Evolution: Parte 3 escrita por Hairo


Capítulo 18
Golpe Baixo


Notas iniciais do capítulo

Ainda no projeto Cinnabar, esse capítulo muda umpouco o ponto de vista, nos dando uma visão do resto de Kanto enquanto nossos heróis estão lutando no Ginásio de fogo de Blaine.

Não estranhem se o inicio do capítulo lhe soar familiar. É proposital...hahahah

Espero que curtam! Boa leitura!



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Capítulo 18 – Golpe Baixo

– E então, logo no começo do segundo dia eu consegui ver o vulcão. É enorme mãe! – contou Dave, animado, enquanto Martha e Jonathan sorriam pela tela do telefone – Mesmo estando aqui desde de manhã, eu ainda não consigo acreditar. Já vi montanhas mais altas, mas ele é muito largo! E a abertura lá em cima parece gigantesca! Tenho que sobrevoar com o meu Pidgeot para ver.

Martha estremeceu ao imaginar o filho nas costas de um pássaro gigante sobrevoando a boca de um vulcão, mas Jonathan pareceu feliz de ver o filho e se disse surpreendido com o fato de Dave ainda não o ter feito. Fazia dias que Dave não ligava para casa. A última vez fora uma rápida conversa antes de partir para Sunny Town e agora, com mais calma, a ligação parecia alegrar profundamente seus pais.

Ele contou tudo sobre sua viagem e suas experiências até a cidade da pedra e sobre a sua viagem de volta. Martha riu quando ele contou que quase haviam perdido o barco e haviam conseguido embarcar apenas por questões de minutos. De acordo com Dave, o Dr. Kato fora o herói da história, tendo se tele transportado com seu Alakazam assim que percebeu que o grupo se atrasaria, e convenceu o capitão seu amigo a esperar por mais alguns minutos.

Martha e Jonathan pareciam compartilhar da mesma desconfiança de Eevee em relação à Kato, mas Dave havia lhes explicado a situação delicada entre ele e Mindy e contado todo o apoio e ajuda que ele vinha dando ao grupo, inclusive o treinamento que fez no barco durante a viagem até a ilha. Tendo em vista o tempo que eles passaram juntos sem que nada de ruim tivesse acontecido e todo o apoio que ele estava oferecendo ao grupo, até os Hairo pareciam concordar que em primeiro momento o homem estava se provando um verdadeiro amigo de todos.

– Filho, eu fico muito feliz que tudo esteja bem. Ligue novamente antes de sair de Cinnabar, tudo bem? – disse Martha, segurando as lágrimas como sempre fazia quando estava prestes a terminar a ligação.

– E vamos torcer para que os problemas maiores tenham acabado e você tenha finalmente saído do rastro daqueles criminosos – disse Jonathan, com uma expressão confiante para seu filho.

– Sim! Tomara mesmo, pai!

– Então devemos ir. Boa sorte no ginásio!

– Nós amamos você! – terminou Martha, deixando a primeira lágrima escorrer.

– Eu também – disse Dave, finalmente desligando a ligação.

Jonathan passou o braço pelos ombros de Martha e a abraçou enquanto ela secava as lágrimas que teimavam em cair. Ele não disse nem uma palavra, e não era preciso. Ela apenas devolveu o abraço e se deixou chorar por mais alguns breves momentos, até puxar a manga de sua roupa, secar o rosto e se preparar para seguir com o seu dia como sempre fazia.

Toda vez que recebia uma ligação do seu filho, uma sensação de alivio imediato percorria todo o seu corpo e ela não podia se conter em sorrir por saber que tudo estava bem, e que mesmo depois de tantos meses e tantas experiências, o menino ainda se lembrava regularmente de manter contato com a família e sempre demonstrava o mesmo carinho e entusiasmo de que ela sentia tanta falta no dia-a-dia da fazenda.

A sensação de felicidade, porém, durava pouco e era substituída por uma nostalgia incontrolável quando ela entrava em seu quarto vazio e desarrumava suas coisas, apenas para arrumá-las novamente, e ter a sensação de que seu menino ainda vivia ali. Um dia ele vai voltar, e vai querer tudo em seu devido lugar pensava sempre ela, com um sorriso esperançoso no rosto.

Naquele dia em especial ela voltou a contemplar a ideia de jogar um dos tênis do menino no lixo. Ele estava rasgado em alguns lugares, na frente, e se ele usasse todos conseguiriam ver os seus dedos dos pés. Obviamente estava fora de cogitação tentar concerta-lo e ela sabia que seu filho nunca mais voltaria a vestir aquele sapato, entretanto sabia que ele poderia ser de grande valor sentimental. Aquele sapato mudara a vida de seu filho. Fora ele que Dave jogara em um Ratata que roubava comida do celeiro. Fora ele que o Ratata roubara e obrigara seu filho a segui-lo para o bosque. Dave estava correndo atrás daquele exato pé de sapato quando fora salvo por Eevee pela primeira vez. Aquele sapato revirara a vida da família Hairo de cabeça para baixo, e todos os dias Martha se perguntava se ele havia trazido uma benção ou uma maldição para sua casa.

Enquanto isso Jonathan, do lado de fora, se focava cada vez mais em seu trabalho. Seu ajudante lhe era muito útil, mas ainda assim sentia falta de ensinar ao filho os truques e detalhes do trabalho de fazendeiro. E o jeito com que aprendera a lidar com isso era mergulhando cada vez mais em suas atividades, até não ter tempo ou espaço em sua mente para pensar em nada mais.

Trabalhava no campo com entusiasmo e dedicação inigualáveis, tanto que a produção da fazenda chegara a aumentar. Sentia muito orgulho dos números e sentia que talvez aqueles sentimentos estivessem sendo extremamente uteis para abastecer não apenas os ânimos do fazendeiro em relação ao seu trabalho, mas também os simples e humildes cofres da família. Dave teria muito do que se orgulhar quando voltasse para casa, e Jonathan prometera a si mesmo que não deixaria que seu ânimo diminuísse quando isso acontecesse.

Ele cuidou se suas plantações e observou orgulhoso toda sua terra enquanto via seu ajudante terminar de colocar o celeiro em ordem. Dois Pidgey pareciam estar felizes e tranquilos pousados sobre o telhado da casa e Jonathan se permitiu respirar o fundo o ar puro do campo e apreciar mais uma vez todos os pequenos prazeres que sua vida simples lhe oferecia. Se sobrasse tempo e forças, decidira que iria fazer uma rápida visita a cidade no fim do dia, para dizer oi aos seus amigos e quem sabe dividir uma bebida com um deles no bar.

Os Hairo tinham muito poucos motivos para reclamar da vida que levavam, por mais brigada e sofrida que ela pudesse parecer em determinados momentos. Tinham uma família estável, com amor e carinho sobrando. Eram donos de sua própria terra, de onde tiravam o sustente necessário para sua vida, mesmo que a custo de trabalho duro. A vida não lhes tinha sido fácil nunca, mas também nunca havia cobrado deles mais do que eles poderiam pagar, e eles eram gratos por isso. Seu único tormento eram os perigos que o filho enfrentava na sua viagem, representados pela Equipe Rocket.

Mal sabiam eles que aqueles tormentos estavam mais próximos deles do que poderiam imaginar.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

– Nada ainda?! – disse Geovanni aquela manha no telefone.

– Nada – respondeu a voz da sua secretaria, pelo telefone.

– Isso é o cúmulo da incompetência! – explodiu o homem em seu terno laranja, fazendo com que seu Persian pulasse para o lado.

– Me certificarei de repassar seus comentários aos nossos agentes – disse a mulher, secamente.

O líder da Equipe Rocket não se dignou a responder, e sabia que a mulher do outro lado não esperaria que ele o fizesse. Os dois se conheciam há anos, e ele tinha mais confiança nela do que em qualquer outro agente de sua equipe, mesmo com os acontecimentos recentes. Pensou por um momento qual seria o próximo passo a dar. Não podia pisar em falso, precisava controlar os danos.

Eevee havia fugido há meses, mas não havia indicações de que seu segredo tivesse sido descoberto. Isso fazia com que ele e o especialista foragido fossem as únicas pessoas a conhecer o segredo do pequeno Pokémon marrom. Era primordial que isso permanecesse assim e tudo estava correndo muito bem até então. A fuga do Pokémon, que em primeiro momento gerou rebuliço e grandes problemas internos havia se provado ser muito benéfica aos objetivos do projeto que Giovanni estava liderando. Precisava que a criatura enfrentasse os problemas do dia a dia na vida real, enfrentasse as condições do mundo lá fora, em um ambiente não controlado em laboratório. Ele passara toda sua vida trancafiado, e Giovanni vinha pensando há muito tempo como conseguiria expor Eevee ao mundo real sem que isso gerasse maiores problemas ou escândalos.

Quando percebeu que tinha uma oportunidade de monitorar o andamento de Eevee depois que ele fugira, Geovani percebeu a grande oportunidade que o destino havia lhe proporcionado. Desde que fora encontrado, ele contava com os relatórios semanais de um menino bastante observador, que acompanhava o grupo em que a pequena raposa havia se inserido. Ele não podia pedir por algo melhor. Assim que terminasse suas observações, poderia simplesmente recuperar o Pokémon. Seus acompanhantes não tinham a menor ideia das verdadeiras habilidades da criatura e não davam sinais de estar próximos da descoberta. Se isso permanecesse assim, poderia simplesmente recuperar seu experimento quando achasse necessário, sem ao menos ter que colocar em risco a integridade das pessoas envolvidos com ele. O assassinato não era algo de que Geovani temia, mas que procurava evitar devido aos problemas legais e logísticos que aquilo representava.

Entretanto os relatórios haviam parado de chegar desde que o grupo chegara a Fuschia e até então seu Eevee estava, novamente, sumido no mapa. Ele estava perdendo a paciência com a incompetência do grupo que, desde então, era incapaz de localizar seu Pokémon. Aquilo era inaceitável e ele já havia deixado a situação correr por tempo de mais. Não estava disposto a esperar mais. Precisava tomar alguma atitude.

A presente situação o induzira a algumas conclusões imediatas. Primeiramente, permitir que Eevee continuasse livro era muito perigoso e ele não estava disposto a correr o risco de um novo desaparecimento uma vez que a criatura fosse encontrada. Estava na hora de recaptura-lo. O homem já estava mais do que satisfeito com aquela experiência de meses no mundo real. Em segundo lugar, teria que garantir que Dave e os acompanhantes de Eevee permaneciam ignorantes quanto às habilidades do Pokémon. Caso contrário, teria de captura-los também e estudar o que fazer com eles em seguida. Desconfiava que tivesse de dar um fim a eles, mas tinha esperança de encontrar outra saída até que o momento chegasse.

Isso significava que deveria recolocar a busca pelo cientista desaparecido em segundo plano. Estava extremamente desapontado com os resultados obtidos por Peter naquela missão, mas não podia culpar tanto o agente. Ele havia seguido com precisão o padrão de ações da equipe , principalmente com os sequestros do Professor Noah e de Casper, um líder de ginásio. Sua única falha tinha sido quando deixara a menina escapar, mas ele sofrera uma punição severa e uma chance de se reabilitar a voltar para o campo. Sentia que precisaria do agente sanguinário novamente.

– Peter – disse o homem, depois de discar o número do agente.

– As suas ordens

– Tenho uma nova missão para você. Um novo sequestro.

– Claro, senhor – Geovani não pode conter um riso quando percebeu o prazer de seu agente ao ouvir aquelas noticias. Sabia que não era a perspectiva de uma nova missão que animavam o homem, mas sim o fato de consistir em mais um sequestro – Quem será o alvo dessa vez.

– Quero que descubra onde Dave Hairo se encontra. E no momento, acredito que os pais dele sejam as fontes mais confiáveis.

– Estarei em Grené amanhã – disse o agente e desligou a ligação, enquanto Geovani voltava a acariciar seu Persian, pensativo.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Jonathan e Martha acordaram ainda de madrugada como faziam rotineiramente. Jonathan acordara minutos antes de o despertador tocar, tão acostumado estava com o horário, e desligou-o antes que acordasse sua mulher. Levantou-se com cuidado, foi ao banheiro e lavou o rosto com água gelada, para afastar os últimos vestígios de sono e preguiça que teimavam em se prender a ele.

Apagou então a luz e voltou ao quarto pisando com cuidado. Andou até sua mulher, deitada e dormindo calmamente, e estancou por um momento, observando sua calma e tranquilidade. Estavam casados há mais de quinze anos, mas em momentos como aquele Jonathan percebia que continuava tão perdidamente apaixonado por ela quanto no dia em que se conheceram na cidade.

Ela era uma estudante de família rica, que estava fazendo um trabalho de campo estudando a pequena e pacata cidade de Grené, e ele era um jovem de temperamento forte que começava aos poucos a tomar a fazenda da mão de seus pais, que já tinham alguma idade naquela época. Ainda não acreditava como havia conseguido conquistá-la e se lembrara o quanto ele relutara a aceitar a sua ideia de largar tudo e assumir a fazenda com ele. Eu não quero ser uma mulher de sucesso. Eu quero ter uma família feliz. E eu sei que é aqui que eu vou encontrar a minha felicidade. Aqui, com você. Dissera ela no dia do casamento deles, e ele soube que tinha encontrado tudo o que poderia querer na vida.

Talvez se ela tivesse voltado pra cidade, ela não precisasse acordar tão cedo. Pensou Jonathan, ainda com pena de acordar a mulher antes mesmo do sol nascer. Mas provavelmente não. Ela provavelmente acordaria tão cedo quanto para trabalhar. Ele se agachou ao seu lado sorrindo e estava prestes a acariciar suavemente o rosto dela quando Martha abriu levemente os olhos e encarou seu marido, parado a sua frente, com o sorriso que a conquistara no rosto.

– Bom dia – disse ele, enquanto ela lhe retribuía o sorriso e se preparava para acordar.

– Uhmm – Martha respondeu, levantando suavemente a cabeça e dando um breve beijo em seu marido – É sempre um bom dia quando eu acordo e te pego olhando assim pra mim...

– Assim como?

– Como se fosse a primeira vez... – disse ela, se espreguiçando.

Eles se levantaram como se levantavam todos os dias. Jonathan rumou ao banheiro para um banho antes de começar o dia, enquanto Martha trocava de roupa e arrumava a cama. O sol começava a despontar no horizonte quando o homem voltou do banheiro, colocou uma camisa branca e um macacão jeans e calçou seus sapatos. Desceram as escadas juntos, pensando no que fazer para o café da manhã. Sorriam alegremente enquanto planejavam não apenas a refeição, mas todas as atividades do dia.

Jonathan reclamava consigo mesmo por não ter concertado o trator no dia anterior. Ele estava quebrado há dois dias e hoje seria necessário usá-lo de modo que o homem teria que mergulhar na mecânica do velho equipamento antes de começar o seu trabalho propriamente dito. Martha, enquanto isso teria de ir a cidade reabastecer a despensa e acertar alguns detalhes no banco, atividade que Jonathan preferia deixar por conta dela devido aos estudos da sua mulher.

Desceram o ultimo degrau lado a lado, viraram-se para a cozinha e congelaram instantaneamente. Uma pessoa vestida de preto estava sentada na mesa da cozinha, tomando tranquilamente um copo de café que ele fizera na cafeteira em cima da bancada, enquanto encarava os perplexos donos da casa.

– Bom dia para os Hairo! – disse Peter, animadamente.

Levou alguns segundos para que os Hairo conseguissem absorver o impacto do visitante que encontraram na sua casa aquela manhã. Martah segurou instintivamente a mão do marido, apertando, enquanto tentava recuperar a respiração. Alice, a agente companheira de Peter, surgiu da sala de estar por trás do casal, deixando-os ainda mais alarmados, e os conduziu à mesa da cozinha, enquanto Peter se levantava e gesticulava para que eles se sentassem.

– Por favor, fiquem a vontade – disse o homem, claramente se divertindo.

– O que vocês querem?! – disparou Jonathan, secamente, recusando-se a se sentar. Martha ficou postada ao seu lado, agarrada ao braço do marido.

– Ora, isso não é maneira de receber seus convidados – retrucou Alice, fazendo força sobre os ombros dos dois Hairo, obrigando-os a se sentar.

Martha obedeceu enquanto Jonathan sacudiu o braço, afastando as mãos da mulher de seu ombro. Peter se permitiu uma pequena risada com a resistência inútil do homem. Ele colocou uma mão atrás do seu cinto e sacou uma Pokebola sem pronunciar uma palavra sequer, e Jonathan entendeu que seria mais inteligente que se sentasse. Já tivera uma das garras do Scyther daquele homem apontada para sua garganta uma vez, e não gostaria de repetir a experiência em vão.

– Muito bem... – disse Peter, aparentemente satisfeito enquanto Alice tomava lugar ao seu lado. Há muito ela era sua parceira, mas ele subira de hierarquia na Equipe e apenas a levava como sua acompanhante, e amante em algumas situações.

– O que vocês querem?! – voltou a perguntar Jonathan, claramente irritado e tentando segurar o seu temperamento forte.

– Ora nós só temos algumas perguntas a fazer – disse Peter, em tom tranquilo.

O coração de Martha batia acelerado e ela lançou um rápido olhar ao telefone apoiado na bancada ao lado da pia. Sabia que não levaria mais do que dez segundos para discar o numero de emergência da cidade, e em alguns minutos algumas viaturas policiais estariam na fazenda. Mas, entre ela e o aparelho se postavam Alice e Peter, e ela não tinha a menor ideia de como acionar a polícia. A mulher ao lado de Peter percebeu o olhar da mãe de Dave e deu um breve sorriso.

– Não adianta pensar em ligar para as autoridades – disse de repente, sorrindo para sua mais nova prisioneira – Nesse momento eles estão ocupados com alguns pequenos roubos que nossos amigos providenciaram para deixá-los bastante ocupados pelo dia de hoje.

Jonathan estremeceu e Peter não deixou passar aquele momento despercebido.

– Pois bem, se vocês colaborarem, não teremos nenhum problema hoje. Na verdade só temos uma única pergunta a fazer.

– Não temos de nada que possa interessar a vocês – disse Jonathan firmemente, sem deixar sua voz transparecer nenhum tipo de apreensão.

– Ora, mas vocês nem sabem o que pode nos interessar.

– Não temos nada de valor – disse Martha, levemente desesperada.

– Não queremos roubar nada Sra. Hairo, fique tranquila. Só queremos, como eu disse, informações. Informações muito valiosas, diga-se de passagem.

Jonathan e Martha suspiraram juntos. Sabia perfeitamente bem qual seria a pergunta que interessava a Equipe Rocket, mas não se permitiam acreditar que eles sabia que Dave tinha o Eevee desaparecido há tantos meses. Desconfiavam e temiam essa possibilidade todos os dias, mas tinham fortes esperanças de que todos os problemas que ele encontrara em sua viagem tinham sido fruto de coincidências ou acasos, e que o segredo de Eevee continuava obliquo a Equipe Rocket. Afinal, duvidavam que seria possível escapar deles se tudo fosse descoberto. Ainda assim, ali, naquele momento, os Hairo temeram mais do que nunca pela segurança de seu único filho.

– Não precisamos ter problemas, como eu disse. Basta responder a seguinte pergunta – Peter respirou profundamente, encarando seus prisioneiros nos olhos – Onde, nesse exato momento, se encontra o menino Dave Hairo?

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

– Susan venha já aqui ver isso!

O Professor Noah gritava por sua filha de sua cadeira de almoço na cozinha de seu laboratório aonde até então vinha aproveitando mais uma refeição saudável com o mesmo desprezo pela dieta que sempre tinha. O dia estava normal, até começar o noticiário local da metade do dia. Ele sacou o controle e pausou imediatamente a programação, agradecendo a si mesma pela sabia decisão de contratar uma empresa de televisão que fornecesse aquele tipo de serviço.

– Rápido, Susan! Cadê você?! – exclamou mais uma vez quando não ouviu resposta de sua filha.

Ela deveria estar se servindo na cozinha também, afinal já havia dez minutos que ele a havia chamado para almoçar, mas ela parecia estar entretida de mais em uma leitura que ele desconhecia para dar importância ao chamado de seu pai. Ele gritou uma terceira vez, mais alto, se resignando enquanto percebia que talvez fosse necessário levantar e correr atrás da mulher para que ela lhe desse alguma atenção.

– Estou indo, estou indo! – ele ouviu sua voz dizer, enquanto seus passos desciam a escada em rápida velocidade.

Ela entrou sem muita paciência na cozinha, com o jaleco branco esvoaçando atrás de si e encarou seu pai com rigor.

– O que foi? Porque esse escândalo todo?!

O homem mais velho não se dignou em responder e apenas apertou o botão de play no controle da televisão. Susan imediatamente voltou a sua atenção para a tela que mostrava uma bela jovem repórter de cabelos castanhos falando agitadamente de dentro de um estúdio de televisão. Ela dava as noticias em um tom sério e preocupado, mas não tão agitado como se tratasse de uma emergência muito séria.

“Uma estranha série de pequenos crimes assolou hoje a pequena cidade de Grené. Normalmente conhecida por ser pacifica, a cidade fora alvo há alguns meses de uma pesada intervenção da organização criminosa chamada Equipe Rocket, que buscava um Pokémon desaparecido. A investigação policial na época foi inconclusiva e arquivada. Hoje pela manhã, porém, antes mesmo do sol nascer, uma série de denuncias colocou o departamento de policia da cidade em alvoroço. Foram cerca de cinco pequenos assaltos, duas invasões e algumas ameaças a pessoas importantes como o xerife e o prefeito. Todos os policiais estão no momento nas ruas tentando apurar o que aconteceu, mas não há indícios que apontem para que a organização criminosa tenha voltado ao local.”

A repórter suspirou longamente e mudou de câmera, preparando um largo sorriso antes de continuar.

“Vamos agora ver a previsão do tempo para essa semana com Susane Lindon.”

O professor Noah desligou a televisão como se colocando um ponto final sobre o assunto e encarou a filha nos olhos. Ela havia paralisado ao seu lado e ainda olhava vidrada para televisão.

– Você não acha que... – começou ela a dizer, parando quando viu o pai balançando positivamente a cabeça.

– Acho que ninguém vai provar que os Rockets tiveram alguma coisa a ver com isso. O que só quer dizer que eles são os principais responsáveis – disse o homem mais velho, seriamente.

– Então você acha que...

– Sim – disse ele, interrompendo mais uma vez a filha enquanto se lembrava de uma onda similar de crimes pouco antes de ele mesmo ser sequestrado – tenho certeza de que eles foram atrás dos Hairo.

Susan fez o trajeto que levou Dave mais de um dia em menos de duas horas nas costas de seu Charizard. Podia contar em uma mão quantas vezes tivera tanta pressa na vida, e estranhamente todas essas vezes tinham sido após a sua filha única sair de casa para uma jornada Pokémon. Nesse meio tempo, seu pai já havia sido sequestrado pela Equipe Rocket, Mindy já a obrigara a resgatá-la das mãos da mesma organização de criminosos e agora ela corria para tentar avisar ou ajudar os pais de Dave, companheiro da filha em jornada, de que eles corriam grave perigo.

Culpava muito a si mesma por ter deixado que a garota botasse o pé fora de casa para começar, mas tinha que admitir que a sorte não estava do lado dela, muito menos da filha, quando fez com que Dave Hairo entrasse na sua vida. Susan tinha tomado certo gosto pelo rapaz simpático, simples e de sorriso fácil que chegara a Cardo como um iniciante, mas não pode conter sua surpresa quando viu que sua filha o tratava de uma maneira muito peculiar, a ponto de escolher seguir jornada com ele. Mindy já havia demonstrado diversas vezes que precisava de seu espaço e fazia muito esforço para provar a sua independência.

E ela decidira deixar tudo isso de lado e acompanhar justamente o menino que iria envolver toda a família, dele e de todos aqueles diretamente ligados a ele, em um problema mais sério do que qualquer um poderia imaginar, envolvendo nada menos do que a maior organização criminosa do continente inteiro. A mulher, que tinha passado a vida estudando e se preparando para a pesquisa Pokémon, nesse ultimo mês já havia agido como detetive particular enquanto procurava a filha e agora se movia para tentar interceptar ações criminosas como uma policial de campo, para salvar justamente os pais do garoto que trouxera tudo aquilo para a sua vida.

Quando chegou a fazenda em Grené, porém, ela sabia que não teria boas noticias para dar ao seu pai, que provavelmente ainda estava tentando falar com a polícia da pacata cidade. Não via movimentos na casa, nem ao menos um sinal de que alguém estava presente. Pulou para o chão e correu para a porta da frente enquanto deixava seu grande dragão de fogo postado de guarda do lado de fora.

Teve ainda mais certeza de que não teria surpresas agradáveis quando encontrou a porta destrancada. Respirou fundo e entrou na casa com cautela, dando passo após passo. Pouco depois, porém, que a casa estava vazia. As cadeiras na cozinha estavam caídas, assim como uma grande mesa de madeira. Cacos de vidro do que ela imaginava ter sido uma jarra de café, ao julgar pelo cheiro e textura do liquido espalhado pelo chão. Havia também pequenos pedaços de porcelana que ela julgou ser de uma xicara, mas, estranhamente, havia apenas uma. A porta dos fundos estava entreaberta, e ela julgou que fora por ali que quem quer que tenha abduzido os Hairo tinha saído.

A mulher respirou fundo e tentou não tocar em nada. Tudo o que estava naquela casa eram provas de um crime que talvez ainda nem tivesse sido reportado. Olhou ao redor e não viu mais nenhum sinal que indicasse algo de interessante. Inspecionou os quartos, a sala e o banheiro, mas não conseguiu descobrir mais nada. Localizou então o telefone da casa e discou imediatamente para o laboratório de seu pai em Grené.

– E então?! – disse ele, assim que atendeu.

– Tarde de mais – respondeu ela, e viu a expressão de cansaço e tristeza tomar conta do velho – Eles foram levados daqui, mas não sem alguma resistência pelo que vi na cozinha. Parece ter sido já há algum tempo. Encontrei uma jarra de café quebrada, com uma xicara também. O liquido estava frio, então imagino que tenha sido no café da manha.

O professor Hairo pareceu considerar as informações da filha por um momento, perdido em pensamentos.

– Você disse que só havia uma xicara?

Ela confirmou com a cabeça.

– E a cama?

– Pronta e arrumada, mas tem uma toalha usada estendida no banheiro. Uma só também.

– A mulher arrumou enquanto o marido tomava banho... – divagou ele – E se foi mesmo pelo café da manhã, considerando que são fazendeiros, isso provavelmente quer dizer antes das sete da manhã.

– O que faremos agora? – perguntou a mulher, realmente preocupada.

– Não tenho certeza. Consegui há pouco falar com a polícia local, através do celular pessoal do xerife. Eles estão atolados, mas o xerife em pessoa está a caminho da fazenda. Entrei em contato com Henry também e imagino que ele estará ai amanhã cedo, para tomar controle da investigação.

Susan respirou um pouco melhor ao saber que a policia continental já estava envolvida. Não significava, porém, que os pais do garoto seriam encontrados rapidamente. Em todos os outros sequestros a vitima apenas tinha sido encontrada quando a Equipe Rocket julgava não ter mais utilidade para ela. Fora assim com seu pai, e de Casper ela ainda não tinha noticias.

– Susan, eu queria te pedir para ficar por ai, pelo menos por hoje, para auxiliar a policia local. Eles não estão acostumados com o padrão de ação de Equipe Rocket e, até Henry chegar poderá ser tarde de mais.

A mulher concordou com a cabeça. Ela mesma já havia pensado naquela hipótese e iria se oferecer voluntariamente.

– E o menino? Como vamos falar isso para ele?

O professor Noah suspirou pesadamente.

– Da próxima vez que eles ligarem eu mesmo falo com o Dave – disse o Professor – mas por enquanto, vamos tentar encontrar os pais antes que isso seja necessário.

– Tudo bem – disse Susan.

– Obrigado, querida. E boa sorte.

E eles desligaram a ligação.

Susan recolheu seu Charizard e voltou a examinar a casa nos trinta minutos extras que a polícia levou para chegar da conturbada cidade para a fazenda da família Hairo. Descobriu pouca coisa de valor, e acabou por refletir mais e mais sobre a atuação da equipe de criminosos que mais uma vez fazia parte de um misterioso desaparecimento. Não conseguia deixar de pensar que talvez os pais de Dave estivessem fora de alcance, mas sempre voltava a se focar na ideia de que se existisse alguma, ela talvez fosse a melhor esperança deles.

O modo de operar da Equipe Rocket estava claro para ela. Eles comandavam uma série de ações pequenas ao redor da cidade do alvo para ocupar e desestabilizar a policia local, e ao mesmo tempo, ou pouco depois, a pessoa de interesse desaparecia. O desaparecimento normalmente não era notado até algum tempo depois, o que lhes dava bastante tempo hábil para trabalhar. Susan imaginou que caso seu pai não tivesse percebido a ação dos bandidos, talvez a policia de Grené levasse mais de um dia para perceber a gravidade do que havia ocorrido.

Isso a reconfortou, de alguma forma. Não significava boas noticias, mas ela poderia ao menos torcer para que a Equipe Rocket não contasse com a intervenção da família Noah, o que lhe dava esperanças de encontra-los com mais facilidade. Ainda assim, era impressionante como seus planos faziam um efeito imediato. Eles pareciam saber exatamente quando agir, e como fazê-lo. Para que algo assim desse certo, era necessário pelo menos um mínimo conhecimento do funcionamento interno da força de policia de cada uma das cidades atacadas. Para ter o alcance e o poder que eles tem, não me surpreenderia se encontrasse agentes Rockets infiltrados em todas as forças policiais do continente.

Aquele pensamento fez a mulher estremecer. Se ela não podia confiar nem na policia que estava prestes a chegar, em quem poderia confiar? Em Henry, talvez? Ela considerou, mas então se lembrou de que por mais simpático que ele lhe fosse, era surpreendente que nenhum resultado saísse de sua investigação sobre os desaparecimentos. Alguém deveria estar atrapalhando o andamento dos trabalhos policiais propositalmente, ou então ele mesmo pode estar trabalhando para eles.

Subitamente ela percebeu que ninguém poderia ser verdadeiramente confiável, e temeu pela sua própria segurança, uma vez que a policia que ela acabava de concluir ser corrupta estava a caminho. A mulher de cabelos negros estava pronta para sair da casa e pular nas costas de seu grande dragão de fogo em direção a sua casa quando teve então uma ideia. Eles sabem que foi meu pai quem avisou, e sabem muito bem onde me encontrar se quiserem. Mas talvez eu possa tentar outro caminho...

Ela considerou os riscos por um momento, olhando para a Pokebola e pensando na sua filha e em Dave viajando juntos. Sabia que colocar o garoto em risco seria coloca-la em risco também. E o mesmo raciocínio servia quando pensava em protege-lo. Ela se resignou, tensa com o que tinha em mente. Inspirou e expirou profundamente duas vezes, parada na soleira da porta da sala dos Hairo, e então adotou uma postura inabalável e decisiva. Afinal, eu até que gosto um pouco daquele garoto também...

E então as sirenes policiais se fizeram ouvir.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Jonathan encarou Peter a sua frente com desafio, mas ele estava começando a cansar. Mal conseguia ver o homem a sua frente com a má iluminação do local e o olho esquerdo fechado com o inchaço que crescera depois de um dos golpes do violento homem. Scyther estava postado ao lado da porta, mais ao fundo, apoiado na parede enquanto observava seu treinador trabalhar. Jonathan se impressionara com o quão humano era o jeito de agir do Pokémon. Até a sua postura era mais ereta e ele poderia jurar que o inseto estaria de braços cruzados caso de fato pudesse cruzá-los. Apesar do jeito, seu comportamento tranquilo e habituado frente a tortura o fazia parecer mais inumano do que qualquer Pokémon que Jonathan já encontrara.

– O senhor não cansa desse jogo Sr. Hairo? Diga-me onde seu filho está e tudo isso estará acabado, eu juro. Nós até lhe devolveremos o garoto, depois que roubarmos o nosso Eevee.

Jonathan manteve o olhar fixo no rosto entretido de Peter e percebeu que o homem estava realmente aproveitando aquele momento. Ele estava realmente contente. Se Jonathan dissesse onde Dave estava agora e tudo realmente parasse, ele acreditava que Peter ficaria decepcionado. Por um lado, ele odiava das aquela satisfação aquele patife que se chamava de homem, mas por outro, nunca poderia entregar seu filho.

– Ele não fala conosco desde que chegou a Saffron, eu já disse – Jonathan tentou inutilmente se preparar para o golpe no rosto que recebeu a seguir.

Peter observou o sangue escorrer pelo lado direito do lábio do homem sentado a sua frente, amarrado com correntes de ferro em uma gelada cadeira de metal. O desafio que ele tinha nos olhos apenas servia para instigar ainda mais o sanguinário agente Rocket a continuar tentando quebrar sua resistência. Poucas vezes tinha a chance de aproveitar tanto assim o seu trabalho, mas já estava ficando grato pela fuga de Eevee devido as diversas oportunidades que tivera de torturar alguém nos últimos meses.

– Você sabe que sua mulher está recebendo mais ou menos o mesmo tratamento que você está recebendo agora não sabe?

Jonathan sentiu seu coração bater mais rápido. No fundo de sua mente sabia que Martha provavelmente estava sofrendo o mesmo que ele, mas preferia não pensar naquilo. Não havia nada que pudesse fazer naquele momento para salvá-la, e pensar nela podia fazer com que ele fraquejasse.

– Alice está cuidando dela com um cuidado especial, instruída por mim, é claro – Peter sorriu como se em êxtase – Se ela não falar a verdade, provavelmente não contará a mesma história que você, entende? E se isso acontecer, vocês dois serão punidos gravemente.

Jonathan sabia que Martha, onde quer que estivesse, estava contando a mesma história que ele. Os dois acordaram em uma história comum para que adotassem após a primeira visita de Peter a fazenda, e em seguida foram adaptando-a toda vez que falavam com seu filho. Depois de descobrir que Mary Jane estava tentando despistar a Equipe Rocket, eles adotaram a linha de que o menino tinha seguido até Saffron com ela, e que desde então não dava noticias.

– Nós estamos falando a verdade – disse Jonathan, tentando manter um tom firme.

Ele sabia que era importante que eles acreditassem na história. Ou ao menos que uma duvida surgisse na mente dos torturadores. Jonathan se agarrava a esperança de que ele e a sua mulher fossem ao menos capazes de convencer a Equipe Rocket que o filho havia mentido para eles, para protegê-los. Sabia que dificilmente seriam liberados, ou conseguiriam fugir por conta própria após essa informação, mas era o melhor jeito que tinha de proteger o filho naquele momento.

Ele também sabia que para que fossem convincentes, tanto ele quanto Martha teria que aguentar pesadas sessões de tortura, até que eles acreditasse que não importa o que fizessem, eles não podiam lhes dar mais informações. Ele tinha plena consciência de que seu sofrimento estava apenas começando. Tão preparado quanto estava para morrer protegendo seu filho, o homem descobriu que era mais difícil do que ele imaginara se manter impotente enquanto sua própria mulher poderia estar sofrendo um destino tão doloroso, ou até pior do que o dele próprio. Que me matem primeiro, mas deixem a Martha viva pensava ele, enquanto lutava para aguentar o próximo golpe.

Peter e Alice se dedicaram a tortura dos Hairo durante toda a manhã, e pararam unicamente para o almoço. Os dois saíram quase que simultaneamente dos quartos escuros onde estavam mantendo os prisioneiros, ainda nas redondezas da cidade de Grené. Se encontraram na sala comum, onde um almoço simples e pouco luxuoso já estava servido, e discutiram aquilo que tinham conseguido extrair do casal.

Alice parecia cansada e descontente, e Peter soube imediatamente que ela não tinha conseguido resultados positivos com Martha, mas não conseguiu esconder a surpresa quando Alice lhe contou que a mulher mantivera a mesma história que o marido contara. A Equipe Rocket, por acaso, sabia que Dave nunca havia estado em Saffron e, portanto, o casal estava mentindo, mas era impressionante que os dois tivessem realmente treinado uma história para proteger o seu filho. Isso mostrava um nível de preparo que Peter não estava habituado a encontrar em pessoas comuns, e aquilo o divertia.

Primeiro porque significava que teria de se dedicar ainda mais a Jonathan e Martha Hairo, e segundo porque indicava que provavelmente poderia gastar algum tempo com eles, fazendo o que gostava de fazer. Alice, por outro lado, parecia decepcionada por ser forçada a continuar com a tortura, mas sabia que não tinha opção. Peter era seu superior, e ela tinha que cumprir seu dever com diligência se aspirasse continuar a crescer dentro da Equipe Rocket. E isso era a única coisa que ela tinha esperanças de aspirar na vida.

– Faremos uma ultima sessão nessa tarde, e daremos a noite para eles repensarem a sua posição, se eles não quebrarem agora – disse ele, pensativo.

– E quando sairemos daqui.

– Se não conseguirmos descobrir nada a tarde, passarei a noite cuidando do transporte deles para a Central. Lá sim poderemos nos divertir mais a vontade – Peter tinha uma sessão própria na central de comandos da Equipe Rocket, com os brinquedos mais perversos que ele podia imaginar – Alice, fique com o coroa atrevido agora. Tome cuidado com ele, ou ele pode aprontar para cima de você.

A loira não sorriu, mas no fundo ela preferia enfrentar um homem amarrado a uma mulher indefesa. Instintivamente, lhe parecia menos injusto. Subitamente ela lembrou-se de Casper e estremeceu.

– Peter, acha que teremos que matá-los também?

O homem pareceu considerar a hipótese por um tempo e ponderar as reações que cada um dos sequestrados tinha tido perante o primeiro e longo interrogatório. Talvez ainda fosse cedo para julgar, mas ele não subestimaria um amor familiar.

– Talvez sim. Mas duvido que matemos os dois – concluiu ele – O chefe pode querer ter uma moeda de troca com o garoto na hora de recuperar o Eevee. Mas nós temos duas aqui, e matar uma delas pode acabar sendo o nosso ultimo recurso para descobrir onde o garoto está...

Alice pareceu estremecer e Peter observou a mulher com interesse por um momento. Não havia duvidas que era atraído por ela, e sabia que ela tinha potencial para se tornar uma grande agente no futuro, mas ela parecia relutar com as tarefas mais difíceis, e isso poderia se provar sua ruína perante o chefe. Ainda assim, ela talvez fosse apenas nova de mais, e precisasse de um pouco mais de experiência. Ele continuaria pensando nisso enquanto estivesse com Martha. Sorriu genuinamente e deixou a loira com uma ultima instrução.

– E não se esqueça de lembrar ao nosso convidado que se você está cuidando dele agora, isso significa que eu estou encarregado de sua mulher.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

A noite cairia em poucos minutos quando Susan recebeu a ligação pela qual esperara o dia inteiro. Estava nervosa, escondida no celeiro da casa dos Hairo desde o momento em que os policias vasculharam as redondezas por provas. Ainda não tinha certeza se seu plano tinha funcionado como devia ou se ela estava se preparando para cair em um terrivelmente perigosa armadilha, mas a verdade era que ela não via nenhuma outra maneira de resolver o problema que tinha em mãos.

Nem mesmo esperar por Henry e a policia continental lhe inspirava confiança, por tanto ela tinha de confiar em seus instintos e em sua capacidade de julgamento. Tinha certeza de que haviam agentes Rockets infiltrados no departamento de polícia de Grené. Certeza absoluta ela não tinha de nada, nem mesmo de que voltaria a ver a filha algum dia, mas estava tão certa quanto podia estar, mesmo não tendo nenhuma prova conclusiva. Ela apenas rezava para que o xerife não fosse um deles.

Sabia que o homem era um policial de carreira pois lembrava de ter ouvido noticias há muito tempo sobre a eleição para o importante cargo de segurança em uma pequena cidade na região em que vivia. Ele era muito bem visto pelo público e ela achava pouco provável que a Equipe Rocket tivesse manipulado as pessoas ou a votação. O fato de Xerfie ser um cargo de eleição era o principal argumento que usara para se convencer de que George era um homem de bem.

Apesar disso, ela esperara para vê-lo em ação antes de tirar conclusões definitivas sobre o caráter do homem. Dedicou muita atenção ao modo como ele conduziu as investigações iniciais e até mesmo o seu interrogatório, de maneira firme, mas justa e direta. Parecia ser muito querido e respeitado pelos outros policiais, que o obedeciam sem discutir. Em compensação, ele ouvia a opinião de cada um de seus comandados e Susan poucas vezes tinha visto uma investigação preliminar feita tão cuidadosamente, mesmo com o pequeno numero de policiais disponíveis.

Ela levara algumas horas para finalmente tomar uma decisão sobre o homem, mas finalmente decidira confiar nele. Antes que saísse, pediu para ter uma palavra em particular com ele.

Como a mulher imaginara, o xerife se recusou a acreditar em um primeiro momento que um ou mais de seus agentes pudesse ter alguma ligação com a confusão que acontecera na cidade, mas Susan estava certa de que se plantasse a semente da duvida, mais cedo ou mais tarde ele descobriria que ela estava certa. Isso, claro, se ele fosse o policial que ela julgava que ele fosse.

Por isso Susan ficou imensamente feliz quando ouviu de longe o telefone da casa dos Hairo tocando. Correra de seu esconderijo, bastante segura de que nenhuma agente de pericia ou outro policial estivesse ainda patrulhando ou vasculhando a área. George não ligaria se fosse o caso. Saiu pela porta dos fundos do celeiro, o caminho mais rápido para os fundos da casa, e quase atropelou a porta da cozinha, que não estava trancada.

O telefone já havia tocado mais de quatro vezes quando ela finalmente respondeu a ligação.

George estava em uma sala vazia que ela não soube identificar. Esperava sinceramente que não fosse a delegacia, mas isso era o que menos importava naquele momento. Ele usava uma expressão preocupada, com a testa contraída e a respiração levemente acelerada. Apesar e tudo, parecia irritantemente sob controle de tudo.

– Eu odeio admitir... – começou ele, e Susan soube que estava certa.

O Xerife explicou que depois das suspeitas da mulher, ele não se conteve em dar uma olhada nos registros públicos de todos os seus oficiais. Há algum tempo, a imensa maioria dos policiais de Grené era treinada e recrutada entre a população local, mas há pouco mais de três anos alguns agentes foram transferidos para a pequena cidade de outros locais. Não era função de George checar todos os seus registros como histórico escolar e registros civis. Sua função era examinar suas fichas profissionais e testar sua aptidão para exercer determinadas funções especificas dentro do departamento. Todas as outras avaliações já haviam sido concluídas e aprovadas por outros departamentos do governo de Kanto e de suas regiões administrativas.

Depois da checagem, George disse que encontrou determinado padrão de histórias entre os agentes de outras localidades. Eram mais de dez agora, e a grande maioria tinha históricos escolares bastante similares, bastante abaixo do nível de um policial regular. Além disso, todos eram órfãos, sem exceção, e foram criados por famílias adotivas. O fator que finalmente provou para George que eles não eram policiais normais, porém, foram as suas avaliações psicológicas. Em termos técnicos, elas estavam perfeitas. Quase perfeitas até de mais, e todas foram assinadas pelo mesmo psicólogo.

– As avaliações psicológicas são efetuadas quando os jovens cadetes entram para a polícia. E eles vieram de lugares distintos, em momentos distintos, Susan. Alguns diriam que é coincidência, mas eu não. Eu não acredito nesse tipo de coisa.

Susan sorriu triunfante. Agora tinha um poderoso aliado no Xerife George, mesmo que a polícia continental se provasse inútil no dia seguinte. Ela, porém, não esperava o que o homem diria a seguir.

– Tem um detalhe interessante nisso tudo. Os policiais estrangeiros fundaram uma espécie de republica, onde a grande maioria mora junto. É uma casa bancada pelo departamento, nas redondezas da cidade. Se os Hairo estiverem escondidos em algum lugar aqui por perto, eu apostaria que estão lá.

– Espera – disse Susan, tentando entender o que estava ouvindo – você está me dizendo que talvez possamos resgatá-los ainda hoje?!

George concordou com a cabeça.

– Me diz exatamente como chegar nessa casa – disse ela, procurando alguma coisa em que pudesse anotar as direções.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Martha estava sangrando de diversos cortes em diferentes lugares de seu corpo. Seus braços já estavam manchados pelos pequenos caminhos traçados pelo sangue que saia dos cortes superficiais em seu pulso, causados pela corrente que a mantinha presa, mas esses cortes foram apenas os primeiros de muitos e quase já não a incomodavam, esquecidos no fundo de sua memória. Não sabia há quanto tempo estava naquele lugar, nem quanto tempo tudo aquilo duraria, mas estava rezando para ter forças o suficiente para desmaiar.

Peter, entretanto, não permitia que isso acontecesse. Da ultima vez recorrera a uma forte corrente elétrica para acordá-la, quando ela finalmente conseguiu fechar os olhos inconscientes. Despertara subitamente com um susto, e a sensação de ter a corrente elétrica percorrendo o seu corpo preso à cadeira fora uma das piores experiências de sua vida. Estava praticamente implorando para que Alice, a mulher loira voltasse a ser encarregada de cuidar dela. Podia sentir que Peter apreciava cada um dos seus infindáveis gritos de dor e desespero.

Ela sentia que já haviam se passado horas desde que ele fizera a ultima pergunta, e declarara que ela estava mentindo. Tentou persuadi-la dizendo que Jonathan tinha dito uma história diferente da que ela contava, mas a mulher sabia que era mentira. Jonathan só diria a verdade, e eles passaram os últimos meses se convencendo de que aquela era a mais absoluta verdade. Seu filho não dava noticias há muito tempo, desde que estava em Saffron. Contava a si mesma aquela mesma história diversas vezes ao dia, chorara inclusive algumas vezes, com saudades dele. Era a única maneira de garantir que, em momentos como aquele, ele estivesse seguro.

Quando todas as suas tentativas falharam, o perverso agente criminosos passou a apenas se divertir com a mulher, usando toda a sua extravagante imaginação para lhe infligir dor de maneiras que ela nunca teria imaginado serem possíveis. E ela não podia deixar de temer e chorar toda vez que ele a lembrava de que aquilo era só o começo. Em breve eles seriam levados para um lugar que ele gostava de descrever como “mais apropriado para nossas brincadeiras”. Ela tentava dizer para si mesma que aquilo não era possível, mas era cuidadosa o suficiente para não acreditar em suas próprias palavras. Precisava se preparar para o pior, não importando o que isso significasse.

Scyther ficava parado à porta como se de vigia, observando todo o tratamento de Martha por seu treinador, como se um aluno prestando atenção em seu mestre. Parecia tão entretido quanto o homem e Martha passou a guardar um rancor enorme pela criatura, que ficava ali, estática, observando inerte enquanto ela chorava, gritava e sofria, sem mover um musculo para ajuda-la, ou ao menos para demonstrar qualquer sentimento de compaixão. Entendia que ele era treinado por um monstro, mas isso não significava que tinha de ser um monstro também. Já vira diversas vezes Pokemons que se mostravam muito mais dignos do que algum humano, e quando não era esse o caso, atribuía sempre as suas atitudes a algum tipo de instinto animal que os separava dos homens. Mas aquele Scyther não tinha desculpas. Não era o instinto que o fazia daquela maneira e sim uma fria calma quase humana. Ele era uma criatura tão monstruosa quanto seu treinador, se não pior.

Ela estava tentando novamente fechar os olhos, mas não ousava fazê-lo completamente, não enquanto Peter caminhava de um lado para o outro a sua frente, enquanto pensava em uma nova maneira de lhe torturar. Precisava que ele se distraísse com algum pensamento mais intenso para tentar se desligar novamente, e, enquanto isso, o máximo que se permitia era deixar as pálpebras semicerradas, em um estado de semiconsciência. Sabia dos riscos de desmaiar novamente. Provavelmente seria acordada com mais correntes elétricas, ou então de alguma outra maneira ainda pior, mas ainda assim considerava que o risco era necessário. Não sabia quanto tempo mais aguentaria suportar aquela situação.

Ela sentiu um arrepio lhe subir a espinha quando um sorriso perverso surgiu nos lábios do homem que a aterrorizava. Aprendera muito bem o que aquele sorriso queria dizer. Ele havia pensado em alguma maneira de lhe aterrorizar ainda mais, e estava prestes a coloca-la em prática. Encarou seu Scyther por um segundo, como se para capturar a sua atenção e ostentar aquele sorriso triunfal por mais alguns momentos. E então se virou para ela.

Deu um passo em sua direção, depois outro, aproximou seu rosto do dela e colocou uma das mãos em seus cabelos, puxando a cabeça caída para trás e a obrigando a olhar diretamente para a sua expressão vitoriosa. A dor que ela sentia no couro cabeludo não podia se comparar ao que ela já havia perdurado naquele dia, mas ainda assim fez com que lágrimas voltassem aos seus olhos.

– Eu pensei em pedir para que o Scyther cortasse seu cabelo fio a fio – disse o homem, enquanto os olhos de sua vitima se arregalavam em choque – Mas acho que posso fazer isso com minhas próprias mãos.

Martha não conteve mais um arrepio. Começou a chorar instantaneamente, sabendo que nada poderia fazer para impedi-lo. Ele ria enquanto amaciava o seu couro cabeludo, como se o preparando para o que viria a seguir. E ela chorava, não apenas em antecipação pela dor, ou pela sua vaidade feminina, mas pela sensação de impotência em que estava mergulhada por mais tempo do que conseguia contar. Nunca, em toda sua vida, se sentira tão inútil e sem vida.

Ela sentiu a dor aumentar e fechou os olhos enquanto ele aumentava lenta e gradativamente a força que fazia enquanto puxava o tufo irregular do seu cabelo que tinha nas mãos. Não tinha o que fazer a não ser gritar e chorar e ouvir a risada daquele homem perante seu sofirmento. Começava a duvidar seriamente se poderia chama-lo de homem quando sentiu sua mão aliviar a força. Não sentiu nenhum fio arrebentar em sua cabeça e, subitamente, ela não entendeu o que estava acontecendo.

Abriu os olhos e observou ele olhando para trás enquanto Scyther se sobressaltava no fundo da sala, ao lado da porta. Alguma coisa estava acontecendo. Apurou os ouvidos e percebeu algumas vozes e passos exaltados do lado de fora. Peter com certeza os ouvira antes dela. Ele largou os cabelos da mulher, paralisada com o choque e sem saber se deveria comemorar ou apenas temer os momentos seguintes, enquanto observava o torturador caminhar em direção à saída daquele quarto que era seu inferno pessoal.

Antes que alcançasse a porta, porém, ela se abriu e Alice, a moça que ao menos lhe mostrara alguma compaixão antes de lhe causar dor, entrou apressada, acompanhada de um homem mais novo que Martha pensava reconhecer. Era praticamente um garoto e a lembrava, por algum motivo, de seu próprio filho. Ela lutou contra a memória, tentando com todas as forças manter Dave fora de seus pensamentos. Ali era perigoso de mais pensar nele. Voltou a se concentrar no novo visitante e se lembrou, de repente, de tê-lo visto diversas vezes na cidade. Era o menino Timmy, de pouco mais de dezoito anos. Cruzara com ele algumas vezes na cidade, sempre educado e simpático. Conhecia seus pais e avós como pessoas de bem. Nem conseguiria imaginar a decepção deles se o vissem ali.

– Temos um problema – anunciou Alice – Timmy acredita que o Xerife nos descobriu.

– O que?! Como? Por quê? – Peter parecia surpreso, mas ainda sob controle.

– Não sei como – respondeu Timmy, assustado e aparentemente desesperado – Mas o ouvi passando o endereço dessa casa para alguém no telefone.

– Com quem ele estava falando? Achei que tínhamos todos os telefones da delegacia grampeados – Peter parecia enfurecido por ter sido atrapalhado com informações incompletas.

– Esse é o problema. Ele não usou um telefone da delegacia e sim o do bar. Acho que ele pode saber que temos gente trabalhando para ele.

– Droga! – exclamou Peter, enquanto tentava pensar em uma solução – Teremos que evacuar imediatamente. Vamos nos esconder até que o transporte chegue para levar os prisioneiros amanhã, e então teremos que recomeçar a trabalhar na infiltração em Grené. Por enquanto, já conseguimos tudo o que precisávamos desse lugarzinho.

Martha respirou aliviada. Será que isso significa que a dor vai para, pelo menos por enquanto? Ela lutou para não se manter demasiadamente otimista. Tentou prestar atenção nas ordens que Peter dava a seus comandados para a evacuação rápida do local quando um estrondo fez com que o chão de madeira tremesse. Todos tentaram se apoiar nas paredes e flexionaram os joelhos para se manter de pé, e então olharam com espanto para fora.

Peter tinha dado um passo à frente em direção ao exterior do quarto, tentando entender o que estava acontecendo quando Alice pulou em sua direção e o derrubou no chão, dentro do quarto. Quase que instantaneamente uma forte rajada de fogo explodiu do lado de fora. Martha viu Scyther se afastar do calor e se postar a sua frente, como se para protegê-la do que quer que estava do lado de fora.

– Mas o que?! – dizia Peter, tentando se colocar novamente de pé e empurrando Alice para fora do caminho.

A mulher parecia ter machucado uma perna no salto e tinha dificuldades para se levantar, mas Peter a deixou no chão enquanto corria para o lado de fora novamente. Assustou-se e voltou a se esconder dentro do quarto quando uma nova rajada de fogo passou pelo corredor já queimado. O chão de madeira do lado de fora parecia desmoronar aos poucos, e só então a Martha percebeu que não estava no primeiro andar de onde quer que estivesse.

– Tem um Charizard lá fora! – exclamou Peter – De onde isso saiu?

Alice sacou uma Pokebola de sua cintura e liberou um Pokémon de pouco mais de um metro de altura, rosado e com uma língua anormalmente grande. Martha não tinha a menor ideia de que Pokémon era aquele, nem sabia o que estava acontecendo do lado de fora, mas estava grata pelo que quer que tivesse lhe possibilitado um intervalo para todo aquele sofrimento. Peter pareceu conferenciar com Alice por um momento, a mulher mancando até a porta do quarto, e ambos concordaram em algo que Martha não conseguiu ouvir. Timmy não podia ser visto em lugar nenhum.

Alice pulou para fora do corredor seguida de seu Pokémon linguarudo e uma nova rajada de fogo tentou, sem sucesso, atingi-la. Ela saiu do raio de ação das chamas se escondendo em um aposento diretamente do lado oposto daquele em que Martha estava e olhou de frente para Peter, fazendo um sinal positivo com a cabeça. O homem mandou seu Scyther se manter em frente a Martha e parou para pensar no próximo passo. Parecia tranquilo até que algumas sirenes de policia começaram a ser ouvidas do lado de fora, juntamente com os latidos de alguns Growlithes. Foi então que Martha se deliciou ao ver o desespero tomar conta da expressão do homem.

– Nós temos que sair daqui! Agora! – berrou ele para Alice.

– E os dois?

– Nós fomos descobertos e não temos opção. Voltamos com reforços para captura-los de novo!

– O chefe vai matar a gente!

– Não acho que chegue a tanto, e é melhor do que sermos presos e identificados.

Alice pareceu relutar com a ideia, e então Martha ouviu o som de grandes asas batendo e mais uma fez o chão da casa estremeceu. Ela ouvia barras de madeira se quebrando e sentiu seu coração afundar. O que quer que estava causando aquilo tudo estava indo embora, e ela estava ficando para trás.

Deu então o seu grito mais forte até então, e, para sua surpresa, ouviu um forte rugido em resposta. Um som estrondoso, vido diretamente de cima e alto o suficiente para deixa-la surda para todo a confusão a sua volta. E então viu o teto se quebrando e um grande dragão laranja descendo dos céus com a pata estendida em sua direção. O corpo inerte de Jonathan estava seguro em uma de suas patas, e uma mulher de cumpridos cabelos negros estava montada sobre as suas costas.

Scyther tentou desferir um corte na pata que tentava alcançar Martha, obrigando o dragão a recuar, mas em seguida ele balançou sua cauda com uma grande chama brilhando na ponta e atingiu o corpo do Pokémon inseto, jogando-o contra seu treinador. Mais partes do teto se quebraram e um grande pedaço de madeira atingiu Martha na cabeça, abrindo mais um profundo corte em sua testa. Ela sentiu a pontada forte de dor e viu o mundo perder a cor a sua volta, enquanto sentia fortes dedos se fechando sobre seu corpo sem forças.

Deixou-se levar então pela dor, finalmente se sentindo segura para desmaiar e perder a consciência. Não sabia o que estava acontecendo, mas não se importava. Sentia que poderia descobrir tudo quando acordasse.

E então foi levada pelos escuros céus da noite de Grené.

*-*-*-*-*-*-*-*-*-*

Peter ouviu seu comunicador portátil apitar enquanto ainda estava correndo pela noite escura, no meio de um bosque sem a mínima ideia de para onde estava indo. Teria tempo para descobrir depois. Deixara Alice para trás quando ela não conseguiu acompanha-lo, decidida a ajudar seus outros amigos de Equipe. Mulher idiota pensara ele, enquanto pulava do segundo andar da casa para o chão de grama fofa. Tinha certeza de ter torcido um tornozelo na queda, mas a adrenalina ainda corria em alta concentração na sua corrente sanguínea, e ele só sentiria a dor de verdade algumas horas depois. Naquele momento seu tornozelo não era mais do que um pequeno incomodo.

Ele estendeu a mão para a cintura sem parar de correr e retirou o pequeno dispositivo do cinto, reconhecendo o número de seu chefe. Sabia que aquelas não poderiam ser boas noticias, e ele provavelmente já sabia do fracasso da operação em Grené. O agente mal tivera tempo de terminar a sua fuga, muito menos de pensar na melhor maneira de explicar para Geovanni o que acontecera, mas sabia que não tinha opção. Não podia se dar ao luxo de ignorar aquele chamado. Agradeceu por pelo menos não ter que olhar para rosto enfurecido de seu superior por um videofone.

– Peter aqui! – disse ele, tentando sem sucesso esconder o cansaço de sua voz.

– Peter, o que está acontecendo? Está correndo? – Geovanni parecia genuinamente surpreso.

Ele ainda não sabe percebeu o agente.

– Tenho más noticias Geovanni. As coisas em Grené tomaram um rumo inesperado.

– Entendo – disse o líder da Equipe Rocket, surpreendendo seu comandado – Isso não importa mais. Você está livre?

– Sim, mas... receio ser o único – Peter não sabia muito bem como responder àquilo.

– É o único que importa. Grené se tornou inútil poucos minutos atrás. Recebi um telefonema um tanto quanto surpreendente.

– O que quer dizer?

– Quero dizer que Blaine voltou a dar noticias.

Peter sentiu seu coração parar por um instante. Seria aquilo possível?

– Blaine? Aquele antigo cientista aposentado? Achei que ele tinha sido desligado de todas as operações, senhor.

– E de fato o foi agente Peter. Sua contribuição para a Equipe foi imensa e quando ele pediu uma licença, soube que não podia lhe recusar. Ainda assim, ele sabe que nunca deixará de ser um Rocket. Conhece o caminho dos desertores.

Peter também conhecia bem demais o caminho dos desertores. Cuidara de apresenta-lo a alguns deles pessoalmente.

– Ele se provou novamente muito útil para nós – disse Geovanni, em um tom que demonstrava extrema satisfação. Peter sabia o que aquilo queria dizer, mas não conseguia acreditar. Alguém conseguiu isso antes de mim.

– Ele descobriu onde o menino está?

– Não apenas isso meu caro. O menino está em Cinnabar, com o próprio Blaine, e chegou lá por vontade própria. Mas essa não foi a única boa noticia que ele me deu.

Peter sorriu, prevendo o que viria a seguir.

– Ele também encontrou o nosso ultimo desertor.

– Quando vamos agir? – era a única coisa que o homem conseguia pensar naquele momento. Estivera atrás desse desertor nos últimos meses e nunca tivera tanta dificuldade para encontrar alguém. Mal podia esperar para lidar com ele pessoalmente.

– Mandarei um transporte para você imediatamente. Já tenho uma operação montada para amanhã.

Peter deixou-se cair na grama, perdido em um campo no meio da noite. Sabia que a policia não o encontraria ali. Não antes que sua própria equipe o rastreasse. As autoridades teriam as mãos cheias com a operação que acabaram de descobrir, e já tinham recuperado seus reféns. Peter era apenas mais uma das mil preocupações que tinham agora. Em breve ele seria resgatado e estaria a caminho de Cinnabar. Mal posso acreditar que essa história está prestes a terminar.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam? Capítulo bem diferente e tenso, não? Bom, torço para que tenham gostado.

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