Prisoner escrita por bitterends


Capítulo 5
Lucidez Silenciosa


Notas iniciais do capítulo

Este tinha tudo pra não ser o inicio de um amargo fim.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/615880/chapter/5

Alice estava se sentindo especialmente linda após sair do salão.

Nunca havia tido cabelos tão curtos, nunca os havia mudado.

Estava gostando tanto do novo corte, que lhe remetia a pensar em liberdade, distraiu-se tanto que por sua mente sequer passou a possibilidade de Khalil puni-la por isso. Sequer pensava nele ou em qualquer outra pessoa.

Pensava em si mesma. Nas roupas que ia comprar para combinar com o corte. Nos brincos maiores que poderia usar. Nos colares chamativos.

Sentia-se como antes do casamento: maravilhosa.

Rumou até o shopping mais próximo, não queria deixar nada para depois.

Enquanto observava uma vitrine que refletia sua imagem, Alice percebeu que seus belos olhos azuis estavam brilhando depois de muito tempo. Ali, em frente aquela loja decidiu que não seria mais tão covarde a ponto de tentar suicídio novamente. Nem fugiria mais de Khalil.

Sabia que ele jamais lhe daria o divórcio. Sabia que somente a morte poderia separá-los, mas nenhum dos dois seria capaz de matar um ao outro, porque apesar de toda a doença de seu marido e dele feri-la de muitas formas, o amor dele não seria tão cruel e seu ódio não seria tão piedoso para acabar com aquele sofrimento.

Talvez a curto prazo, a solução seria tentar conviver com ele. Tentar dar a ele uma chance para que provasse que havia mudado.

Ele estava sóbrio nos últimos meses, não a esbofeteou mais, não a forçava mais a deitar-se com ele desde em que ela disse que o repugnava e sentia nojo dele numa briga de uns quatro meses antes.

Talvez ele realmente estivesse tentando voltar à sanidade.

E mesmo que em seu destino estivesse escrito coisas piores, ela iria lutar até o fim. Até o amargo fim. Iria lutar até cair.

“Eu encontrei meu caminho
Através de dias cansados.
Porque agora eu sei o outro lado de mim
Eu desisto de quem eu costumava ser
Agora eu estou vivo, sentindo-me nascer de novo
E eu vou lutar até o amargo fim.

Levou milhares de cicatrizes para me encontrar
Me lembro de cada uma delas.

Eu nunca mais vou me render assim
Eu sei melhor, já caí antes.
O inimigo estava morando na minha cabeça
Eu rasguei-o e deixei-o lá para morrer
Agora eu estou vivo,
Eu estou me sentindo renascido
E eu vou lutar até o amargo fim
Amargo fim.

Minha mente está clara.
Eu não tenho medo.”

(The Veer Union - Bitter End)

– Khalil Abdu, se você me quer, você terá a mim. Mas será tudo do meu jeito agora e você nem vai perceber, porque estarei jogando o mesmo jogo que você! - Disse ela, totalmente decidida.

Assim que entrou na loja, esqueceu-se do mundo. Foi escolhendo tudo o que achava bonito, de vestidos a peças básicas. Entrou em loja de cosméticos e renovou todo seu estoque pessoal de cremes, hidratantes, perfumes e maquiagens. Comprou jóias e sapatos.

No fim das compras, tinha gastado um valor absurdo.

Seu marido deveria ter se importado antes de deixar um cartão de crédito ilimitado nas mãos de uma mulher que sentia a necessidade de ficar mais bonita.

Khalil, por sua vez, nunca se importou muito com dinheiro, pois fora a política, era formado em direito e relações públicas, também já era herdeiro de uma quase incalculável fortuna.

Todas as transações feitas com o dinheiro do sr. Abdu eram notificadas por celular. Horas depois, ele tinha histórico completo e os valores gastos com cartão de crédito. O cartão adicional que estava em poder de Alice.

Ele não queria regular os gastos dela, mas não era do feitio de Alice gastar milhares de euros – o embaixador se recusava a acumular libras egípcias, ele gostava de euros e dólares. Por ser tão “ocidental”, era perfeito para manter relações em outras partes do globo.

– Bom dia, meu amor. - Ligou para a esposa logo de manhã e pôde ouvir um resmungo sonolento dela.

– Bom dia. Como foi de viagem? - Respondeu Alice, ainda atordoada de sono.

– Tudo correu bem. - Ele fez uma breve pausa e continuou. - Querida, você usou seu cartão de crédito ontem?

– Usei. - Respondeu ela, objetivamente.

– Ahn… e o valor é o que recebi notificado por celular?

– Provavelmente, Khalil. Comprei muitas coisas, muitas mesmo. Algumas jóias… Nada que tenha sido barato.

– Desculpe, não quero regular seus gastos. É tudo questão de segurança, te perguntei porque você nunca gastou tanto de uma só vez. Pensei que pudessem ter extraviado ou clonado seu cartão.

– Está tudo certo. Eu o usei.

– Devo voltar em duas semanas para casa… Te avisarei um ou dois dias de antecedência a exatidão de meu retorno.

– Ok.

– Amo você…

– Tenha um bom dia, Khalil.

Alice desligou o telefone e voltou a dormir.

Ela até poderia ser mais maleável com o marido, mas dizer novamente que o amava, isso já era fora da realidade. Amar Khalil (de novo) se fosse possível ainda, levaria muito e muito tempo, quem dirá umas reencarnações.

Duas semanas sem o marido.

Alice mal pôde acreditar que ele não a importunou ligando a todo minuto no primeiro dia longe dela.

Ao final do dia, a jovem enviou uma mensagem ao celular do belo embaixador:

Meu voo para a Itália é pela manhã. Vou visitar meus pais. Avise quando estiver prestes a voltar, para que eu lhe aguarde em casa.”

Não houve resposta alguma.

Ela respirou aliviada enquanto terminava de arrumar a mala.

Então recordou-se, Khalil não era perigoso enquanto falava.

Khalil era perigo eminente quando estava calado.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Prisoner" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.