Prisoner escrita por bitterends


Capítulo 22
Pânico Lento e Profundo


Notas iniciais do capítulo

Vamos voltar incendiando tudo.
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/615880/chapter/22

Alice finalmente recebeu alta hospitalar e Matheo decidiu dar um jantar para celebrar as boas mudanças que ocorreram após o ato insano da filha. Chamou alguns amigos incluindo Lorenzo e as primas, que a contragosto aceitaram o convite.
Anitta fez questão de preparar tudo, o clima contribuiu para que o quintal florido fosse o palco da singela reunião, onde a longa mesa jazia soberana e pronta para abrigar os convidados.
Khalil pela primeira vez apareceu em trajes completamente despojados para os sogros, vestindo um jeans azul levemente justo e uma camiseta de algodão branca, tênis All-Star e sem seu memorável relógio dourado. Prestativo, ajudava os sogros com a
organização com um sorriso gigante estampando-lhe o rosto.
— Arrumamos quase tudo já e Alice nem deu as caras ainda. - Iniciou Matheo.
— Ela está se preparando para nos provar que é capaz de ficar ainda mais incrível. - Retrucou Khalil, tirando um sorriso de seu sogro.
— Eu não consigo entender… Por que vocês chegaram ao ponto de brigarem daquela forma, de se separarem?
Khalil suspirou antes de responder.
— Me senti sugando a juventude dela, sempre a quero do meu lado, não suporto ficar longe…
— Paixão, isso é normal. - Disse o senhor, olhando em seus olhos.
— É que acabamos por nos sufocar de ciúme, então achei que estivesse fazendo o melhor me afastando dela. - Khalil falou fitando os próprios pés.
— Digo a você o mesmo que disse a ela: perdoem-se a si mesmos e depois, um ao outro. Já vi que estão dispostos, pois fizeram esta mudança. Você mesmo, deixou a diplomacia,
seu país e decidiu se permitir. Todos merecemos uma segunda chance! Ah! E Alice precisa de ocupação, ela fica meio infernal quando tem muito tempo livre. - Finalizou o senhor com uma piscadela e um tapinha nas costas do genro.
Ambos sorriram e Khalil experimentou uma sensação de paz.
As boas figuras masculinas que lhe passavam aquela sensação eram Salim e Samir, os irmãos que trabalhavam para ele antes mesmo de seu nascimento. Salim sempre tentou
animá-lo e confortá-lo, dócil e de abraço quente, sempre se esforçou e o amou como um filho. Samir era alguns anos mais novo que o irmão e guardava seus segredos, principalmente os mais graves. Matheo involuntariamente e sem o consentimento do
genro, entrou para este grupo sem pedir licença.
Khalil naquele dia jurou por sua vida, que jamais faria mal aos sogros.
Era conhecido por ser um homem de palavra.
                                               ***
Lolita abotoava a camisa de Lorenzo, enquanto conversavam e Millene tomava um banho demorado para relaxar o corpo e preparar o psicológico para estar no mesmo ambiente que Alice.
— É tão constrangedor, Lola. Não queria lidar com ela agora… mas quando aqueles velhinhos doces vieram nos convidar, me senti encurralado. - Reclamou o rapaz.
— Sim, mas acho que se gostamos tanto deles, precisamos engolir algumas situações. E nós temos que ter o dobro de jogo de cintura, me preocupo com Mi.
— Não acho que devemos nos preocupar, será uma situação diferente, terão mais pessoas e o senhor bonitão egípcio estará presente… Millene é educada e não provocará algo desagradável. Alice tem medo do marido, não fará besteira, pode apostar.
— Pode ser, mas eu não confio muito nas pessoas. E a maior semelhança entre você e sua
prima é que são muito transparentes, fica estampado na cara de vocês seus pensamentos. A única coisa que estou pronta para apostar é que a noite vai ser bem longa.
Os três foram os primeiros a chegarem na recepção, com garrafas de vinho em mãos para presentear os anfitriões.
Foram recebidos por Matheo e Anitta, sorriam tensos, mas ainda não viam sinais do casal no quintal decorado com charme.
Khalil tinha entrado na casa para fazer algo que sabia que a esposa odiava: apressá-la.
Encontrou-a tentando cachear os fios curtos de cabelo com um baby-liss e ainda nem estava maquiada, enfiada num vestido tubinho decotado em V, preto e curto. Ao olhá-lo da cabeça aos pés, deu um leve sorriso e em seguida questionou:
— Que roupa é essa?
— Ah, como é ocasião mais fraterna e a noite está quente, pensei que estivesse adequado.
— Abraçou-a por trás, beijando-lhe o pescoço. - E você? Ainda demora muito? As pessoas começaram a chegar e você está fazendo todos esperarem…
— Querido, não me apresse. Ainda estou me vestindo, meu cabelo nem está pronto. Não tem nenhum desconhecido, eles vão esperar.
— Tudo bem, então vou continuar esperando e esperando mais algumas horas por você lá
fora. - Soltou-a e foi se afastando devagar.
— Te prometo que vai valer a pena, você vai querer me amar a noite inteira. - A moça encurralou-o na parede, colando o corpo ao do marido e beijando-lhe nos lábios.
— Ao invés de falar que eu vou querer isso ou aquilo, você deveria me conquistar! - Sorriu maliciosamente. A jovem levou uma das mãos dele para baixo do vestido e os beijos se tornaram ainda mais vorazes e estenderam-se ao longo do tórax de ambos. - Ok, estou conquistado! - Com dificuldade ele a afastou e se recompôs. - Agora eu vou te esperar lá fora, mesmo, senão vamos dar bolo em todo mundo porque vou querer te sequestrar.
Khalil correu dali e se trancou no banheiro social para recuperar o fôlego e ir para junto dos sogros para conhecer as pessoas, quando chegou no quintal, haviam cinco pessoas; um casal mais velho conversava com Anitta e um trio bastante jovem com Matheo.
Um jovem e uma moça loiros que ele deduziu serem irmãos pelas semelhanças e uma moça de aparência bastante agradável junto a eles. Ao avistá-lo, o sogro chamou-o para o círculo.
— Khalil, estes são amigos de infância de Alice! Lorenzo, Millene e Lolita. Crianças, este é meu genro querido. - Apresentou-os.
— É um prazer conhecê-los! - Abriu um sorriso encantador e abraçou a cada um.
— O prazer é nosso! E eu vou ser bastante sincera, estou especialmente feliz em conhecê-lo pessoalmente. - Disse Millene, recebendo um olhar reprovador de Lolita. - Me desculpe, é que sou sua fã há muitos anos, eu li todas as suas entrevistas, suas dicas em colunas de jornal antes mesmo de você se casar com Alice.
— Millene, pare de tagarelar. É um encontro de amigos, mulher! Contenha-se. Desculpe, senhor Abdu. - Ponderou Lolita enquanto Lorenzo sorria sem graça.
— Senhor Abdu? Você está de brincadeira, não é? - Brincou Khalil. - Me chamem pelo nome, me deem apelidos, mas não volte a me chamar de senhor para que nós possamos ser amigos, vai? Eu gosto de receber uma massagem no ego… Millene…? Então pode
me tietar, eu adoro. - Descontraiu e todos conseguiram rir menos tensos.
— Eu vou deixá-lo com os mais jovens, para socializar com as pessoas mais divertidas da noite, possivelmente. Meninos, ele é legal! - Disse Matheo, afastando-se do grupo.
— Puxa, que bom! Achei que seriam só casais mais velhos aqui hoje, nada contra, mas eu
sinto tanta falta de gente da minha idade… ou quase da minha idade… E que surpresa, minha mulher tem amigos! - Tagarelou para quebrar o silêncio.
— Haha… Eu não sou da sua idade, não. Ainda estou na casa dos vinte! - Millene ousou.
— Que audaciosa! Eu estou na casa dos vinte também! - Os três olharam-no. – Claro que são duas vezes vinte, mas não é importante né? - Os três riram. - Vocês não têm acompanhantes?
— Ah, nós somos casadas! - Manifestou-se Lolita. - Inscrevemos o Lorenzo num site de relacionamentos, mas ainda não se interessaram por ele.
— Nossa, vocês são lindas! Não sei quem é mais sortuda. Ah, Lorenzo… você deve ter uma qualidade especial, vai?
— Eu cozinho, mas as mulheres estão nessa onda de emagrecer que preciso aprender outra coisa. Acho que vou investir em fisioculturismo! - Finalmente Lollo falou algo, ainda
pouco a vontade na presença daquele homem.
— E ele é o melhor, mas a chatisse supera tanto que espanta as coitadas. - Millene brincou.
— Eu tenho uma amiga que se chama Valentina, ela é bem chata e solteirona também. Só que ela gosta de comer, acho que vocês podem se dar bem! Brincadeiras a parte, acredito que você deva estar em outro foco, porque é agradável aos olhos.
— Tem razão, Khalil. Eu me dedico inteiramente ao nosso negócio, é tudo o que temos hoje e acabo não saindo pra me divertir ou conhecer alguém. Sou muito focado e fico tão satisfeito com o que faço que acabo não sentindo falta de uma relação. Estou me recuperando ainda de uma paixão que me jogou no fundo do poço, a pessoa mentiu pra mim e eu quero viver um jogo limpo.
— Eu tinha medo de viver uma ilusão, desde novo, ainda tive exemplos ruins em casa, aí também mergulhei no trabalho. Mal não fez, foi bom esperar… Bom, vocês tem um negócio? É em qual ramo?
— É um restaurante, nossos vinhos, queijos, azeites e massas são todos artesanais, feitos por mim. - Respondeu Lollo.
— Nós cuidamos de toda a contabilidade, administração e logística, porque vendemos para fora também. - Complementou Lolita.
— Um negócio completo! Que legal, estou ansioso para conhecer o restaurante, Lorenzo. Agora teremos mais oportunidades, já que nos mudamos. - Respondeu Khalil.
— Se mudaram? - Lollo perguntou, com certa surpresa no olhar.
— Sim, para Nápoles. Ainda é um pouco distante daqui, mas nada que boa disposição para dirigir não faça.
Saber que o casal estaria por perto atordoou o trio, que fizeram de tudo para disfarçar.
Lorenzo não sabia como seria dali pra frente, mas estava decidido em manter-se longe de Alice o máximo possível, até que ela recuperasse o laço com os pais e os distraísse de sua ausência.
Simpatizou com Khalil e estava começando a duvidar que ele havia agredido mesmo a esposa, pois o homem era carismático em demasia e tinha sorriso fácil acompanhado sempre de papo agradável. Sabia bem que a moça tinha uma personalidade complicada de lidar e transtornos que os pais e ela se recusavam a falar, e se ela imaginou aquilo tudo? E se ela fingiu para que eles se envolvessem por nostalgia? Definitivamente, não queria pensar mais. Não queria buscar respostas e nem saber quem mentia ou não. Só queria distância.
A moça apareceu e ele de repente não queria mais distância nenhuma, apreciou o corpo curvilíneo metido no vestido preto, colado e decotado. Observou os seios firmes sobressalentes no decote, como o cabelo curto deixava seu colo ainda mais sensual, no maravilhoso sorriso estampado em seu rosto e o brilho provocante em seu olhar.
Cada segundo mais perto do pequeno grupo em que o loiro estava.
Lollo precisou desviar o olhar para controlar seus sentidos, pois o próprio corpo queria lhe sabotar. Ao levantar a cabeça, Alice estava enlaçando o marido. Deu-lhe um beijo ardente de paixão. Lorenzo quis chorar. Aquela aliança no dedo anelar esquerdo do homem era pra ser dele, aquele beijo era pra ser nele, aquela mulher era para ele. Jurou para si.
“Nunca mais, Alice. Nunca mais.”
Millene cerrou os punhos atrás das costas ao perceber a provocação da moça para seu primo, Lolita desviou o olhar.
Khalil afastou a esposa sutilmente, um pouco envergonhado por raramente demonstrar publicamente tanto afeto, entrelaçou seus dedos aos dela e a esperou cumprimentar o trio à frente dela.
Afastaram-se para que Alice cumprimentasse todos os demais convidados presentes.  “Um monte de gente velha”, pensou ela.
— Daria muito na cara se eu dissesse que estou maluco pra ir embora agora? - Lorenzo comentou com a prima.
                                          ***
Duas semanas depois do jantar, Matheo havia marcado com o genro de levá-lo para conhecer o restaurante de Lollo.
As mulheres estavam fazendo compras para o novo lar do jovem casal, então os homens foram a sós.
O lugar era familiar para Khalil, na última visita que havia feito aos sogros meses antes lembrava-se de ter comprado um vinho na adega anexa ao restaurante.
O ambiente era de muito bom gosto e ambos foram recepcionados pelo próprio Lorenzo.
— Não é agradável aqui, Khalil? - Perguntou o sogro.
— De fato, muito bom gosto. Parabéns Lorenzo! É um ótimo lugar. Vim com fome, quero apreciar sua melhor especialidade.
Foram servidos com uma boa pasta de molho vermelho, com ervas frescas e vinho suave para acompanhar.
Khalil observava o jovem loiro, como quem quer decifrar a outra pessoa. Desconfiado. Achou que o desconforto que o rapaz tentava esconder dias antes no jantar era apenas timidez, que o olhar para Alice era apenas saudade por tanto tempo longe, mas ambos só trocaram os cumprimentos. A esposa nunca o agarrou tão provocativa em público, em especial na presença de seus pais. Ali tinha coisa.
Tentou se lembrar do nome do vinho que comprou quando esteve naquela adega.
Quando Lollo perguntou se queriam mais alguma coisa, Khalil respondeu:
— Quero um vinho, para levar. Aquele… Dolce Piccante Alice.
Penetrando o olhar em Lorenzo, reparou em cada poro abrindo-se, o suor que de repente brotou em sua testa e os olhos azuis mudando para cinza rapidamente. O corpo de Lollo era ótimo para denunciá-lo, o egípcio teve certeza do envolvimento passado de ambos.
Matheo estava no toalete enquanto isto ocorria.
— Foi uma homenagem a alguém, Lorenzo? - Incitou.
Lollo estava transtornado, o tom amável e o sorriso de Khalil haviam desaparecido.
Engoliu um seco.
“Ele já sabe.”


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Prisoner" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.