Evolution: Parte 3 escrita por Hairo


Capítulo 15
Voltando com Novidades


Notas iniciais do capítulo

Bom, esse é um capítulo importante para explorarmos a nova dinâmica do grupo depois do que aconteceu até aqui.

Espero que gostem! Boa leitura!



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Capítulo 15 – Voltando com Novidades

Dave estava sentado apoiado em uma árvore, concentrado em polir suas duas pedras da evolução enquanto Mindy preparava o almoço para o enorme grupo que tinham agora. Já haviam se passado dois dias que ele, Eevee, Jake e Mindy haviam partido do Centro Pokémon em direção a Veridiana, acompanhados pelo Dr. Kato, que vinha com o pretexto de estudar de perto o comportamento do lendário Pokémon Dratini, que decidiu acompanhar a menina de Cardo como o mais novo membro de seu time.

Dave não podia reclamar da possibilidade de ver de perto a criação de um Pokémon como Dratini, mas ainda não havia se acostumado com as mudanças em seu grupo. Tinha muitas desconfianças em relação ao novo especialista que os acompanhava e a única pessoa que parecia compartilhar seus sentimentos era Eevee. Jake não se separava do Dr. Kato por mais de dez minutos e o menino de Grené teria sentido pena do homem mais velho, caso gostasse dele um pouco mais. Mindy, por outro lado, alternava momentos de admiração e outros de uma timidez muito imprópria à sua personalidade forte.

Ainda não tivera coragem de perguntar a Kato sobre a possibilidade de ser o seu pai, e o homem também não havia dado nenhuma informação que negasse tal dedução, mesmo com as tentativas de Dave de extrair mais informações sobre ele. O menino já havia perguntado sobre a cidade em que ele nascera, os locais que ele havia trabalhado e o que ele andava fazendo nos últimos anos, mas sempre recebera uma resposta inconclusiva e evasiva. Dr. Kato sempre dizia que não gostava de relembrar do seu passado e mudava habilmente de assunto. A única informação que confirmara, a muito custo, era de que havia se formado na Universidade de Celadon.

Mindy, por si, não insistia nas perguntas, e Dave desconfiava que sua timidez era, na verdade, um reflexo de um medo oculto de descobrir a verdade. Ele não podia culpa-la, sabendo o quanto significava para ela encontrar seu perdido pai, e tinha certeza de que ela não admitiria esse medo nem mesmo para si, portanto achou melhor não questioná-la. Ainda assim, não conseguia se sentir confortável com o especialista Pokémon no grupo e sentia que isso prejudicava o seu relacionamento com a menina.

– Sabe Dave, é comum que treinadores de Eevee tenham certa ambição pelas pedras da evolução, mas não acho que tenha visto ninguém poli-las antes... – disse o Dr. Kato, aproximando-se de Dave sem que ele percebesse.

O menino se assustou e ajeitou o seu corpo, sentando-se mais ereto e encarando o especialista, que lhe sorria amigavelmente.

– Gosto de fazer isso. Gosto de tê-las nas mãos... – disse o menino, seco.

– Entendo. Você tem duas pelo que posso ver, e ambas podem ser usadas no Eevee. Não conseguiu se decidir ainda? – perguntou o homem mais velho, curioso – Ou está se segurando para obter uma pedra do fogo?

Dave o estudou por um momento antes de responder, incomodado com a pergunta. Não gostava de perguntas tão específicas relacionadas ao Eevee, principalmente sobre um assunto tão delicado. O fato de vir de Kato apenas contribuiu para a falta de simpatia do menino.

– A evolução do meu Eevee é um problema dele. Não é meu e não é seu, somente dele... – respondeu ríspido.

Kato sorriu perante a grosseria do menino, paciente, e acenou positivamente com a cabeça, enquanto virava-se para observar Eevee conversando animadamente com Mindy ao lado da fogueira acesa onde ela preparava a comida.

– Muito bem – disse ele, ignorando o tom do rapaz – Essa era, de fato, a resposta certa. Mas se quisesse uma pedra do fogo eu aconselharia fazer um desvio de caminho. A ilha de Cinnabar possui um ginásio e um vulcão que podem lhe interessar muito, e não nos tomaria muito mais tempo...

Dave quase se levantou ao ouvir as palavras do especialista, mas ele se afastou antes que o garoto pudesse formular uma pergunta, indo se juntar novamente a Jake, que fazia questão de lhe mostrar tudo que tinha anotado em seus cadernos de viagem. O homem se mostrava muitíssimo interessado em tudo o que o menino mais novo escrevera, apesar da pouca idade e inexperiência do garoto.

Enquanto isso, Dave revirou sua mochila e pegou o mapa para estudá-lo. Percebeu que a ilha de Cinnabar, na verdade, era até mesmo mais perto do que Veridiana, mas incluía uma boa parte da viagem a ser feita pelo mar. Tinha certeza de que se o grupo fosse menor, Pidgeot poderia atravessá-los pelo ar sem maiores problemas, mas sendo o único Pokémon voador em um grupo que contava com quatro pessoas, incluindo um adulto, isso seria pouco pratico. Ainda assim, sabia que deveria haver alguma outra maneira de chegar até lá. Preciso convencer a Mindy a procurarmos a primeira cidade que de margens para o mar. Lá deve ter um barco...

– Mindy! – disse ele, levantando-se e carregando o mapa consigo – Mindy, tive uma ideia...

– Ótimo! – disse, virando-se para Eevee – De quem é a vez de explicar para ele porque ele está errado? Minha ou sua, Eevee?

O Pokémon marrom riu da zombaria da menina, que estava em um dia particularmente bem humorado, enquanto Dave se aproximava fazendo uma careta para a garota. Ela parecia ocupada remexendo a panela e adicionando alguma coisa que ele não conseguia identificar à mistura. Ainda assim, ele abriu o mapa ao seu lado, forçando-a a espiar com o canto do olho. Eevee pulou para seu ombro para enxergar melhor.

– Olha a ilha de Cinnabar. Ouvi falar que lá tem um ginásio, e ela parece até mesmo mais perto que Veridiana...

Mindy pareceu estudar o mapa por um momento, e então voltou a se concentrar na panela.

– Dave, até pode parecer mais perto, mas nós iriamos ter que atravessar o mar para chegar lá...

– E dai?

– E dai?! – riu-se a menina – E dai que ou vamos às costas de nossos Pokemons, que imagino que teriam dificuldades em carregar todo mundo por toda essa distancia; ou então pagamos uma passagem de barco, usando, é claro, o dinheiro que não temos...

Dave coçou a cabeça e percebeu que a menina tinha razão. Eram quatro pessoas e não possuíam recursos suficientes para pagar uma viagem de barco até Cinnabar para todos. Mas ainda assim, não conseguia aceitar que teria de deixar a oportunidade de ter uma pedra do fogo em mãos escapar. Olhou para os lados tentando encontrar uma resposta para o problema em sua mente até ouvir a voz do Dr. Kato vindo de suas costas.

– Ora, não seja por isso. Vocês não tinham recursos antes, mas talvez eu possa encontrar um barco para nós... – ofereceu.

– Sério?! Você faria isso pela gente?! – disse Mindy, encantada.

– Claro! Afinal, será melhor para o Dratini conhecer outras águas. Com certeza melhor do que a Pokebola...

– Ah, sim... Pelo Dratini, claro... – repetiu ela, corando levemente enquanto voltava a se concentrar na comida e dava um pequeno sorriso.

Kato encarou o embasbacado Dave, que não acreditava no que estava acontecendo, e piscou um olho na direção do menino. O gesto passou despercebido por todos os outros, mas Dave acenou a cabeça em agradecimento, sem ter realmente certeza de que o homem tinha de fato feito aquilo por ele também. Esse cara é difícil de entender concluiu ele, desistindo de se alongar mais no assunto e decidindo focar na comida que estava praticamente pronta.

Quando resumiram a viagem, deixaram Kato ditar o ritmo e o caminho. Ele dissera que em uma cidade próxima poderia conhecer alguém que lhes oferecesse gentilmente passagem livre até Cinnabar, em um navio mercantil. A cidade estava na margem da grande baía em que ficava a ilha de Cinnabar e boa parte de seu comércio e economia era movimentada através de navios e embarcações de todos os portes.

– Estão tentando mudar isso por lá. Há algum tempo começaram a construção de uma grande ponte que atravessa a baía, mas eu duvido que já esteja pronta...

– Uma ponte? – perguntou Mindy, interessada.

– Sim, a maior ponte de Kanto. Dizem que terá dezessete quilômetros de comprimento.

O doutor continuou por muitos minutos a explicar uma série de fatos interessantes sobre como as duas cidades que serão interligadas pela ponte tinham uma grande movimentação marítima, e que se consideravam irmãs por serem os dois maiores polos de comércio marítimo da região. Disse, porém, que tudo esta prestes a mudar com a construção da nova ponte, que pretende facilitar e agilizar as relações entre elas, mas também pode vir a prejudicar os donos de barcos.

Mindy e Jake escutavam com muita atenção enquanto o homem mais velho explicava, sem dar muitos detalhes, que antes de entrar na faculdade havia visitado as cidades algumas vezes, e que talvez pudesse encontrar alguém conhecido.

Mindy ficou especialmente ansiosa por chegar e poder pesquisar ainda mais sobre a vida do homem que ela acreditava ser seu pai, mas Dave mantinha-se atrás do grupo, em silencio. Não tinha tanto interesse em como funcionava a economia do continente nem mesmo em como as duas cidades se relacionavam entre si. Mantinha sua cabeça ocupada pensando na promessa de Kato em relação à pedra do fogo. Já possuía uma pedra da água, que poderia usar em seu Poliwhril e em Eevee, e uma pedra do trovão, que também poderia ser usada em Eevee. Com uma pedra do fogo, poderia evoluir tanto seu Growlithe como também Eevee. Tudo, é claro, caso todos estejam de acordo... ele fez questão de lembrar a si mesmo.

Ainda faltava a pedra da planta para que ele completasse as quatro pedras evolutivas, mas chegou a admitir para si mesmo que não tinha utilidade para ela, pelo menos por enquanto. Era uma das únicas pedras conhecidas que não podiam ser utilizadas em Eevee, e seu Oddish não havia evoluído para Gloom, de modo que a pedra ainda lhe era inútil.

Assim o grupo seguiu viagem tarde à dentro, em um ritmo forte e sempre na direção do mar. Kato havia lhes prometido que seu destino não estava muito distante, e apostava que estariam lá antes do fim do dia seguinte, mas isso significava que ainda teriam que acampar em terreno aberto naquela noite. Por isso, assim que o sol se pôs no horizonte, eles procuraram um local apropriado no canto da estrada e montaram seu acampamento da mesma maneira que haviam feito anteriormente. Dessa vez, porém, o doutor fez questão de preparar a comida.

– Você não gostou do meu almoço? – perguntou Mindy, preocupada.

– Não, de maneira alguma. O Almoço estava ótimo! Apenas acho que posso te mostrar algumas coisas, principalmente no preparo das rações de Pokémon – disse ele com simpatia, enquanto sentava ao lado da menina morena e sacava um pequeno livro da bolsa branca que carregava atravessada ao ombro – Todos vocês deveriam aprender isso aqui!

Naquela noite Jake dormiu ainda lendo o livro de receitas de comida Pokémon do Dr. Kato. Dave e Mindy também tinham aproveitado as dicas do professor e aprenderam importantes detalhes que poderiam fazer com que a comida Pokémon fosse não apenas mais nutritiva, mas também mais fácil de preparar. Até Eevee, que não escondia sua falta de simpatia para com o especialista Pokémon, acabou por se render à sua comida. Sua antipatia voltou a aparecer, entretanto, quando o Dr. Kato lhe recusou um segundo prato, dizendo que ele tinha comido exatamente o necessário e que tudo o mais era uma gula que em nada ajudaria a sua forma nas batalhas.

Dave estava se preparando para dormir quando viu Mindy conversando com o homem mais velho, sentados sozinhos em volta da fogueira que se extinguia progressivamente. Eles pareciam animados, e Dave observou de longe, tentando imaginar o que estaria sentindo caso fosse ele a crescer sem um pai e de repente ter a oportunidade de passar a noite conversando com ele em volta de uma fogueira. Percebeu que não podia culpá-la por tudo o que ela tinha feito para encontrá-lo agora que os via ali, juntos. Acreditava que faria o mesmo, se estivesse na mesma situação. E então lembrou que Dr. Kato podia não ser o pai que ela procurava...

Ele deitou-se no chão, mas não se conteve em observar de longe enquanto eles riam e ela ajeitava o cabelo por trás da orelha constantemente. O fogo foi diminuindo até que em um determinado momento, Kato se levantou, desejou boa noite a menina e se dirigiu para o ponto oposto do acampamento, estendendo seu saco de dormir. Enquanto isso, ela continuou sentada sozinha ao lado da fogueira, perdida em pensamentos.

Naquele momento Dave não se conteve e levantou, se dirigindo diretamente até ela. Seu coração batia forte em seu peito por um motivo que nem mesmo ele conseguia explicar. Foram raros os momentos que os dois tiveram sozinhos e com Kato no grupo, ele não fazia questão de disputar a atenção dela. Sabia que a menina só tinha espaço para aquele que ela acreditava ser o pai que sempre acreditou estar morto.

Ele aproximou-se devagar e Mindy, perdida em seus próprios pensamentos, só percebeu a presença do rapaz quando ele sentou-se onde Kato estivera há pouco. A menina tinha um sorriso sincero escondido nos lábios e parecia contente de uma maneira que Dave não lembrava ter visto antes. Ele olhou fundo em seus olhos e ela pareceu um pouco surpresa pela intensidade do menino.

– O que foi?

Antes que obtivesse uma resposta, porém, ele passou uma das mãos por sua nuca e a puxou para um beijo apaixonado. Pega de surpresa pelo garoto ela não soube como reagir, mas foi incapaz de resistir e se deixou levar pelo momento, deixando-se envolver por seus braços e envolvendo-o de volta com os seus. Depositaram naquele beijo todos os dias de separação que tiveram, e os sentimentos que ficaram em segundo plano desde o seu conturbado reencontro. Ali, com a fogueira virando brasa, depois de meses sem ao menos se falar, eles finalmente se reencontraram. Quando, depois de um tempo que nenhum dos dois soube dizer quanto, eles finalmente se separaram ela retribuiu o olhar do garoto como se não acreditasse no que estava acontecendo.

– Eu senti sua falta – ele disse sorrindo.

– Eu também... – respondeu ela baixinho, ainda tentando inutilmente recuperar o ar.

Eles riram um do outro, levemente corados. Afastaram o olhar e encaram o chão por um segundo até que não se seguraram e riram novamente, e então voltaram a se beijar.

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No dia seguinte Dave e Mindy tomaram para si livremente a tarefa de preparar o café da manhã de todo o grupo, inclusive de todos os Pokemons, com a explicação de que queriam colocar em prática os ensinamentos do dia anterior. Queriam, na verdade, mais tempo com privacidade, mas Kato pareceu perceber o motivo alternativo do casal e incitou Jake a “treinar um pouco mais suas habilidades também”. Dave percebeu o que o professor fazia habilmente, mas Mindy pareceu não se incomodar com o que muito se parecia com um ciúme parental.

Assim, os três ficaram encarregados da preparação da comida. Mindy e Jake já haviam se acostumado com as tarefas de cozinha, mas Dave era novato e foi constantemente corrigido até que virou motivo de piada entre Mindy e Jake. Eles tentaram assimilar todas as misturas e técnicas que o especialista havia lhes mostrado na noite anterior e, por isso, acabaram demorando mais do que o normal. Ao final, Kato pareceu gostar do resultado, assim como todos os Pokemons, mas disse que todos ainda precisavam “de muito mais pratica e experiência” e disse que a partir dali supervisionaria a comida que eles preparavam para se assegurar de que tudo sairia conforme as instruções.

– Principalmente você Dave – disse ele, rindo-se enquanto o menino constatava pela décima vez aquela manhã que culinária não era um dos seus maiores talentos.

Eles seguiram viagem não muito depois da refeição com a promessa de que poderiam dormir em uma cama no Centro Pokémon aquela noite, já que chegariam a pequena cidade de que o Doutor lhes havia falado. O menino de Grené seguiu ao lado de Mindy no inicio da viagem enquanto Kato e Jake seguiam alguns passos atrás. O homem mais velho tentava manter a velocidade com o casal, mas eles pareciam apertar discretamente o passo toda vez que ele se aproximava, e Jake mantinha o Doutor ocupado com perguntas e longas conversas sobre os mais diferentes assuntos Pokémon. Foi apenas quando Dave fez um movimento e pegou na mão de Mindy que o especialista Pokémon se aproximou com mais afinco passou no meio do casal. Ambos soltaram as mãos, envergonhados, enquanto o Doutor dava um olhar significativo para Mindy. Jake parecia nem ao menos entender o que se passava.

– Dave, estive pensando e gostaria de falar com você – disse o Doutor, fitando com um ar de acusação o garoto.

– Comigo? – disse o menino, sem saber o que esperar.

– Sobre o que?! – perguntaram Mindy e Jake, juntos.

Kato pareceu surpreso com a intervenção dos outros dois e deu duas olhadas de relance para eles, pensando no que dizer.

– Sobre o treinamento dele, é claro – disse, rápido – Estive observando você Dave e acho que você pode melhorar um pouco o seu treinamento.

– Ah... – disse Mindy, aparentemente decepcionada.

Jake, por sua vez, percebeu a oportunidade de conseguir a atenção da menina de Cardo, algo que não vinha tendo desde que o Doutor se juntou ao grupo, e não perdeu tempo. Seu foco principal vinha sendo o especialista Pokémon, mas ele não podia negar que seu coração ainda batia forte quando fitava a morena.

– Mindy, será que você pode me contar a história de como seus Nidorans evoluíram? Eu estava conversando sobre evolução com o doutor e queria saber como foi que tudo aconteceu...

A menina olhou de relance para Dave, mas se rendeu e começou a contar a historia para Jake, que constantemente a interrompia para fazer perguntas de detalhes envolvendo o treinamento dela e a sua rotina no tempo em que ficaram separados, enquanto ficavam gradativamente para trás, deixando Kato, Dave e Eevee sozinhos.

– Quer dizer que você pode me ajudar no meu treinamento? – perguntou Dave, curioso.

– Sim, na verdade, posso te ajudar nas evoluções – disse o homem mais velho, atraindo ainda mais a atenção do mais novo. Ele olhou duas vezes por sobre o ombro antes de continuar a falar – Percebi o seu fascínio pelas pedras da evolução rapaz, e estive observando o seu time. Me parece que você se cercou de Pokemons que evoluem com as pedras em algum momento da vida – disse ele, olhando fixamente para Eevee por um segundo.

– Isso... – Dave já havia percebido que mais da metade de seu time poderia evoluir em algum momento com a ajuda das pedras – Isso não foi de proposito...

– O que não o torna menos verdade... – disse o especialista, sorrindo para ele. Eevee parecia não gostar do rumo que a conversa estava tomando – a evolução é algo fascinante, mas também delicado rapaz. Não foi a toa que escolhi esse tema para me especializar. E a evolução por pedras é algo ainda mais delicado.

– Quando um Pokémon evolui de maneira natural, Dave, ele evolui porque está pronto física e psicologicamente. Muitos argumentam e teorizam que fatores externos, como a pressão de uma luta ou uma situação desesperadora podem ativar esse processo (e eu tendo a concordar com eles), mas todos concordam que além de tudo o Pokémon tem que estar pronto antes dessa situação ocorrer. Já com as pedras tudo é muito diferente. O Pokémon muitas vezes evolui por acidente, ou então é forçado a evoluir antes de seu tempo.

– Eu não vou forçar Pokémon nenhum a evoluir – disparou Dave, sentindo-se acusado.

– Não foi o que eu disse Dave, preste atenção. Eu disse que queria ajudar no seu treinamento não é? – riu-se Kato – Simplesmente quero ajudar a deixar os seus Pokemons prontos para evoluir, para que quando eles decidam fazê-lo tudo ocorra da melhor maneira possível. Percebi que você costuma trabalhar bastante as técnicas de batalha de seus Pokemons, e faz isso muito bem se me permite dizer, mas não é o suficiente.

– Como assim? – perguntou o rapaz.

– Um Pokémon evoluído é como se fosse um novo Pokémon Dave. Ele tem novas formas, e novas possibilidades, e o maior problema da evolução precoce é a dificuldade que eles costumam ter em se adaptar a seus novos corpos e habilidades. Por isso, não basta você ensiná-los poderosos ataques, tem que acostumá-los a terem habilidades específicas que terão no futuro. Tome seu Growlithe, ou o próprio Eevee como exemplo. Eles não são Pokemons comumente conhecidos por sua velocidade, mas um Arcanine ou um Jolteon são extremamente ágeis e velozes. Logo, você faria muito bem em treinar bastante a velocidade dos dois.

Dave tinha que admitir que nunca havia pensado daquela maneira. Eevee, obviamente, não precisava treinar muito mais a sua velocidade, mas, sem duvida, aquela era uma grande dica para o treinamento de Growlithe.

– O mesmo vale para seu Poliwhrill e o seu Oddish. Poliwrath é um Pokémon com incrível vigor físico. Faria bem em treinar a força e a resistência de Poliwhrill. Já Vileplume enfrente uma incrível dificuldade com as grandes e pesadas pétalas no topo de seu corpo. Fazer com que Oddish ganhe força e equilíbrio enquanto carregando peso seria um ótimo exercício.

– E Eevee, obviamente, é aquele que mais precisa de treinamento. Podendo evoluir tanto em Vaporeon, Flareon e Jolteon, tem muitos aspectos a treinar se quer estar pronto para qualquer caminho que vier pela frente. Eu posso oferecer uma observação especial nele se quiser Dave, para que possamos nos certificar de que tudo corre da melhor maneira possível - disse Kato, estendo a mão para acariciar a pequena raposa.

Eevee, entretanto, saltou para o chão antes que pudesse toca-lo e correu na direção de Mindy e Jake, que seguiam alguns passos atrás. Dave olhou com desconfiança para o Dr. Kato, mas estava intrigado de mais com toda a ajuda que ele lhe oferecia para se prender a desconfiança por muito tempo.

– Eu te garanto que Eevee é o que menos precisa de treinamento, e, além do mais ele parece não querer evoluir – disse Dave, na defensiva – mas eu agradeço muito a sua ajuda com todos os outros Pokemons, Doutor.

Kato ainda olhava para trás pensativo, fitando Eevee com intensidade, mas voltou a sorrir para o menino logo em seguida.

– Não há de que rapaz. Quando pararmos para treinar, podemos entrar em maiores detalhes.

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O grupo chegou a cidade destino ainda no fim da tarde e todos se sentiram felizes por sair da estrada e poder contar novamente com alguma estrutura urbana. Dave pretendia ligar para os pais e para o laboratório para falar com o professor e estava certo de que Mindy o faria também, afinal o professor poderia muito bem confirmar se o doutor Kato era de fato o pai da menina.

Ele ainda desconfiava do especialista, mas fora ele quem lhe contara sobre Cinnabar e a probabilidade de encontrar uma pedra do fogo na cidade vulcânica. Além disso, vinha ensinando ao grupo alguns truques úteis na criação dos Pokemons e ate prometera ajudá-lo em seu treinamento. O que ainda lhe incomodava profundamente era a atenção especial que ele parecia prestar a Eevee em alguns determinados momentos, além do fato dele mal ter se dedicado ao Dratini de Mindy.

Assim que saíram da estrada Dave pode ver a imensidão do mar que se estendia a sua frente. A cidade ficava na encosta de uma grande colina e o grupo havia chegado pelo topo, o que lhes proporcionava uma grande vista do sol poente. Dave pegou a mão de Mindy e lhe sorriu, mas Kato logo passou a passos largos pelo meio dos dois, obrigando-os a se soltarem.

– Meninos, sigam diretamente para o Centro Pokémon e se instalem. Vou tentar providenciar nossa viagem para Cinnabar e os encontrarei lá mais tarde

– Por que não vamos todos juntos? – sugeriu Mindy.

– Porque não é preciso e será muito mais pratico fazer isso sozinho. Estamos viajando há algum tempo e um descanso pode ser importante para vocês. Com sorte podemos embarcar amanhã...

–Então me deixe ir junto – disse Jake, saltando a frente e se oferecendo – eles são os treinadores e precisam de descanso, mas eu ainda queria te perguntar algumas coisas sobre a minha Butterfree...

– Teremos tempo para perguntas outra hora Jake. Por enquanto, prefiro correr atrás de nossa viagem sozinho... – disse ele, não se deixando estender e caminhando rua abaixo antes que mais alguém pudesse sugerir outra ideia.

O grupo se entreolhou e, sem outra opção, seguiram a sinalização em direção ao Centro Pokémon da pequena cidade portuária.

A cidade em si era menor do que se podia esperar pelo que o doutor lhes contara sobre sua importância econômica e eles conseguiram encontrar o caminho para o centro sem grande dificuldade. As pessoas pareciam simpáticas e as ruas pouco movimentadas não condiziam com o status de grande centro comercial que eles sabiam que a cidade possuía.

De longe, ainda no alto, eles conseguiram ver a enorme ponte que estava em construção, ligando-a a sua cidade irmã, do outro lado da baía. Nenhum dos três nunca tinha visto uma construção tão ampla e avassaladora. Era como se uma enorme serpente cinza de aço e concreto se erguesse sobre suas inúmeras pernas do grande mar e se colocasse imponente sobre ele, como se o desafiando a derrubá-la.

O grupo seguiu uma ladeira asfaltada até chegar à beira do mar e então giraram a direita, passando bem em frente ao que futuramente seria a entrada da ponte em construção. O acesso estava bloqueado, com uma guarita para o vigia que parecia distraído com seu radio de bolso, mas o centro Pokémon ficava mais a frente, em um pequeno prédio de dois andares, com paredes amarelas e o grande símbolo “P” que indicava o hospital Pokémon logo acima da porta de entrada.

Assim que entraram Dave pediu três quartos, o que pareceu assustar a enfermeira Joy e o fez temer a lotação do pequeno prédio, mas conseguiu os últimos três disponíveis. De acordo com a enfermeira uma expansão deveria ser construída para abrigar mais treinadores uma vez que a ponte estivesse pronta, mas nada ainda fora decidido pelo governo da cidade ou pela Liga Pokémon. Os únicos quatro quartos logo seriam insuficientes para a esperada movimentação da cidade.

Enquanto se instalava, porém Mindy fez questão de se dirigir para a sala de telefonemas a sós. Ambos os meninos tentaram acompanha-la em um primeiro momento, mas Dave percebeu pelos olhares da garota que um pouco de privacidade seria importante para a conversa que ela estava prestes a ter com o sua família e portanto decidiu lhe dar todo o espaço que precisasse. Jake foi surpreendentemente compreensivo quando Dave o explicou tudo no quarto e ele sentiu que talvez aquele encontro com o Dr. Kato estivesse realmente fazendo o menino mais novo crescer.

Passaram-se mais de duas horas até que Mindy bateu no quarto dos garotos. Dave e Jake estavam conversando animadamente sobre ideias para o treinamento que Kato havia sugerido, mas o menino de Grené pulou da cama para atender a porta e o outro, surpreendentemente, conseguiu interromper uma frase antes de termina-la ao ver a menina do outro lado da porta. Sua expressão era difícil de ler. Um sorriso torto escondendo um tom de insegurança que os olhos faziam força para negar. Por um momento Dave pensou ter visto nervosismo e até um pouco de medo através do olhar da garota, mas ela abriu ainda mais o sorriso amarelo e não esperou o convite para entrar no quarto.

– Você pode ligar para o laboratório agora Dave... – disse ela, sentando-se na cama do menino.

– Ah sim... Você conseguiu falar com seu avô? – perguntou ele, tentando não fazer a pergunta que queria.

– Consegui. Ele está bem... – ela se limitou a dizer.

Dave a encarou profundamente. Vamos lá Mindy. Você não vai me fazer perguntar não é... Desembucha pensou o garoto, tentando entender o porque do silencio da morena. Queria abraça-la, apoiar a cabeça dela em seu peito e acariciar seu cabelo, mas não sabia bem o que pensar de todo aquele silencio. Às vezes ela não quer falar... concluiu, confuso.

– E então?! – explodiu Jake, libertando os olhares dos outros dois com um grande susto – Ele é ou não é o seu pai?!

Mindy riu, olhou para Jake e para Dave novamente e depois de um segundo fitando o chão se levantou novamente e se dirigiu para a porta em silencio. Antes de sair, porém Dave pensou ver uma primeira lágrima escorrer pelo rosto da garota. Por um momento ele pensou ouvi-la dizer “Ainda não sei”.

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– Eu tentei ir atrás dela, mas ela não abriu a porta do quarto – disse Dave, coçando a cabeça.

– Deixe ela respirar rapaz. Isso tudo não é fácil para ela – O Professor Noah parecia bem resolvido com toda a situação, sentado confortavelmente na sua cadeira e quase sorrindo para Dave. O menino não sabia como, mas tinha certeza que o Professor havia previsto tudo aquilo há muito tempo atrás.

– Mas como ela não sabe?! Porque ela não te perguntou! – disse Dave, ainda sem entender o comportamento da garota – E mais importante de tudo: O Dr. Kato é ou não é o pai da Mindy?

O professor olhou para os lados rapidamente e voltou a encarar Dave com uma expressão ilegível. O rapaz odiava o quão misterioso o professor podia ser, mas então se lembrava de que talvez fora essa habilidade que o fizera não dizer nada a Equipe Rocket quando foi sequestrado.

– Você realmente quer saber antes mesmo dela Dave? – perguntou o professor, em um tom de acusação.

Dave respirou fundo. Não sabia se teria paciência para tudo aquilo. Já tinha seus próprios problemas e agora as pessoas pareciam incapazes de colaborar. Mindy arriscara tudo para encontrar o pai. Fizera loucuras e coisas impossíveis e agora tinha a resposta fechada em seu próprio punho, mas se recusava a abrir as mãos e olhar. Por um momento quis abrir ele mesmo a mão da menina, a força, e obriga-la a enfrentar a resposta, mas o olhar do professor denunciava que aquela era uma pergunta retórica. Dave sabia que deveria respeitar a opção da menina, mesmo que não concordasse ou ao menos entendesse.

– Dave, tente entender o seguinte – começou o professor, vendo a resignação do menino do outro lado da linha – Mindy cresceu sem o pai, ouvindo de todos que ele havia morrido há muito tempo. Ela cresceu e aprendeu que havia perdido o pai antes mesmo de ter qualquer outra coisa. E aprendeu a viver e a aceitar isso. Há pouquíssimo tempo ela descobriu que não havia perdido o pai, e que ele estava por ai. Entenda Dave, que nesse momento, tendo ou não conhecido o verdadeiro rosto do homem que a ajudou a existir, Mindy ganhou um pai novamente. Ganhou aquilo que ela nunca teve, e que sempre quis ter, mas tinha aprendido que nunca teria.

Dave tentou se colocar no lugar da menina e imaginar como teria sido crescer sem seu pai. Sempre fazia aquilo quando tentava entender o que ela estava passando, mas de certa maneira aquilo era muito difícil. Sua vida sem seu pai era inimaginável. Seu pai havia lhe ensinado tanto que ele duvidava que fosse ser a mesma pessoa sem a sua ajuda. Decidiu então que nunca poderia entender a menina. Apenas ela poderia saber o que estava passando.

– E agora Dave, que ela tem aquilo que sempre quis ter nas mãos, está com medo de perder tudo novamente... – concluiu o professor, sorrindo carinhosamente para o garoto. Aquele sorriso que seu pai sempre lhe dera quando explicava algo simples que ele não conseguia entender ainda.

– Mas ela ainda não sabe se encontrou realmente o pai...

– Não importa! – exclamou o professor, como se aquela fosse a verdadeira chave para a situação – Ela achou alguém que pode ser seu pai, e que até age muitas vezes como tal pelo que ela me falou... Se ela descobrir que ele é seu verdadeiro pai tudo seria perfeito. Mas se ele não for...

– Ela perde tudo de novo... – terminou Dave, finalmente compreendendo onde o professor queria chegar. Ele não tomaria as mesmas decisões que ela, nem achava que o caminho que ela estava seguindo era o mais correto, mas pelo menos agora entendia um pouco do que se passava pela cabeça dela.

– Sabia que você entenderia... – disse o professor, realmente satisfeito – A Mindy precisa de você agora Dave. De apoio e de força. Ela vai criar coragem para descobrir tudo eventualmente. Eu conheço minha neta bem o suficiente para saber disso. Mas quando estiver pronta. Até lá, não falemos mais disso tudo bem?

– Tudo bem – concordou Dave.

– Agora Dave, preciso pedir mais uma coisa de você – disse o professor, em um tom levemente mais sério. Dave acenou com a cabeça instigando-o a continuar – Não podemos deixar que Susan descubra o que está acontecendo...

– O que?! Mas, porque?! – perguntou ele, surpreso.

– Primeiramente Mindy prometeu a mãe não seguir com o assunto e ela acreditou na filha. Todo o problema do Dratini a deixou furiosa, e, por isso, eu não tenho certeza se ela entenderá a filha. Isso foi um pedido de Mindy que eu concordei sem hesitar: Susan não deve saber do seu novo companheiro de viagem.

– Tudo bem, ela não saberá – prometeu Dave, ainda um pouco desconfortável preso em toda aquela confusão familiar.

– Obrigado – disse o professor, e então eles encerraram a ligação.

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Já havia passado das onze horas da noite e Dave e Jake estavam deitados em suas respectivas camas, prontos para dormir quando o Dr. Kato bateu a porta deles e os convidou para uma sessão noturna de treinamento. Dave e Jake estranharam, mas o Dr. não lhes deu tempo para muitas perguntas, pedindo que eles se arrumassem e o encontrassem nos fundos do Centro Pokémon em vinte minutos. Enquanto isso, ele ia chamar Mindy e se preparar. Sem muitas opções, Dave colocou novamente sua roupa de viagem e se encaminhou para fora do quarto.

Ele e Jake já estavam no corredor, mas Eevee continuava imóvel, deitado na cama de seu amigo. Dave encarou o Pokémon que fingia não perceber a intensa movimentação no quarto e parecia determinado a ignorar todo o resto. Dave logo entendeu que Eevee não pretendia treinar com o Dr. Kato.

– Você seria de grande ajuda sabia Eevee? Você sabe disso… - disse Dave, tentando persuadir seu Pokémon. Ele sabia que seria de pouca valia.

– Uee... – disse o Pokémon, se aconchegando ainda mais no travesseiro de Dave.

Talvez seja mesmo melhor que Kato não veja do que ele é capaz por enquanto. Pensou o garoto, agradecendo mentalmente por ter um Pokémon tão inteligente. Se Eevee não gosta dele, alguma coisa está errada.

A reação inesperada de seu Pokémon fez com que Dave se sentisse estranho enquanto se encaminhava para os fundos do Centro como Kato havia pedido. Não estava confortável indo para um treinamento liderado por uma pessoa em que seu parceiro não confiasse, quanto mais um parceiro com quem ele se recusasse a treinar. Sua atitude não havia sido tão drástica quanto a afrontar diretamente Kato, mas Eevee fazia questão de deixar claro que não aprovava a companhia do especialista.

Encontrou Kato com Mindy ao seu lado na parte baixa da encosta em que o prédio se apoiava. A subida era íngreme e ambos os meninos perceberam que treinar ali, no escuro, não seria uma tarefa fácil ou agradável para seus Pokemons. Mas o que realmente chamou a atenção não foi o terreno inclinado, ou a pouca luminosidade da noite escolhida para o treinamento, mas sim o fato de Kato estar jogando para cima uma Pokebola. Até então ele não tinha demonstrado ter nenhum Pokémon. De onde surgiu essa Pokébola? O que mais eu ainda não sei sobre ele?

– Bom agora que estão todos aqui, vamos começar – disse o Doutor, parecendo tão animado quanto a menina ao seu lado – Primeiro gostaria de apresentar a vocês o meu Pokémon.

Kato jogou a Pokebola para o alto Dave acompanhou com os olhos enquanto ela se abria no meio do ar e liberava um clarão de luz que logo tomou forma em sua frente. A criatura tinha uma forma humanoide, em pé sobre duas penas. Sua cabeça parecia ter um formato parecido com o de uma estrela invertida e mal desenhada. As duas pontas superiores, orelhas, eram largas e compridas enquanto outras duas protuberâncias menores surgiam das laterais da face. Uma ultima ponta menor indicava o queixo. Do nariz, longos bigodes nasciam e se penduravam do rosto. Sua pele era amarelada, com uma espessa proteção escura nos braços, peitos e pernas. Ambas as suas mãos seguravam colheres.

– Conheçam o Alakazam – disse Kato, parecendo orgulhoso.

Mindy e Jake olhavam admirados para o poderoso Pokémon psíquico, mas Dave não conseguiu disfarçar seu desconforto e desconfiança. Como é que o Eevee iria reagir a isso? Pensava o menino, tentando prever as dificuldades que teria de lidar caso o especialista fosse, de fato, alguém em que não pudesse confiar. Kato pareceu entender a expressão do garoto e se apressou em se explicar, sempre sorrindo.

– Eu sei o que vocês devem estar pensando onde foi que ele estava esse tempo todo não? Pois bem, me deixem explicar – disse ele, com um olhar discreto, mas significativo para Dave – Eu tinha exaurido muito o Alakazam antes de encontrar vocês e ele estava debilitado. Na verdade, bem mais debilitado do que eu deveria tê-lo deixado ficar, assumo. Então o deixei no Centro em que nos encontramos, prometendo que entraria em contato com a enfermeira assim que conseguisse.

– Então você deixou seu Pokémon sozinho no Centro? – perguntou Dave, surpreso.

– Foi preciso – disse Kato, deixando o silencio reinar em seguida. Dave, Mindy e Jake estavam esperando uma explicação para todo o desgaste de Alakazam, mas Kato nada mais disse sobre o assunto.

– Vamos começar. O Alakazam vai ajudar nos treinamentos – disse ele, animado – Hoje faremos um treinamento especifico para evoluções, então liberem aqueles Pokemons que ainda podem evoluir.

Dave ainda estava perplexo, mas Mindy não perdeu tempo em liberar Charmeleon, Nidorino e Nidorina. Deixou Dratini na Pokebola por saber que treiná-lo fora d’água seria impossível. Jake seguiu a menina liberando seu Vulpix e sua Squirtle, que parecia animada como sempre, apesar do horário. Dave, por ultimo, resolveu liberar também Oddish, Poliwhril, Growlithe. Só então Kato pareceu dar falta de um dos membros do time do rapaz de Grené.

– Onde está o Eevee, Dave? – perguntou, curioso.

– Ele está muito desgastado professor. Preferiu ficar no quarto – disse Dave, quase como um desafio para o Professor continuar no assunto. O homem, porém, insistiu.

– Dave, tenho certeza que ele tiraria muito proveito desse treinamento...

– E eu tenho certeza que conheço meu Pokémon melhor do que você – disse, tão ríspido que fez com que Mindy e Jake arregalassem os olhos.

O especialista pareceu entender o recado, mesmo a contragosto, e resolveu continuar como se nada tivesse acontecido. Dave ainda teve que encarar os olhares acusadores de Mindy, mas decidiu que não iria se desculpar pelo ocorrido. Ele já aceitava de bom grado a companhia e toda a ajuda do Doutor, e até sentia-se mal por tê-lo tratado daquela maneira, mas decidira que não se desculparia por proteger seu primeiro Pokémon e melhor amigo. O doutor ainda era uma incógnita para Dave, mas o comportamento de Eevee deixava bem claro como a pequena raposa estava se sentindo, e ele não podia ignorar aquilo.

Kato iniciou um curto pique em silencio, subindo o terreno alguns metros e se posicionando a frente de todos. Alakazam, por sua vez, assustou todo o grupo quando se teletransportou para o lado do seu treinador. A atividade estava prestes a começar.

– Vamos lá, alinhem seus Pokemons. Como eu prometi, vamos fazer um treinamento personalizado para cada um, como eu prometi. E o Alakazam vai ajudar a todos vocês.

– Então vamos treinar um de cada vez – perguntou Mindy, tentando entender como a logística das atividades iria funcionar.

– De maneira alguma, não temos a noite inteira – sorriu ele para a garota mais abaixo – Alakazam ajudará todos ao mesmo tempo, usando seus poderes psíquicos para criar as dificuldades que cada um precisa enfrentar.

– Mas ele vai conseguir fazer isso? – espantou-se Jake, traduzindo o que todos estavam se questionando.

– Ora já disse isso a você Jake, e acho que seria bom que todos entendessem de uma vez por todas o que vocês tem nas mãos. Não há limites conhecidos para os poderes dos Pokémons, meninos, e vocês fariam bem em se lembrar disso. Conheci meu Alakazam ainda como Abra, e a minha vida inteira treinei e aperfeiçoei seus Poderes. Ele já tem certa idade, mas ainda continua bem perto do seu auge físico, e como Pokémon psíquico desconfio que ainda tenha muita capacidade mental inexplorada. Se vocês treinarem, alimentarem e criarem seus Pokemons da maneira correta, é impossível prever o quão poderosos eles podem se tornar.

Dave imediatamente pensou em Eevee e em todas as surpresas que ele havia apresentado desde o inicio da viagem. Todo e tinha, além de seu incrível potencial e percebeu que o que Kato estava falando poderia ser verdade. Quanto poder será que a pequena raposa marrom ainda teria para demonstrar ele não sabia, mas talvez aquela pudesse ser a resposta para o motivo de ele ter se tornado tão forte.

– Agora porque não começamos logo as atividades? – Disse Kato, se preparando no terreno mais alto – Alakazam, Telekinesis!

Os olhos do Pokémon psíquico brilharam com uma leve coloração verde enquanto todos os Pokemons eram envoltos por uma áurea da mesma cor. Nenhum deles acreditava no que estava vendo. Nunca tinham presenciado um Pokémon que pudesse utilizar seu ataque em tantos alvos ao mesmo tempo.

– Não se preocupem, o Alakazam irá apenas criar certas dificuldades para os seus Pokemons, simulando situações que eles terão de conviver quando evoluírem.

Foi uma noite mais intensa do que qualquer um dos garotos havia previsto. Kato fez um trabalho incrível utilizando seu Pokémon e Dave, aos poucos, foi se sentindo mais a vontade com o exercício do especialista. Ele tinha ordenado que Alakazam utilizasse seus poderes para fazer um peso invisível no topo da cabeça de Oddish e o forçou a trocar golpes e apostar corridas com Poliwhrill. O Pokémon aquático, por sua vez, tinha tido o peso dos braços e das pernas dobrado e tinha incríveis dificuldades de se mover.

Growlithe, por sua vez, carregava pesos extras em cada pata, e era obrigado a medir forças flamejantes com o Charmeleon de Mindy, que estava levitando para se acostumar a lutar no ar. Nidorina e Nidorino competiam entre si, sendo obrigados a medir forças brutas com o peso do corpo também aumentado e até mesmo sendo colocados sob dois pés em alguns momentos, como suas evoluções eventualmente ficariam.

Finalmente, Vulpix e Squirtle batalhavam entre si em exercícios muito pesados. Kato explicou a Jake que seus Pokemons tinham evoluções completas, como ele gostava de dizer. Significava que eles não mudavam tanto suas características principais ao evoluírem, mas cresciam em todos os aspectos de seu corpo. Vulpix ainda teria a dificuldade de lutar com caudas maiores e Kato fez com que Alakazam controlasse de maneira mais realística a cauda do Pokémon de fogo, simulando a evolução. Mas, além disso, os dois lutavam com pesos levemente aumentados, alternando posições em cima e em baixo do terreno inclinado.

Todos os Pokemons pareciam ter grandes dificuldades no início da atividade e demoraram a se adaptar as dificuldades impostas pelos poderes do Pokémon de Kato, mas aos poucos eles conseguiram se adaptar e o resultado do treino começou a ser mais animador para os treinadores. Oddish conseguia correr para o alto da colina e voltar sem tropeçar e cair com todo o peso na cabeça, e Poliwhrill passou a se mover com mais velocidade, apesar de não toda a que ele possuía. Quando trocaram golpes, foram capazes de atacar com força e se desviar com certa agilidade, mas ainda assim fora atingidos algumas vezes pelos ataques um do outro.

Charmeleon e Growlithe lutavam a certa distancia do grupo, para que seus ataques não interferissem no restante das atividades. Suas rajadas de chamas se encontravam com ferocidade e os dois pareciam extremamente focados na batalha, como se decididos a vencer um ao outro. Charmeleon levava vantagem sobre o Pokémon de Dave, tendo passado muito mais tempo sob o treinamento de Mindy, mas Growlithe se saia melhor do que o esperado. Ele conseguia manter o choque de rajadas por mais tempo do que o previsível, apesar de perder no final. Isso lhe dava tempo para pular para o lado e sair do alcance do adversário mesmo com o peso nos pés. Eles lutaram durante todo o treinamento, e ainda assim nenhum tinha conseguido mais do que causar pequenas queimaduras no outro.

Nidorino e Nidorina, por sua vez, travavam uma luta peculiar. Mindy disse que estava acostumada a treinar batalhas entre eles, mas eles sempre se recusavam a usar sua força máxima um com o outro, mesmo depois de muita conversa. Ela entendia e até aprovava a decisão do casal, que era virtualmente inseparável. Kato tentou fazer com que eles se chocassem e se empurrassem até que um conseguisse derrubar o outro, mas eles se recusavam a usar força demasiada e, no inicio, o exercício não deu resultado. Ele foi forçado então a entregar-lhes uma corda e obrigarem a praticar um tipo de cabo de guerra, que surtiu mais efeito. No fim do treino, ele ainda os obrigou a se apoiar apenas nas patas traseiras, o que se mostrou de grande dificuldade para eles.

Apesar de tudo, foram os Pokemons de Jake que roubaram a cena no fim do treino. Vulpix e Squirtle travaram uma luta infindável que chamou a atenção não apenas de Kato, mas de Dave e Mindy também. A meia noite já havia passado há muito quando o especialista Pokémon resolveu decretar o fim das atividades da noite, indicando que eles ainda tinham muito para aperfeiçoar, mas que o progresso do dia já havia sido satisfatório. Dave e Mindy recolheram seus Pokemons já exaustos, mas quando Jake tentou recolher Squirtle e Vulpix, ambos desviaram dos raios da Pokebola como se fosse um ataque inimigo.

Todos se surpreenderam com o movimento, mas não houve muito tempo para fazer alguma pois logo em seguida Vulpix soltou uma forte rajada de fogo, aproveitando a distração de Squirtle e envolvendo-o em um turbilhão de chamas. Imediatamente, porém, as chamas perderam força e, do centro do fogo, a casca vazia de Squirtle girava lançando fortes rajadas d água pelos buracos dos membros e da cabeça.

– Uow, isso é uma hidro-bomba! – espantou-se Jake, que nunca tinha visto sua tartaruga Pokémon usar aquele movimento.

Vulpix tentou se agachar para se desviar do movimento de Squirtle, mas mesmo os treinadores, mesmo a uma distancia considerável, ainda se molharam com os poderosos jatos de agua. A pequena raposa de fogo foi atingida em cheio e lançada alguns metro mais abaixo, quase próximo ao pé de Jake. Incrivelmente, porém, ela ainda se levantou e se preparou para voltar ao ataque. Jake estava prestes a usar a distração para recolhê-la quando Kato segurou sua mão.

– Deixe Jake. Mais um pouco pelo menos... – o especialista parecia estar gostando da situação – Eles parecem ter espíritos competitivos muito fortes rapaz, e como você normalmente não se envolve em batalhas e em sessões pesadas de treino, eles sentem falta. Você deveria dar mais atenção a essa característica Jake...

Enquanto Dave e Mindy se recuperavam do jato de agua, reclamando em alto e bom som, Vulpix corria colina acima para enfrentar seu adversário, que tentou interromper a investida com jatos de água. A raposa, entretanto, foi muito ágil e conseguiu evitar os ataques, e obrigou a tartaruga a fazer um movimento evasivo no ultimo minuto, pulando para o alto, passando por cima de Vulpix e ficando no terreno mais baixo. Vulpix então a envolveu mais uma fez com uma forte rajada e todos pensaram que a batalha finalmente tinha terminado.

Foi então que do meio das chamas, uma forte luz branca apareceu brilhando forte no meio da noite. Vulpix tentou aumentar a força de seu ataque, mas ele logo foi extinto pela energia que emanava de onde há pouco Squirtle estava. Todos levaram as mãos ao rosto, incomodados pela ofuscante luz depois de horas no escuro, mas ela logo se extinguiu. E quando o fez, não havia mais Squirtle, e sim uma Wartortle no lugar.

– Ela evoluiu! - exclamou Jake, quase pulando, enquanto Kato abria um largo sorriso de satisfação e orgulho.

Vulpix arregalou os olhos ao observar sua nova adversaria se postando imponente a sua frente e Wartortle deu um sorriso provocativo, como se mais confiante do que nunca. Lançou-se então em uma corrida desenfreada na direção de seu oponente, que se preparava para contra-atacar. E então, sem mais explicações, os dois Pokemons foram suspensos no ar pelo poder psíquico de Alakazam.

– Por hoje está bom! – declarou Kato, arrancando olhares furiosos dos dois Pokemons em batalha.

Ele sinalizou com a cabeça para Jake e o menino deu um passo a frente, com as duas Pokebolas nas mãos.

– Vocês fizeram uma grande luta! – exclamou o menino mais novo, ainda sem saber ao certo o que dizer. Dave e Mindy se surpreenderam ao presenciar um dos raros momentos em que Jake estava sem palavras – Parabéns de verdade! Estou muito orgulhoso! Mas por hoje é só... – disse finalmente, e recolheu os dois.

Todos então se apressaram e congratularam o menino mais novo pela evolução no time. Ele parecia despreparado para a surpresa e aceitou tudo com um enorme sorriso que se estendia por todo o seu rosto. Kato recolheu seu Alakazam e olhou para os três amigos reunidos, sorrindo e comemorando, e um leve sorriso ilegível surgiu em seu rosto.

– Meninos, a noite foi longa e muito mais produtiva do que eu esperava – declarou, claramente satisfeito – Mas agora temos que nos secar e descansar. Antes do almoço temos que seguir viagem...

– Como?! – exclamaram os três ao mesmo tempo.

– Consegui passagem com um amigo que irá aportar em Cinnabar – ele anunciou, arrancando ainda mais sorrisos do grupo – Mas isso é tudo. Ele ainda terá de parar por alguns dias na cidade de Sunny, do outro lado da baía, o que nos dará mais tempo para treinar regularmente.

– Ótimo! – disse Mindy, feliz enquanto se encaminhava para voltar para o centro Pokémon com Jake.

Dave estava prestes a segui-los de perto quando ouviu Kato lhe chamando. Virou-se para ver o professor se aproximando para falar com ele.

– E eu tenho uma noticia que pode lhe interessar ainda mais Dave – disse ele – Do outro lado da baía, um pouco mais perto das montanhas, existe uma cidade conhecida como “cidade das pedras”.

Dave abriu um grande sorriso, já prevendo onde essa conversa iria terminar.

– Com sorte, podemos ter tempo para visitá-la antes de partirmos...

–.-.-.-.-.-.-.-.-.-.-

Seu telefone tocou novamente e Jody estremeceu. Aquelas ligações estava se tornando cada vez mais frequentes e eram a causa de todos os seus pesadelos e horas sem dormir. Ela apenas podia supor que Jack estava sofrendo o mesmo, mas não tinha como saber. Desde que aquilo começara os dois estiveram separados, guiados para realizar buscas em algum outro lugar que ela desconhecia. Separar-se de seu parceiro foi um golpe duro para ela, mas não podia discutir. Tudo vinha dando errado.

Ela puxou o comunicador do bolso e respondeu, temerosa.

– Qual seu status, agente?

– Ainda sem rastros de Eevee ou dos meninos – disse a mulher, temendo a reação do supervisor G. A voz metálica no celular não costumava perdoar fracassos.

– A sua incompetência me deixa cada vez mais perto de tomar uma atitude que prefiro evitar, agente. Acredite quando digo que você não quer que eu retire você e seu parceiro desse caso.

Jody engoliu seco, tremendo perante a ameaça daquela voz. Sabia que tudo o que era prometido pela Equipe Rocket era cumprido. Sabia que se eles quisessem, não havia nada que ela ou Jack pudessem fazer para escapar. A ideia de ver algo acontecendo com o homem a fez estremecer ainda mais.

– Não se preocupe. Em breve teremos resultados melhores – O supervisor não esperou ela terminar de falar antes de desligar a ligação.

Ela não sabia como aquela situação havia chegado àquele ponto. Depois da ultima operação Jake havia respondido de maneira muito satisfatória e reportara para ela de dois em dois dias enquanto ele e seu amigo estavam em Fuschia. O problema é que a ultima noticia que tivera do grupo fora enquanto eles ainda estavam hospedados no ginásio de Koga. Desde então, silêncio.

Alguns dias se passaram até que novas informações fossem cobradas dos agentes, mas o silencio se prolongou e desde então eles haviam perdido a trilha de Eevee, Dave e Jake. Jody estava vasculhando há dias a primeira parte da estrada em Fuschia e Veridian, e desconfiava que Jack estivesse vasculhando a segunda, mas não podia ter certeza. Só sabia que eles ainda não os haviam encontrado. Os informantes na policia também não havido sido de valor, uma vez que Dave parara de se reportar perante os oficiais. Sua amiga, Mary Jane, continuava com a farsa, se reportando a cada cidade nova em que chegava, mas a Equipe Rocket já descobrira o esquema há muito.

As revistas de Cardo também não serviam mais de grande ajuda, uma vez que não reportavam mais sobre Dave ou mesmo sobre Mindy, quem eles diziam ter desaparecido novamente. Jody sabia que a Equipe estava movimentando seus agentes em Cardo e se reposicionando em Grené, caso não conseguissem encontrar Eevee das maneiras convencionais, mas Jody ainda tinha esperanças. A cada dia que passava tinha menos, mas ainda assim, havia alguma esperança.

– Jake, porque você se calou? – disse para si mesma, como se lamentando – Você não imagina o erro que cometeu...

A mulher nunca tinha visto tamanha comoção na Equipe Rocket, nem sentido tanto ácido na voz metálica de seu supervisor. Ela sabia que a paciência de Giovanni havia acabado. O que vai ser de você e seus amigos quando nós o encontrarmos? Pensou ela, como em lamento. Pois de uma coisa ela não tinha a menor duvida. Sendo da melhor ou da pior maneira, eles iriam ser encontrados.


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Notas finais do capítulo

E então, o que acharam?

Espero vocês nos comentários!



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