Prisoner escrita por bitterends


Capítulo 23
Quis Amar Você




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Alice acordou enjoada naquela manhã e um pouco indisposta. Forte ânsia a dominou e ela correu ao banheiro para vomitar.
Havia algo estranho, ela sempre teve estômago forte.
Colocou na cabeça que era culpa de um lanche que havia comido na rua no dia anterior, enquanto fazia compras com a mãe.
Khalil já havia levantado e provavelmente estava colocando algumas coisas no lugar em um cômodo que havia decidido ser seu escritório, não viu o mal estar da moça naquele momento.
Abriu as janelas amplas do quarto, ainda sentindo na boca a bílis que havia posto para fora, avistou o marido conversando com um homem, segurando algo em mãos pelo lado de fora.
Não identificou o que Khalil segurava e nem reconhecia o homem. Resolveu deixar de lado e tomou um generoso banho para tirar aquela sensação e ao terminar, saiu em busca de Khalil.
Encontrou-o no que seria seu novo escritório, acariciando um gato e à frente dele estava o estranho.
— Querida, acordou! Dormiu bem?
— Sim… Quem são estes? - Referiu-se ao homem e ao gato.
— Este é Samir, irmão do meu grande Salim. Precisa de trabalho e eu preciso dele para manter tudo organizado. Salim não gostaria de mudar de país, então devo aposentá-lo para que ele viva confortavelmente, ele merece, fez muito por mim e me amou como filho. Samir é tão amigo quanto ele. Este pequeno é Seth, nosso “filhote”. Gosta de gatos?
— É um prazer conhecê-la, senhora. -Samir estendeu a mão para Alice, que a apertou.
— O prazer é meu. Não é dos meus animais favoritos, mas consigo aturar. Só por ele não ter pêlos pra soltar já ajuda na convivência.
Alice não gostou do gato, achava-o feio por ser o famoso gato egípcio, envolto em uma camada de pele e gordura ao invés de pêlos. O filhote a encarava com recíproca antipatia, lambendo suas patinhas, aconchegado no colo de seu dono que lhe depositava generosas carícias.
— Amo gatos! Tenho Khan desde os meus doze anos. - Khalil apontou para uma prateleira e Alice gritou de susto.
— É de verdade? - Perguntou ao marido.
— Sim! Viveu por 20 anos comigo. Quando ele faleceu eu o taxidermizei.
— Está dizendo que empalhou o bicho? - Disse indignada.
— Sim! - Sorriu o esposo brincalhão.
A moça correu ao banheiro mais próximo para vomitar.
— Ela não sabia do seu hobby bizarro? - Samir questionou divertido.
— Acabo de descobrir que não sabia!
— Tomara que ela não tenha fugido agora que sabe.
— Espero que não… Mas voltando ao nosso assunto, você aceita? Preciso muito de você além de ter contigo uma dívida vitalícia.
— Khalil, você não tem dívida alguma comigo.
— Ora, por favor. Roubei sua juventude, consegui te tirar daquele lugar só agora…
— Não quero que fale nesse assunto, nunca mais. Você era apenas uma criança e não teve culpa do que aconteceu. Era muito novo. Não se lembra de nada. Entendeu bem?
O homem abraçou Khalil que estava visivelmente transtornado e emocionado. O passado lhe perseguia e ele só queria não fazer tudo igual. Tinha pouca idade quando o pai foi assassinado e Samir foi acusado e preso.
Porém ambos sabiam que Samir pagou por um crime que nunca cometeu. Preso aos 24 anos, conseguiu ser liberto quase trinta anos depois. Seu pupilo foi buscá-lo, levou roupas novas e o colocou em um apartamento seu para morar. Agora lhe oferecia emprego em um lugar totalmente novo, outro país. Khalil estava um homem agora, generoso e bom.
Samir agradeceu aos deuses por ter protegido o garotinho quando ele matou o próprio pai, pois ele havia se tornado alguém muito diferente do progenitor.
Havia prometido à Isis que cuidaria para que ele fosse uma boa pessoa e que não teria a má sorte dela. Era um mocinho, sustentava paixão platônica pela esposa do patrão e se viu na posição de assumir o crime da criança, porque Isis faria isso pelo filho que era muito novo e não aguentaria a prisão como Samir aguentou.

Sua mente e a de Khalil voltaram, simultaneamente, no dia em que Khalid morreu.
“ - Acabou agora. - O menino robusto de doze anos segurava a espingarda.
— O que você fez, menino? Por que está tão sujo e com essa arma? - Samir perguntou, sentindo o maior pavor.
— Eu acabei com ele. BANG BANG BANG. Bem na cabeça. - Khalil respondeu.
— Quem? Acabou com quem?- Chacoalhou o garoto.
— Com Khalid.
— Onde está seu pai, menino? - O homem estava desesperado, pensando que talvez
fosse uma brincadeira da criança.
— Está no inferno, eu mandei ele para lá. Agora está tudo bem, Samir. Ele não vai mais bater em você. Não vai machucar ninguém. Minha mãe está vingada e pode descansar em paz agora. - Falou o pequeno Khalil com enorme serenidade, sem saber do que poderia lhe acontecer se fosse descoberto. Samir chorava de desespero e não sabia bem o que fazer.
— Me mostre onde ele ficou.
O dedinho pequeno apontou para o corpo caído no deserto. Samir ordenou que o garoto se afastasse e esperasse no carro. Examinou o corpo do asqueroso patrão e ficou impressionado com a precisão do tiro fatal que o menino deu. Isis nunca foi favorável ao fato de Khalid ensinar o filho a caçar e atirar. O desgraçado estava morto pelas mãos de seu único filho.
Com a arma do crime em mãos, atirou duas vezes para ter pólvora nelas, iria se entregar à polícia assim que deixasse Khalil em casa. O menino tinha uma grande fortuna que o governo confiscaria, pouquíssima idade, se viesse a sair da prisão, já teria perdido muito tempo, todo seu dinheiro, poderia se tornar um criminoso de verdade e esse seria o fim. Já Samir era um rapaz pobre, mas sabia coisas da vida, já tinha caráter formado e não tinha estudo ou futuro algum, seus queridos pais já haviam falecido e o irmão lhe entenderia e o amaria. Todos o entenderiam na verdade, Khalid era uma praga de carrasco e ninguém sentiria sua falta, ninguém gostava dele. Cometia abusos demais, batia nos empregados.
Usou de tudo isso para explicar seus motivos de ter matado o homem, ordenou ao garoto que jamais abrisse a boca e explicou as consequências dele dizer o que tinha feito, disse para que ele pensasse na mãe toda vez que sentisse vontade de falar e que ela não gostaria de ter um filho assassino.
Salim ficou arrasado, mas visitou o irmão por todos os anos que ele esteve preso e desconfiou que fosse o autor daquele crime porque o rapaz tinha mira péssima e tremia muito ao atirar, o tiro foi muito certeiro para ser dele. Ao perceber que Khalil também o visitava com frequência quando completou a maioridade, sem qualquer mágoa do assassino do pai e o carinho que tinha ao falar dele, questionou o irmão novamente da autoria do crime, que o respondeu “Fui eu mesmo. Todos vocês me visitam e são gratos pelo que fiz, por que o menino também não pode ser?”. Salim não perguntou mais.
O segredo morreria somente quando Samir e Khalil morressem.”

Uma lágrima escorreu pelo rosto do ex-embaixador e ele a enxugou. Passado o momento de emoção entre os dois, ele pediu:
— Samir, você poderia ficar de olho em minha esposa?
Havia um propósito especial em seu pedido.
                                     ***
Alice examinava uma papelada de seu pai no escritório que agora era do marido e seu. Três semanas haviam se passado desde que o novo empregado foi contratado e ela até que gostava do gentil senhor que mantinha tudo em ordem. Foi escolha sua ter somente três empregados na casa, não queria muita gente, mas também não queria ser dona do lar e cuidar dos afazeres, era estudada e tinha que trabalhar, pensava.
Não sentia-se disposta a dirigir naquele dia, estava com muita sonolência e alguns enjoos. Não quis pedir a Samir para levá-la e depender dele para buscá-la ou se locomover.
Tentava sem sucesso entrar em contato com Lorenzo, não o via desde o jantar na casa dos pais um tempo atrás, ele não atendia suas ligações e não visitava mais os Canelluti. Khalil pouco viajava ou passava tempo fora e isso a impedia de procurar Lollo. Até aquela semana.
Dali dois dias o marido partiria para uma viagem de duas semanas no exterior e ela ficaria sozinha. Estava planejando em como forçaria Lorenzo a vê-la e mergulhou em seus pensamentos, sem reparar que o marido estava próximo.
— Que intelectual! Nunca notei que fica tão sexy de óculos! - Disse à Alice, acordando-a dos devaneios.
— Eu passei a usar há pouco, só para leitura. Gostou? - Sorriu provocante.
— Sim, muito.
Ele trancou a porta atrás de si e conferiu o vestido confortável que Alice usava. Afastou a cadeira em que ela sentava da mesa e tirou os papéis de suas mãos.
A moça sorriu sugestiva, dando sinal de que ele poderia continuar. Desde que os enjoos começaram ela lhe negava relações e carícias, ficou surpresa por ele respeitar e não insistir, como o homem viajaria logo, decidiu ceder.
Ela também estava com saudade do corpo moreno.
Khalil afastou as pernas dela e retirou a peça íntima, vislumbrando a visão da genitália da esposa.
— Vou te dar uma coisa. - Sorriu malicioso.
Não sabia o que estava mais quente, se era a esposa ou sua língua. Estava atento aos movimentos dela. Viu o revirar de olhos da mulher, os pelos do corpo eriçarem e a mordiscada no lábio inferior. Continuou, delicadamente, fazendo os movimentos circulares com a língua e ouvindo-a gemer para ele, derretendo em sua boca.
— Amor, por favor. - Alice suplicou. - Entre.
Ouvindo o pedido, deixou-a transbordando para se despir. Entrou devagar, se movimentava lentamente, para que ela pedisse por ele novamente.
Queria ouvi-la pedir, implorar por mais, mais forte, mais rápido. Abocanhava-lhe e a via delirando de tanto prazer, como antes. Como no início do casamento.
Levaram horas trancados no escritório, um apreciando ao outro. Cansados, adormeceram no chão. Khalil acordou pouco depois e observou a expressão completamente relaxada da esposa que dormia aninhada em seus braços. Estava linda.
Vestiu as calças e nela, vestiu sua própria camisa, levando-a para o quarto em seu colo. Não se recordava que ela tinha sono tão pesado, pois não acordou até o dia seguinte.
Pela manhã, ao acordar, estava novamente sozinha, como todos os dias desde a mudança. Os lençóis estavam vermelhos e de suas pernas escorria sangue.
Alice estranhou, não era época de sua regra, além de se lembrar que a mesma não veio no último mês. Ignorou os sinais que o corpo lhe dava, como indisposição, enjoos constantes, fome a todo tempo. Agora associava todos como sintomas de gravidez e pelos seus cálculos, poderia não ser de Khalil.
Por um minutinho gostou da ideia de ter um filho de Lorenzo, como amaria aquele bebê!
A sanidade retomou e ela sentia medo, torcia para que, se de fato estivesse grávida, que perdesse logo.
Não rezava, pouco acreditava, mas pediu com fervor que aquilo fosse só menstruação.
                                         ***
Khalil não quis se importar com Lorenzo nos últimos tempos, estava quase que cem por cento confiante de que a história que tenha tido com Alice ficou no passado e ambos estavam bem amadurecidos. Resolveu fumar ainda mais para acalmar-se e controlar o instinto impulsivo de encurralar as pessoas, a ponto de não importar-se com o rapaz.
Apreciou o vinho que comprou havia um mês com a esposa somente naquele momento, lhe agradava muito, o rapaz era talentoso, de fato. Observou as reações de Alice, que em momento algum se abalou.
— Comprei lá no restaurante de Lorenzo, quando seu pai me levou. -Khalil jogou um verde.
— Sim, eu sei. Só ele vende sabores bem exóticos por aqui.
— Ele deve ter provado uma “Alice” bem exótica para esta criação.
— Sim, há muito tempo. Muito tempo mesmo.
— Então estou certo? - Sorriu sugestivo.
— Sobre?
— Sobre vocês…
— E posso saber porquê você queria estar certo? Há muito e muito tempo. Você deveria parar de querer saber tudo sobre a minha vida antes de te conhecer.
— Está irritadinha?
— Não. Mas eu nunca fui a virgem Maria. Se você ficar revirando meu passado vai ficar triste em saber que não rompeu meu lacre, chuchu.
— Ah, que pena! Achei que tivesse sido o único. - Ironizou.
— Não foi, mas quer ser o último para sempre?
— Quero. Posso conviver com essa de ser o último numa boa!
O marido viajaria no dia seguinte e ela queria garantir o clima entre os dois, tirar qualquer desconfiança que ele pudesse ter. Durante a ausência dele decidiu que faria um teste de gravidez e contaria o tempo se fosse positivo, tentaria enfiar a criança goela abaixo dele alegando que o bebê era seu filho, sendo ou não. Simples.
Fez estes planos enquanto recebia as carícias quentes de Khalil.
O casal estava sem pudor algum, à noite, no jardim próximo às rochas que davam para o mar, o vestido de Alice tampava, desnecessariamente, a intimidade dos dois.
Enquanto “cavalgava” rapidamente sobre ele, pediu:
— Meu amor, me dê um filho! Quero um bebê.


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