Evolution: Parte 3 escrita por Hairo


Capítulo 16
Problemas de Famíia


Notas iniciais do capítulo

Esse é um capítulo que eu espero para escrever desde que comecei a pensar em Evoltuion. Ele pode não ser o mais chave para toda a trama, mas eu me diverti. E ele tem sim a sua importância, e não é pouca...

Espero que curtam! Boa leitura!



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Capítulo 16 – Problemas de Família

Dave puxava o ritmo do grupo com Eevee claramente desconfortável apoiado nas suas costas, enquanto Jake, Mindy e o Dr. Kato seguiam pouco mais atrás. O menino estava ansioso por chegar logo à cidade das pedras de que o especialista Pokémon havia lhe falado. De acordo com ele, a cidade ficava na encosta de uma montanha onde historicamente se escavava uma grande quantidade de pedras da evolução. Somente aquilo já seria o suficiente para despertar o desejo e a curiosidade de Dave, mas o fato que realmente o fez decidir que não poderia deixar de visitar a cidade foi a descoberta que uma tradicional família de lá possuía nada menos do que três Eevees.

O ritmo da viagem nos últimos dias indicava que o grupo deveria descansar. Pegaram o barco do outro lado da baía ainda durante a manhã, dois dias atrás. Todos teriam gostado de algum repouso devido ao treino forte durante a noite antes da viagem, mas Kato aproveitou o ambiente marítimo para treinar os Pokemons aquáticos e, principalmente, para observar Dratini. Ele fez com que o dragão, acompanhado de Poliwhrill e de Wartortle, nadasse ao lado do barco durante toda a viagem, e muitas vezes indicava uma série exercícios para que eles fizessem em movimento, aproveitando o ambiente propício.

Eles chegaram a Sunny Town no meio da tarde e pararam apenas para se alimentar, antes que Dave decretasse a viagem até a cidade da Pedra. O barco que os levaria até Cinnabar ficaria estacionado na cidade por sete dias e Dave decidiu usar o tempo para fazer a viagem que tanto desejava. Mindy e Jake discordaram do amigo, argumentando que ficar, descansar e treinar seria muito mais importante de modo que Dave quase decidiu viajar sozinho nas costas de seu Pidgeot, mas, quando Kato demonstrou interesse em continuar com Dave, os outros acabaram cedendo.

Desde então eles viajavam em um ritmo forte, parando apenas para almoçar e dormir, quando Kato insistia para fazer sessões noturnas de treinamento. O caminho era longo e a estimativa normal da viagem seria de dois a três dias. Como tinham de estar de volta em Sunny Town dentro de sete, Dave estava determinado a encurtar ao máximo o tempo na estrada. Se tudo corresse bem, deveria chegar à cidade das pedras ainda naquela tarde, o que lhe daria pouco mais de um dia para matar a sua curiosidade. Não sabia exatamente o que faria assim que chegasse, mas ainda assim mal podia esperar para chegar. Se saísse de lá com mais uma pedra da evolução, todo aquele esforço teria valido a pena.

O sol se aproximava do centro do céu quando Eevee se moveu de maneira a ficar de pé, equilibrado no topo da cabeça de Dave. A posição era incrivelmente desconfortável para o rapaz, que rapidamente parou no meio da estrada de terra batida, surpreso. Jake e Mindy começaram a rir alguns passos atrás, sem entender o que estava acontecendo, mas Kato apenas observou com redobrada atenção enquanto Eevee parecia sentir alguma coisa no ar.

– Eevee! Desce já dai!

Dave não precisou dizer duas vezes. Seu Pokémon rapidamente pulou de sua cabeça para o chão, dando alguns passos à frente, aguçando suas orelhas e levantando o nariz enquanto o garoto o observava, ainda tentando ajeitar seu cabelo.

– O que foi? – perguntou ele à pequena raposa, no momento em que Mindy, Kato e Jake os alcançavam.

–Uee! – se limitou a dizer Eevee, saltando a frente e entrando na mata que envolvia a estrada, na direção das montanhas que se erguiam distantes a sua direita.

Dave e os outros correram atrás dele confusos, gritando para que ele esperasse, com exceção de Kato, que parecia ser o único que não estranhava o comportamento diferenciado do pequeno Pokémon raposa. Eevee pulou alguns galhos e alguns metros à frente de Dave e todos os outros perceberam o som de uma agitação mais a frente, na direção para onde o Pokémon corria. Levaram cerca de dois minutos, cada vez se aproximando mais do barulho, até que todos pararam subitamente em um pequeno e estreito gramado sem árvores, onde outros dois Eevees se atacavam, claramente em uma batalha.

Eevee, Dave e todos os outros observaram por um minuto a luta até que perceberam um terceiro Pokémon raposa, no colo de um menino de cabelos vermelho fogo. Olharam então ao redor e viram que atrás de cada um dos dois Eevees que lutavam estavam mais dois meninos, aparentemente da mesma idade. O da direita, concentrado, tinha cabelos muito louros enquanto o outro, do lado esquerdo, tinha um cabelo estranhamente colorido de azul.

Dave pareceu confuso com o súbito encontro e demorou a perceber que aqueles garotos provavelmente faziam parte da família que treinava Eevees na cidade da pedra. Achava que estava ainda a cerca de meio dia de viagem, mas percebeu que o ritmo acelerado em que viajava provavelmente encurtara o tempo e os fizera chegar mais próximos ao seu destino com mais velocidade. Os três treinadores, por sua vez, pararam e encararam Dave e seus amigos com a mesma surpresa que os viajantes demonstraram, e até arregalaram mais os olhos quando viram o Eevee de Dave parado no chão, abanando o rabo animado.

Até os Pokemons em batalha interromperam a luta para encarar os viajantes.

– Quem são vocês?! – perguntou o treinador de cabelos vermelhos de frente para eles e com o seu Eevee no colo. Seu tom era duro e pouco acolhedor.

– Oi! Eu sou... eu sou o Dave Hairo, da cidade de Grené – disse Dave – E esses são meus amigos Jake, de Auburn e Mindy de Cardo.

– Mindy Noah, prazer – cumprimentou a morena, encarando o menino de cabelos morenos com o mesmo olhar desafiador com que ele olhava para os outros.

– E esse é o Doutor Kato – Disse Dave apressado, quase se esquecendo de apresentar o especialista Pokémon – E vocês, qual o nome de vocês?

Os meninos se entreolharam e os outros dois se aproximaram do que tinha cabelos vermelhos, o que fez com que Dave, Jake e Mindy se lembrassem, instintivamente do encontro com as irmãs Maple, logo depois de terem conhecido Jake e saído de Auburn. Cian, Scarlet e Olive ofereceram um bom desafio como treinadoras, mas foram os cabelos coloridos dos meninos a frente que despertou a memória dos viajantes.

– Meu chamo Pyro e esses são Rainer e Sparky - disse o rapaz de cabelos vermelhos, apontando respectivamente para o menino de cabelos azuis e de cabelos amarelos – E nós somos os irmãos da pesada.

– Nossa! Então vocês são irmãos? – perguntou Mindy em um tom de deboche que pegou todos os outros de surpresa – e da pesada ainda... Nunca ouvi falar de vocês. Porque o titulo, posso saber?

Os irmãos, como era de se esperar, não gostaram do tom usado pela menina e seus três Eevees se postaram a suas frente em posição de batalha. O Eevee de Dave automaticamente se postou também, esquecendo do animo de encontrar outros da sua espécie e se preparando para combatê-los. Dave, entretanto, não pretendia provocar a ira dos três meninos, pois precisaria de alguma ajuda se quisesse ter esperanças de conseguir alguma coisa na cidade das pedras.

– Calma gente. Nós somos apenas viajantes indo para a cidade das pedras – disse Dave, com um olhar acusador para Mindy, que sorria um sorriso provocativo.

– Ora, eles estão indo para nossa cidade – disse Sparky, rindo.

– Ou então pensam que estão... – disse Rainer, retribuindo o sorriso do irmão.

– Façamos o seguinte, se a menina ai conseguir nos derrotar, nós levamos vocês até a cidade das pedras! – disse Pyro, com o apoio dos outros dois.

– Fechado! – disse Mindy, dando um passo à frente, parecendo bastante animada. Dave a olhou com os olhos arregalados, sem reação.

– Mas se você perder... – continuou ele - vocês viram as costas e vão embora, contando para todo mundo quem são os irmãos da pesada!

Dave não conseguia se conformar enquanto Mindy se posicionava para a luta. Como é que isso aconteceu?! Perguntava-se ele, nervoso com o inesperado desenrolar de eventos. Eles viajaram dias para chegar até ali e em menos de dois minutos tudo havia virado de cabeça para baixo. Dave viera conhecer justamente a família que criava Eevees e contava em convencê-los a lhe ajudar na missão que ele mesmo havia se imposto de colecionar todas as pedras da evolução.

Agora tudo estava por um fio graças a personalidade questionável dos três irmãos e pelo que quer que estivesse passando na cabeça da Mindy. Ela aceitou lutar sozinha contra os três, que pareciam bastante satisfeitos com o desafio. Os irmãos direcionaram o grupo de viajantes por um caminho por entre a mata demonstrando que conheciam muito bem o território a sua volta. Chegaram a uma clareira mais larga, onde Dave até mesmo conseguia ver a estrada não muito distante, depois da curva que ela fazia para se dirigir finalmente às montanhas e a cidade que ele pretendia chegar.

Os três pararam lado a lado e seus respectivos Eevees se postaram a frente, se posicionando para a batalha. Mindy se encaminhou para o lado oposto, sacando suas Pokebolas e liberando respectivamente seu Charmeleon, seu Nidorino e sua Nidorina. Dave, seu Eevee, Jake e o Dr. Kato se posicionaram na borda da clareira, observando tudo com muita atenção. Dave sempre torcera por Mindy, mas agora mais do que nunca sentia seu coração na boca pelo resultado da batalha. Eu acho bom ela ganhar, se não vai ter que se ver comigo pensou ele, tenso.

– E então, como vai ser? Eu vou vencer um de cada vez ou os três ao mesmo tempo? – perguntou ela, tentando passar uma confiança maior do que normalmente tinha.

Os irmãos pareceram se irritar ainda mais com a menina, mas claramente os Pokemons evoluídos haviam intimidado os rapazes. Eles se limitaram a cerrar os dentes e encarar uns aos outros, como se pensando na proposta da menina, e então finalmente se decidiram.

– Vamos ver se você aguenta todos nós ao mesmo tempo... – disse Pyro, no centro.

– Ótimo! Três lutas poderiam atrasar o meu almoço... – respondeu ela, sua atitude lembrando Dave do outro treinador Noah que ele conhecia. Não gostava do que estava vendo.

O Dr. Kato se posicionou alguns passos à frente e anunciou que poderia servir de juiz para a luta. Os quatro treinadores envolvidos anuíram com a cabeça e, com um sinal da mão do especialista, a batalha começou. Como era de se esperar, foram os irmãos que começaram os movimentos.

– Comecem com o ataque rápido! – disseram os três em uníssono.

Mindy, entretanto, já esperava pela ansiosidade dos três e havia se preparado.

– Rápido, evasiva conjunta e prendam eles! – disse ela, ordenando um movimento que nem mesmo Dave, Jake e Kato já a haviam visto treinar.

Com Charmeleon no centro, com Nidorino à direita e Nidorina à esquerda, o Pokémon de fogo saltou com força para o ar, enquanto os outros dois deram dois rápidos para os seus respectivos lados. O impressionante, porém foi como ela transformara aquele movimento defensivo em um ataque. Enquanto se moviam e desviavam dos atacantes, Nidorino e Nidorina soltaram uma rajada e espinhos venenosos, em cada um dos Eevee que atacavam pelos flancos. Os ataques não foram rápidos o suficiente para atingir o alvo, mas Dave pensou ter percebido que os Pokemons da menina atacaram mais o chão onde os Eevees estavam, obrigando-os a pular para o lado, do que os Pokemons em si.

Sua observação se provou verdadeira quando os movimentos evasivos dos dois Eevees os fizeram se chocar com o terceiro, no centro, desequilibrando-os. Charmeleon, em seguida, dando uma cambalhota no ar, soprou uma forte rajada de fogo que envolveu os três adversários, formando um circulo a sua volta e prendendo-os no centro.

Dave ficou impressionado com a sincronia dos movimentos da menina, percebendo que aquilo não fora bolado na hora e sim era um movimento que ela já havia treinado antes, apesar dele não se lembrar de ter visto aquilo em qualquer dos treinamentos que a tivesse visto fazer. Ela nem ao menos havia ordenado os ataques em si, mas apenas dado uma ordem genérica, e seus Pokemons haviam respondido com perfeição e precisão.

Os irmãos da pesada cerraram os dentes enquanto observavam seus três Eevees sofrendo o efeito do calor dentro do circulo de fogo, que pouco tinha espaço para um Pokémon e agora abrigava três. Pyro foi o primeiro a pensar em uma saída, ordenando que seu Eevee cavasse por baixo da terra. Os irmãos, em seguida, pareceram aprovar a ideia e ordenaram que seus respectivos Pokemons fizessem o mesmo. Dave pensou que a saída tinha sido uma boa opção, mas Mindy lhe obrigou a mudar de ideia.

– Charmeleon, coloque-os em chamas! Rápido!

O Pokémon da menina deu mais um rápido salto, passando por cima da parede do circulo de fogo e caindo no local onde os Eevees estavam há poucos segundos. Imediatamente ele cuspiu três poderosas rajadas de fogo, uma em cada buraco por onde os adversários estavam fugindo. Os irmãos arregalaram os olhos quando viram a armadilha em que tinham caído e Dave sentiu o chão tremer sob seus pés.

– Nidorino, Nidorina, se posicionem! – ordenou Mindy, fazendo com que o casal Pokémon parassem lado a lado, cada um olhando para uma extremidade e parecendo concentrados em sentir a trepidação da terra em seus pés.

Mindy mostrou pela primeira vez uma leve pontada de preocupação e mandou que Charmeleon aumentasse a carga de fogo quando depois de alguns segundos não viu os Eevees reaparecerem na superfície. O Pokémon lagarto de fogo se preparou então e laçou uma impressionante rajada, que atingiu os três buracos cavados pelos oponentes de uma só vez e então, colocando novamente um sorriso no rosto de Mindy, o chão tremeu ainda mais forte e uma explosão de fogo surgiu da terra próxima aos irmãos da pesada, obrigando-os a saltar alguns passos para trás.

Charmeleon interrompeu o ataque assim que viu a explosão, e observou enquanto os três Eevees, agora juntos, voavam para o alto, sofrendo com as queimaduras causadas pelo ataque. Nidorino e Nidorina viram a mesma coisa e se posicionaram novamente, prevendo onde seus alvos iriam cair e atingindo-os com duas fortes rajadas de espinhos venenosos antes mesmos que eles atingissem o chão.

Todos estavam impressionados com os movimentos da menina, mas ninguém estava mais sem ação do que os irmãos da pesada, pegos de surpresa pela sincronia e timing da menina e seus Pokémons. Eles mal tiveram tempo de reagir antes que ela ordenasse a sequencia da batalha.

– Rápido, lancem e cortem!

Nidorino e Nidorina se lançaram para frente enquanto Charmeleon parecia se preparar no centro do circulo de fogo. Os dois Pokemons venenosos circularam os alvos ainda caídos no chão e atingiram dois deles, Nidorino com seu chifre e Nidorina com a cabeça, lançando os adversários na direção de Charmeleon. Em seguida, a Pokémon fêmea enfiou a cabeça por baixo do corpo caído do terceiro Eevee e o jogou para cima, e Nidorino o atingiu com seu chifre, lançando-o também na mesma direção. Só então Dave viu o Pokémon de fogo saltar e com suas garras atingir cada um dos três Pokémons que vinham na sua direção, fazendo com que eles atingissem o chão com uma batida surda.

Os três Eevees caíram desacordados enquanto os irmãos olhavam incrédulos para o que tinha acabado de acontecer. Dois segundos se passaram até que Kato decidisse encerrar a luta, trazendo todos de volta a realidade.

– Os Eevees estão fora de combate. Mindy é a vencedora! – anunciou ele, desnecessariamente. Não podia haver duvida de quem fora o melhor treinador naquela manhã.

– Eevee! – disseram finalmente os três treinadores de cabelos coloridos, correndo para junto de seus Pokemons desacordados e os pegando no colo.

Mindy, por sua vez, se agachou enquanto seus três Pokemons corriam para o seu lado, recebendo o carinho e as devidas congratulações da menina. Ela ria enquanto os abraçava e acariciava, até que finalmente recolheu-os em suas Pokebolas. Levantou-se então e encaminhou-se na direção de Dave, parando ao seu lado e sussurrando ao seu ouvido, quase rindo.

– De nada...

*-*-*-*-*-*-*-*-*

O agora grande grupo levou apenas mais vinte minutos de caminhada até chegarem à cidade das pedras. Os irmãos da pesada conheciam muito bem o terreno e Dave acabou por descobrir que o atalho por onde eles o guiaram pelo meio da floresta diminuíra em quase dez quilômetros o percurso que eles normalmente fariam pela estrada, de modo que alcançaram o destino ainda antes do horário de almoço.

Dave esperava ter a chance de almoçar com os irmãos, mas eles não foram muito amistosos durante a viagem e assim que chegaram à entrada da cidade, os três se despediram bruscamente e se afastaram, dizendo que tinham prometido leva-los até a cidade e nada mais. O Eevee de Dave tentara se entrosar com os outros Eevees durante todo o caminho, mas eles não estavam em boas condições depois da luta e ele desistiu pouco antes do final do caminho e Dave soube então que tentar construir uma amizade com os irmãos seria impossível. Afinal, depois do modo como foram derrotados e tratados por Mindy era mais do que natural que os três não nutrissem simpatia pelo grupo de viajantes. E ela ainda acha que tenho que agradecê-la por isso...

Ainda assim ele estava decidido a não se deixar abalar. Pelo menos não quando estava olhando diretamente para a montanha conhecida como montanha da evolução. De acordo com o Dr. Kato aquela montanha era responsável por mais de 60% da produção de pedras da evolução do continente. O direito à escavação era controlado por uma única companhia, que tinha base naquela mesma cidade e tal companhia era de propriedade de uma família local, apesar de Kato admitir não saber precisamente de qual família se tratava.

Dave decidiu que tinha cerca de um dia para descobrir, afinal já conhecera a família que treinava Eevees e o encontro não tinha ocorrido nada como ele tinha planejado. Logo, o único motivo que restava para a viagem eram as pedras da evolução e ele estava determinado a fazer com que todo o esforço que fizeram para chegar ali valesse a pena.

Eles entraram pelo que parecia ser rua principal da cidade, pavimentada de pedra e sem calçada, o que indicava que ali poucos moradores, se é que algum utilizava o carro como meio de transporte. A cidade em si era muito mais simples do que todos tinham imaginado. As casas eram pequenas e bem espaçadas, com quintais e bastante espaço natural. Eles perceberam que a rua se estendia até o pé da montanha, ainda a uma distância considerável, e bem aos pés da grande rocha puderam observar uma grande mansão, visível desde a entrada da cidade.

Seguiram por cerca de cinco minutos até que viram uma ruela à esquerda que direcionava a um simples centro Pokémon ocupando uma área de cerca de vinte metros quadrados, com dois andares. Os quatro viajantes se dirigiram para lá para tentar obter mais informações sobre a cidade, além de um lugar onde passar a noite.

Jake e Mindy entraram primeiro pela porta da frente, o garoto parecendo aborrecido, ainda sem entender o motivo da viagem até ali, e a menina mais animada, feliz pela vitória fácil obtida na estrada. Dave e Kato vieram logo atrás, ambos prestando muita atenção em tudo a sua volta. Para a surpresa do grupo o balcão estava vazio e nem mesmo uma Chancey se fazia ouvir. Olharam em volta da pequena recepção e viram apenas algumas poucas cadeiras próximas a parede à direita, onde um menino pequeno, de cabelos curtos e castanhos, claramente mais novo do que Jake estava sentado sozinho, com uma aparência preocupada.

Dave foi até o balcão seguido por Eevee no chão, mas não encontrou nenhuma campainha ou qualquer coisa para fazer um sinal e chamar a enfermeira Joy.

– Ela já volta... – disse o garoto, deixando transparecer toda a preocupação que sentia pela voz.

– Ah, sim... – respondeu Dave, sentindo pena do menino sem saber exatamente por quê.

Mindy pareceu notar a expressão melancólica e se aproximou dele, sentando-se ao seu lado enquanto o resto do grupo ficava de pé próximo ao balcão. O menino pareceu demorar-se longamente olhando para o Eevee de Dave, o que fez com que o Pokémon raposa recuasse alguns passos e pulasse para os ombros de Dave, mas o garoto logo deixou sua cabeça cair apoiando-a com as mãos e escondendo o rosto. Mindy e Dave se entreolharam compartilhando um momento de preocupação com o garoto.

– Está tudo bem com você? – disse a menina com uma voz doce e delicada, encostando com carinho uma das mãos nas costas do menino.

– Ã? – o menino se assustou com o toque da garota e levantou rapidamente a cabeça, fazendo com que ela afastasse rapidamente a mão – Sim, está... – disse com uma voz pesada e trêmula.

– Não é o que parece... – ela voltou a falar.

O menino a encarou como se pensando se deveria ou não dizer o que estava o perturbando.

– Provavelmente não é nada de mais entende. Eu só estou preocupado com meu Pokémon...

– E que Pokémon seria ele? E porque está preocupado? – Perguntou Mindy, tentando reconforta-lo com um sorriso.

– Na verdade ele ainda não é um Pokémon – disse, atraindo a atenção de Dave e dos outros para a conversa – É um ovo de Eevee...

Dave arregalou os olhos e se aproximou com o seu próprio Eevee nas costas sentando ao lado de Mindy, claramente interessado na história do garoto, que por sua vez, acompanhou o Eevee nas costas do menino de Grené com atenção.

– O problema é que meus irmãos disseram que ele já deveria ter nascido, mas até agora nada. Trouxe-o aqui escondido para saber se tem alguma coisa de errado e a enfermeira o levou para uns exames há quase trinta minutos, mas até agora nada...

Eevee deu um leve gemido de preocupação nos ombros de Dave enquanto Kato e Jake se aproximavam, também interessados pela história do menino. Ele olhou a volta surpreso por ser de repente o centro das atenções, mas não pareceu se incomodar tanto com isso. Mindy voltou a falar com um sorriso animador para o menino.

– Olha, acho que você não precisa se preocupar. Você vai ver que tudo vai dar certo e o seu Eevee vai nascer forte e saudável.

O garoto sorriu um sorriso tímido para ela, ligeiramente corado, e então Kato se agachou a sua frente, estendo a mão em um cumprimento.

– Olá, meu nome é Kato e eu sou especialista Pokémon. Esses são os meus amigos, Jake, Mindy e Dave – todos acenaram com a cabeça na menção de seus nomes - Qual é o seu nome?

– Mikey. Mikey Suru...

– Olha Mikey eu não vejo motivo para preocupação. Não sei quem são seus irmãos, mas é muito difícil prever o momento correto para o nascimento de um Pokémon. É preciso muito estudo...

– Eu sei, mas todos os meus irmãos tem Eevees e todos eles disseram que seus ovos demoraram muito menos para rachar. Já tenho o meu há quase um ano...

– Entendo – disse Kato, ainda com um sorriso reconfortante no rosto – Mas ainda assim Mikey, isso não quer dizer que alguma coisa esteja errada. Os Pokemons não são como humanos e dependem de uma série de fatores diferentes para nascer...

O menino deu um sorriso mais seguro com as palavras do especialista, e olhou a volta agradecendo àqueles desconhecidos pelo apoio. Até Eevee lhe sorriu de volta, feliz por ajudar o garoto. Foi então que Dave percebeu o que ouvira.

– Espera! Você disse que todos os seus irmãos tem Eevees?

– Sim, todos os três – disse Mikey, surpreso com a pergunta – Por quê?

– Não acredito... Você é um irmão da pesada? – disse ele, enquanto percebia de quem o garoto estava falando. Mindy escondeu o riso com uma das mãos.

– Vocês não conhecem meus irmãos não é? Por favor, digam que não... – disse o menino, parecendo levemente desesperado.

– Sim, acabamos de conhecê-los na estrada – disse Jake, rindo enquanto olhava para Mindy – Qual o problema com isso?

– É que eu estou aqui escondido! Por favor, não contem para eles que me encontraram aqui. Prometam, por favor... – disse o garoto, deixando-se ficar de pé enquanto segurava as lágrimas que chegaram aos olhos. Ele era cerca de vinte centímetros menor do que Jake e mal chegava á cintura de Kato.

– Calma, calma! – disse Mindy, levantando as mãos em sina de paz para o rapaz – Nós prometemos. Mas porque toda essa preocupação?

– Porque na nossa família nós criamos os nossos Eevees sem interferência. Foi assim com meu pai, com o Pyro, Rainer e Sparky e deveria ser assim comigo também. Minha família é bem rígida com essas coisas, mas meus irmãos falaram tanto que eu fiquei preocupado e o trouxe aqui...

Dave e seus amigos se entreolharam, surpresos. Não conseguiam conceber a ideia de que um treinador não pudesse trazer um Pokémon ao Centro por que sua família não permitia. O choque em suas expressões era tão grande que até mesmo Mikey conseguiu perceber.

– Meu pai é o dono da companhia Suru, que trabalha na montanha da evolução – disse ele, fazendo com que Dave se interessasse ainda mais – e ele faz parte de uma sociedade de famílias influentes em que todos os Pokemons evoluem com a ajuda das pedras. Ele fundou essa sociedade e desde então se especializou na criação perfeita de Pokemons para evolução e diz que as interferências externas podem atrapalhar.

– Mas isso é um absurdo... – disse Kato, sem conseguir se conter.

Mikey então lhes contou sobre sua família e o seu modo de criar Pokemons, explicando que seu pai tinha criado seu Eevee desde quando era um ovo e o evoluiu para Flareon em seu aniversário de dois anos. Disse que seu pai havia se dedicado tanto aos negócios como ao estudo de criação e de evolução Pokémon, e que vinha ensinando aos filhos a melhor maneira de preparar seu Pokémon para evolução desde o primeiro dia. Deu um ovo de Eevee para cada um dos seus filhos e os obrigava a prepara-los para evolução sob o argumento de que era o destino de todos os Pokemons.

Dave e Kato ficaram imensamente perturbados com a história, e argumentaram com o menino que a evolução tinha de ser um processo natural, que o Pokémon deveria estar pronto e deveria ser livre para escolher ou não evoluir, principalmente em casos de evolução por meio da radiação das pedras. Mikey pareceu profundamente abalado pelo discurso dos dois, mas estranhava a ideia, nunca tendo antes sido apresentado a essa possibilidade em seus poucos anos de vida.

O Eevee de Dave, como se para ganhar a confiança do menino, deitou em seu colo e permitiu que ele o acariciasse enquanto esperava por noticias da enfermeira, o que pareceu acalmá-lo bastante enquanto Kato continuava a explicar o processo de evolução dos Pokemons e a importância da liberdade que cada um deveria ter em relação a sua evolução. A coleção de insígnias de Dave foi outro ponto que pareceu impressionar Mikey, principalmente quando soube da participação indispensável de Eevee na maioria delas.

O menino pareceu gostar da ideia, mas o assunto não foi capaz de resistir à chegada da enfermeira, quase trinta minutos após a chegada dos viajantes ao Centro. Assim que a porta da enfermaria se abriu e a mulher de cabelos cor de rosa surgiu por trás do balcão, Mikey deu um pulo da cadeira e correu em direção a ela, obrigando o Eevee de Dave a pular rapidamente para o chão. Dave e seus amigos já estavam bastante curiosos para saber do estado do ovo de Mikey e se levantaram também, seguindo o garoto mais novo.

– Mikey, fiz todos os exames que pude e não encontrei problema nenhum com seu ovo. Seu Eevee parece saudável e deve nascer em breve! – disse a enfermeira, com um grande sorriso no rosto enquanto encarava o rapaz, que mal alcançava o balcão.

A expressão no rosto do menino era uma mistura de felicidade e alivio, e ele abraçou com força o ovo marrom com listras cor de creme quando a enfermeira o devolveu para seu dono. Dave e o resto também sorriram e reafirmaram para o garoto tudo o que haviam dito antes, o que pareceu deixa-lo ainda mais feliz.

– Vocês vão ficar na cidade por muito tempo?

– Na verdade, não – disse Dave – Vim apenas para saber um pouco mais sobre os Eevees, mas daqui há quatro dias temos que estar em Sunny Town novamente, então devemos partir amanhã... – ele preferiu esconder do menino sua ambição pessoal em colecionar as pedras da evolução, como se para reforçar o que ele e Kato vinham defendendo.

– Jura? Isso é uma pena – disse Mikey, parecendo claramente desapontado – Quem sabe eu não possa te ajudar...

– Você faria isso? – disse Dave, sorrindo para o garoto.

– É claro, porque não? Fiquem aqui que eu vou tentar voltar a tarde e poderemos conversar mais. Ai eu poderei lhe contar tudo o que meu pai me ensinou sobre os Eevees e suas evoluções!

– Estaremos esperando – respondeu o menino de Grené, incapaz de esconder sua felicidade em poder ajudar o menino.

Dave e seus amigos utilizaram o restante do dia para se alimentar, se acomodar, descansar brevemente dos dias cansativos que tiveram e, é claro, para treinar. Kato os levou primeiramente para os fundos do centro Pokémon, onde uma pequena arena de treinamento existia, e lá eles repetiram muitos dos exercícios que vinham usando para aprimorar e preparar seus Pokemons para futuras evoluções. Dessa vez, entretanto, Kato se focou também nos Pokemons do grupo que já haviam atingido sua fase final, como Sandslash, Pidgeot e Butterfree. O único a não participar dos treinamentos, como de costume, era Eevee, o que começava a perturbar Dave.

Ele e o resto do seu time vinham treinando como nunca sob a mentoria de Kato, mas Eevee, por desconfiança no especialista, se recusava a participar das atividades. O homem mais velho vinha fazendo de tudo para ganhar a confiança do Pokémon raposa, seja com boa comida, atenção e até mesmo carinho, mas por algum motivo ele ainda não se sentira confortável o suficiente para demonstrar suas habilidades perante o homem mais velho. Dave se preocupava com ele, percebendo que talvez o longo tempo sem batalhas ou treinamentos poderia prejudicar seu rendimento nas batalhas, mas toda vez que tocava no assunto com seu Pokémon ele parecia não dar atenção às preocupações de seu treinador.

Enquanto isso, Kato nem mesmo chegava a indagar Dave sobre Eevee e suas ausências nos treinos e o garoto estranhava. Era como se ele soubesse o que estava acontecendo e tivesse decidido deixar o garoto mais confortável em vez de obriga-lo a mentir e inventar desculpas. Ele agradecia por isso, mas em algum nível sabia que isso demonstrava muito mais sobre a personalidade do especialista do que na superfície e apenas o lembrava de o quão pouco eles realmente sabiam sobre o homem e suas intenções.

Apesar disso, o grupo passou toda a tarde envolvido na maratona de treinamentos desenvolvida por Kato, enquanto esperavam pela visita de Mikey. A tarde passou hora após hora e quando o sol se pôs no horizonte e a enfermeira anunciou o horário do jantar, eles perceberam que talvez o menino que conheceram naquela manhã no centro Pokémon não fosse reaparecer como prometido. Um leve senso de desapontamento caiu sobre eles. O menino havia cativado o grupo e sua história havia servido para lhes lembrar daquilo de mais importante que sabiam sobre as evoluções Pokémon: estar pronto para evoluir era muito mais importante do que ficar mais forte.

Eles aproveitaram um jantar simples, mas saboroso no centro Pokémon e todos estavam se encaminhando para seus respectivos quartos quando Kato chamou Mindy. Ele havia descoberto um pequeno riacho que descia das montanhas atrás da cidade em direção ao mar, e que estava a não mais de quinze minutos de caminhada dos fundos do centro. Ele queria ter a oportunidade de treinar Dratini na água e a menina não desperdiçou a rara chance de ter um momento a sós com aquele que ela acreditava ser seu pai.

Dave viu os dois saírem noite a fora guiados por Charmeleon e resolveu aproveitar a noite para relaxar. Com a história de Mikey ainda o incomodando bastante, ele disse a Jake que iria caminhar um pouco e que o encontraria no quarto mais tarde, e então saiu pelos fundos do centro com Eevee nos ombros.

A noite estava bem iluminada e a simplicidade dos edifícios da cidade fazia com que fosse mais fácil contemplar a imensidão de estrelas na escuridão do céu. O menino saiu por trás do centro Pokémon e andou apenas algumas quadras da cidade até encontrar um campo aberto, com poucas arvores. La ele encontrou uma árvore onde se apoiar e sentou, deixando que Eevee se acomodasse em seu colo enquanto ele o acariciava levemente. Havia muito tempo que ele não tinha a calma e a tranquilidade para fazer aquilo.

Pegou-se pensando novamente na história de Mikey e sua família e de como tudo aquilo parecia estúpido, até que se deu conta de que não fosse todas as lições que aprendera com Eevee e a influencia do Prof. Noah e até mesmo do Dr. Kato, talvez ele não estivesse muito distante da família Suru. Desde que soube sobre a possibilidade de possuir cada uma das pedras da evolução, o garoto as vinha colecionando com uma forma de obsessão controlada, mas ainda assim uma obsessão. Até vinha treinando com Kato no exato intuito de preparar seus Pokemons para a evolução.

Aquele pensamento o fez se sentir mal e culpado, e o menino então sacou as Pokebolas de Oddish, Poliwhrill e Growlithe. Eevee se moveu em seu colo assustado com a movimentação do garoto, mas Dave queria falar com ele também. Liberou então seus Pokemons e sorriu para eles. Growlithe imediatamente expulsou Eevee do colo de Dave, subindo em cima do garoto para lamber-lhe o rosto, enquanto o treinador o afastava carinhosamente, rindo. Oddish e Poliwhril se juntaram às risadas e Eevee se postou ao lado deles, encarando seu amigo com curiosidade.

O menino admirou seus Pokemons por um segundo, até que deu um longo suspiro e começou a falar.

– Me desculpem pelos últimos dias – disse para os três Pokemons que havia liberado das Pokebolas, obtendo apenas olhares confusos com resposta – Kato e eu colocamos vocês sob uma espécie de treinamento para evolução, mas eu nunca antes perguntei como vocês se sentiam em relação a isso.

Um imenso sentimento de culpa tomou conta do menino enquanto ele ouvia suas próprias palavras, e Eevee não conteve um enorme sorriso a medida que o menino ia falando o quanto cada um deles era importante e especial daquela maneira que eram, e que por mais que ele quisesse vê-los crescer fortes, era muito mais importante que eles fossem felizes e estivessem sempre bem consigo mesmos.

– O Eevee aqui me ensinou uma lição muito legal. Ele pode evoluir para muitas formas diferentes, e pode escolher quem ele será no futuro, mas ao invés disso ele prefere continuar sendo quem ele é agora. E pensando bem, eu não o trocaria por nenhuma de suas evoluções. Todos sabem que ele é extremamente capaz e poderoso sem ajuda da evolução, e eu sei que se vocês quiserem, podem fazer o mesmo – Dave se deixou levar pelo momento e dizia o que sentia, mesmo sabendo que no fundo adoraria ver seus Pokemons evoluírem.

– Portanto, eu queria fazer uma pergunta a vocês. Quero saber se vocês querem que eu continue a treinar como estamos treinando ultimamente. Se vocês disserem que preferem não evoluir nunca, estarei disposto a aceitar e a concentrar nosso treinamento no fortalecimento de cada um de vocês como vocês são. Se não, estou disposto a fazer a evolução no momento em que vocês escolherem. Só caberá a vocês...

Eevee tinha os olhos arregalados, pego de surpresa pela atitude do menino, e olhou curioso para seus companheiros. Para a felicidade de Dave, porém, todos balançaram negativamente a cabeça, dizendo que não se incomodavam com os treinamentos e indicando que o menino estava no caminho correto. Ele sorriu um enorme sorriso quando viu a reação de seus Pokemons, e não se conteu em abraça-los todos de uma vez. Growlithe mais uma vez o derrubou e começou a lamber seu rosto e toda a culpa que o menino sentia se esvaiu em poucos segundos.

Quando voltava para o centro, já com seus Pokemons de volta a sua Pokébola, Eevee voltou a pular sobre seus ombros. Encostou o rosto na orelha do menino e deu uma única suave e carinhosa lambida em seu rosto. E Dave sabia que seu amigo estava orgulhoso pelo que ele tinha acabado de fazer.

*-*-*-*-*-*-*-*-*

O dia seguinte começou com o telefone tocando cedo no quarto dos meninos, o que fez com que Dave e Jake pulassem da cama uma hora antes do planejado. Eevee não se dignou a levantar enquanto Dave resmungava e Jake tirava o fone do gancho ainda muito sonolento.

– Ãhn – grunhiu o menino.

– Bom dia meninos, desculpe acorda-los tão cedo – disse a voz da enfermeira Joy, do outro lado da linha – mas tenho visitas no lobby que não querem esperar.

– Quem é? – perguntou Jake, suprimindo um longo bocejo enquanto Dave se sentava no andar de cima do beliche.

– São os irmãos Suru. Todos eles... – disse a enfermeira, com um leve tom de preocupação na voz.

Jake tapou o fone com uma das mãos e olhou alarmado para Dave, movendo a boca devagar, sem fazer som, e permitindo que o amigo lesse o nome dos visitantes em seus lábios. Dave demonstrou a mesma surpresa que o amigo mais novo e acenou positivamente com a cabeça, fazendo com que ele voltasse à ligação com a enfermeira.

– Ótimo. Obrigado, enfermeira. Estaremos com eles em minutos – disse o menino, levantando-se rapidamente – Você poderia, por favor, avisar o Dr. Kato e a Mindy da visita também?

– Já o fiz – disse a enfermeira.

Jake então finalmente agradeceu e desligou o telefone, sentindo-se muito acordado enquanto via Dave descer com agilidade as escadas do beliche e acordar Eevee com gentileza, lhe contando da visita. O pequeno Pokémon também se surpreendeu e colocou-se de pé, pulando para o chão enquanto Dave corria para trocar o pijama e receber a visita inesperada.

– Todos? – ele perguntou incrédulo para Jake quando o menino lhe contou exatamente o que a enfermeira dissera.

O menino mais novo apenas acenou com a cabeça, colocando também colocando suas roupas e se apressando para fora do quarto. Eles se precipitaram pelo corredor, seguidos de perto por Eevee, e quando chegaram ao salão principal viram que Mindy e Kato já estavam lá. Encarando eles estavam Pyro, Rainer e Sparky, acompanhados por um Mikey que ainda carregava o seu ovo de Eevee e parecia triste e assustado. Era incrível como os sentimentos do menino eram transparentes em sua expressão. Já os outros, em contraste, tinham as linhas tensas e expressões fechadas.

– Bom dia – Dave começou a dizer, mas foi interrompido antes que pudesse falar alguma coisa a mais.

– Não venha com bom dia! – disparou Sparky, recebendo um olhar recriminador de Pyro. Depois disso ele se calou, e o irmão de cabeços vermelhos deu um passo à frente.

– Dave, se me lembro bem, certo?

Dave acenou com a cabeça.

– Dave, deixe-me contar um pouco mais sonre minha família para você e seus amigos – os olhos do menino percorreram os rostos de cada um dos companheiros de Dave, se demorando um pouco mais em Kato do que no resto – Os Suru chegaram a essa área na época do avô do meu bisavô, antes que a cidade das pedras fosse pouco mais do que uma pequena vila. Fomos nós que descobrimos as reservas de pedras evolucionarias na Montanha da evolução e que criamos as companhias Suru, hoje responsável por mais de 60% da comercialização dessas pedras em Kanto. A cidade cresceu e é o que é hoje por causa da minha família!

Dave suspirou longamente e ele sentiu Mindy tremer ao seu lado, mordendo a língua para não responder grosseiramente ao garoto de cabelos vermelhos. Se ele bem a conhecia, sabia que a paciência da menina não iria suportar aquele discurso por muito mais tempo, e ele tomou então sua mão na dele, numa tentativa de acalmá-la. O gesto pareceu surpreendê-la e ela se distraiu, e o garoto sabia que tinha conseguido o que queria. Pyro continou, sem dar atenção ao gesto de Dave.

– Desde então Dave, nossa família se orgulha de ser um símbolo da evolução e tudo o que ela representa para os Pokemons. Meu bisavô fundou a associação de treinadores de Pokemons evoluídos, a ATPE, e meu avô foi um dos mais renomados especialistas Pokemons nessa área. Talvez você tenha lido seu livro na faculdade, Dr. Kato. Chama-se “Os princípios básicos da evolução por radiação”.

Kato admitiu com um sorriso que conhecia a obra, mas Pyro também o interrompeu para continuar seu discurso.

– Tendo isso em mente, você pode imaginar a minha surpresa ao descobrir ontem que você e seu amigo, que se diz especialista, andaram enchendo a cabeça do meu irmãozinho com ideias absurdas sobre liberdade e escolha – Dave engoliu em seco e olhou de relance para Mikey, que mirava intensamente o chão – Como vocês ousam chegar à nossa casa e insultar o nosso modo de vida? Como você ousa chegar aqui e insultar a minha família? Isso, como você deve bem saber, não pode ser ignorado!

O tom de voz de Pyro parecia ligeiramente trêmulo, mas ele fez o seu discurso de maneira forte, impositiva e até mesmo elegante. Dave teria se sentido muito intimidado, não fosse a lembrança do fraco desempenho que os irmãos tiveram no campo de batalha no dia anterior, quando enfrentaram Mindy. Ainda assim, ele sabia que tinha cometido um grande erro, e mesmo que acreditasse em tudo o que tinha dito a Mikey, sabia que lhe faltara tato e sensibilidade. Pyro estava certo em pelo menos um aspecto afinal: eles tinham insultado todo o modo de viver da família Suru.

– Nós pedimos as nossas mais sinceras desculpas a vocês e a toda a sua família – disse Kato, tomando a palavra e aproveitando a hesitação de Dave – Nossa intenção nunca foi agredir ou insultar a honra ou o seu modo de viver. Nosso discurso foi impensado e...

– Para com essa palhaçada de desculpas! É tarde de mais para isso – disse Rainer, interrompendo mais uma vez o doutor, que pareceu profundamente irritado com o menino de cabelos azuis.

– O que você espera de nós então? – disse Dave, cansado de ouvir calado às provocações dos irmãos Suru.

– Nós queremos provar para o nosso irmão tudo aquilo em que acreditamos – disse Pyro – Diga, Dave. Além de Eevee, você tem algum Pokémon que ainda não tenha evoluído?

– Sim, Oddish e Growlithe ainda estão na sua primeira etapa e Poli...

– Ótimo! – interrompeu novamente o garoto – o desafiamos então para uma batalha.

No momento em que Pyro fez o desafio a porta automática do centro Pokémon se abriu e por ela entraram, lado a lado, três Pokemons que chamaram a atenção tanto de Dave quanto de Eevee. Os três tinham quatro patas e tinham alturas parecidas, um pouco maiores do que Eevee. O do centro tinha a pele vermelho alaranjada, com longas orelhas. Seu pescoço, o topo de sua cabeça e sua cauda eram cobertos por uma pelagem clara similar àquela que Eevee tinha em volta do pescoço. O da direita tinha a pele azul clara, brilhante. Tinha orelhas amareladas que muito se assemelhavam a membranas de um peixe, assim como a estrutura de tecido branco e fino que envolvia seu pescoço. Sua cauda terminava com o que pareciam ser nadadeiras. Já o da esquerda tinha orelhas pouco mais longas do que os outros, e era envolto em uma pelagem dura que muito se assemelhava a espinhos de um amarelo brilhante, com exceção da área em torno do pescoço, onde os pelos espinhosos eram brancos.

Dave olhou para Flareon, Vaporeon e Jolteon entrando pela porta e não pode deixar de se sentir admirado enquanto um arrepio percorria sua espinha. Não por medo de enfrenta-los no campo de batalha, mas por pura admiração pelas três criaturas que habitavam sua mente de uma maneira ou de outra desde que Eevee aceitara ser seu Pokémon pela primeira vez. Mesmo que não de maneira consciente, o menino sempre pensou nas possíveis evoluções de Eevee e em como seria ter uma delas em seu time. Era simplesmente o que todo treinador de um Eevee fazia, automaticamente. E mesmo agora tendo decidido aceitar e apoiar a decisão de seu Pokémon em não evoluir, Dave se abalou quando se deparou com as três evoluções simultaneamente a sua frente.

– Os seus Pokemons não evoluídos contra os nossos, evoluídos – disse Pyro, desafiador, enquanto os outros dois irmãos da pesada davam finalmente um passo à frente e se postavam ao seu lado, acompanhados de seus Pokemons. Mikey continuou parado, agarrando com força seu ovo de Eevee, com os olhos no chão.

– Meninos! – disse a enfermeira Joy, alarmada. Dave quase havia se esquecido da presença da mulher – Por favor, resolvam seus problemas lá fora!

– Claro, enfermeira... – disse Pyro, e então caminhou passando por entre Dave, Kato e todos os outros, em direção ao campo de batalha gramado nos fundos do centro Pokémon.

Rainer, Sparky e todos os seus Pokémons fizeram o mesmo e por ultimo seguiu Mikey, calado, triste e ainda encarando o chão. Assim que passou por eles, porém, o pequeno menino direcionou um olhar suplicante a Kato e a Dave, como se denunciando que estava em sérios apuros. E enquanto Dave seguia os irmãos desafiantes, Kato o segurou pelo braço levemente, e se abaixou para falar perto de seu ouvido.

– Cuidado Dave. Mikey já está com problemas em casa. Lembre-se que nós não precisamos piorar as coisas. Além do mais, nós não precisamos ter toda a família Suru como nossa inimiga. Eles têm influencia, e isso pode ser perigoso...

Dave fez um sinal de compreensão com a cabeça e marchou para a arena, com Eevee em seu ombro. Seria a primeira vez que seu amigo lutaria na frente de Kato, mas ele conseguiu ler na expressão do Pokémon que aquilo não seria um impedimento. Sua expressão de determinação e tudo o que Dave sabia sobre ele e suas opiniões sobre a evolução forçada o faziam acreditar que talvez Oddish e Growlithe não fossem necessários naquela batalha. Algo lhe dizia que Eevee estava disposto a derrotar suas três evoluções sozinho. Ainda assim ele lhe pediu em voz baixa que se controlasse, prometendo que poderiam vencer sem humilhar os oponentes e lembrando que eles não deveriam piorar as coisas para o pequeno Mikey e sua família.

Quando se postou em seu lugar, Dave reparou que Vaporeon, Jolteon e Flareon se postavam lado a lado no campo de batalha demonstrando que os irmãos queriam, novamente, uma luta tripla. Dave não se incomodava com a ideia. Assim tudo seria resolvido mais rapidamente, e eles estariam livres para voltar à estrada. Precisavam começar ainda naquele dia a viagem de volta a Sunny Town, e ele não pretendia passar a tarde recuperando a saúde de seus Pokemons.

O treinador de Grené liberou então seus dois Pokemons ainda não evoluídos, agradecendo mentalmente a oportunidade de testá-los em batalha aberta depois de tanto treinamento. Eles se postaram um de cada lado de Eevee parecendo bastante confiantes e Kato tomou seu lugar no centro da luta como juiz. Seu olhar se demorou sobre Eevee um pouco mais do que o Pokémon gostaria quando ele encarou os competidores, antes de dar o sinal para o inicio do combate.

– Vaporeon, jato de água!

– Flareon, lança chamas!

– Jolteon, raio do trovão!

Os três irmãos partiram para o ataque assim que a luta começou, e seus Pokemons pareciam saber exatamente quem atacar. Oddish foi obrigado a pular de lado para fugir das chamas do oponente de fogo, assim como Growlithe teve que se desviar do ataque aquático. Eevee deu um salto para trás e outro para cima, escapando do ataque de sua evolução elétrica, e Dave sorriu com o sucesso dos movimentos evasivos. Eles pareciam ter vindo com muito mais naturalidade e facilidade do que antes, e ele sentia mesmo que os oponentes tivessem sido mais rápidos eles não teriam atingido o alvo.

– Rápido, carga flamejante!

– Carga elétrica!

– Queda de agua!

Os três Pokemons evoluídos partiram em rápidos ataques de investida, cada um se utilizando de seu elemento. Flareon corria envolto em um furacão de fogo, enquanto Jolteon, claramente o mais rápido, partia carregado de energia. Vaporeon, por último, investia com força tremenda, como se ainda se preparando para lançar um poderoso jato de água. Dave percebeu a boa oportunidade que tinha de revidar e não perdeu tempo.

– Oddish, nó de grama no Vaporeon!

– Growlithe, derrubada no Flareon!

– Eevee, proteja-se e revide!

Tudo ocorreu com tanta velocidade que Mikey, muito interessado na batalha, mal conseguiu acompanhar. Vaporeon estava prestes a alcançar Growlithe quando tropeçou na grama que se amarrou a suas duas patas dianteiras. Mesmo que não o tivesse, Growlithe já havia se lançado contra Flareon, do lado oposto do combate. O cachorro pulou por cima de Jolteon e jogou seu corpo com força contra a lateral de Flareon quando ele estava a meros centímetros de Oddish. Eevee, por sua vez, criou uma forte barreira de energia protetora a sua volta, lançando Jolteon para trás assim que ele a atingiu. Em seguida, o pequeno Pokémon marrom deu um salto para cima e lançou de sua boca uma poderosa esfera de energia roxa e preta, que explodiu contra o corpo de seu oponente.

Mikey e seus irmãos arregalaram os olhos quando, com uma única jogada, Dave tomou o controle do combate e se colocou em vantagem. Kato e Mindy pareciam preocupados. Eles sabiam que agora a mesa havia virado, Dave estava um passo a frente e tinha todas as possibilidades de acabar com o combate. Além disso, sabiam por experiência que os irmãos não seriam tão resistentes, o que diminuía consideravelmente suas chances de retomar a ofensiva. Dave tinha a luta nas mãos, e parecia pronto para termina-la.

O menino de Grené sabia exatamente o que fazer. Se seu Eevee se escondesse no subterrâneo, poderia atingir o já abalado Jolteon com um ataque super efetivo. Tendo esse ataque vindo de seu Eevee, o rapaz duvidava que o Pokémon elétrico pudesse resistir a muito mais. Enquanto isso, ele sabia que poderia prejudicar Vaporeon em grande escala com os ataques absorventes de Oddish, e um pó do sono colocaria o fim àquele confronto, principalmente se conseguisse prende-lo novamente com o nó de grama. Por fim, Growlithe teria um bom desafio contra Flareon, mas ele confiava na força de seu Pokémon e se fosse necessário, Oddish e Eevee logo estariam ao seu lado.

Toda a batalha se passou na frente de seus olhos em milésimos de segundo enquanto ele se preparava para dar as ordens, por puro instinto, mas então ele se deparou com o olhar desesperados de Mikey e a expressão de preocupação de Kato. Eles pareciam saber também que Dave estava prestes a vencer e, por algum motivo, aquilo os perturbava. Ainda assim, o instinto de treinador do menino estava ligado e ele não achava que seria capaz de ignorá-lo, até que Mikey fez um sinal negativo com a cabeça, como se suplicando para que ele não vencesse seus irmãos.

Dave hesitou e se perguntou o que fazer a seguir. A expressão de Mikey mexera profundamente com ele e o fez se recordar de tudo o que causara na vida do menino. Depois da luta ele juntaria suas coisas e seguiria viagem em direção a Cinnabar, mas Mikey voltaria para casa com seus irmão derrotados e teria que enfrentar toda a sua família. E ele seria o principal responsável por isso. De repente, um enorme peso de responsabilidade recaiu sob seu peito enquanto o menino, desesperado, balançava negativamente a cabeça, pedindo misericórdia pelos seus irmãos.

Dave ficou calado. Enquanto isso, seus adversários se recuperaram e se postaram de pé novamente, enquanto Eevee, Growlithe e Oddish olhavam para seu treinador como se questionando o porquê da falta de comandos. Eevee pareceu entender com facilidade, e demonstrou claramente que estava em desacordo com o menino quando pulou e desviou do jato de água lançado em sua direção por Vaporeon. Growlithe e Oddish por suas vezes pareciam bastante confusos.

Dave fez um sinal de negativo com a cabeça e eles pareceram entender pelo menos que o menino não planejava vencer aquela luta, mesmo sem entender o motivo. Flareon então lançou-se novamente em sua carga flamejante contra Oddish, mas Growlithe lançou-se na frente do companheiro e se deixou atingir pelo golpe do oponente, caindo a alguns metros de distância. Uma chuva de espinhos então atingiu Oddish em cheio, e Dave o viu tentando resistir ao impacto de maneira brava, sem se deixar derrubar.

Atormentado por ver a situação em que colocava seus Pokemons, sacou então suas Pokebolas. Sabia que não podia desistir sem ferir o orgulho dos Suru e causar ainda mais problemas, mas podia muito bem fingir-se derrotado. Com um olhar rápido para Kato, o professor entendeu e declarou Growlithe fora de combate antes mesmo que esse se levantasse. O Pokémon de fogo parecia estar se recuperando, mas Dave lhe lançou um olhar significativo e ele permaneceu deitado, e se permitiu ser recolhido.

– Há! – comemorou Pyro, lançando um soco no ar.

O próximo seria Oddish. Dave não pretendia deixar que Flareon o atingisse diretamente, pois aquilo poderia ser muito prejudicial ao seu amigo, e ele já estava pedindo de mais do pequeno Pokémon de planta. Deu uma ordem rápida para que Eevee o ajudasse, mas Vaporeon parecia estar lhe mantendo ocupado. Como se não fosse o suficiente, Sparky ordenou que seu Jolteon ajudasse o Pokémon aquático, enquanto Flareon se preparava para cobrir Oddish com chamas.

Eevee pulou em direção a Vaporeon e o atingiu com sua calda de ferro, lançando-o alguns metros para trás e então se agachou, esquivando do ataque de investida de Jolteon. Uma vez em baixo do Pokémon elétrico, balançou sua calda ainda brilhante e o atingiu com o mesmo ataque que atingira Vaporeon, jogando-o em cima de seu companheiro já derrubado. Pulou então na frente de Oddish assim que Flareon lançou uma grande rajada de chamas.

Dave trincou os dentes. Não apenas Eevee parecia ter causado danos consideráveis a Vaporeon e a Jolteon, arrancado suspiros assustados de Mikey, a rajada de Flareon envolveu Eevee tanto como Oddish, fazendo com que eles desaparecessem no meio do fogo. O coração de Dave se abateu com culpa por ter colocado seus Pokemons naquela situação, mas o que aconteceu a seguir fez com que ele se assustasse.

Do meio das chamas uma forte luz brilhou mais intensa do que qualquer calor que emanasse do fogo. A luz cegou todos por um momento, inclusive Flareon, que interrompeu seu ataque, e todos levaram as mãos aos olhos, para se proteger da claridade. Dave sentiu como se uma explosão de energia estivesse acontecendo e olhou preocupado para onde há pouco estava seu Oddish. E em vez disso, ele viu um Gloom.

– Ele evoluiu! – exclamaram todos, em uníssono.

Dave se permitiu admirar seu Pokémon por um segundo a mais, antes de tentar voltar a se concentrar na luta e analisar o que isso mudava em sua situação. Teria tempo para comemorar a evolução depois, mas agora estava enfrentando um dos seus maiores desafios. Se deixar perder sem aparentar desistir e sem permitir que seus Pokemons sofressem desnecessariamente. Um leve sorriso surgiu em seus lábios por um segundo e ele se apressou a escondê-lo enquanto o restante das pessoas focava na evolução de Oddish.

Viu Eevee ainda em pé um pouco a frente de Gloom e percebeu que ele era seu maior problema. Lançou lhe um olhar significativo enquanto ele parecia irredutível. Dave sabia que ele não planejava desistir. Teimoso, o menino sacou sua Pokebola e, mais uma vez surpreendendo a todos, recolheu Gloom.

– Um Pokémon evoluído do meu lado foge às regras dessa luta – declarou, enquanto estudava os irmãos Suru procurando suas reações.

Eevee parecia furioso no campo de batalha, mas os irmãos pareceram considerar as palavras do garoto e aceitar a vitória, afinal Vaporeon e Jolteon ainda lutavam para se levantar depois do golpe de Eevee, e isso finalmente os colocaria em grande vantagem numérica. Isso deu coragem para que Dave continuasse com seu plano. Aproximou-se de Eevee com duas passadas rápidas e se agachou ao seu lado, falando um pouco mais alto do que o normal.

– Você está bem? Se machucou?! – enquanto isso, dizia por entre a respiração, para que somente seu Pokémon ouvisse – Eu sei que você pode vencer os três, mas pelo Mikey, hoje não...

Eevee pareceu lutar com o pedido por um momento e olhou para o pequeno menino assustado segurando seu ovo de Eevee, e pareceu finalmente ceder. Deixou-se cair então no chão, dobrando as pernas e fechando os olhos.

– Eevee está fora de combate! Os irmãos Suru são os vencedores! – declarou Kato, e Mikey sorriu aliviado do outro lado da batalha enquanto seus irmãos comemoravam a sua suposta vitória.

*-*-*-*-*-*-*-*-*

Dave caminhava de mãos dadas com Mindy desde que deixaram a cidade, logo depois dos deboches e provocações dos três irmãos que se sagraram vencedores sobre Dave. O menino pensara que o pior tinha acabado quando a luta terminara, mas ter de ouvir os irmãos se gabando da vitória havia sido um desafio tão grande quanto o anterior. Eevee ficou no colo de Dave se fingindo afetado até se distanciarem da cidade, quando voltou a caminhar normalmente. Kato parecia interessado no fato dele não apresentar sequer queimaduras de primeiro grau, mas não insistiu no assunto, preferindo manter-se calado.

Dave sentia-se reconfortado, porém, por contar com o apoio da menina, que parecia orgulhosa e até mais carinhosa com ele desde que voltaram à estrada. Além disso, ainda tinha agora mais um Pokémon evoluído no grupo. Ele estava decidido a, assim que parasse para almoçar, separar alguns momentos em particular para se sentar e agradecer a Growlithe e a Gloom por sua participação na luta mais cedo, e para explicar-lhes o verdadeiro motivo de tudo o que havia acontecido. Ele não podia se permitir a perda de confiança de seus Pokemons nele, mas desconfiava que depois de passar por tantas coisas juntos, eles seriam compreensivos e talvez até concordasse com a sua decisão.

Já no caminho de volta, Dave concluiu que não conseguira nada do que planejara naquela viagem. Conhecera a família que criava Eevees, mas eles foram um grande desapontamento. Por fim, não tinha conseguido nem ao menos ver mais pedras da evolução, muito menos aumentar a sua coleção. Ainda assim, sentia que a visita não tinha sido em vão. Aprendera bastante com a errada filosofia dos Suru e sementara sua posição sobre o uso das pedras. Ainda por cima, a viagem rendera a evolução de Oddish, e isso, para ele, tinha sido a maior vitória de todas.

Eevee andava um pouco a frente do grupo quando parou subitamente, levantando as orelhas muito como havia feito quando eles encontraram os três irmãos de cabelos coloridos pela primeira vez. Ele se virou para trás e farejou mais uma vez o ar, e Dave se alertou, preocupado. Olhou a volta e não conseguiu ver nada até que, no fundo, como se trazido pelo vento, ouviu um ruído.

– Ueee!

Primeiramente ele não soube dizer o que era, não confiando em seus próprios ouvidos, mas em seguida ouviu o que, sem sombras de dúvida, era a exclamação de um Eevee. O que o surpreendeu era que o seu próprio Pokémon estava calado, e parecia tão confuso quanto ele. E então, na estrada, vindo da direção da cidade, um Eevee encoleirado surgiu correndo, com um grande sorriso no rosto. Dave não entendeu por um instante, até que atrás deles surgiu Mikey, correndo atrás do seu primeiro Pokémon.

– O ovo chocou! – gritava o menino enquanto acenava com o braço acima da cabeça, fazendo com que todos os amigos viajantes abrissem um largo sorriso.

– Que ótimo! Parabéns! – disse Dave quando ele os alcançou, deixando se levar pela alegria do menino mais novo.

Mikey se aproximou e se apoiou sobre os joelhos, cansado e suando. Ele trazia uma pequena mochila e ficou recuperando o folego enquanto todos os outros o parabenizavam pelo seu Pokémon e os dois Eevees se apresentavam e brincavam na estrada.

– Que bom que eu te encontrei Dave – disse Mikey, ainda ligeiramente atrapalhado pelo cansaço – Eu precisava te contar.

A felicidade dele era contagiante e Dave sorriu enquanto Mindy apertava sua mão, também incapaz de esconder a alegria.

– Você não precisava... – disse Dave, embaraçando os cabelos castanhos do mais novo irmão Suru.

– Claro que eu precisava. Eu tinha que te agradecer – disse o menino, surpreendendo Dave – Eu sei que você poderia ter vencido meus irmãos. Até eles, no fundo, sabem. Mas eu vi que você se deixou vencer por minha causa. Eu não nego que lhe coloquei em uma situação difícil. Me desculpe...

– Não precisa se desculpar. A culpa não foi sua, foi da sua família. E de qualquer jeito, ficamos felizes em ajudar – disse Kato, também sorrindo para o garoto.

– Ainda assim, não posso deixar de agradecer por toda a ajuda. Queria te dizer, primeiro, que acho que não vou evoluir meu Eevee. Quero ser um treinador de Eevee como você Dave!

Aquela afirmação em si, Dave sabia, não queria dizer muita coisa. As crianças falavam muitas coisas que sabem que não poderão cumprir. Mas o simples fato de Dave ter inspirado e conseguido marcar a vida do menino de forma que levasse ele a dizer aquilo já era mais do que Dave poderia ter imaginado e fizera valer cada passo que dera até lá e que ainda dariam no caminho de volta. Poucas vezes na vida ele sentira-se tão orgulhoso. Se eu puder, um dia volto aqui para ajuda-lo mais prometeu ele para si mesmo, enquanto agradecia o menino por tudo.

– Mas isso não é tudo – disse Mikey, tirando a mochila das costas.

– Não?! – Dave não sabia o que esperar.

– Isso é para você.

E com isso Mikey tirou uma caixa de madeira quadrada da mochila. Ela tinha o símbolo de uma Pokebola encravado com habilidade no topo e quando Dave a abriu ele viu um espaço para que ele guardasse quatro pedras da evolução. E isso realmente não era tudo. Três dos buracos estava vazio, mas no ultimo, uma pedra de um brilho verde escuro repousava na espuma negra que as protegia. Ela tinha uma folha desenhada no topo e os olhos de Dave brilharam, incrédulos.

– Eu peguei lá em casa. Eles não vão dar falta. Queria pegar mais algumas, mas não tive chance. Então escolhi a da grama, já que seu Oddish evoluiu na luta.

– Muito... – Dave parou no meio da frase, incapaz de continuar. Sua gratidão era incalculável – Muito obrigado, de verdade!


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Notas finais do capítulo

E então, curtiram? Cara eu queria explorar essa cidade e essa família desde o começo. Me amarro neles. E tem tudo a ver com a fic.

Espero a opinião de vocês nos comentários!



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