para baixo, e eles ainda não haviam conseguido se localizar.

Blaine, por sua vez, estava vermelho, tanto de raiva quanto de nervoso. Era perceptível que a cabeça do homem mais velho trabalhava mais rápido do que nunca.

– Há quanto tempo Jack apagou?

– Cerca de sete minutos. Não chegou a dez – respondeu Jody.

Blaine hesitou.

– Vamos. Temos que sair daqui. – disse, dando um passo apressado a frente deixando seu jaleco esvoaçar.

– Como? – perguntou Dave, seguindo o homem.

– Vocês estão comigo. Não tem mais ninguém nesse projeto. Isso vai facilitar as coisas. – Blaine virou-se para Jody enquanto saia da sala onde Eevee estava. – Devolva as coisas do garoto. Pegou tudo? A caixa que te falei, inclusive?

– Sim, senhor.

Jody deu a Dave as suas Pokebolas. Estavam de volta à sala onde o teto inteiro havia se acendido como iluminação e a mulher abriu um pequeno armário, de onde retirou a mochila de Dave, intacta, como no dia que a tiraram dele.

Dave ainda não conseguia processar.

– Não tem ninguém no projeto? Como assim?

– Garoto, eu tinha planejado cerca de trinta minutos para te explicar as coisas. – Blaine mexia em seu computador sem se importar em explicar o que estava fazendo. Ele sequer estava olhando para Dave enquanto falava. – Você pode perceber que agora, não terei tempo para isso, não é? Seria esperto da sua parte apenas confiar em mim e fazer o que eu disser.

Dave encarou o homem com seriedade. O homem que os traíra para a Equipe Rocket e o responsável tanto pela captura de Eevee quanto pela morte do Dr. Kato, seu aluno e amigo. Agora era o mesmo homem quem lhe pedia sua confiança cega.

– Dave, – a voz de Mindy trouxe o garoto de volta. – Não temos outra opção. Você tem o Eevee, nós temos nossos Pokemons. A Jody até mesmo atacou o Jack para conseguir nos salvar. Temos na mão tudo o que viemos aqui para buscar, e tudo por causa deles. Não temos outra escolha que não confiar um pouco mais.

O garoto não sabia o que responder. As palavras de Mindy não o surpreenderam apenas por fazer sentido, mas por serem ditas justamente pela garota. A garota que deveria odiar Blaine. Que não deveria suportar olha no rosto do ex-líder de ginásio, que lhe privou a possibilidade de ter qualquer relação com seu pai, logo depois que ela descobrira quem Kato verdadeiramente era. E ali estava ela, colocando a sua vida nas mãos daquele mesmo homem.

– Ouça a garota, rapaz. Ela tem razão. – Blaine desligou o computador e virou-se para Jody. – Os níveis estão limpos, por enquanto. Temos quinze minutos. Vinte, talvez. Se tudo correr bem, só encontraremos guardas no primeiro andar.

– E o que vamos fazer quando isso acontecer? – perguntou Jake a Blaine.

– Nós lutamos – Ele deixou aquela ideia pairar no ar por um momento, até se virar para Dave.

– Quando chegarmos lá, você vai acabar com eles o quanto antes, não é?

Dave ficou pasmo por um momento até entender que não era com ele que Blaine estava falando, e sim com o Eevee, em seu colo. O pequeno Pokémon marrom acenou com a cabeça, com um olhar grave.

– Faremos de tudo para escapar bem hoje daqui – continuou o velho, agora falando com todos ao mesmo tempo. – Se conseguirmos, talvez nunca mais tenhamos que sofrer o que estamos sofrendo. Essa pode ser a nossa melhor chance de escapar da Equipe Rocket para sempre. – Ele se virou novamente para Eevee, aproximando-se do Pokémon com carinho – Uma última vez. É só o que eu peço para você. Se você puder usar o seu potencial mais uma única vez, não há nada no mundo que consiga nos impedir de sair. E, quem sabe, talvez você nunca mais tenha que utilizá-lo.

Dave sentiu a gravidade do que o homem estava falando, mesmo sem entender do que se tratava. Quanto mais existia sobre Eevee que ele ainda não sabia? Não bastava ser ele imortal e capaz de se regenerar, ele ainda tinha um “potêncial” escondido? E, se ele era assim tão especial, porque a Equipe Rocket fazia tanta questão de recapturá-lo? E porque tinham abandonado o projeto dele apenas com Blaine? Nada daquilo fazia sentido para Dave.

O grupo saiu da sala e voltou aos corredores, enquanto o garoto continuava tentando, sem sucesso, se focar no que estava fazendo e deixa todas as perguntas de lado. A única coisa que trabalhava mais rápido que a sua cabeça, tentando processar o que estava acontecendo, era o seu coração batendo descontroladamente.

Não conseguia distinguir os corredores por que passava correndo, mas percebeu como era incrível que, com um toque de Blaine ou de Jody, algumas paredes revelavam portas escondidas que ele nunca teria encontrado a olho nu. Não tinham tempo, porém, para examinar que mecanismo era utilizado para esconder ou proteger as portas, pois todos estavam quase correndo.

Blaine liderava o grupo, seguido de perto por Dave, Mindy e Jake, com Jody guardando o final, sempre lançando um olhar desconfiado e preocupado para trás. Tudo parecia estar correndo bem, e eles não haviam visto sequer um sinal de uma única pessoa em todo o percurso. Era como se o andar inteiro onde estavam estivesse sido deixado às baratas, o que não fazia o menor sentido, já que era o andar onde Eevee estava.

Blaine parou abruptamente de frente para uma parede e encostou um dedo nela. O local tocado subitamente se acendeu, como um botão luminoso. Dave conseguiu recuperar sua respiração por um minuto enquanto eles se mantinham parados, mas logo uma porta se abriu à sua frente. Uma porta de elevador. Dave não conseguia não se sentir surpreso com aquele lugar.

– Para onde estamos indo? Quando sairmos daqui, quero dizer – perguntou Mindy, não olhando para ninguém em específico, provavelmente evitando Blaine.

O elevador foi tomado por um silencio repentino e Blaine pareceu respirar fundo, como se preparando-se para dar uma resposta que não queria dar.

– Eu sinto falar isso assim, mas não podemos voltar para nossas casas. – Ele pausou, como se hesitando. – Nunca mais.

– O que?! Como assim?! – perguntou Jake.

– Prestem atenção. Todos aqui conhecem a Equipe Rocket. Não é nenhuma surpresa que essa organização não vai gostar quando perceber o que estamos fazendo. E não me restam dúvidas de que eles vão continuar a nos procurar. E não somente ao Eevee, mas a todos aqui. Por vingança, no mínimo.

– Vingança? Como assim?! – perguntou o garoto mais novo, nervoso.

– Ora, moleque, nós estamos enganando a maior organização criminosa do continente. Você não acha que eles vão aceitar isso de bom grado, não é? Eles tem uma reputação a zelar. Nós não estaremos seguros em lugar nenhum de Kanto. Nunca mais.

Aquilo pairou no ar por alguns momentos, sem que ninguém, nem mesmo Jake, pudesse contestar. Blaine, porém, suspirou novamente e continuou falando.

– Nem nós, nem a nossa família...

– O que?! – explodiram Dave e Mindy ao mesmo tempo.

Nesse momento, porém, um alto som agudo ecoou, proveniente de algum lugar acima de suas cabeças. O elevador parou de maneira violenta, desequilibrando a todos e todas as luzes se apagaram sem mais explicações. Blaine pareceu gelar.

– Fomos descobertos – foi só o que conseguiu dizer por um momento. Todos pareciam ter prendido a respiração.

– Jody, preciso que você suba e veja onde estamos. Precisamos sair daqui, de uma maneira ou de outra.

Jake estava prestes a perguntar para onde a agente deveria subir quando ela pulou e soltou um pedaço do teto do elevador. Aparentemente existia ali algum tipo de saída de exaustão. Com outro pulo, ela se agarrou as bordas da saída e puxou seu corpo para cima habilmente, desaparecendo no teto.

– Estamos entre o décimo e o décimo primeiro andar. Mais perto do décimo primeiro – disse ela.

– Você acha que conseguiremos abrir a porta e sair?

– Sim, senhor. Passamos apenas cerca de quarenta centímetros do décimo primeiro.

– Perfeito. Desça e abra a porta. E seja rápida.

Jody já estava pulando para dentro do elevador novamente e Blaine já havia se voltado para o trio de garotos.

– Sair daqui vai ser mais difícil do que o imaginado – declarou. – Eevee, você não deve se envolver em qualquer briga. Esse pouco tempo em que esteve aqui não te colocou na sua melhor forma, apesar de ter ajudado. E, se te derrotarem, dificilmente teremos mais esperanças. Vamos precisar de você, mas se entrar na briga, tenha certeza de que é necessário antes.

Ele respirou fundo antes de continuar. Jody abriu um pequeno compartimento secreto dentro do elevador, revelando algumas ferramentas que ela usaria para abrir a porta manualmente. Aquele lugar era realmente preparado para qualquer tipo de situação. Em pouco tempo ela começou a trabalhar.

– Quanto ao resto de vocês, vamos precisar dos seus Pokemons. Lembrem-se que estaremos dentro de um prédio, e simplesmente sair daqui pode não ser o suficiente. Podemos precisar fugir em alta velocidade. Dave, poupe seu Pidgeot. Mindy, o mesmo vale para seu Charizard. Eles podem ser importantes na batalha, mas sem eles, teremos poucas chances de escapar, mesmo que vençamos a luta.

Jody conseguiu abrir porta e eles se viram de frente para outro corredor, dessa vez mais comum. As paredes eram claramente de concreto, e eles podiam ver portas, como se aquele fosse um prédio comercial normal.

– Nós vamos continuar tentando descer – declarou o especialista e todos concordaram com a cabeça. - Não sei até que ponto fomos descobertos, portanto, mantenham-se calmos e tranquilos, sem pressa e sem chamar atenção. Se tivermos sorte, eles apenas descobriram que alguma coisa está errada. Ainda podemos sair daqui sem que ninguém nos ve...

Nesse momento, um grupo de três agentes surgiu na extremidade do corredor à frente deles. Os três pareciam alarmados e pararam assim que avistaram o grupo, cortando a frase de Blaine pela metade.

– Droga... – disse Dave.

– Corram – disse Blaine, centrado. – Sigam a Jody, ela sabe para onde ir. Eu vou lidar com eles e logo alcançarei vocês.

– Como?! – perguntou Mindy, visivelmente assustada. – Você vai lidar com todos eles?

– Simplesmente vá! Agora! – explodiu o cientista, sacando uma pokebola, enquanto os três agentes corriam na direção dos três.

Jody puxou Jake pelo braço e Mindy puxou Dave, correndo por um corredor lateral por cerca de cinco metros, até que encontraram uma porta cinza pesada, a prova de fogo. Estavam nas escadas de emergência. Logo atrás, ouviram os primeiros sons da batalha, logo abafados quando a porta se fechou.

– Nós precisamos descer – Disse Jody, correndo degraus abaixo – Temos que chegar ao Lobby antes que eles o alcancem. Se conseguirmos isso, enfrentaremos pouca resistência lá em baixo. Uma vez fora do prédio, talvez eles repensem essa perseguição.

– Talvez?! – questionou Dave, logo atrás.

– Talvez. Eles tem uma posição privilegiada em Saffron, e essa é uma de suas bases centrais. Enquanto a luta permanecer dentro do prédio, tudo pode ser contornado, mas uma vez em público, eles denunciariam a sua posição e, logo teria que deixá-la.

Dave estava prestes a aceitar a ideia quando Mindy levantou outra questão.

– Eles reviraram meio continente e matar meu pai por causa do Eevee. Tem certeza que manter-se em segredo vai ser tão importante?

– As coisas mudam com o tempo, garota – disse Jody, tentando soar misteriosa enquanto se mantinha focada nos degraus que passavam por baixo de seus pés. Já tinham descido mais dois andares. – E esse é um dos motivos pelo qual eu disse “talvez”.

Dave não se sentiu completamente reconfortado por aquelas palavras, mas não havia muito que pudesse fazer para muda-las. Aquela era a realidade, ou pelo menos o pouco de realidade que ele conhecia, e ele teria de enfrentar um problema de cada vez, como vinha fazendo desde que saiu da casa dos pais em Grené. E o próximo problema a ser enfrentado apareceu na forma do som de passos correndo atrás deles nas escadas.

Em um primeiro momento pensaram ser Blaine, correndo para se juntar ao grupo, mas logo perceberam que o som sugeria mais de um perseguidor. Estando em cinco, eles seriam alcançados logo.

– Todos os guardas vem de cima – disse Jody em voz alta, sem parar de correr. – Eles mantem o mínimo possível nos primeiros andares, para chamar menos atenção. Continuem a descer, entenderam? Não parem até que estejam lá fora! E então voem para o mais longe que puderem. Não esperem ninguém.

– Como assim? Onde você vai? – perguntou Jake. Todos, inclusive Jody, ainda corriam escada a baixo. Estavam agora no quinto andar.

– No terceiro andar eu vou parar para atrasar quem quer que esteja vindo.

– Como?! – disseram todos os outros em uníssono.

– Quando chegarem lá em baixo, Eevee deve ser capaz de lidar com os guardas que estiverem esperando sem nem precisar parar de correr. Mas se eles nos alcançarem, nos atrasaremos. E quanto mais tempo demoramos para sair daqui, mais tempo eles se reestruturam para nos prender.

Dave sabia que aquilo era verdade. Não entendia nem metade do plano que Blaine e Jody tinham armado, mas sabia que ele dependia, e muito, do elemento surpresa e da velocidade de execução. E, naquele momento, não podiam mais contar com o elemento surpresa. Restava apenas concluir tudo o mais rápido que pudessem.

– Ok – disse ele, segurando na mão de Mindy, que corria logo atrás dele. Observou o número quatro passar na parede e continuou descendo, sabendo que a mulher a sua frente logo daria um passo para o lado, deixando eles passarem e ficando para atrasar os perseguidores. Ele nem ao menos conseguia parar para considerar o que ela estava fazendo por ele. Teria de refletir sobre isso depois.

Quando ela parou, ele e Mindy passaram, mas então ouviram algo que não estavam esperando.

– O que você está fazendo?! – gritou a Jody, fazendo com que ele e Mindy parassem na hora e olhassem para trás. – Volta já a correr! Vai embora!

– Eu não vou te deixar para trás. Vou te ajudar! – Disse Jake, sacando uma de suas pokebolas enquanto se desvencilhava da mulher que o empurrava. Os passos de seus perseguidores pareciam mais próximos do que nunca. Talvez apenas um andar acima deles.

Jody olhou assustada para o menino, depois para Dave, Mindy e Eevee.

– Vão! – disse ela, diretamente para Dave. Não parecia conformada com a decisão de Jake, mas entendia que o mais importante era tirar o Eevee de lá. – O que estão esperando?! Corram! Já vou mandar esse moleque atrás de vocês!

Dave e Mindy hesitaram mais um momento, mas obedeceram as ordens de Jody, voltando imediatamente a correr. Já estavam no segundo andar quando ouviram o som de Pokemons sendo liberados de suas pokebolas pouco acima deles. E bem mais do que uma. Concluiu, em silencio e sem parar, que Jody não tinha conseguido convencer Jake a deixa-la. Dave não sabia o que pensar daquilo também. Odiava aquela correria cega. Não lhe tirava de seus pensamentos, mas também não lhe dava tempo para desenvolvê-los.

Aquilo, porém, não era importante no momento. Apenas mais um andar e eles estariam no térreo.

– Vamos, estamos quase lá – se pegou dizendo, sem saber se era para Eevee ou para Mindy.

– Eu sei. Quase... – disse a menina, quase em um suspiro, enquanto tentava recuperar o folego.

Como se em uma piada de mau gosto, eles perceberam que a distancia do segundo andar para o primeiro era a maior de todo o prédio. Como se o primeiro tivesse, na verdade, a altura de três andares. Dave sentiu que falara “quase” um pouco cedo demais.

Quando finalmente haviam chegado ao primeiro andar tiveram de fazer força para empurrar a pesada porta a prova de fogo da escada de emergência. Sem folego, estavam supreendentemente se forças também, de modo que se esforçaram muito mais do que esperava ter de se esforçar. Descobriram, para seu desgosto, que a piada de mau gosto ainda não havia acabado e, por algum motivo, o primeiro andar possuía duas daquelas portas pesadas.

Quando chegaram ao salão de entrada, porém, não conseguiram mais respirar.

Não era por falta de folego, ou por causa de toda a correria. Dave, Mindy e Eevee perderam o ar com o que viram a sua frente. Blaine e Jody os levaram a crer que eles encontrariam poucos guardas surpresos ali, que pouco poderiam fazer para impedir que eles passassem, principalmente levando em conta que Eevee estava com eles, e pronto para luta.

O que eles viam naquele momento era ninguém menos que Peter e Gabrielle, com um grande número de agentes Rocket às suas costas, parados de braços cruzados encarando o grupo de fugitivos. Eram tantos agentes que Dave nem ao menos se deu ao trabalho de contá-los. Podia apenas perceber que todos já haviam sacado as suas respectivas pokebolas. Alguns até tinham mais de uma nas mãos, o que era raro para agentes de baixo nível. Ninguém ali era iniciante. E ninguém ali estava de brincadeira.

Dave sentiu um calafrio percorrer sua espinha quando percebeu o sorriso no rosto de Gabrielle. Eles não tinham mais o elemento da surpresa, e não podiam mais correr. Dave sabia que aquilo era exatamente o que Blaine havia tentado evitar, e ele sabia que não seria uma boa ideia dar continuidade ao que estava acontecendo. Blaine havia ficado para trás para enfrentar ao menos três, quem sabe quantos outros agentes. Jody e Jake também, provavelmente se sacrificando. Tudo para que Dave e Mindy pudessem escapar o mais rápido possível com Eevee. Mas ele também não sabia o que fazer, enquanto encarava aquilo que mais parecia um exército a sua frente. Um exército aparentemente certo da vitória que conquistara. Só havia uma única coisa que lhe restava fazer.

Eles não tinham outra opção, que não lutar.

*-*-*-*-*-*-*-*-*

Eevee pulou do colo de seu treinador para o chão assim que percebeu o que estava prestes a acontecer. Gabrielle estava ali, acompanhada de muitos outros agentes de patente alta dentro da organização. Aquilo não seria uma disputa comum. Seria uma verdadeira batalha. E há muito tempo o pequeno Pokémon marrom não se sentia pronto para uma batalha como se sentia ali. Já enfrentara uma batalha assim anteriormente, da primeira vez que fugira. E, naquela ocasião, lutava apenas por si mesmo, sozinho. Agora tinha Dave consigo, e Mindy.

Não podia deixar que os agentes se apoderassem de seus dois melhores amigos. Os dois haviam se sacrificado tanto para salvá-lo e para protegê-lo que a pequena criatura sentia-se responsável por retribuir. E, se capturados, nenhum dos dois podia oferecer nada a Equipe, o que significava que seriam descartados. Eevee conheciam muito bem os métodos de descarte dos criminosos.

O sorriso no rosto de Gabrielle parecia ameaçador, mas Eevee não se deixava enganar. Lutara contra a mulher antes. Nunca fora fácil, é verdade. Ela era a única a quem Geovanni permitia comandar os seus pokémons. E aqueles pokémons eram os únicos que, algum dia, já puderam oferecer um verdadeiro desafio para ele. Ele cresceu muito enfrentando aquelas criaturas, e, no topo da sua forma, começou a derrotá-las com mais facilidade.

Sabia, porém, que não estava no topo da sua forma. O curto tempo que passou na sede não fora suficiente para restaurar o que meses em liberdade fizeram com suas habilidades. Treinar com Dave era bom, mas ele imprimia o ritmo de um treinador iniciante, como era de se esperar. E, mesmo quando Kato chegou, o nível de treinamento crescera pouco. A verdade é que em lugar nenhum ele poderia encontrar um ritmo de treinamento tão forte quanto o do Equipe Rocket. E era exatamente disso que ele estava fugindo. Sem contar que todo o esforço envolvido com se esconder e se manter sob o comando de um treinador eram freios com que ele aprendeu a se acostumar. Mas ele sentia que ainda era o mesmo, apesar de tudo. Sabia que podia derrotar todos os oponentes, mesmo que não com a mesma facilidade. Ele tinha que derrota-los.

E tinha seus amigos para ajudá-lo com isso. Não apenas Mindy e Dave, mas também todos os seus pokémons. E por isso sabia que o sorriso no rosto da mulher que os desafiava era uma máscara usada para assustar, intimidar. Toda aquela confiança era falsa. Por trás, ela mesma estava bastante assustada. Ou ao menos deveria estar.

O Scyther de Peter foi o primeiro a se liberar da Pokebola, e, por algum motivo, Eevee se lembrou da vez que teve de lutar com ele, meramente um dia depois de sua fuga. Sentiu vergonha ao se lembrar do que havia ocorrido. O Scyther não o havia derrotado de fato, mas ele pensava estar mais forte do que verdadeiramente estava. Ele só percebeu isso quando o golpe desferido pelo Pokémon inseto, que normalmente mal teria lhe incomodado, o deixou estirado no chão, sem ar. Aparentemente apenas duas noites de descanso não fora o suficiente para que ele se recuperasse depois de todo o esforço da fuga. Sem contar com o fato dele ter de manter sua capacidade escondida e de ainda estar se adaptando aos comandos de Dave, que em muito reprimiam seus reflexos e seus instintos.

Sentiu uma súbita vontade de vingança, mas ela sumiu um segundo depois, quando o Venomoth e o Gengar de Giovanni saltaram das pokebolas lançadas por Gabrielle, logo seguidos por Rhydon e Golem. Um Onix foi liberado em seguida, e mesmo com a tremenda altura do salão, teve de se curvar e ocupou mais da metade do espaço entre o grupo de fugitivos e os guardas.

Ao seu lado, de um momento para o outro, apareceram Arcanine, Vileplume, Poliwrath e Sandslash, seguidos imediatamente pelos Nidoking e Nidoqueen de Mindy. O pequeno Pokémon olhou para seus amigos sentindo-se imensamente confortável por um momento, feliz pela ajuda, e então parou para perceber algo que ele não registrara no primeiro momento.

Olhou para as formas evoluídas de seus antigos amigos e perdeu o ar. Em um momento raro na sua vida, ele não soube entende ou sequer exprimir o que sentia. Seus olhos encheram-se de água, enquanto ele esquecia-se da batalha que o esperava e mirava aqueles Pokémons evoluidos. Olhou então para Dave, que cruzou seu olhar.

– Isso mesmo, eles evoluíram! – disse o garoto, sorrindo e olhando fundo em seus olhos.

– Como se isso fosse adiantar alguma coisa... – respondeu Peter, achando que Dave falava com os adversários.

– Eles evoluíram pra você... – completou Mindy, percebendo o que estava acontecendo.

Aquilo acendeu um fogo dentro de Eevee que mais tarde nem ele soube explicar. Olhou para cada um de seus amigos, agora maiores e mais fortes, muito provavelmente ainda aprendendo a lidar com as suas próprias novas peles e capacidades, e sentiu-se explodir. Nunca soube se de alegria ou de raiva por ter colocado seus amigos em uma posição tão delicada que eles tiveram de fazer aquilo por ele, mas não importava. Todos estavam sorrindo, e para ele. Por ele. Por um momento o adversário a frente não existia. Por um momento ele não se sentiu como se tivesse que fugir. Por um momento, Eevee se sentiu abraçado, confortável e seguro, como se nada no mundo pudesse tocá-lo. Sentiu-se mais forte do que já tinha sido uma vez, e um pouco mais. Sentiu-se imbatível.

E então, os adversários voltaram a existir. Ele olhou para frente e fitou todos nos olhos, até mesmo os outros que ainda saiam das Pokebolas dos agentes comandados por Gabrielle. Viu um Tauros, um Kadabra, um Golduck e tantos outros, mas não se sentiu ameaçado. Sentia-se vivo e poderoso, com seus amigos a sua volta. Sentia-se invencível.

A batalha estava prestes a começar.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam?

Espero que tenham curtido! Espero vocês nos comentários!



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