Prisoner escrita por bitterends


Capítulo 8
Finja


Notas iniciais do capítulo

Dedico este capítulo à pessoa que mais me incentiva a escrever e por ela eu continuo.
Amiga e leitora mais fiel.
Meu presente de aniversário pra você, Ma. Espero que goste.

Boa leitura!

"Posso disfarçar o melhor de qualquer um
Posso disfarçar o melhor de todos eles
Posso disfarçar o melhor de qualquer um
Posso disfarçar tudo"



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/615880/chapter/8

Os olhos de Alice quase saltaram das órbitas. O que diabos seu marido fazia, sentado no sofá da sala de seus pais?

Estava bom demais para ser verdade, o silêncio dele deveria ter despertado no mínimo esta pequena desconfiança, mas a jovem havia sido traída pelo próprio sexto sentido.

– Ahn… Amor! Que surpresa. Não te esperava por aqui… - Disse ela, tentando disfarçar o incômodo da situação.

– Quis fazer uma surpresa! Eu estou de passagem pela Europa, achei que seria ótimo reencontrar meus sogros e dar um beijo em você, querida! - Respondeu Khalil à afirmação.

Ele lançou para Alice um olhar estranho, foi quando ela se lembrou que tinha cortado os cabelos sem o conhecimento -e consentimento – dele.

Aquele olhar, por um momento, assemelhou-se ao do dia em que o marido lhe surrou pela primeira vez. O ar falhou para circular em seus pulmões.

– Ora, nostro genero. É um prazer recebê-lo em nossa casa! Perguntamos e falamos sobre você o dia inteiro! - Anitta quebrou o silêncio de poucos segundos.

– Espero que tenham falado bem. Sei que roubei um pouco a jóia rara dos senhores, mas prometo que a trarei para bem perto novamente! Nossa lua-de-mel durou um pouco mais que o planejado! - Disse Khalil, risonho e simpático, puxando a esposa para um abraço.

Os pais dela estavam encantados pela figura do genro tão cordial e amável, jamais imaginariam a violência que a filha sofreu, o porquê de Alice raramente ter ligado durante aquele pouco tempo de casamento. Como imaginariam? Facilmente era plausível acreditar que o jovem casal estava apaixonado demais para se lembrar do restante do mundo.

– Filha, já instalamos Khalil em seu quarto… Esperávamos por você havia quase uma hora, então aproveitamos a deixa. - Desta vez, era Matheo quem falava.

– Desculpe te fazer esperar, meu amor. Fazia tanto tempo que eu não via o mar daqui de Amalfi… - “E de nenhuma outra parte do mundo”, pensou ela. - Vou tomar um banho, tirar o sal e areia do corpo. - Alice aproximou-se do marido e deu-lhe um rápido selinho, dirigindo-se à suíte.

– Espere, amor! Vou com você, preciso me preparar para o jantar que minha sogra está fazendo com tanto carinho…

Os pais da bela sorriram ao ouvi-lo, porém ela não se alegrou sequer um pouco. Sorriu de lado e murmurou um “tudo bem”.

A verdade era que ela já temia uma explosão de nervos por parte dele, aquele olhar de momentos atrás decerto a apavorou.

“Preciso ser forte, é só uma antecipação de meu plano.”

Ela pensou, logo sentiu a mão do marido puxando seu braço.

– O que você fez? Por que cortou assim os cabelos? - Sussurrava o homem, irritado.

Alice sabia que não poderia ser malcriada ali e que se quisesse destruir Khalil, precisaria mudar suas estratégias e que aquele momento seria crucial – em especial para evitar uma bela de uma surra.

Simulando um choro, ela começou:

– Porque eu quero esquecer de tudo, Khalil. Eu me escondi durante meses atrás daqueles cabelos tão longos… Eu quero esquecer das marcas que aquele homem me deixou. Não quero lembrar que ele -aquele homem- existiu em minha vida.

Ela colocou as mãos sobre o rosto, tampando-o e o marido recuou, amenizando a expressão dura de segundos atrás.

***

Enquanto Anitta e Matheo preparavam a mesa de jantar, a campainha tocou.

Amore mio, eu atendo. Continue cuidando das coisas, querida. - Decidiu ele e Anitta assentiu.

O senador surpreendeu-se com a imagem que ele conhecia muito bem.

– Ora, querido Lollo! Que saudade! Você não nos visita há um mês! Bastam poucos dias pra que nos faça falta, bambino.

– Fora meu pai, somente o senhor para me tratar com tanto carinho! - Sorriu o belo jovem, emocionado.

– Veio jantar conosco? Temos visitas e você iria gostar de ver.

– Na verdade, encontrei com Alice na praia e havíamos combinado que iríamos para a vinícola… Ela está demorando, então pensei em chamá-la…

– Oh! O marido dela chegou de surpresa, entende? Vocês não se veem há anos, se forem os três, a conversa não será colocada em dia.

– Ah, não imaginava…

– Entre, jante conosco!

– Acho melhor não, Matheo. Há um bom tempo que não veem o casal, não quero que se sintam divididos… E eu não gosto de dividir a atenção com ninguém, nem mesmo com seu genro.

Ambos sorriram, o senhor abraçou o jovem, dando-lhe alguns tapinhas nas costas.

Os senhores Canelluti amavam Lollo desde criança e desde que ele retornou de Roma, ritualmente, visitava-os. Sabia que eles sentiam saudades da filha e mesmo não podendo substituí-la, entendia que estar por perto, amenizava um pouco a tristeza que o casal dizia não sentir.

– Eu sempre pensei que você seria o homem a quem eu chamaria de genro, Lollo. - Matheo surpreendeu o rapaz com o comentário.

– Gosto mais de ser considerado filho, pois posso vir todos os dias e não ser chamado de folgado, vocês não falarão que ela merecia algo melhor quando se referissem a mim… Acho que está tudo certo! E olha, vi o cara, seu genro, na revista. Eu nunca sairia tão bonito, não. - Respondeu, tentando humorar seu constrangimento.

– Ele é mesmo boa pinta.

– Olha, eu volto depois então. Tudo bem? Bom jantar. Amo vocês.

Lorenzo saiu rápido dali, não se atreveu a imaginar-se casado com Alice. Retirou o celular do bolso para ligar para Millene e saber o que ela estaria aprontando.

Matheo retornou para o interior da casa e comentou sobre quem havia chamado no portão. Ele e Anitta aguardavam pela filha e o genro ficarem prontos.

– Lembra, Matheo? Parecíamos siameses também, estávamos grudados até pra tomar banho! - Divertiu-se a senhora Canelluti.

– Ué, mas nada disso mudou para nós. Mesmo depois de tantos anos. - Matheo beijou carinhosamente a esposa.

***

Khalil pegou nas mãos de Alice, retirando-as da frente de seu rosto e delicadamente beijou-as.

– Eu não quero machucá-la outra vez. Amo você, querida.

– Vamos recomeçar tudo? Quero recomeçar com você, Khalil. Quero ser feliz com você.

– Eu também quero, muito.

– Você entende porquê mudei tudo por fora? Entende que eu te perdoo?

“Só que não, Khalil Abdu.”

– Se você se sente melhor assim, e se as coisas vão mudar entre nós, então está tudo bem… Você é linda de todas as formas.

– Venha, vamos para o banho, meu amor. Há tanto tempo que não fazemos isso juntos…

– Vamos cuidar do presente, a partir de hoje.

Khalil beijou-a e tirou as roupas de ambos, quando tentou algo a mais, Alice o impediu, dizendo que os pais os aguardavam para o jantar, mas que haveria muito tempo depois.

Ela parecia tão doce e tão disposta a amá-lo novamente que contornou a situação que tinha tudo pra ser outra cena dramática.

Porém por dentro, Alice estava tentando segurar sua repulsa e seu nojo. Teria de aceitar as mãos daquele homem em seu corpo e ainda por cima sorrindo, fingindo prazer. Mas aquilo seria um problema temporário. Os dias de glória para Khalil Abdu estavam oficialmente sendo contados.

Já ele, por sua vez, também ficou um bocado desconfiado da mulher. Dois dias longe dele haviam sido tempo suficiente para uma mudança de sentimentos tão radical?
Kalhil apenas não se agarrou a tal questionamento, mesmo desconfiando.

De qualquer forma, ele testaria a esposa até o limite dela.

No amor e na dor, ele queria saber o que aquela mulher estava tramando -e se realmente estava.

Quando a viu vestida um dos belos vestidos que ele lhe deu, num tom azul escuro e de tecido em malha fria, ele se concentrou em como ela estava linda e até aceitou melhor o comprimento dos cabelos, pois as costas dela estavam totalmente nuas e a nuca estava a mostra. A visão o deixava maluco.

O jantar foi tão tranquilo quanto a cidade de Amalfi.

A conversa foi trivial e não foi muita, pois Anitta não gostava de muita conversa à mesa na hora de almoçar e jantar e isso era muito respeitado dentro da casa.

Logo após, todos se recolheram para dormir. Alice sofreu calada, pois sabia que o marido a tocaria e ela não poderia negar.

Khalil estava sendo delicado enquanto a despia e a beijava. Parecia apreciar cada parte dela.

A moça, com o escuro do quarto e o toque tão suave, não pôde evitar de desligar-se da realidade e ser invadida por lembranças há muito esquecidas.

“ Era um fim de tarde, sentados abaixo de uma árvore que ficava pelos fins da terra dos Bertoncello. Alice sentava entre as pernas de Lorenzo, que a abraça calorosamente.

O vestido branco deixava-a como um anjo de cabelos negros, um anjo sendo tocado.

O rapaz a tocava por baixo do vestido e ela suspirava. Eles haviam combinado que aquele 15 de julho seria muito especial, pois Alice estava completando seus dezoito anos. Ela queria muito ser uma completa mulher.

A adolescência inteira eles saíram às escondidas, mesmo que nunca houvessem sido proibidos de namorar.

Quanto mais ele a tocava, mais ela suspirava.

– E agora, daqui em diante… como se faz? - Perguntou a garota, com o rosto avermelhado de prazer e vergonha.

– Eu não sei bem, não sei como se faz… Mas nada nesse mundo seria melhor do que aprender com você. - Respondeu ele, igualmente envergonhado e confuso.

Dali, tudo se desenvolveu tão naturalmente.... Misto de dor, prazer, amor e a inocência sendo deixada para trás.”

E quando o marido a invadiu, ela ainda estava dentro daquela lembrança.

Ele entrou tão levemente, que ela, de olhos ainda fechados, suspirou, gemeu e sorriu.

Uma estocada mais forte e ela então despertou do devaneio, vendo que aquele era um invasor indesejado apenas, não era o seu primeiro amor.

Decepcionou-se ao ver que aquele homem que era o mais belo que havia conhecido em sua vida, que amou tão intensamente, não era quem ela pensava ser.

Cerrou os olhos, somente esperando que ele terminasse logo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Prisoner" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.