Evolution: Parte 3 escrita por Hairo


Capítulo 13
Reencontros


Notas iniciais do capítulo

E aí? Quer um título com mais spoiler do que esse? hahahhaha

Mas isso não é tudo. Ainda temos muitas outras surpresa! =)

Espero que gostem! Boa leitura!



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Capítulo 13 – Reencontros

Dave e Jake chegaram ao ultimo Centro Pokémon antes da Zona Safari pouco antes da hora do almoço, no dia seguinte à luta contra Koga e a antecipada despedida ao ginásio de Fuschia. A jornada normalmente teria sido mais longa, mas os meninos haviam não apenas apressado o passo, mas aumentado o tempo de viagem, fazendo refeições simples enquanto andavam e mantendo a caminhada noite a dentro, com a ajuda de Vulpix e Growlithe. Dave inicialmente havia escolhido um caminho mais longo por dentro da floresta, longe da estrada principal, mas Jake tivera muito pouco trabalho para convencê-lo a tomar a estrada, um caminho mais direto até o seu destino final. O menino mais novo estava confiante de que não seria incomodados pela Equipe Rocket na viagem e Dave, com pressa, acabou por ceder sem muita resistência.

Tinha tido apenas cinco horas de descanso durante a madrugada, quando serviram uma refeição mais própria para seus Pokemons e dormiram esperando o sol nascer. Nos primeiros raios do dia, levantaram-se e seguiram viagem, comendo apenas frutas para o café. Depois de uma semana de descanso no ginásio, ambos estavam surpresos por conseguir imprimir um ritmo tão elevado para a viagem sem reclamar da fome ou do cansaço, mas tinham uma motivação diferente da usual. Mindy estaria no final dessa pequena jornada, e ambos mal podiam esperar por rever a menina.

Dave e Jake, entretanto, pareciam ter uma atitude bastante diferente perante a expectativa do encontro. O menino mais novo seguia sempre à frente, feliz e animado, falando sobre qualquer assunto e divagando sobre as possíveis aventuras da amiga enquanto Dave seguia mais concentrado, preocupado e decidido a encontrá-la. No fundo compartilhava a alegria do amigo mais novo, mas muitas outras perguntas que ele se fizera durante meses voltavam a lhe perturbar a mente, acompanhadas de muitas outras mais novas, provocadas pela matéria da revista trainerdex encontrada no ginásio. Porque ela não dava noticias? Porque ela não sem importou em me avisar como ela estava? Ela andou falando com o laboratório, mas não falou comigo! E como ela pode ter me abandonado para buscar o pai, e ter desistido logo depois, para caçar um Pokémon de que não se tem noticia há anos? Alguma coisa deve ter acontecido...

Eles entraram pela porta principal do pequeno centro Pokémon de estrada e se surpreenderam com a grande quantidade de treinadores ali. Tinham visto dois meninos saindo porta a fora enquanto ainda estavam longe, mas pelo menos uma dúzia de treinadores e treinadoras estavam circulando o pequeno salão de entrada do prédio enquanto duas Chanceys corriam de um lado para o outro, tentando atender a todos. Todos eles pareciam agitados, alguns cabisbaixos e outros até mesmo pareciam estar com raiva.

Dave e Jake avistaram a enfermeira Joy responsável atendendo quatro agitados treinadores ao mesmo tempo ao lado de um cartaz que eles não conseguiam identificar, e se dirigiram a mulher que claramente tentava acalmar os ânimos de todos.

– Fiquem calmos, todos vocês. Não há nada que eu possa fazer, me desculpem. O guardião tem uma autorização da Liga Pokémon e da Polícia de Kanto.

– Mas enfermeira, eu demorei meses para chegar aqui! Como eles podem fazer isso? Você deve saber o porquê disso tudo... - disse uma treinadora mais a direita da enfermeira, de pele clara e cabelos loiros.

– Me desculpe Samantha, mas eu já disse que não sei o que houve. Só sei dizer que a Zona Safari foi fechada por seu guardião, que fez um pedido para a Liga Pokémon e foi prontamente atendido. A polícia de Kanto esta patrulhando a fronteira da zona e ninguém pode passar – disse a mulher de cabelos cor de rosa.

O sorriso no rosto de Jake desapareceu imediatamente enquanto Dave arregalou os olhos. Antes que pudesse falar alguma coisa, porém, um menino menor do que ele, que também falava com a enfermeira, disparou:

– Aposto que é por causa do Dratini! Aquela menina disse que iria pegá-lo e eles não querem deixar!

– Cody, já lhe disse que não acredito que exista um Dratini na Zona Safari e ninguém nunca o encontrou durante todo o tempo que a zona ficou aberta – disse a enfermeira, mas ao contrário de Jake, Dave deu dois passos atrás, tendo ouvido o suficiente.

Eevee, em seu ombro, estudava a reação do treinador, mas a cabeça do garoto trabalhava rápido de mais para prestar atenção no pequeno Pokémon. Jake tentava fazer mais perguntas a requisitada enfermeira, que parecia estar falando a verdade quando dizia não saber detalhes do assunto, mas Dave decidiu fazer algo que deveria ter feito antes mesmo de deixar o ginásio de Koga. Girou sobre seus pés e avistou a sala de telefones do centro Pokémon. Escolheu o telefone mais isolado possível, e rezou para que ninguém sentasse ao seu lado. Botou o fone de ouvido e ligou o microfone, visando um pouco de privacidade para sua conversa, e discou o número do laboratório de Cardo.

O telefone chamou duas vezes antes que o Professor respondesse, sentado em sua mesa usual. Ele já havia, claramente, superado o trauma e o sofrimento do sequestro da Equipe Rocket, tendo ganho parte de sue peso novamente e deixado as marcas de cansaço e desgaste para trás. A única coisa que marcava sua pele agora era a idade e o sorriso que ele deu quando reconheceu o menino que ligava.

– Dave, meu bom rapaz! Como você está! Vejo que não está mais em Fuschia não é?

– Sim professor, não estou mais com Koga. Deixamos o ginásio ontem e estamos próximos à zona safári – disse ele, indo diretamente ao assunto. O entendimento recaiu sobre o inteligente especialista, que tentou esconder um pequeno sorriso.

– Viajaram rápido, Dave, sem dúvidas. Está com pressa? – perguntou o Professor, ironicamente.

– Professor, você sabe muito bem porque estou vindo com pressa para a Zona Safari. Mas eu estou com um sério problema. A zona está fechada...

O professor sorriu mais uma vez e não pareceu surpreso com a notícia do fechamento da zona safári. Dave, por algum motivo, não se deixou surpreender com a reação tranquila do Professor. De algum modo ele sabia que o professor provavelmente saberia mais do que estava publicado na revista.

– Não se preocupe rapaz, a Mindy está bem. E ela estava na zona safári antes mesmo do seu fechamento. Ela e Rusty estão lá dentro...

Dessa vez Dave arregalou os olhos tentando absorver o que ouvia. Como que ela está lá dentro se está tudo fechado? Será que eles não evacuaram a área?

– Ela está escondida lá dentro Dave, em uma área especifica que eu indiquei pessoalmente.

– Então isso tudo é ideia sua? – perguntou Dave, sinceramente surpreso.

– Nem tudo... A verdade Dave, é que não cabe a mim lhe contar tudo o que está acontecendo, me desculpe. Mas posso te dar algumas informações para que você não fique completamente perdido – disse o professor, antes que o menino pudesse protestar – Susan encontrou Mindy há algum tempo atrás e conseguiu convencer Mindy a abandonar a busca pela Equipe Rocket. Minha filha então começou a viagem de volta para o laboratório, mas antes que pudesse chegar aqui eu recebi uma ligação da minha neta. A ideia de ir atrás do Dratini foi dela, Dave, assim como a tornar tudo isso algo público. Eu apenas dei algumas dicas e ajudei com alguns contatos. Como o detetive Henry, por exemplo.

– Henry?! O que ele tem a ver com tudo isso? – perguntou Dave, realmente perdido.

– Tudo Dave! A Mindy nunca poderia estar lá dentro se alguém na polícia não houvesse permitido...

–Mas... – começou Dave, sem saber exatamente como terminar a frase. Nada estava fazendo sentido. Mindy estava dentro da zona safári em busca de um Pokémon lendário e a polícia havia fechado a zona safári, permitindo que apenas ela ficasse lá dentro.

– A Mindy e o Rusty, é claro – completou o professor, trazendo Dave de volta para realidade. O menino mordeu os lábios e desistiu de tentar entender, concentrando-se apenas no próximo passo.

– Professor, eu quero encontrá-los. Eu e o Jake, é claro... – disse Dave, decidido.

– Eu imagino que queira Dave, mas não acredito que seja possível. Acho que você terá que seguir viagem, rapaz – disse o professor, tentando acabar com as esperanças do menino. Dave, entretanto, não estava disposto a discutir a questão.

– Você não está entendendo Professor – disse sério, encarando o professor com tal intensidade que o especialista de Cardo chegou a se assustar – Eu vou atrás dela, quer você ajude ou não. Se a polícia tentar me parar, eu vou lutar contra eles. Se você não quer ver a mim correndo o risco de ser preso pela polícia de Kanto ou então não ache uma boa ideia que eu fique aqui parado esperando até que a zona reabra, você vai me ajudar!

– Dave, você não... – começou o professor, mas o menino o interrompeu.

– Eu vou ficar aqui, professor, até amanhã de manhã. Se até lá você não conseguir nada, partirei para encontrá-la – disparou o menino, e então desligou o telefone antes que o professor pudesse responder. Respirou fundo e voltou a olhar para trás. Jake se aproximava e ele levantou, voltando a se encaminhar na direção da enfermeira, que parecia ter conseguido se liberar da confusão de treinadores.

– Dave, o que houve? Você descobriu alguma coisa? – perguntou Jake, apreensivo – A enfermeira não sabe de muita coisa.

– Eu sei – respondeu ele, surpreendendo o menino – Vamos passar a noite aqui e amanhã continuamos.

–Mas... – começou Jake, sendo interrompido por um gesto da mão do menino, pedindo silencio, enquanto olhava a volta.

– Te explico tudo assim que tivermos um quarto só nosso – disse ele, e prosseguiu para falar com a enfermeira Joy.

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Já era noite quando o centro Pokémon finalmente se acalmou. Muitos treinadores chegavam ali e seguiam viagem imediatamente, desapontados e irritados com o fechamento da Zona Safari. Aquela era uma parada muito popular entre todos os viajantes, que planejavam a sua rota para que em um momento ou outro chegasse àquele local dedicado única e exclusivamente à preservação dos Pokemons em seu habitat natural e à caça controlada destes.

A própria enfermeira Joy parecia perdida frente às novidades e o grande e inesperado movimento, e parecia saber tanto quanto qualquer outro treinador qualquer. Alguns poucos treinadores continuavam a chegar, mesmo à noite, e a grande maioria dos quartos fora ocupado, mas Dave e Jake haviam conseguido reservar o seu, de modo que o menino mais velho havia explicado para o amigo tudo o que o professor lhe dissera em particular. Discutiram durante horas durante a tarde sobre possíveis explicações sobre o que estaria acontecendo, mas não conseguiram chegar a uma conclusão definitiva. Aquela confusão toda não fazia o menor sentido.

Eram quase oito da noite e os meninos haviam acabado de voltar do movimentado refeitório, onde jantaram com a companhia de mais de vinte treinadores, quando o telefone de seu quarto voltou a tocar. Dave correu para atender e reconheceu a voz da cansada enfermeira do outro lado da linha.

– Dave, tenho uma ligação para você. Gostaria de atendê-la somente com voz ou devo transferi-la para a sala de videofone?

– Pode passar apenas a voz, por favor, enfermeira. Muito obrigado.

A mulher nem ao menos lhe respondeu, apertando um botão e transferindo a ligação diretamente para o quarto do rapaz. Ele não precisava ver o professor Noah para saber que era ele, e tinha mais interesse no que ele tinha a lhe dizer no que na sua expressão enquanto o fazia.

– Dave, rapaz, esperava que pudesse vê-lo...

– Não precisamos nos ver, professor. Conseguiu alguma coisa? –perguntou, ansioso. Jake ouviu o amigo e deduziu o que estava acontecendo, se aproximando silenciosamente para ouvir do outro lado do telefone.

– Rapaz, essa ideia é louca. Por que você não deixa isso de lado e...

– Professor, Já lhe disse o que vou fazer. Só quero saber se o senhor pode ou não me ajudar.

O velho pareceu inspirar profundamente e Dave pensou notar certo tom de desespero, como se ele não esperasse aquela reação do menino. Ele é um homem tão inteligente. Como pode pensar que eu faria qualquer outra coisa se não isso? Pensou Dave, com seu coração disparado.

– Consegui – disse ele finalmente, e Dave e Jake sorriram automaticamente, sem emitir nenhum som. O professor continuou - Falei com o detetive Henry e ele me prometeu permitir que vocês entrem. Mas não pode fazer isso pela entrada principal. Ele está há cerca de dois quilômetros do centro Pokémon e concordou, depois de muita insistência, a deixá-los passar.

– Obrigado Professor. Muito obrigado! – disse Dave, tentando conter a animação da vitória e manter o tom sério e confiante que o tinha levado até ali. A verdade era que se o professor não fosse capaz de ajudá-lo, ele não sabia o que ele poderia fazer.

– Você realmente me deve uma, Dave. Tenho certeza que Henry lhe informará melhor, mas uma das condições é que você prometa não capturar nenhum Pokémon lá dentro – disse o professor, e o menino concordou sem dizer uma palavra – Estou enviando um pequeno mapa com as instruções de onde você pode encontrar o detetive. Ele disse que não pretende chegar perto do Centro, pois os treinadores o bombardearão com perguntas e pedidos desesperados.

– Entendo – disse Dave, mas o professor ainda não havia terminado.

– Um último aviso, Dave. Alguns, na verdade. O detetive não está nem um pouco feliz comigo, com a Mindy e com toda essa confusão. Disse que você iria encontrá-lo cedo de manhã, para não atrair muita atenção. Certifique-se de que não será seguido e, acima de tudo, não provoque ele, nem cause mais problemas, por favor. E lembre-se, se você quebrar qualquer uma das regras, não apenas irá responder perante a polícia, como colocará a minha carreira e a do detetive em risco.

– Tudo bem professor. Agradeço imensamente o que o senhor está fazendo. Tudo correrá bem. – E com isso, desligou o telefone. Por mais cansados que pudessem estar da viagem, Dave e Jake acharam extremamente difícil dormir aquela noite.

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Ainda não eram seis horas da manhã e os primeiros raios do dia estavam apenas começando a sair, mas Dave, Eevee e Jake já estavam há algumas centenas de metros do Centro Pokémon. Saíram sorrateiros na madrugada, sem se despedir da enfermeira ou falar com mais ninguém. Dave havia deixado a chave do quarto no balcão e andado na ponta dos pés pelo salão principal, evitando qualquer ruído. Com o movimento elevado, ele descobrira que alguns treinadores tiveram que dormir nos sofás do salão de entrada, devido à lotação do lugar.

Do lado de fora a floresta parecia tranquila e eles acenderam duas pequenas tochas para guia-los durante os primeiros momentos escuros da manhã. Agora, porém os raios de sol começavam a surgir e iluminar o céu, e ele apagaram o fogo, rezando para que ninguém visse a fumaça. Estavam agora no meio da mata densa da floresta, longe da estrada e de qualquer interferência humana, mas de acordo com as instruções que o professor havia lhe dado, eles deveriam chegar ao ponto de encontro com o detetive em pouco tempo, portanto mantiveram o ritmo acelerado, já sem se preocupar em serem ouvidos ou seguidos.

Depois de cerca de vinte minutos de caminhada intensa por entre o mato alto e as árvores densas, Dave e Jake avistaram algumas pequenas cabanas azuis e deduziram que seria ali o acampamento dos policiais. Ambos sorriram e deram dois passos ansiosos na direção das barracas, mas duas mãos grandes os puxaram para trás. Dave e Jake quase gritaram, mas ao virem que era Henry atrás deles, ambos ficaram calados se recuperando do susto. O detetive tinha um dedo em riste em frente aos lábios e pedia para que o silêncio fosse mantido.

O grande policial moveu-se com certa dificuldade por entre as grandes arvores e os arbustos cheios de galhos. Vestia uma camisa azul clara com um distintivo de prata triangular costurado no peito. Ali a sigla “PCK” se destacava em chumbo dourado, prova de que ele fazia parte das forças policiais continentais de Kanto. Dave e Jake o seguiram por cerca de mais dez minutos, circulando o acampamento dos policiais por cerca de duzentos metros para o norte e voltando para a trilha principal. Henry seguiu na liderança todo o percurso, sem dizer uma palavra e parando em alguns momentos para se certificar de que não haviam sido vistos ou seguidos. Parou uma ultima vez e olhou para os garotos que o seguiam.

– Meninos, prestem bastante atenção – disse o homem, que deixava bem claro em seu rosto que não gostava nem um pouco da situação em que estava – Eu acabei de fazer com que vocês ultrapassassem o cerco policial feito pela polícia. Daqui em diante, vocês terão que seguir sozinhos.

– Obrigado detetive – disse Dave, animado – mas achei que a policia ia nos deixar passar, não que você estava nos colocando aqui escondidos...

Henry mordeu os lábios e o olhou com desconfiança antes de lhe responder.

– Não, Dave. Eu sou detetive, mas não comando toda a polícia. Longe disso. Sou o responsável por parte do cerco a área e, por isso, não há muito com o que se preocupar, mas vocês não devem causar nenhum tipo de alvoroço ou problema. Nem chamar atenção, como fizeram lá atrás com aquela tocha. Sim eu vi a fumaça – disse ele, ao ver a surpresa dos meninos com a menção à tocha que acenderam - Sorte que era o meu turno de cobrir essa área. Afinal, será útil. Direi que fui até lá verificar e que mandei os treinadores que tentaram invadir de volta para a estrada. Temos invasores todos os dias por enquanto.

– Detetive – disse Jake, incapaz de conter a curiosidade – Porque fecharam a zona safari?

– Ora garoto, por que você acha? A sua amiguinha resolveu publicar pelo continente inteiro que estava vindo para cá encontrar um Dratini. Alguns anos atrás, quando eu mesmo ainda era novo, o mesmo aconteceu e a zona safari fora praticamente destruída. O movimento de treinadores foi muito grande. Agora o guardião da zona teme que aconteça a mesma coisa e pediu a liga que fechasse a zona.

– Mas então por que a Mindy está la dentro? – perguntou Dave.

– Por causa do seu querido professor. Ele me explicou que ela não pretendia causar nenhum mal e que não iria capturar nenhum Pokémon aqui dentro. Eu não tenho tempo para ficar explicando tudo para vocês, garotos! – disse o detetive, perdendo um pouco da paciência – O seu professor ou a sua amiga podem muito bem explicar o que está acontecendo... Já fiz de mais pelo professor e suas confusões. Não façam com que eu me arrependa de ajuda-los!

– De jeito nenhum, detetive – disse Dave, percebendo que estavam se prolongando de mais. O professor avisara que Henry não estava feliz com tudo aquilo e Dave não pretendia estender-se de mais. Tinha apenas uma ultima pergunta a fazer – Um ultima coisa. Vamos procurar a Mindy, e gostaríamos de saber se você tem alguma ideia de onde ela possa estar...

– Eu sei exatamente onde ela está Dave. Ela está no vale do dragão – disse Henry, impaciente. Ele tirou um pequeno mapa do bolso e apontou para um grande lago no fim da cadeia de montanhas que cortava o continente – Ela está escondida nesse lago. Sigam nessa direção e antes da hora do almoço devem chegar lá. Agora tenho que voltar. Meu turno está quase no final e não quero levantar suspeitas.

– Muito obrigado, detetive! – disse Jake, observando o grande homem seguir em frente.

Viraram-se então para a direção que Henry lhes havia apontado e começaram a caminhar novamente. O Sol já começava a se erguer por trás das montanhas enquanto Dave seguia pelo meio da floresta em um caminho que descia gradativamente. De acordo com o mapa, apenas um grande lago existia nas redondezas, em um vale que eles alcançariam assim que saísse do mato. Esperavam ter de caminhar não mais de uma hora,mas quando duas se passaram e eles continuavam descendo, Dave começou a se preocupar e resolveu mandar seu Pidgeotto à frente para se certificar de que estavam indo na direção correta.

O pássaro levou algum tempo, mas finalmente voou de volta até seu treinador, sobrevoando sua cabeça com agitação e fazendo sinais com as asas para que ele mudasse levemente de direção. Dave não conseguia entender se ele tinha urgência ou animação, mas resolveu apressar o já pesado ritmo da caminhada, que virou praticamente uma corrida. Estavam agora há poucos passos do reencontro com Mindy, e tanto Dave quanto Jake pareciam estar se segurando para não disparar em velocidade desenfreada.

Ao contrário do esperado, os garotos perceberam que a vegetação começou a mudar quando rochas mais salientes começaram a despontar da terra e as árvores e arbustos começavam a ficar mais escassos, até que, não muito distante de onde estavam, conseguiram avistar algo que parecia uma barreira de pedra cinza, com não muito mais do que três metros de altura. As pedras pareciam nascer do chão sem mais explicação e subiam em pontas afiadas, como se uma cerca natural, colocada ali para dificultar a passagem. Pidgeotto guiou o grupo diretamente até ela, e eles foram obrigados a parar por um momento para pensar em como ultrapassar aquele obstáculo.

Não se podia ver o fim da parede de pedras para nenhum dos lados, de modo que tentar contorná-la não parecia uma boa ideia, mas Dave não tomou muito tempo para bolar um segundo plano. Ele e Jake tiraram cordas que carregavam consigo em suas bolsas e amarram em torno de suas cinturas. Deram então a ponta oposta a Pidgeotto, que se encarregou de voar até o topo e prende-las firmemente em pontas de rocha no topo, permitindo que os meninos escalassem a barreira.

Dave e Jake não esperavam que tivessem que fazer tanta força para se erguer e suas mãos ficaram rapidamente vermelhas com o atrito da corda áspera, mas a distancia não era muita e a motivação deles era alta, de modo que em poucos minutos eles tinham alcançado o topo. Perceberam que a parede de pedra era, na verdade, um enorme bloco que surgia no fim daquilo que era aparentemente a última das montanhas de uma das enormes cadeias que cortavam o continente. E o que os meninos viram enquanto parados em cima do grande bloco rochoso fez com que parassem, maravilhados.

O chão de pedra cinza irregular se estendia por algumas centenas de metros, quando eram interrompidas por um grande lago azul. A superfície calma e azul clara parecia uma piscina de água límpida refletindo a luz do sol da manhã e se estendia até pouco antes do limite da vista. Ao longe, os meninos podiam enxergar o final do lago em uma camada de campos verdes, que parecia estreita, mas terminava na fina linha azul que Dave sabia ser o mar.

Pidgeotto partiu pelo ar em direção ao lago, e voltou quando percebeu os treinadores parados admirando a vista. Picou Dave na orelha e trouxe-o de volta à realidade, apressando-o. Os meninos correram atrás do pássaro, que agora aumentara a velocidade, e começaram a olhar em volta em busca de qualquer sinal de Mindy. Não viram nada incialmente, mas então, ao longe, perceberam alguma comoção à borda do grande lago, na direção em que Pidgeotto os guiava. Primeiramente conseguiam distinguir apenas alguns pontos escuros, mas a medida que se aproximavam, reconheceram que tratava-se de duas pessoas e quatro Pokemons. Dois deles na água, enquanto os outros dois pareciam envolvidos em uma batalha.

Os sons da luta começaram a se fazer ouvir e Dave e Jake perceberam, surpresos, que se tratava de Mindy, batalhando com seu Nidorino contra um Kadabra, aparentemente de Rusty. Dave aumentou a velocidade da corrida e começou a chamar o nome da menina. Ela estava de costas, com seus compridos cabelos negros caindo-lhe sobre as costas, aparentemente pingando. Sua roupa vermelha parecia também encharcada e Rusty também tinha seus cabelos ruivos molhados, enquanto apertava na mão algo que Dave não conseguia distinguir. Na borda do lago estavam parados, observando a luta, não apenas um, mas dois Pokemons azuis com forma de dragão. Ali estavam dois Pokemons lendários lado a lado. Dois dratinis acompanhando cada movimento do combate que se desenvolvia.

Todos eles, pessoas e Pokemons, olharam para o lado quando ouviram o nome da menina ressoar pelo ar, e Mindy virou-se rapidamente, sem acreditar no que seus ouvidos lhe diziam. Seu coração parou à medida que ela observava Dave e Jake correndo na pedra lisa em sua direção e ela perdeu a concentração. Estava completamente focada na luta alguns momentos antes, mas a voz do menino que deixara em Zaffre a fez perder completamente os sentidos. Isso é um sonho? Pensou ela, enquanto procurava uma reação para o que estava acontecendo.

Ela foi puxada de volta para a realidade quando ouviu seu Nidorino gritar e ser arremessado na água com força, obrigando ambos os Dratinis a se desviarem enquanto o Pokémon venenoso afundava na superfície da água desacordado.

– Nidorino! – exclamou a menina, sacando rapidamente sua Pokebola e o recolhendo antes que ele submergisse – Droga!

Dave se aproximou e conseguiu perceber que Rusty carregava algo que muito se assemelhava a um grande ovo azul. Ao encarar a menina, porém, se esqueceu de tudo. De toda a mágoa que tinha pelo abandono. Esqueceu-se de que ela não enviara noticias. Esqueceu até mesmo que ele queria lhe perguntar o que estava acontecendo e por que ela o abandonara por uma busca da qual tinha desistido com tanta facilidade. Nada mais importava a não ser o fato de que ela estava ali novamente. Aproximou-se correndo para abraçá-la quando a menina virou-se e encarou com um olhar perfurante e acusador.

– Você tinha que aparecer exatamente agora?! Você não podia aparecer depois de eu vencer o Rusty?!

– Mas... - disse Dave, parando a dois metros da menina sem acreditar no que ouvia. Olhou para ela e para Rusty e seu Kadabra, que estavam sorrindo a poucos metros de distância, sem saber o que dizer em seguida e até Eevee parecia não saber como reagir. Jake, entretanto, não se importou com a reação da menina e pulou em um abraço apertado.

– Mindy! Eu não acredito que é você! É você! – repetia ele, com os braços em volta do pescoço da menina. Devido à diferença de altura seus pés saíram do chão e ele ficou realmente pendurado.

– Oi Jake, oi – disse ela, aparentemente impaciente, enquanto se livrava dos braços do menino – é bom ver você também.

– Eu não acredito que você está aqui! – disse o menino, incapaz de se conter – Como você está? O que você tem feito? Como foi sua busca? Encontrou seu pai? Porque você veio até aqui atrás de Dratinis? Capturou algum Pokémon novo?! Conte-me tudo! Tudo! – disparou o menino, enquanto ela respirava fundo.

– Vou contar Jake, assim que eu puder. Agora, entretanto, estou um pouco ocupada – disse, ríspida – Tenho um problema a resolver com meu primo.

O menino ameaçou responder, mas só então pareceu reparar nos dois Dratinis a beira do lago e perdeu a fala. Dave ainda estava paralisado com a reação da menina, olhando para os lados e tentando entender o que estava acontecendo. Nunca tinha visto o objeto que Rusty carregavam, mas não lhe restavam dúvidas de que era um ovo maior do que aqueles que comia em casa. Tinha cerca de quarenta centímetros de altura, era primariamente azul celeste, manchado de branco em algumas partes da casca.

Agora que observava com mais atenção, percebeu que os dois Dratinis pareciam tensos e preocupados. Um deles olhava fixamente para a menina enquanto o outro, com algo que parecia uma cicatriz de dois pequenos cortes cruzados no botão branco que tinha na cabeça, parecia encarar com tristeza o ovo que Rusty carregava.

– Parece que eu venci, priminha – disse o garoto ruivo, com um sorriso triunfante no rosto – Acho que vou ficar com esse ovo.

– Você roubou esse ovo! – respondeu Mindy, claramente irritada – Eu não posso deixar que você leve com você! Nós prometemos que não iríamos incomodar os Pokemons Rusty!

– Você! Quem prometeu alguma coisa foi você, Mindy! – disse Rusty, aparentemente deliciado com a situação.

– Rusty, você sabe que eu não posso deixar que você saia daqui com esse ovo!

– E o que você vai fazer Mindy?! Eu venci seu Charmeleon, sua Nidorina e agora seu Nidorino. Da ultima vez que eu chequei você não tinha mais nenhum Pokémon para tentar me impedir.

Mindy mordeu os lábios, sem saber o que fazer enquanto Dave e Jake tentavam se inteirar rapidamente do que estava acontecendo ali. Mindy olhou desesperadoramente para o par de Dratinis na beira do lago, sentindo-se claramente culpada, e se surpreendeu quando aquele que lhe encarava acenou com a cabeça.

– O que foi? – tentou entender a menina, enquanto o Pokémon a encarava com confiança. O pequeno dragão saltou da água alguns metros fez com que uma corrente de energia elétrica percorresse seu corpo, virando-se de Mindy para Kadabra e voltando a cair no lago, cessando a corrente de energia – Você quer lutar?

– Será que alguém pode me explicar o que está acontecendo aqui?! – disse Dave, finalmente, tentando colocar todas as peças juntas na sua cabeça.

– Agora não, Dave! – disse Mindy, tensa, enquanto fitava Dratini. O pequeno dragão azul olhou para a menina cheio de expectativas, e ela pareceu não acreditar – você quer lutar comigo?!

O sorriso de Rusty pareceu esmorecer por um segundo, enquanto todos ali entendiam que Dratini estava se oferecendo ao comando de Mindy para continuar a batalha até então perdida. O segundo Dratini nadou alguns metros para o lado, ficando quase paralelo a Rusty, dando espaço para que seu companheiro lutasse.

– Mindy, você sabe que não pode me vencer com esse lagarto ai. Eu ainda tenho três Pokemons bem treinados... Tudo o que você vai conseguir é um sério machucado para ele.

Dratini pareceu o mais ofendido com as palavras do menino, e olhou para a menina esperando suas ordens para a partida. Mindy parecia estar lutando consigo mesma para voltar a se focar na luta. Com tudo o que acontecera nos últimos poucos momentos, todo o seu foco e concentração havia se dispersado, mas se ela queria salvar o ovo que Rusty roubara, ela teria que fazer uma grande luta.

– Tudo bem, então! Dratini, vamos mostrar quem é o lagarto aqui... Use o Twister! – ordenou a menina.

O Pokémon dragão mais uma vez saltou da água e Dave percebeu que a ponta da cauda no fim de seu corpo brilhava com uma luz prateada. Assim que alcançou o ápice do salto, Dratini pareceu parar por um momento no ar e fez um movimento com a cauda brilhando, como se golpeando o ar na direção de Kadabra. Em um primeiro momento nenhum dos treinadores sabia o que esperar e o golpe parecia ter sido um movimento inútil e sem sentido, mas em seguida, sem mais explicações, um grande tornado de vento e água surgiu, indo com velocidade em direção de Kadabra. Rusty, apesar de tudo, reagiu com velocidade.

– Kadabra, reflita!

O movimento pareceu pegar Mindy de surpresa enquanto ela observava o tornado atingir uma barreira invisível e mudar de direção, atingindo Dratini antes mesmo que ele caísse de volta no lago. O pequeno Pokémon Dragão girava com velocidade no ar enquanto soltava uma exclamação aguda de desespero e Mindy observava desconsolada. O tornado não demorou a cessar e Dratini caiu finalmente na água, lançado a alguns metros de distancia, mas aparentemente bem. Nadou rapidamente de volta a margem, e Mindy sorriu.

– Muito bem, tente usar a fúria do dragão!

Dratini abriu sua boca e uma bola amarela de energia se formou, sendo lançada com força na direção de seu oponente, mas Rusty parecia inabalado.

– Kadabra, tele transporte!

O Pokémon psíquico fechou os olhos e estendeu uma mão, desaparecendo no ar quando a bola de energia estava há poucos centímetros de seu corpo. Ele reapareceu no mesmo instante apenas vinte centímetros à direita, e Rusty riu com a expressão preocupada de Mindy.

– Prima, esse Dratini mal consegue executar esse ataque direito. Aquela pequena bola de energia não teria causados muitos danos mesmo que tivesse conseguido nos atingir. Desista agora e poupe o Dratini de mais sofrimento...

– Nunca! – disse Mindy, tentando se lembrar de tudo o que sabia sobre um Dratini. Não estava acostumada a lutar com um Pokémon de quem sabia tão pouco, mas ele era agora a sua única chance. Ainda por cima, o pequeno dragão havia confiado nela para comandar a luta, e ela não podia deixá-lo na mão. Eu vi que ele sabe usar ataques elétricos lembrou Mindy, revivendo o salto do dragão pouco antes de começar a luta - Dratini, tente atingi-lo com a onda de choques!

Rusty, entretanto, tinha outras ideias.

– Kadabra, vamos acabar com isso. Use a confusão!

Os olhos de Kadabra brilharam com varias cores enquanto Dratini saltava e preparava sua descarga de energia elétrica. Antes, porém, uma aura o envolveu e ele pareceu lutar por um instante, antes de paralisar. Kadabra fazia estranhos movimentos com as mãos e Dratini flutuou, sem controle do seu próprio corpo, para fora do lago. Se caísse agora, cairia na rocha dura.

– Lute Dratini! Não deixe que ele controle você! – gritava Mindy, mas era tarde de mais. Dratini não estava acostumado a lidar com ataques psíquicos e estava à mercê do Pokémon de Rusty.

– Faça-o sofrer – sussurrou Rusty, apenas alto o suficiente para que Kadabra o ouvisse. Em seguida, o Pokémon começou a lançar Dratini contra o chão de pedra, apenas para erguê-lo novamente e repetir o movimento. O pequeno dragão parecia em angustia, mas não conseguia gritar, e foi o outro dragão, ainda no lago, que gemia em desespero, aparentemente com lágrimas a lhe escorrer pelos olhos.

– Não! – Gritava Mindy, enquanto se controlava para manter suas emoções em cheque e pensava furiosamente em como se livrar daquela situação. Dratini, entretanto, já havia sido jogado contra o chão quatro vezes seguidas e ela não sabia o que fazer.

– Já chega! – disse Dave, finalmente irritado. Não sabia o que estava acontecendo, mas não podia mais aguentar aquela tortura. Rusty tinha a luta sob controle e podia acabar com ela a qualquer momento, mas preferia prolongar o sofrimento do pequeno Dratini. Aquilo era de mais para que ele aguentasse calado – Já chega Rusty! Não precisa maltratá-lo desse jeito!

– Não se meta, Dave! – disse Rusty, enquanto Mindy deixava a primeira lágrima teimosa escorrer contra a sua vontade – Isso não tem nada a ver com você.

– Mas você não precisa torturar esse Pokémon inocente!

– Isso se chama vencer uma batalha Dave, você podia tentar de vez em quando – riu-se o menino ruivo, enquanto o pequeno dragão era jogado no chão mais duas vezes.

– Não se chama não! Porque não acaba com isso para que eu possa te ensinar o que é vencer uma batalha de verdade! – disse Dave, desafiadoramente. Eevee pulara de suas costas e encarou o treinador oponente com fúria nos olhos.

Rusty pareceu pensar por um minuto e um sorriso brincou sob seu rosto quando ele finalmente ordenou uma ultima ordem para Kadabra.

– Acabe com ele com o corte psíquico!

Os braços de Kadabra brilharam e ele os balançou para trás, como se ganhando força, e então os lançou para frente. Dos braços brilhantes do Pokémon, círculos de energia dourada foram projetados e atingiram Dratini no ar lançando o pequeno Pokémon muitos metros para trás. Ele aterrissou desacordado no duro e irregular chão de pedra e Mindy correu em sua direção, enquanto Rusty se voltava para Dave.

– Você insiste em ser derrotado por mim não é Dave? Celadon não foi o suficiente?

– Você nunca me venceu Rusty. E nunca vai me vencer! – disse Dave sentindo a adrenalina da batalha começar a fluir pelo seu corpo. Canalizou toda a sua raiva e desentendimento daquele dia inexplicável na luta a seguir e olhou para Eevee, que também parecia preparado, mas Dave queria fazer aquilo de outra maneira. Da outra vez, por mais que não ousasse admitir, sabia que Eevee estava ganhando a luta sozinho. Dessa vez ele queria vencer o seu rival com méritos próprios.

– Eevee, se você não se importa, vou começar com o Pidgeotto...

– Uee? – disse o Pokémon, confuso, olhando para Dave. Estava claro que ele queria lutar, mas Dave tinha outra ideia em mente.

– Eu sei que você pode vencer, garoto – disse o menino, compreensivo, mas decidido – mas quero começar com o Pidgeotto.

Eevee anuiu com a cabeça, decepcionado, mas compreensivo de que a escolha era do treinador, e saltou para o ombro do menino para demonstrar seu apoio. Rusty parecia confiante do outro lado e observou enquanto Dave chamava seu Pidgeotto, que até então estava sobrevoando a área e observando atentamente o que ocorria abaixo.

Mindy, por sua vez, havia corrido para socorrer Dratini, que estava desacordado. Agachou e pegou a cabeça do Pokémon caído e a colocou em seu colo, enquanto ouvia a discussão entre os meninos. Jake correu para se juntar a ela, enquanto a menina observava sem reação Dave encarando ferozmente seu primo Rusty, que ainda tinha o ovo seguro nos braços.

– Dave! Você tem que recuperar o ovo! – disse ela, compreendendo que o amigo poderia ser sua ultima esperança – Ele roubou o ovo dos Dratinis! Não pode sair daqui com ele! Eu prometi que iria devolver...

– Isso eu já entendi! – respondeu Dave, irritado, sem olhar para a menina.

Rusty aproveitou-se do momento de distração antes do inicio da luta para tomar a iniciativa e começar com os movimentos ofensivos, mas Dave, estava focado de mais na luta para se deixar pegar de surpresa.

– Kadabra, use o confusão!

– Pidgeotto, agilidade e ataque rápido!

Kadabra tentou se concentrar no pássaro de Dave, mas seu Pokémon desaparecia e aparecia em locais diferentes, tamanha era a sua velocidade, impossibilitando assim o ataque psíquico enquanto se aproximava do alvo. Rusty tentou fazer com que o Pokémon se teletransportasse, mas a combinação de ataques de Pidgeotto fizera com que o movimento fosse tão rápido que atingiu o alvo antes que o treinador ruivo conseguisse começar a pronunciar a ordem.

Kadabra foi lançado perigosamente próximo ao lago, caindo de costas no chão e rolando com o impacto do ataque, mas o que chamou a atenção de Dave foi o fato de a colher que o Pokémon rival sempre carregava consigo ter sido arremessada há alguns metros dele.

– Pidgeotto, pegue a colher! – ordenou Dave, saboreando enquanto Rusty arregalava os olhos.

Kadabra tomou alguns segundos para voltar a si e fazer um movimento automático com a mão direita, fechando os olhos e utilizando-se de seus poderes para fazer com que a colher levitasse e viesse em sua direção com alta velocidade, mas o pássaro de Dave fora mais rápido e a pegara com o bico ainda no ar, voando em seguida na direção do lago e ganhando altitude. Dave percebia que a colher continuava a ser puxada pela força telecinética de seu dono, mas seu Pokémon parecia tê-la bem presa e não a deixava ir. Dave sabia que a colher servia para tornar o Pokémon adversário mais poderoso, e não pretendia deixar que ele a recuperasse.

– Kadabra, esqueça a colher e lance um raio psíquico! – ordenou Rusty.

– Pidgeotto, mantenha o ataque!

Rusty sorriu enquanto o raio psíquico de seu Pokémon atingia o vazio e Pidgeotto seguia em grande velocidade em sua direção. Já preparado, ele conseguiu ordenar o teletransporte a tempo, seguido do ataque confusão. Dave mordeu o lábio quando percebeu a armadilha em que caíra, levando o seu Pokémon para o ponto que Rusty sabia que ele estaria, mas se surpreendeu quando percebeu que ao não atingir o alvo, seu Pidgeotto havia mantido o ataque de agilidade, evitando o contra ataque de Rusty.

O menino nunca tinha visto seu Pokémon atingir tamanha velocidade, nem mesmo em treinos. A cada vez que ele luta, ele fica mais rápido concluiu Dave. Mas quão mais rápido ele pode ficar?! Pensou ele, enquanto fazia um enorme esforço para acompanhar a perseguição de Pidgeotto com a agilidade combinada ao ataque rápido a Kadabra e seu tele transporte.

Rusty parecia estar vasculhando a cabeça buscando uma maneira de virar o jogo e Dave fez o mesmo. O menino de Grené lembrou-se da luta que acabar de ver e lembrou-se, menos de um segundo depois de seu oponente, do golpe que Kadabra usara contra Dratini. Ambos Dave e Rusty deram suas ordens praticamente juntos.

– Kadabra, use o refletir!

– Pidgeotto, ataque por trás!

Rusty surpreendeu-se com a sincronia com que Dave evitara seu movimento defensivo, e observou enquanto Kadabra criava uma barreira refletora a sua frente e era atingido pelo ataque de Pidgeotto por trás, sendo novamente, lançado no ar. Dave, entretanto, ainda não estava satisfeito.

– Pidgeotto, atinja-o agora com o ataque de asas! Mande-o para o lago!

O pássaro de Dave avançou com suas asas brilhando e atingiu Kadabra enquanto ele ainda estava no ar. Fizera o movimento correto com suas asas e, apesar do peso do oponente, Pidgeotto conseguiu mudar sua trajetória e lançou o Pokémon de Rusty para as águas do lago de Dratini. Kadabra caiu espirrando água para todos os lados e perturbando mais uma vez as calmas águas do lago. Pidgeotto ainda tinha a colher do Pokémon na boca.

– Droga, Kadabra! – gritou Rusty, visivelmente perturbado, enquanto seu Pokémon lutava para manter-se na superfície – Saia logo daí!

– Pidgeotto, prenda-o com um redemoinho!

Kadabra se concentrou e começou a fazer com seu corpo levitasse, mas Pidgeotto rapidamente criou uma grande tempestade de vento com suas poderosas asas. O vento misturou-se com as águas do lago, dificultando o poder de levitação de Kadabra, que lutava para se manter estável enquanto tudo a sua volta rodava. Foi uma forte batalha de poderes e Dave pensou por um momento que seu Pokémon não fosse conseguir desestabilizar as forças psíquicas do oponente, mas Kadabra parecia mais fraco sem sua colher. Foi então que Dave teve uma ideia.

–Pidgeotto, solte a colher no meio da tempestade!

Seu pássaro obedeceu à ordem e a colher mergulhou para a tempestade, começando a rodar no meio do redemoinho. Com isso a concentração de Kadabra falhou por um instante, o suficiente para que ele perdesse a batalha de forças e fosse sugado para o centro da tempestade, girando com uma das mãos estendidas para pegar sua colher.

– Agora acabe com ele Pidgeotto! Asas de aço!

Dave lembrava com orgulho de como havia usado Eevee para treinar aquele movimento com Pidgeotto, devido à experiência do pequeno Pokémon com a cauda de ferro, e de como tudo havia sido um verdadeiro sucesso. Apesar de bastante diferentes, Eevee fora capaz de instruir o Pokémon voador a endurecer suas asas a ponto de desferir o poderoso ataque metálico. Seu Pokémon voou com maestria para dentro da tempestade que criara, tomando a direção de Kadabra enquanto suas asas brilhavam com o brilho do movimento. Aproximou-se e atingiu o alvo antes que Rusty pudesse tomar alguma atitude diferente, e Kadabra fora novamente lançado para baixo, mergulhando fundo no lago. Quando ressurgiu, ele estava boiando com a barriga para cima, desacordado, mas com sua colher nas mãos.

– Kadabra, volte! – disse Rusty, estendendo a Pokebola e lançado o raio vermelho que o traria de volta. Imediatamente ele sacou uma segunda Pokebola e a lançou no ar – Você vai me pagar, Dave! Vai Raichu!

Mas Dave não estava mais prestando atenção ao seu rival. Em vez disso tinha os olhos fixos em seu Pokémon no céu, que depois de uma grande batalha, parecia brilhar intensamente com seu corpo inteiro. As plumas no topo de sua cabeça cresceram e mudaram de cor juntamente com todo o seu corpo e suas asas pareciam agora ter mais de três metros de envergadura enquanto ele cobria uma enorme parte do céu. Quando parou de brilhar, Dave olhava maravilhado para seu mais novo Pidgeot, sobrevoando o lago a centenas de metros de altura.

– Ele evoluiu… - disse o menino em voz alta, para ninguém em especifico, deixando seus olhos brilharem em admiração. Rusty também parecia surpreso com a evolução do Pokémon do adversário, mas agora que tinha a vantagem de tipo, manteve-se confiante.

– Raichu, faça um trovão trazer esse passarinho para o chão! – ordenou o menino ruivo.

O corpo do grande rato elétrico se tornou rapidamente cercado por eletricidade e ele lançou um incrível raio de energia na direção do pássaro de Dave. O raio era tão potente que se assemelhava muito a um raio de tempestade, mas Pidgeot conseguiu escapar no ultimo segundo, com um hábil mergulho pela direita.

– Cuidado Pidgeot! Isso é eletricidade! É muito rápido! – disse Dave, preocupado – Tente evadir com a agilidade.

– Continue com uma tempestade de trovões Raichu! Sei que ele é rápido, mas vamos ver se é mais rápido que a velocidade da luz!

Dave ficou surpreso com a capacidade do Pokémon de Dave para descarregar poderosos raios de energia. Nunca, nem mesmo em uma tempestade de verdade, o menino presenciara tantos raios serem lançados seguidamente, com tanta velocidade, mas para sua sorte não chegavam nem perto da velocidade da luz. Seu Pokémon parecia se desviar sempre no ultimo segundo, e Dave temia por saber quem seria o primeiro a desistir. Não podia chegar perto do oponente sem se tornar um alvo fácil, afinal quanto mais baixo voasse, menos espaço teria para se desviar.

Enquanto isso, alguns metros atrás, Jake e Mindy tentava o que podiam para fazer com que o Dratini ferido recuperasse a consciência, mas não haviam conseguido resultado. Tentaram usar água do lago, um jato de água de Squirtle, tentaram que sua parceira se voluntariara a ajudar, mas não conseguiam obter resultados. O estado do Pokémon era pior do que eles poderiam imaginar e estavam começando a ficar sem esperanças, quando Mindy percebeu Raichu tentando atingir Pidgeot com seus trovões. Percebeu então o que teria que fazer.

– Parem tudo! – gritou, alto até de mais. Levantou-se e correu na direção dos dois treinadores em luta, passando por Dave com um esbarrão – Parem tudo, agora!

Dave não sabia o que fazer, mas Raichu não interrompeu o ataque e Rusty não parecia dar sinais de descanso, então ele não ousou ordenar que Pidgeot interrompesse os movimentos evasivos.

– Você ficou louca? – disse Rusty, sorrindo – Não vou parar agora que estou com a vantagem...

Mindy olhou fundo nos olhos do primo e percebeu que teria de tomar uma atitude mais drástica se quisesse ser ouvida. Pegou então grande pedaço de rocha solta no chão, remanescente da batalha, e ameaçou acertar Raichu com ele.

– Você não faria isso... – desafiou Rusty.

Assim que falou as palavras, entretanto, Rusty viu a rocha cinza sair das mãos de sua prima e voar diretamente contra seu rosto. Desviou-se por centímetros, abaixando-se por puro reflexo.

– Você está maluca?! – exclamou ele, e Dave teve de segurar o riso. Ela abaixou-se para pegar outra pedra quando ele levantou as mãos em rendição – Ok, ok! Eu paro! Raichu, cesse o ataque!

O grande Pokémon elétrico descarregou então seu corpo e arfou ofegante, tentando recuperar toda a energia que descarregara em tão pouco tempo. Instantaneamente Pidgeot parou no céu, mantendo a altitude, sabendo que talvez ainda fosse cedo para se aproximar de mais. Dave percebeu que apesar de tudo ele não demonstrava grandes sinais de cansaço, e tinha confiança de que poderia vencer o oponente, assim, é claro, que Mindy os permitissem continuar a luta. Os cabelos da menina estavam esvoaçando e ela arfava para respirar quando se virou para Dave.

– Eu preciso de você...

Dave olhou nos fundos dos olhos da menina sem saber o que responder. Como que por reflexo, ele disse:

– Eu também...

– Não! – disse a menina, sacudindo a cabeça e lutando para evitar corar – você não entendeu, Dave! Preciso do seu Pidgeot!

– O que?! – disse ele, corando. Porque eu não fiquei quieto?

– Dave, o Dratini está mal. Muito mal! Preciso levar ele para um Centro Pokémon, imediatamente! E o seu Pidgeot pode ser nossa única esperança. Imagino que saiba que não podemos sair daqui andando tranquilamente devido ao bloqueio policial, então só podemos fazer isso pelo céu, voando muito alto para não sermos vistos. E só o Pidgeot pode fazer isso!

– Claro... – disse Dave, lembrando-se de sua viagem quando saíram de Celadon. Mas seu Pidgeot não poderia carregar todos dali. Ainda não era grande o suficiente para carregar quatro pessoas. Nem mesmo o de Mary Jane o era – mas ele não aguenta todo mundo mais o Dratini!

– Você está maluca se acha que eu vou sair daqui sem terminar essa batalha – disse Rusty, confiante.

– E você está maluco se acha que eu vou deixar você sair daqui com esse ovo – disse Mindy, virando-se para ele rapidamente – O Dave vai ficar aqui e vai cuidar para que você não roube nada de ninguém – terminou, enquanto Dave arregalava os olhos – Não é Dave?

– Exatamente! – ele se apressou a dizer, estufando o peito e se postando com força, como se tivesse compreendido o plano desde o início. Sacou então sua Pokebola e hesitou por um momento antes de coloca-la na mão da menina. Lembrava-se bem da ultima vez que se separara de seu Pokémon, mas parecia que a vida gostava de lhe deixar sem muitas escolhas. Entregou-a para Mindy com algumas ultimas palavras – Por favor, tome conta dele. E nem pense, por um segundo, em sumir de novo...

– Confie em mim – disse ela com um sorriso, e voltou a correr para Dratini enquanto Dave se despedia momentaneamente de Pidgeot e lhe explicava o que estava acontecendo.

Mindy se encaminhou para onde estavam Dratini e Jake, mas foi para o dragão consciente, ainda no lago para quem ela se dirigiu. A cicatriz na marca branca de sua cabeça o tornava inconfundível.

– Você entende que eu preciso levá-lo? – disse ela, tristemente para o Pokémon choroso. O dragão fez que sim com a cabeça e a menina sorriu – Entende que pode confiar em mim? – perguntou novamente, para ver mais uma resposta positiva. O Pokémon então olhou para Rusty e para o ovo que ele carregava, mas Mindy se apressou em esclarecer tudo.

– Não se preocupe. Meu amigo não vai deixa-lo levar seu ovo – disse Mindy finalmente, levantando-se e subindo nas costas de Pidgeot juntamente com Jake – Eu lhe prometo.

O grande pássaro abriu as asas, fechou suas patas com delicadeza em volta do corpo do Dratini inconsciente, e se preparou para voar. Mindy acariciou sua pelagem macia e observou enquanto Dave e Eevee olhavam-nos partir. Acenou confiante e disse, gritando para baixo, antes de desaparecer no céu.

– Dave, eu mando o Pidgeot te buscar em breve! Eevee, conto com você contra o Rusty!

E com isso, Pidgeot bateu fortemente as asas e Dave viu seus amigos sumirem no ar. Não gostava da ideia de se separar novamente, mas olhando para o pequeno Dratini que observava na água, percebeu que tinha ficado ali por um motivo justo, maior do que as suas vontades. Olhou então para Rusty, seu Raichu e o ovo que carregava nos braços e sacou mais uma Pokebola.

– Rusty, você não perde por esperar.


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Notas finais do capítulo

E aí? O que acham?

Aposto que não perdem por esperar pelo próximo capítulo! =)

Quero ouvir as suas opiniões nos comentários! ;D



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