A deusa da tortura andava, desesperada, pela floresta. Ainda não conseguia acreditar que havia sido tão burra e idiota por confiar em sua irmã, Sádica. Devia saber que ela nunca fora sua amiga. Sempre será sua inimiga, mesmo que fosse gentil com ela ao extremo.

Não, ela não pode estar morta, pensava enquanto procurava pelo corpo de uma garota humana e inocente pela floresta. Não devia ter acreditado em Jeff, não devia ter acreditado em ninguém, apenas na pobre menina que veio à floresta com um único objetivo; encontrar um amigo.

Lágrimas de sangue caiam pelo seu rosto. Raramente chorava. Nunca havia tido sentimentos tão profundos por alguém, a não ser por Liu — o irmão de Jeff — e por Claire, a única pessoa que ela queria que fosse sua irmã. Ela trocaria Sádica por ela a todo custo, mesmo sendo impossível.

Foi quando sentiu um forte cheiro de sangue. Era fácil identificar o sangue dos mortos e dos vivos, já que esse era um dos poderes que havia herdado de sua mãe, a antiga deusa da tortura, que havia sido morta por, ninguém menos que, Claire. Toda vez que lembrava da épica batalha entre as duas, sorria. Tinha orgulho daquela menina que havia conseguido ir tão longe.

O cheiro de sangue vinha de uma enorme carvalho, que parecia estar totalmente descuidado. Bom, mais descuidado que as outras árvores da região. Ela estava ali. Era o único lugar em que poderia estar.

Ao se aproximar da árvore, pôde ver os cabelos escuros de sua única amiga. Ela a havia matado. Não Sádica, e sim ela. Se não tivesse confiado em quem não devia, Claire ainda estaria viva.

Tentou tirar o corpo de dentro da árvore. Mesmo morta, ainda era pesada. Sua pele pálida e gélida fizeram cair mais gotas de sangue de seus olhos. Quem disse que demônios não têm sentimentos?

A deusa tentou, tentou e tentou, mas não sabia como ressuscitar sua única amiga. Quanto mais ela fracassava, mais lágrimas de sangue caiam. Se sentia uma completa idiota por estar chorando sozinha, mas Claire merecia. Assim como também merecia viver...

Estava quase desistindo quando, finalmente, conseguiu sentir o coração de Claire bater novamente. Estava tão feliz que podia fazer a floresta toda explodir. Mas não podia deixar que ela se lembrasse do que havia acontecido. Não podia ser egoísta a esse ponto.

Tinha que deixá-la ir.

Então, apagou todas as lembranças da garota. Ela recomeçaria quando acordasse, em outro lugar, com outra família. Uma família que a ame de verdade.

Quando acordasse, ela não se lembraria de que teve alguém para poder chamar de amiga.