Evolution: Parte 3 escrita por Hairo


Capítulo 19
Enfrentando Desafios


Notas iniciais do capítulo

Voltamos para a ilha, galera, e para o nosso grupo de amigos, que mal sabe o que lhe espera. E aí, o que você acham que vai rolar?

Sem mais enrolação, vamos ao que interessa. Boa leitura!



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Capítulo 19 – Enfrentando Desafios

– Eu quero ir ao vulcão.

Declarou Dave aquela noite após o jantar, enquanto ele observava o desespero tomar conta do olhar de Mindy. Os dois estavam sozinhos, nos fundos do centro Pokémon, onde tinham passado a ultima hora apenas conversando um com o outro, sentados na grama lado a lado. O Jake e Kato tinham ido se deitar, depois de um esquema simples, porém bem executado pelo casal, que sabia que tanto o menino mais novo como o homem mais velho não costumavam deixar os dois sozinhos com facilidade. Eles haviam se despedido após o jantar, desejado boa noite uns para os outros e rumado para seus quartos, como normalmente faziam. Depois, Dave só precisou arrumar uma desculpa qualquer para sair do quarto novamente e encontrar Mindy do lado de fora. Caso Jake ficasse acordado ele podia estranhar a demora do menino, mas Dave apostava que o garoto se rendia ao sono antes que aquele momento chegasse.

Os dois haviam conversado sobre os seus respectivos dias, e Dave tinha lhe contado em muitos detalhes cada passo da batalha que travara com Blaine naquela manhã, tentando lembrar-se de todas as condições e de qualquer informação ou reação que pudesse dar a Mindy alguma ideia do que fazer quando enfrentasse o líder. Riram quando lembrar que no início da viagem os dois haviam se estranhado devido a uma rivalidade que há muito havia ficado para trás. E então Dave lhe contou sobre a visita à casa de Blaine e sobre a sua conversa.

A menina ficara especialmente decepcionada quando ele lhe contou que Blaine se recusara a falar sobre o Dr. Kato, mas não culpo Dave por ter deixado que ele trocasse de assunto. Ela sabia que o menino estava tentando desde antes de seu reencontro juntar as pedras da evolução, já que a maior parte do seu time poderia fazer uso delas. Mesmo que Eevee tivesse recusado a evolução, Gloom, Poliwhril e Growlithe ainda se mostravam abertos àquela perspectiva, mesmo que ainda não demonstrassem estar prontos para dar o próximo passo na cadeia evolucionaria.

Mindy aprendera a respeitar aquele desejo do menino, principalmente depois de perceber o quão cuidadoso ele vinha sendo com o trato e o desenvolvimento de seus Pokemons em relação a evolução. Kato também vinha ajudando bastante o grupo a entender e a lidar com esse tipo de assunto. Ainda assim, ela não compartilhava do mesmo desejo de encontrar pedras que o garoto, mesmo que soubesse que seu Nidorino e sua Nidorina poderiam evoluir usando uma pedra da lua. E, mesmo que entendesse o desejo do garoto, ela não poderia aceitar que ele estava seriamente considerando entrar em um vulcão para conseguir uma pedra.

– Você está de brincadeira né?! – disse ela, sabendo muito bem que o menino falava sério.

– Ele não entra em erupção há muito tempo... – começou a falar ele, mas parou quando viu a menina balançando a cabeça negativamente.

– Você não vai, Dave! Pelo amor de Deus, me escuta! Não vai...

– Mindy, eu sei que parece perigoso, mas o Blaine conversou comigo. Deixa eu te contar. Ele me disse por onde ir, disse quando ir, e me instruiu bastante sobre os cuidados que eu deveria tomar.

– E ele por acaso vai com você?

– Ele disse que não...

– Porque não?!

– Eu sei lá... – respondeu Dave, começando a se deixar irritar. Gostava da preocupação da menina e sabia que ela tinha fundamento, mas para ele as coisas faziam perfeito sentido – Ele disse que tem obrigações no ginásio e no laboratório, disse que só poderia ir a noite e que ele não gosta. Ainda assim, ele disse que os riscos não são tão grande assim...

– “Não são tão grande assim”?! – explodiu a menina, tendo dificuldades em manter o tom de voz baixo – Dave você vai estar se arriscando tremendamente, apenas por uma pedra de fogo. Nós podemos procurar em outros lugares, ou voltar a Celadon depois e juntar dinheiro. Você não precisa entrar em um caldeirão fervente de lava!

Dave suspirou alto, tentando manter o controle.

– Eu sei que talvez tenha outras maneiras de conseguir uma pedra do fogo, mas eu tenho uma chance aqui e agora. E eu vou ter todos os meus Pokemons comigo. Eles podem me ajudar!

– Mas Dave, é perigoso de mais por algo que não vale a pena...

– Não vale a pena? Quem é você pra dizer que não vale a pena? Isso pode acabar aqui e agora, Mindy. Eu não vou mais ter que ficar por ai procurando. E não é tão perigoso assim, eu já disse! Pergunta pro seu pai! O Blaine disse que ele já foi e sabe como é...

Assim que terminou de falar, Dave percebeu o que tinha dito. Mindy se chocou por um instante e olhou fundo nos seus olhos. Ele não sabia se ela estava com raiva, chocada, ou uma mistura dos dois. Pensou que talvez ela fosse chorar, mas suas expressões não deram nenhum sinal de tristeza.

– Ele... Ele não é meu pai. Quer dizer, eu não sei se ele é meu pai... você sabe – disse ela, ainda procurando estabilizar a voz.

– Eu sei, eu sei, me desculpe. Não sei o que deu em mim... – disse Dave, passando uma mão sobre os ombros da menina e a puxando para um abraço.

– Ele disse que o Dr. Kato já foi ao vulcão? Porque você não disse isso antes? – perguntou ela, com a cabeça recostada no peito do menino.

– Não falou muito sobre isso, mas disse que ele já o acompanhou uma vez. O Blaine disse que o Kato poderia me ajudar, mas que não tinha um terço da experiência que ele tem. Eu perguntei mais, mas não consegui descobrir mais nada...

– Entendi...

– Olha, eu sei que você fica preocupada. Eu ficaria imensamente preocupado se fosse você a entrar – disse ele, pensando naquela possibilidade pela primeira vez e sentindo um arrepio – mas eu sei que posso fazer isso, e posso fazer isso agora. Você tem que entender...

– Então eu vou com você! – disse ela, se afastando de seu abraço e olhando ele no olho. Viu imediatamente que Dave não gostou da ideia.

– Não! Sem chance... Não vou te colocar em um perigo desnecessário. Quem quer a pedra sou eu.

– Agora o perigo é desnecessário não é?

– Não, espera... – ele deu um longo suspiro, tentando arrumar seus pensamentos – Olha, eu disse pro Blaine que iria amanhã pela manhã. Você estava se preparando para ir enfrentar ele amanhã lembra?

– Eu espero, não tem problema...

– Mas Mindy, ai nós vamos perder tempo. E você sabe que ainda temos muito chão para viajar antes de termos oito insígnias cada um. Por favor, isso não é necessário! E ainda por cima você não ouviu tudo o que o Blaine falou, pode ser ainda mais perigoso.

– Dave você mesmo disse que o perigo é desnecessário. Disse que você se preocuparia do mesmo modo se fosse eu a entrar lá. Você tem que entender o meu lado. Eu vou com você ou você não vai...

Dave respirou fundo e pensou por um segundo. Os argumentos da menina pareciam justos, mas ele não iria aceitar levar ela simplesmente de acompanhante. Uma coisa era entrar no vulcão com um objetivo. Outra completamente diferente era entrar simplesmente para fazer companhia a alguém. E ela não tinha nenhuma experiência nem tinha ouvido a conversa e todos os conselhos de Blaine sobre o que fazer e o que evitar. A sua presença poderia fazer a viagem ser ainda mais perigosa. Foi então que ele teve uma ideia.

– Olha, vamos tentar achar um meio termo – disse.

– Não tem meio termo...

– Claro que tem! Me escuta – disse ele, um pouco mais ríspido do que o normal. Ela se calou a contragosto, mas escutou – Você não ouviu as instruções e não seria a mesma coisa se eu repetisse elas para você. Além do mais, eu ficaria imensamente preocupado com você lá dentro, o que pode me distrair e deixar tudo muito mais perigoso.

– Mas... – ela começou, mas parou quando ele levantou a mão, indicando que ainda não tinha terminado.

– Eu tenho uma proposta. Eu e você falamos com o Kato amanhã e ele me acompanha. Ele tem o Alakazam, que pode tirar a gente de lá se alguma coisa der errado, além de já ter alguma experiência por ter acompanhado o Blaine antes. Assim você pode ficar um pouco mais tranquila, e a gente não precisa perder tempo de viagem. Você vai ao ginásio com o Jake enquanto eu vou ao vulcão com o Kato.

A menina não parecia ter gostado muito da ideia.

– Olha, antes só você ia entrar no vulcão e eu já estava preocupada. Agora você propõe que você e a pessoa que talvez seja o meu pai entrem no vulcão e isso deveria me deixar mais tranquila?!

– Sim! Vamos lá Mindy, por favor. Você sabe que esse é um bom plano. Eu vou ao vulcão e não vou levar você só para que você fique mais tranquila. A única diferença é que eu não quero ter que mentir para você e ir escondido. Eu quero ser honesto e aberto com você, sem segredos. Mas se for agir assim isso vai ser difícil...

Dave sabia que aquele apelo era perigoso. Ela poderia aceitar e entender, ou ficar ainda mais irritada. Ele estava dizendo claramente que estava disposto a mentir para ela se necessário, mas apenas depois da tentativa de ser completamente honesto. Rezou para que tudo desse certo.

A menina, por sua vez, balançou com os argumentos do menino. Não estava disposta a ceder nem um pouco, mas sabia que ele tinha razão naquele momento. Ela sempre fora independente e entendia perfeitamente mentir para fazer o que queria. Já mentira para sua mãe e para seu avô, e sabia que quando realmente queria fazer alguma coisa, a simples proibição de alguém não era o suficiente para segurá-la. Sabia que aquilo havia, com o tempo, contribuído para que ela não tivesse a melhor das relações com sua mãe, e culpava a sua atitude super protetora por obriga-la a fazer aquilo todas as vezes que as duas discordavam. A última coisa que queria fazer era obrigar Dave a fazer o mesmo. E não o culparia totalmente se ele cumprisse o prometido.

– Eu não sei... – disse finalmente, suspirando e olhando para longe. Dave imediatamente soube que tinha vencido.

– Sabe sim. Desculpa ter que colocar você nessa situação, eu odiaria ser a pessoa a ficar aqui. Mas você entende que tem certas coisas que a gente precisa fazer.

– Aham... – disse ela, finalmente cedendo – Mas você tem que me avisar assim que sair de lá! Venha me encontrar imediatamente está entendendo?!

– Tudo bem... Obrigado – disse ele sorrindo, e então a puxou para um longo beijo apaixonado.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Convencer Kato de que entrar no vulcão em busca de uma pedra de fogo havia sido quase tão difícil quanto convencer Mindy, o que apenas serviu para deixar a menina ainda mais nervosa. Em certo ponto Dave teve de convencê-la novamente, enquanto discutia com Kato, até que os dois aceitassem as ideias do menino. Jake, por sua vez, parecia neutro em relação a tudo. O fato de não ter que entrar no vulcão com Dave e ficar sozinho com Mindy era mais do que motivo suficiente para que ele aceitasse o plano sem questionamentos.

A discussão tomou todo o café da manhã do dia seguinte a vitória de Dave sobre Blaine, e Mindy chegou a se preocupar em perder a hora. Não tinha ideia do horário exato em que o líder de ginásio fechava suas portas e se encaminhava até o laboratório para cumprir a sua função de pesquisador também, mas estava começando a se preocupar com isso quando decidiu pular o treinamento que Kato tinha oferecido a Dave no dia anterior.

O especialista não se opôs à decisão, sabendo bem das limitações de tempo e muito preocupado com o que viria a seguir. Estava muito disposto a ajudar Dave a encontrar as pedras da evolução, mas nunca havia imaginado que teria de se aventurar mais uma vez dentro do vulcão de Cinnabar quando recomendou que o menino fosse até a ilha. Já estivera lá uma vez, mas fora acompanhado de Blaine, um especialista em quem tinha plena confiança. Agora, porém, acompanhava um treinador com menos de um ano de experiência em jornada. Estava longe de se sentir tão seguro e sabia perfeitamente bem dos riscos que corria.

Dave havia explicado para Mindy que iria até a casa de Blaine, muito próxima ao vulcão. Explicou que ele deveria ser discreto e entrar escondido, pois nem mesmo os funcionários do homem deveriam saber da entrada para o vulcão, muito menos que Blaine havia instruído um treinador a entrar sem a sua presença. As autoridades da ilha poderiam não gostar de qualquer tipo de interferência no vulcão, tendo em vista o risco de despertá-lo e, com isso, destruir toda a cidade. Dave sabia que tinha uma responsabilidade muito grande e se sentia mais tranquilo por ter Kato ao seu lado. Apesar de não ser um especialista como Blaine, o pesquisador já se mostrara inteligente e seu Alakazam também poderia se mostrar incrivelmente útil.

Despedir-se foi um momento difícil. Mindy não conteve um forte abraço em Kato, que pareceu mais feliz do que Dave jamais tinha visto enquanto retribuía o carinho da menina. Nenhum deles falou nenhuma palavra, e Dave teve mais certeza do que nunca de que as suspeitas da garota estavam certas. Em seguida ela abraçou Dave e constrangeu a todos quando lhe deu um longo beijo.

– Não demora, e não me obrigue a ir atrás de você... – disse ela quando o soltou, fazendo com que ele sorrisse levemente.

– Até daqui a pouco, boa sorte no ginásio.

– Não vou precisar de sorte – disse ela, e então, virou as costas e partiu pela rua tentado se focar em conseguir mais uma insígnia.

Dave e Kato a observaram com melancolia enquanto tentavam controlar as batidas do coração, acelerado no peito dos dois. A observaram até que ela virou em uma ruela e sumiu de vista, e então deram um grande suspiro. Dave sacou uma Pokebola e liberou seu Pidgeot, e Kato sorriu quando ele lhe estendeu a mão para ajuda-lo a subir nas costas do pássaro gigante.

– Com o Alakazam seria mais rápido – disse o especialista.

– Não muito... – respondeu com um leve sorriso – e nós deveríamos poupar ele por precaução.

Kato concordou com a cabeça enquanto se acomodava atrás do garoto de Grené.

– Pronto? – perguntou Dave, perguntando sobre muito mais do que o simples voo que estavam prestes a fazer.

– Pronto – disse ele, finalmente aceitando a aventura que tinham pela frente.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Mindy não levou tanto tempo quanto Dave para encontrar o ginásio de Cinnabar e logo encontrou a escada que a levaria para o subterrâneo, uma vez que Dave já havia lhe contado sobre a passagem secreta e a charada. Jake achou muito interessante a ideia de Blaine de testar a capacidade mental dos treinadores. Nem todos eles possuíam muita capacidade lógica e isso fazia com que os menos capazes não tivessem ao menos uma chance de desafiar o líder. Uma vez desafiado, um líder não podia recusar o desafio, mas se conseguissem evitar serem desafiados por qualquer um que aparecesse a sua porta, não tinham obrigação de lutar.

Mindy demonstrou muita delicadeza e cuidado ao fechar o alçapão que dava entrada para o subterrâneo, tendo se lembrado do alerta de Dave de que Blaine não achava de boa educação deixar a passagem aberta a qualquer um. Mesmo com a tocha acesa, ela liberou seu Charmeleon para que se sentisse mais segura ao descer os degraus. Jake também parecia desconfortável naquele ambiente escuro.

Desceram as escadas e atravessaram o corredor escuro sem hesitar por um momento sequer e em pouco tempo os dois chegaram ao portão que o menino de Grené lhes havia contado. A menina admirou por um segundo a beleza do metal e, sem mais delongas, empurrou o grande portão para dentro com todas as suas forças, ajudada por seu Charmeleon e por Jake. Conseguiram depois de algum esforço e então puderam contemplar a grande arena iluminada por varias tochas por todos os lados. Blaine, entretanto, não estava do outro do campo de batalha.

Pela primeira vez desde que chegara ali a menina hesitou. Deu então um passo a frente e se postou no lugar designado a ela na arena, olhando para Jake com duvida nos olhos, mas ele também parecia perdido. Ela não ousava chegar mais perto. Olhou a sua volta esperando que algo acontecesse, mas tudo permaneceu imóvel. Nenhum som além de sua própria respiração podia ser ouvido. O corredor por onde ela sabia que Blaine deveria sair estava completamente escuro. Dave lhe contara que aquele corredor subterrâneo se estendia por centenas de metros e terminava em um elevador, que daria diretamente na casa do líder.

Será que eu estou atrasada? Pensou a menina, levemente decepcionada. Estava contando com a distração da luta no ginásio para se distrair e não pensar em Dave e em Kato se aventurando para dentro do vulcão. Não queria se deixar ficar angustiada pensando neles.

– Alo?! Tem alguém ai? – perguntou ela, ansiosa.

– Um minuto! Vocês foram muito rápidos! – ela ouviu uma voz que imaginou pertencer a Blaine vinda de algum lugar desconhecido.

– Ah, claro... – disse ela para si mesma, não conseguindo conter uma breve risada.

Blaine surgiu pouco depois do outro lado da arena com o rosto levemente avermelhado e com a respiração levemente arfante. Mindy já havia recolhido seu Charmeleon, achando melhor deixar para que o renomado pesquisador descobrisse a sua existência quando a batalha fosse eminente. O líder sorriu para a menina, que lhe sorriu de volta amigavelmente.

– Desculpe por te deixar esperando. Eu recebo um alerta quando alguém consegue resolver a charada, mas as pessoas não costumam chegar aqui tão rápido – disse ele.

– Não tem problema. Meu nome é Mindy. Mindy Noah – disse a morena, simpática – e esse, como você sabe, é o Jake.

Blaine pareceu paralisar um momento e estudou cuidadosamente Mindy, dos pés a cabeça, dando muito pouca atenção para o menino ao seu lado. A garota não sabia muito bem como responder ao silencio do pesquisador mais velho, mas ele não demorou a finalmente se apresentar.

– Seja bem vinda Mindy, Jake. Meu nome é Blaine, e agora tudo faz muito mais sentido. Ouvi falar muito bem de você, menina...

– De mim? – ela perguntou com um leve sorriso, curiosa – O Dave fala muito às vezes...

– Dave? – perguntou Blaine, ligeiramente confuso – Sim claro! Dave... Isso explica como você chegou aqui tão rápido.

– Devo admitir que ele me contou como chegar aqui sem muitos problemas.

– Ora, não tem problema. Imagino que terei que dificultar a batalha pra você, para deixar tudo mais justo não?

Mindy pareceu gostar da provocação.

– Espero mesmo que você de o máximo de si... – disse ela, se animando.

– Eu gosto do seu espirito mocinha – Blaine a observava com grande interesse - Porque não começamos então?

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

O grande Pokémon pássaro sobrevoou a cidade em poucos minutos e se direcionou diretamente para o vulcão com seus dois passageiros as costas. Dave observou o movimento de turistas aumentar até que a costa foi ficando mais distante. Logo estavam sobrevoando uma área mas arborizada e, em seguida, a grande casa de Blaine surgiu na montanha que parecia mais uma extensão do grande vulcão.

Dave pedira que Pidgeot pousasse cerca de cem metros antes do destino lembrando-se de que Blaine pedira segredo absoluto em relação aquela pequena aventura. Localizou um pequeno parque para crianças e comunicou seu Pokémon, mas Kato sugeriu que eles tentassem outra coisa. Sobrevoaram então diretamente a casa do líder de ginásio. Dave foi logo capaz de observar a fonte de água quente de que o dono do lugar havia lhe indicado e não observou nenhum empregado ou pessoa que pudesse estar passando pelo lugar.

Kato então liberou seu Alakazam nas costas do grande pássaro e ordenou que ele imediatamente se teletransportasse para a fonte e procurasse qualquer sinal de que alguém estivesse observando. Dave imediatamente soube que trazer Kato talvez tivesse sido a melhor idéia que ele tivera naquela ilha até então.

O Pokémon psiquíco não se demorou. Em menos de um minuto ele estava ao lado da fonte, olhando para os lados, e em seguida de volta as costas do Pokémon de Dave. Kato não precisou nem ordenar e Alakazam agarrou seu treinador e o teletransportou para baixo com ele. Dave só teve tempo de tranquilizar seu Pidgeot antes que chegasse a sua vez.

Ser teletransportado era algo com que ele acreditava que nunca iria conseguir se acostumar. Em um milésimo de segundo se está em um lugar, fazendo uma coisa, e em outro tudo está diferente. O que aconteceu naquele momento fora o mais claro exemplo dos problemas que o menino tinha para se adaptar aquele estranho modo de se mover. Ele estivera, naquele mesmo segundo, sentado sobre as costas de um pássaro a centenas de metros de altura. No momento seguinte, deveria estar em pé ao lado da fonte quente dentro da casa de Blaine. Obviamente ele não moveu suas pernas a tempo e caiu sentado no duro chão de pedra e sentiu uma forte pontada de dor na região do cox.

– Ai! - exclamou Dave, antes mesmo que se lembrasse que estavam escondidos e, portanto, era mais prudente ficar calado.

Eevee conseguira pular das costas de seu treinador a tempo e agora ria em silencio com Kato, enquanto o menino massageava a área que sofrera impacto ainda sentado. Levantou-se pouco depois, ainda sentindo uma quantidade consideravel de dor, e estendeu a Pokebola de Pidgeot para o alto, recolhendo o grande passaro que ainda sobrevoava, sozinho, o local.

Dave então olhou a volta e viu a grande fonte de água quente, alimentada por uma torneira de pedra em forma de Gyarados. Bingo! pensou, enquanto apontava para a estatua de pedra. Eevee não pensou duas vezes e deu dois saltos para conseguir ficar em pé sobre a cabeça do Pokémon dragão aquático. Um segundo passou sem que nada acontecesse e, naquele segundo, o coração de Dave despencou sem saber o que fazer. Em seguida, porém, a estatua pareceu descer como se fosse uma alavanca puxada para baixo e, a sua direita, uma grande pedra que Dave poderia jurar fazer parte da montanha se moveu lenta e silenciosamente para o lado, revelando um túnel escuro que se direcionava diretamente para dentro do vulcão.

Dave e Kato suspiraram. Olharam-se por um momento e então deram um passo a frente, contornando a piscina de água quente e entrando finalmente na passagem secreta de Blaine. A primeira parte daquela pequena aventura havia sido concluída com sucesso. Eles entraram na casa do pesquisador de Cinnabar despercebidos e encontraram a passagem para a montanha. Tudo o que restava agora era enfrentar o vulcão.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Mindy observou pensativa o Pokémon a sua frente. Um cavalo de pele bege sobre quatro longas patas. Se se estendesse sobre duas provavelmente chegaria a dois metros de altura. Tinha chamas saindo da borda de seus cascos negros, assim como do topo da cabeça e das costas, onde um cavaleiro supostamente poderia monta-lo. Seu rabo era inteiramente composto de fogo. Mas não foram esses atributos em que Mindy se espelhou para escolher seu Pokémon e sim o chifre que o cavalo tinha saindo de sua testa.

Eu também tenho um Pokémon com chifres pensou a menina, e sacou uma de suas quatro Pokebolas. E então de frente para a Rapidash de Blaine surgiu o forte Nidorino da morena. Desafiador como sempre, ele encarou seu adversário consideravelmente maior do que ele e se postou para a luta. Aquela não seria uma batalha simples, com certeza. O Pokémon de Blaine era visivelmente bem criado, tendo em vista seu tamanho, sua postura e sua atitude inabalável. Nisso ele até se parecia com seu treinador, que escondera o sorriso assim que liberou o cavalo de sua Pokebola e passou a usar uma expressão inteligível.

– Investida Flamejante – ordenou o homem mais velho de repente.

Mindy, entretanto, já estava preparada para o fato de a luta não ser oficiada por um juiz, o que Dave a alertara que podia ser uma vantagem para Blaine no inicio do combate. A menina ordenou rapidamente um movimento de contra ataque, fazendo com que seu Nidorino pulasse de lado e atacasse o oponente com uma rajada de seus espinhos envenenados. Apesar de tudo, a força e velocidade de Rapidash impressionaram a garota. A musculatura definida do cavalo parecia preparada para explodir por baixo da pele a qualquer momento e quando ela saltou para frente a sensação fora de que ela realmente tinha sido impulsionada por uma explosão.

Nidorino escapou por pouco e seu ataque mais serviu para impedir que seu adversário o perseguisse do que para afetá-lo diretamente. O Pokémon de Blaine deveria ter mais problemas com a mobilidade do que o de Mindy, devido a seu peso e tamanho, mas o seu porte físico era de fato impressionante e colocava os dois oponentes praticamente no mesmo nível.

– Queime ele, Rapidash! – ordenou novamente Blaine.

Mindy sabia o que aquilo significava e não gostou do que previu.

– Cave! Agora!

O grande cavalo flamejante pareceu dobrar de tamanho quando as chamas que surgiam do seu corpo se expandiram como se abastecidas por gasolina. O cavalo relinchou, ficou sobre as duas patas traseiras e subitamente toda a arena subterrânea parecia que ia derreter com o calor. Ele voltou a cair com as duas patas no chão, fazendo um grande estrondo com seus duros cascos, mas o que mais impressionou foi a quantidade de fogo que fora lançada para todos os lados. Subitamente a arena inteira estava em chamas e Mindy teve de recuar para proteger a vista e a pele da intensa temperatura.

Nidorino, entretanto, não era visto em lugar nenhum. Como eu vou vencer uma força dessas? Pensou ela, incapaz de esconder o espanto com o poder demonstrado por seu oponente. Blaine parecia inatingível do outro lado da arena, de braços cruzados aparentemente estudando o que fazer em seguida. Mindy sabia que estava com problemas. Imaginava que logo o fogaréu iria diminuir, mas até lá não sabia se Nidorino estaria seguro por baixo da terra. O subterrâneo podia não estar ardendo em chamas, mas ela sabia que o calor lá em baixo estava ainda pior do que o que ela sentia. O problema é que não havia chão para onde voltar que não estivesse em chamas.

Rapidash se encontrava altiva no mesmo lugar em que liberara seu poderoso ataque de fogo, como se apenas esperando por uma chance de acabar com seu oponente. Ainda assim a menina sabia que o Pokémon e Blaine estariam dispostos a esperar que Nidorino cozinhasse sozinho debaixo da terra. Mindy fitou intensamente o grande cavalo tentando achar um modo de derrota-lo quando subitamente viu a resposta bem em baixo de seus pés. Ou melhor, debaixo dos pés de Rapidash.

– Nidorino, ataque com o choque venenoso!

Pouco depois, por baixo do corpo de Rapidash, foi a vez de Nidorino explodir por debaixo da terra e atingir a barriga de seu oponente com toda a força de seu corpo. Não usou seu chifre. Em vez disso, atingiu com todos os espinhos de suas costas, liberando, ao toque, um tipo de eletricidade estática combinada a substancia tóxica que ele expelia pelos espinhos. O ataque foi bem sucedido e Rapidash sentiu o impacto, quicando com o impacto e tentando chegar para trás enquanto suas poderosas pernas tremiam.

Mindy aproveitou a vantagem que tinha, uma vez que Nidorino ainda continuava em baixo de sua oponente, que parecia afetada com o golpe que acabara de sofrer. Blaine, enquanto isso tinha apertado um pouco os lábios com preocupação.

– Rapidash saia já daí!

– Ataque de fúria, agora! – ordenou a menina, sabendo que não podia perder tempo.

Rapidash tentou saltar para frente, ignorando as chamas do campo à sua volta, mas Nidorino saltou e conseguiu atingi-la por baixo de uma das pernas traseiras. Era assustador ver um Pokémon daquele tamanho, com tamanha majestade, fraquejar e dobrar as pernas, caindo deitado com metade do corpo nas chamas. Mindy não sabia se ela estava ou não sendo queimada pelo fogo que ela mesma criara, mas Rapidash parecia se incomodar mais com os repetidos ataques que Nidorino desferia com seu chifre contra a parte traseira de seu corpo.

O Pokémon de Mindy teve que tomar cuidado para não ser atingido por uma das poderosas patas do cavalo, que chutava o ar tentando recuperar o equilíbrio, e quase fora atingido pela cauda de fogo do Pokémon, que balançava loucamente, mas teve tempo de acertar pelo menos três chifradas enquanto Rapidash se levantava e corria, ligeiramente assustada, para longe de seu oponente.

Mindy percebeu, entretanto, que o fogo que cobria a arena ia aos poucos perdendo a força, aparentemente na mesma medida que Rapidash era atingida. Percebeu que Nidorino talvez tivesse dificuldades para se mover, mas que ele ao menos não seria obrigado a ficar parado. A menina então percebeu que Blaine em momento nenhum estava tentando atingir Nidorino com o ataque inferno. Se conseguisse aquilo seria um algo a mais. O objetivo principal era minar a maior mobilidade que o oponente tinha para se mover pela arena. Ele realmente sabe o que está fazendo concluiu ela. Só não contava que eu ensinei meu Nidorino a cavar...

– Rapidash! Lança Chamas!

Mindy ordenou uma evasiva e observou que seu Pokémon teve que fazer uma incrível força para pular o terreno flamejante até o próximo espaço seguro. Imaginava que ainda assim o solo estava bem quente, mas contava com a força da pele de Nidorino para ajuda-lo naquele quesito. Mesmo assim, sabia que não seria inteligente ficar muito tempo parada, muito menos ficar muito tempo puramente na defensiva.

Rapidash atacou mais duas vezes, e na segunda conseguiu prever para que direção Nidorino iria pular e atingiu-o em cheio. Mindy suspirou enquanto seu Pokémon caia e passava no meio das chamas, rolando no chão. A poeira que o impacto de seu corpo no chão, pelo menos, ajudou a acalmar o fogo a sua volta. Blaine, entretanto, não pretendia dar tempo para a menina se recuperar.

– Atropele-o! – ordenou.

Mindy observou apreensiva enquanto seu Nidorino tentava se recuperar do ataque sofrido. Rapidash investiu com força na direção do oponente e passaria por cima dele em questão de segundos quando Mindy teve uma ultima ideia. Ela rezou para que tudo desse certo e deu uma ordem que esperava não ser a ultima daquela batalha.

– Use o tóxico! Agora!

Ainda deitado, Nidorino lançou uma quantidade impressionante de gosma roxa altamente tóxica no chão a sua frente. A poça perigosa pegou os oponentes de surpresa e os obrigou a mudar de ideia em meio ao ataque. Rapidash se viu forçada a saltar, passando por cima da poça e de Nidorino, e isso deu tempo para que o Pokémon venenoso se levantasse. Blaine não esperava tamanha determinação e resistência daquele Pokémon, mas percebeu que talvez a luta não fosse tão simples quanto ele esperava.

Quando aterrissou, Rapidash estava de costas para seu alvo, e Mindy percebeu a chance que tinha.

– Espinhos venenosos! Já!

A rajada atingiu a lateral do cavalo de fogo enquanto ele virava para encarar seu oponente e os dois treinadores perceberam que o impacto do golpe foi mais forte do que o esperado. O cavalo fraquejou e por um momento todos pensaram que iria cair novamente, e foi então que Mindy percebeu que ela estava envenenada. Sorriu quando concluiu que talvez vencer aquilo fosse apenas uma questão de tempo. Se conseguisse sobreviver tempo o suficiente, o veneno de Nidorino derrotaria Blaine.

O líder do ginásio de Cinnabar também percebeu que se encontrava condenado e entendeu que se quisesse vencer aquela luta, teria que agir rapidamente. Sabendo que em breve Rapidash estaria sem condições de luta, Mindy sabia que talvez estivesse enfrentando o momento mais perigoso da luta. O seu oponente, sabendo que logo teria de encarar a derrota, poderia se tornar mais autodestrutivo.

Concluiu que sua previsão estava certa quando ouviu a próxima ordem de Blaine.

– Rapidash, vamos acabar logo com isso. Blitz de fogo!

Mindy conhecia o movimento, e sabia que ele traria Rapidash a um encontro físico com seu Pokémon, o que não era recomendável devido aos espinhos venenosos em torno do corpo de Nidorino. Sabia também que o ataque que estava enfrentando causava danos ao próprio Rapidash em ricochete. Mas o que mais a preocupava era saber que era praticamente impossível escapar daquele ataque veloz e extremamente poderoso. Era improvável que Nidorino permanecesse de pé depois de já ter sofrido danos durante a batalha.

Rapidash se envolveu em uma bola de fogo brilhante muito mais intensa do que aquela da Investida Flamejante. Relinchou, se colocou sobre as duas patas traseiras antes de saltar em direção ao seu oponente, e de repente explodiu a uma velocidade quase impossível de acompanhar com os olhos. Mindy apenas teve tempo de gritar, ainda enquanto o cavalo se preparava para o ataque, uma ultima instrução que ela esperava que pudesse colocá-la em uma posição menos desconfortável na luta.

– Injeção Venenosa!

O chifre de Nidorino brilhou com uma luz roxa e pareceu crescer alguns centímetros para frente, se afinando e destacando ainda mais sua ponta. Ele também se lançou a frente, para se chocar diretamente com Rapidash em sua investida desenfreada. Tivera tempo para pouco mais de dois saltos à frente quando os dois se chocaram em uma explosão de vermelho e roxo que estremeceu a arena subterrânea e fez com que certa quantidade de terra caísse do teto.

Tanto Mindy quanto Blaine cobriram os olhos e chegaram para trás, tamanha a força do impacto dos ataques. Quando voltaram a olhar para a arena, descobriram o resultado da luta. Nidorino estava caído, inconsciente, a poucos centímetros do pé de Blaine, enquanto Rapidash se encontrava de pé, altiva, de frente para Mindy. A menina encarou o grande cavalo ressentida por ele ainda estar de pé, e o Pokémon parecia concentrado em desafiar a menina.

Apenas depois de um segundo que Mindy percebeu a mancha escura do lado direito de seu pescoço, e entendeu que Rapidash estava, na verdade, se concentrando em uma luta contra si mesma, para que permanecesse de pé, pronta para lutar. Mindy recolher seu Nidorino e, encarou novamente, agora com pena e admiração, aquele bravo e poderoso Pokémon a sua frente. Blaine parecia entender suficientemente bem a situação e, assim que percebeu as patas de Rapidash tremendo com o esforço que ela fazia pra não cair, estendeu a sua Pokebola e a recolheu também, dando um leve sorriso para Mindy.

– Parece que temos um empate na primeira luta – disse ele.

– Então tudo se decide na próxima – ela respondeu. Charmeleon, você vai ter que me dar mais essa insígnia.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Dave e Kato se assustaram quando pedra se arrastou sozinha tampando a entrada da passagem, pouco depois de entrarem no túnel por entre a montanha. A escuridão tomou conta do lugar até que Kato liberou seu Alakazam, que foi capaz de lançar algo que parecia um pequeno orbe de energia que iluminava o caminho. Dave nunca tinha visto aquela técnica antes, e por um momento imaginou que o Pokémon fosse capaz de produzir uma lâmpada elétrica onde antes havia apenas o ar puro.

– Essa é a técnica chamada Farol – explicou o Dr. Kato, sorrindo ao ver a expressão de surpresa do menino – Esse pequeno orbe vai seguir o Alakazam onde quer que ele for. É muito útil em situação como essa.

– Estou percebendo.

– Ainda assim, aconselho encontrar uma tocha.

– Por quê? Isso desgasta muito o Alakazam? – Dave parecia curioso.

– Na verdade, não. Nem um pouco. Mas em uma emergência, lembre que o Alakazam é um só. Se precisarmos nos separar, ou fugir um por um, alguém vai ficar sem luz, mesmo que com pouco tempo – Dave entendeu e concordou com a cabeça, começando a olhar a sua volta procurando inutilmente algo que pudesse usar como tocha – Porque não olhamos perto da entrada? O Blaine não tem Pokemons psíquicos e deve manter alguma coisa por ali.

Dave soube imediatamente que tomara a melhor das decisões trazendo Kato consigo. Não podia estar mais bem acompanhado a não ser que o próprio Blaine estivesse ali. O pesquisador estava certo mais uma vez e eles encontraram pedaços de madeira cortados de maneira especifica para servir como tocha. Dave pediu que se Growlithe acendesse duas e levou mais um pedaço no bolso da mochila por sugestão de Kato, que acho que fosse inteligente ter um reserva.

Seguiram com cuidado por um caminho de pedra que descia e, em alguns pontos, se assemelhava a uma escada. Em outros, porém, se provava instável e escorregadio, obrigando os dois visitantes incomuns a andar com cautela e devagar. Eevee e Alakazam pareciam segui-los sem muitas dificuldades. Kato dissera a Dave que da primeira vez que esteve ali o caminho era bastante precário, e era quase impossível descer sem cair pelo menos uma vez.

– Alguém, Blaine provavelmente, esteve trabalhando em melhorar isso aqui. – disse ele, interessado.

– Mas como, se o caminho é secreto? E por quê?

Kato pareceu intrigado com as perguntas do menino e permaneceu calado por um tempo, analisando melhor o caminho enquanto desciam. Quanto mais fundo penetravam na montanha, maior era o calor e mais ele percebia que as condições estavam melhorando.

– É como se ele estivesse trabalhando de dentro para fora – disse o pesquisador, baixo, como se apenas pensando em voz alta – mas será que está sozinho? Como?

– Não sei. Realmente não sei – disse Dave, aparentemente pegando o pesquisador de surpresa. Ele, de fato, não percebera que dera voz aos seus últimos pensamentos.

Os dois seguiram o caminho por mais tempo do que conseguiram acreditar, e Dave já conseguia sentir pressão em seus ouvidos. Imaginou que tinha decido muito mais de cem metros, já que até a pressão diferente já se fazia sentir. O calor era o seu maior inimigo, já que as dificuldades do terreno foram gradualmente diminuindo. Agora desciam no que era, definitivamente, uma escada. Ou ao menos uma escada em construção, já que os degraus não estavam planos e nivelados, mas ainda assim, uma escada suficientemente segura.

Blaine havia dito a Dave que deveriam alcançar a lava se quisessem encontrar uma pedra do fogo, mas Dave não tinha a menor noção de o quanto teria de descer para encontra-la. Sabia que não precisaria de fato encostar na lava, ou chegar ao menos a poucos metros dela. O líder do ginásio havia lhe dito que no fim do caminho havia um grande poço, e que lá ele conseguiriam encontrar ao menos uma, se não várias pedras do fogo.

Kato confirmara a existência do poço, dizendo que esteve lá uma vez antes com Blaine, mas não se recordava de identificar nenhuma pedra, o que intrigou Dave. Talvez Blaine tenha conseguido trabalhar lá também, e conseguiu escavar uma reserva. Ainda assim, não podia ter certeza, da mesma maneira que também não podia deixar de procurar. Sua consciência lhe dizia que talvez não fosse o caminho mais prudente, mas seu coração sabia que não se aquietaria enquanto ele não conseguisse juntar as pedras.

Portanto, mesmo incerto do sucesso de sua expedição, Dave decidiu colocar sua confiança em Blaine e seguir aquele caminho subterrâneo, perigoso e extremamente quente. Kato parecia extremamente arrependido de ter seguido o menino e Eevee não conseguia se decidir se era melhor descansar nas costas de Dave ou evitar o calor do corpo do menino e caminhar sozinho. O treinador sentia pena especialmente da pequena raposa, envolta em seus pelos dentro daquele forno natural.

Levara quase uma hora até que ele alcançasse, com uma grande expressão de alívio geral, uma grande porta dupla de ferro liso. Kato disse que não se lembrava de ter passado por uma porta na primeira visita, mas se lembrava de ter passado por aquele arco natural de pedras. Blaine nunca havia lhe dito como ele descobrira o túnel e eles nunca discutiram como ele poderia ter sido criado no passado, mas aquele arco sempre plantara uma semente de duvida no homem. Tinha uma forma muito bem construída para ser realmente natural, como Blaine preferia acreditar. Segundo o pesquisador, o poço que terminava em um lago de lava estava por trás da passagem.

Dave estava pronto para tocar em um puxador de metal quando Kato o advertiu contra o movimento.

– Dave, se você está derretendo de calor, essa porta deve estar muito quente. Você pode queimar a mão.

O menino olhou para sua mão ainda estendida e agradeceu mais uma vez a companhia do homem. Alakazam, então, se pôs a trabalhar com a força de sua mente, e em pouco tempo a enorme e pesada porta de metal estava completamente aberta para dentro. Dave e Eevee pareciam espantados com o que viram a seguir. O denominado poço mais se parecia com uma cratera, de modo que Dave não se arriscou a medir o seu diâmetro, que estimava em uma medida superior a cem metros.

Até Kato parecia surpreso, mesmo já tendo visitado o lugar uma vez antes. Não conseguiam ver o teto, de tão escuro que estava, mas Dave sabia que deveria existir um, ou a luz do dia estaria entrando por algum lugar. O lugar era escuro, a não ser belo brilho alaranjado que emanava de algo no fundo da cratera. A luz delineava bem o abismo no chão, alguns metros a frente da porta, e o calor era ainda mais forte ali dentro.

Dave, Kato e Eevee relutaram em dar os passos a frente, se aproximando do abismo e olharam então para baixo. Kato suspirou. Percebeu que a lava estava em um nível muito superior do que estava em sua ultima visita, e parecia alarmado. Ela ainda estava há mais de duzentos metros abaixo do nível dos visitantes, mas lembrava de vê-la ainda mais fundo, tanto que precisavam de tochas e luzes para ver alguma coisa. Ver o nível de magma tão alto não o agradou e servia de uma constante lembrança de que agora eles estavam, de fato, no coração de um vulcão.

Em seguida eles tentaram examinar com mais cuidado os arredores do lugar. Parecia seguro andar pelo caminho rochoso em volta da cratera, mas aquilo não era o mais surpreendente. Haviam torres de pedra que surgiam do fundo do magma e se alongavam até a borda do abismo. Eram como grandes colunas de pedra, pilastras que não estavam apoiando teto nenhum. Em vez disso, elas poderia se provar muito uteis para quem quer que fosse corajoso o suficiente para tentar andar por cima do abismo.

– Não me recordo disso... – pensou Kato, mais uma vez em voz alta.

– Incrível não? – Dave estava maravilhado e até Eevee parecia surpreso com a vista – Será que teremos como pular de uma para outra?

– Isso tudo está muito estranho Dave. Não quero ficar aqui por muito tempo. Foi aqui que Blaine disse que você encontraria a pedra de fogo?

– Sim, foi aqui – disse ele, rapidamente sacando a Pokebola de seu Sandslash – Provavelmente está nas paredes.

Os dois começaram a examinar a parede que podiam examinar enquanto rezavam para encontrar alguma coisa. A alternativa seria procurar por entre as colunas de pedra saindo da lava e nenhum dos dois parecia muito disposto a encarar aquele desafio. Entretanto, por mais de meia hora eles não viram mais do que pedra comum com volta do abismo. Dave pensou em começar a cavar ali, mas Kato o impediu. Não podiam ter certeza da segurança daquele lugar e um desabamento poderia lhe custar a vida.

Estavam em meio a uma discussão de como seria mais viável encontrar uma pedra quando algo os pegou de surpresa. Primeiro foi um som baixo que eles não souberam ao certo como identificar. Era rouco, grave e parecia vir do fundo do abismo, mas lá só se podia ver lava quente. Em seguida o barulho foi maior e os dois se aproximaram o máximo da borda do precipício que puderam (ou ao menos tiveram coragem) para olhar a lava mais abaixo. E então se desesperaram. Ela começou a se agitar com violência enquanto bolhas explodiam pequenos respingos de lava pelas paredes do vulcão.

Dave não precisava de Kato para dizer que aquilo era um sinal de que deveriam sair dali imediatamente, mas ele não tivera tempo de fazer isso. Algo que ele primeiramente pensou ser uma bola de fogo saltou do liquido fervente a mais de duzentos metros de profundidade e parou do outro lado da cratera. Dave apertou os olhos para ver direito o objeto que estava do outro lado, mas as ondas de calor que emanavam no lugar dificultavam a sua visão. Pensou ter visto uma forma humana, ou ao menos parecida com a humana, mas sabia que aquilo não era possível.

– Eu não acredito – disse Kato, sozinho – Será que o Blaine sabe disso?

– O que? – disse Dave, ainda tentando identificar o que estavam vendo – sabe do que?

Agora estava convencido de que era um corpo, mesmo não acreditando em seus olhos. Acontece que o corpo definitivamente não era humano, apesar de possuir duas pernas, dois braços e uma cabeça. Conseguiu logo identificar uma cauda e pensou ver uma chama brilhando na ponta dela. O restante do corpo ainda parecia estar pegando fogo. Ele nunca tinha visto algo como aquilo antes e, como que por instinto, botou a mão no bolso e sacou sua Pokedex. Kato estendeu a mão e impediu o menino de abrir a enciclopédia Pokémon digital, sem tirar os olhos da criatura que os encarava intensamente.

– Isso é um Magmar – disse ele, lentamente.

Dave encarou o Pokémon com mais cuidado, e então, para sua surpresa o reconheceu. Mas não foi só isso o que viu. Dave engoliu em seco quando reconheceu que o Pokémon carregava uma pedra do fogo nas mãos.


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Notas finais do capítulo

E então? Curtiram? Esperando pelo próximo capítulo? Relaxa que logo logo ele estará no ar.

Enquanto isso, espero vocês nos comentários!



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