Prisoner escrita por bitterends


Capítulo 20
Bem Acordada


Notas iniciais do capítulo

O tempo está contra alguns, a favor de outros... A única certeza é que ele não para.
Boa leitura!



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Horas depois, quase ao anoitecer, Khalil chegou ao hospital central de Amalfi. Tentou afastar os pensamentos de culpa e substituí-los por coisas amenas e que sua esposa estaria bem.

Encontrou os pais de Alice no corredor e pediu explicações a eles.

— Eu a encontrei muito triste hoje pela manhã, ela disse sentir muito sua falta e que não queria viver sem você. Um tempo depois Anitta percebeu algo no quarto dela e fomos verificar. Encontramos Alice na banheira… - Respondeu Matheo, com voz trêmula.

— Ela tomou comprimidos, antidepressivos… Adormeceu na banheira cheia, aspirou bastante água, fomos rápidos, mas há complicações tardias… - Desta vez, Anitta quem falava.

— Não entendo! Que complicações são estas? - Disse Khalil, atônito.

— Nestes casos, o sobrevivente desenvolve infecções pulmonares, os pulmões entram em colapso e ela pode vir a ter insuficiência respiratória. - Retomou Matheo.

— Não, isso não vai acontecer. Ela teria de ficar muito tempo embaixo d’água para todas essas coisas acontecerem! - Retrucou o homem, beirando ao desespero.

— Os remédios são agravantes, querido. - Anitta disse com doçura, tentando encontrar a calma para tranquilizar o genro, imaginando o quanto ele se sentia culpado.

— Ficarei com minha esposa, até que ela acorde. - Khalil afirmou cabisbaixo.

 Pouco depois, Alice começou a despertar. Tossiu algumas vezes e sentiu seu peito queimar, virando lentamente a cabeça pôde ver seu marido sentado ao lado de sua maca.
Khalil aproximou seu rosto abruptamente e os reflexos da moça a fizeram se encolher.

 – Você acordou! Está se sentindo bem? - perguntou ele, nervoso.

— Estou péssima… meu peito dói muito! - respondeu a moça, pausadamente, levando uma das mãos ao peito.

— Alice, por que você fez isso de novo? Que covardia! Você tem noção de como seus pais estão?

Lágrimas começaram a rolar pelo rosto dela.

— Eu não quero viver sem você, Khalil. Prefiro morrer.

A mulher começou a tossir compulsivamente e o ar começou a lhe faltar. Os olhos saltaram enquanto ela arfava e tentava puxar o ar para seus pulmões. Seu marido se desesperou, foi ao corredor e gritou por algum socorro.

Uma enfermeira correu até o quarto com mais dois auxiliares e os três colocaram o homem para fora dali.

Ligaram o oxigênio e colocaram a máscara em Alice, que pouco depois respirava melhor.

“Fui fazer uma cena com esse idiota de meu marido e não conseguia respirar de verdade!”

— O que ainda estão fazendo aqui? Chispem! - Gritou com a equipe que lhe atendia.

— Senhora, seu caso é delicado e suspeitamos que esteja desenvolvendo pneumonia. Precisamos ficar. - respondeu em tom ameno a gentil enfermeira.

— Quero meu marido aqui, agora!

— Ele está desequilibrado, não pode ficar com você agora.

— Justamente por isso o quero aqui, comigo! Tudo isso é culpa dele.

 Os presentes naquele quarto entreolharam-se e a enfermeira contemporizou:

— Cada qual com seus problemas, roupa suja se lava em casa, aqui é um hospital e seus caprichos não serão acatados.

Com relutância da moça teimosa, cuidaram da infecção que se formava, a medicaram e logo ela cedeu aos efeitos dos remédios intravenosos.

Mais calmo, Khalil pôde retornar ao quarto de sua esposa e velar seu sono induzido.

 Vendo-a com rosto distendido, ela parecia uma doce garota, um querubim de cabelos negros. Acariciou-os e percebeu que seus fios começaram a crescer.
Olhou para aquele corpo curvilíneo adormecido, visão angelical, mas falou em voz alta:

— Está tudo bem, não sei onde vamos parar, mas eu não vou te deixar de novo. Eu nunca quis o divórcio.

E Alice, que ele pensava estar dormindo, toda essa promessa ouviu.

Esboçou um leve sorriso, fazendo o marido se derreter e se apaixonar outra vez.

 Ela não tinha um plano traçado, nem sabia como faria para que Khalil sofresse muito, uma vez que ele parecia sempre não se importar com o restante do mundo, apenas o viu atordoado quando ela tentou suicidar-se. Buscou na memória outras coisas, mas era realmente difícil… Sabia que ele tinha pavor de ser traído por ela, algo que ela tinha pavor que ele descobrisse que já estava acontecendo.

Lembrou que eles quase brigaram feio quando ela falou com escárnio das instituições mantidas por ele, cheias de criancinhas e prostitutas… Quem sabe ali conseguiria atingir o coração rochoso de seu marido?

 

***

 No dia seguinte, Alice viu os pais pela primeira vez, que revesaram para que Khalil pudesse ir para a casa deles fazer a higiene e descansar um pouco.

Figlia, o que se passou na sua cabeça? É um tremendo pecado. Não sabe o quanto nos preocupamos com você! - Disse Anitta.

— Uma dor muito forte, mama. Meu marido quer me deixar, sempre me dediquei ao nosso lar, não sei o que houve! - Mentiu.

Miele, ele não quer te deixar. A ama muito e veio depressa para cá… Cruzou dois países em quatro horas. Se tivesse um foguete a postos, teria usado. - Emendou Matheo.

— Ele sentiu pena. - A moça fez muxoxo.

— Pode ser, mas ele sente mais amor por você do que qualquer outro sentimento.

 “Ele me espancou, mas me ama.

Ele me estuprou, mas me ama.

Ele despertou meus monstros, adormecidos haviam anos… mas me ama!

O amor machuca.

O amor dele me machucou, agora o meu amor é que vai machucá-lo.”

 Uma lágrima sincera rolou pelo rosto de Alice.

 Cada dia mais, perdia o controle de suas emoções, estava apática. Em muitos momentos, não sentia amor nem por seus pais nem por si mesma. Sentia uma série de “nada”.

No início de seu casamento, desejou muito um filho, para que ele suprisse e preenchesse seus sentimentos, pois diziam que um amor de mãe curava tudo e que era impossível uma mulher não amar seus rebentos. Porém Khalil não serviu sequer para lhe dar filhos, até nisso a fazia sofrer.

Pouco mais tarde, quando o marido entrou novamente em seu quarto ela o estava odiando com todas as forças por não ter sido mãe.

 – Você me parece melhor. - Beijou a testa de sua esposa e entregou-lhe uma rosa vermelha.

— Meu peito ainda arde, eu não gosto de rosas, você sabe… - Respondeu com toda doçura que conseguiu, mesmo querendo gritar com o homem.

— Eu sei, eu sei. Senti sua falta… Queria muito te ouvir reclamar de algo.

 Khalil sentou ao lado de Alice, tocava suas mãos e seus ombros o tempo inteiro, beijava-lhe no rosto e na boca a todo momento. Se pudesse a amaria ali mesmo.
Conversaram amenidades o dia inteiro e não houveram brigas nem ataques um contra o outro. O homem reforçou de que não estava mais disposto ao divórcio e que tudo seria diferente. Alegou que estava em terapia e que não deixaria as sessões enquanto vivesse.

 “Espero que não viva tanto”. Pensou Alice.

 Por trás dos grandes vidros, Lorenzo aproximou-se para visitar a amante, não foi visto por ela nem por seu marido. Viu as trocas de beijos, carícias e os sorrisos doces de Alice para Khalil, por uns dois minutos.
Pensou que fosse morrer de dor no peito, engoliu um seco.

 – Entre, querido! Khalil vai gostar de conhecer você. Alice também ficará feliz em vê-lo. Eu jamais deixaria de te avisar sobre essa situação. - Disse Matheo.

— Sabe, seu Matheo. Houve uma emergência no restaurante e eu não vou mais poder entrar e conversar. Uma pena…

— É uma pena… - desconfiou o senhor. - Tudo bem, vou te manter informado e você volta amanhã.

— Sim, espero sinceramente que ela não esteja mais neste hospital amanhã!

— Concordo, quero levar minha filha para casa logo.

— Levará, sim. Eu amo vocês, até mais. Arrivederci.

Arrivederci, Lorenzo.

 Matheo conhecia o garoto desde sempre, sabia que ele estava incomodado e esperava suspeitar erroneamente.

 

***

 Lorenzo retornou transtornado, decidiu que não veria mais Alice, somente em ocasiões em que envolvessem os pais dela, pois amava muito o casal.
Estava pronto a pedir desculpas para Millene e admitir que ela estava certa sobre tudo e que nunca mais colocaria o amor de sua prima à prova.

Entrou em casa abruptamente e foi direto ao quarto das mulheres.

Encontrou a porta dos aposentos delas aberta e ficou incrédulo com a cena em sua frente.

— O que vocês estão fazendo?

— Estamos de mudança, Lollo. - Respondeu Millene.

— Somos um trio, como vocês podem me deixar? - Perguntou, com lágrimas brotando nos olhos.

— Eu não aguento mais, Lorenzo. Não paramos de brigar, eu não quero assistir você estragando sua vida com aquela mulher.

— Você tinha razão sobre tudo, eu quero pedir desculpas… Só por favor, fiquem. Lola, diz pra ela… - Ele entrava em desespero.

— Lollo, sinto muito. É uma decisão nossa. Apenas se Millene decidir que não nos mudaremos mais, iremos mudar de ideia.

— Mi, o que eu devo fazer para ter vocês aqui comigo? Qualquer coisa, por favor! Eu imploro.

 Vê-lo daquela forma mexeu com as emoções das parceiras, que se entreolharam e como se conheciam tão bem apenas pelo olhar, Millene deu seu veredicto.

 – Não deveríamos. Só que eu te amo muito, Lorenzo, como meu irmão. Você é toda minha família de sangue e de alma, só tenho a você e Lolita na vida. Ficaremos, com apenas um pedido.

— Qualquer coisa, minha irmã. Qualquer coisa por você. Por vocês.

— Lorenzo, eu te quero muito longe de Alice. Quero o fim dessa amizade. - Disse firme.

— Vocês tinham razão, ela voltou para o marido e eu não posso competir com ele…

— Você é maravilhoso, Lorenzo – Afirmou Lolita. - Nunca conheci alguém tão incrível quanto você, depois de minha Mi, claro. É que cada um está em busca de suas satisfações e do que se encaixa melhor com sua vida e seu modo de pensar. Você merece alguém que se comprometa apenas contigo, sem um passado tão pesado e uma indecisão eminente. Alguém que esteja decidido a estar com você e que seja sincero. Siga em frente no amor, já se passaram muitos anos.

— Eu amo vocês acima de tudo. - Disse abraçando coletivamente as mulheres.

 

***

 Khalil se levantou da cadeira e andou de um lado para outro, anunciando:

— Eu quero sair do Egito. Sair do Cairo… quero me livrar daquela casa, daquelas lembranças.

— O que você tem em mente?

— Vamos nos mudar para cá… quero que fiquemos perto de seus pais, que você tenha companhia quando eu viajar…

— Não estou doente, sempre fiquei só.

— Eu sei, é que eu cansei de ser sozinho e acredito que seus pais adorariam tê-la mais perto. Ficamos muito tempo sem vê-los, quase três anos é muito tempo.

— É que tivemos momentos difíceis…

— Eu sei. - Khalil abraçou a esposa. - Agora será tudo diferente. Vamos mudar nossa vida inteira, mudar de casa, cidade, estado, país! Vamos mudar tudo? Eu estou decidido.

— Minha opinião não mudará sua mente, mesmo.

— Difícil… Porém confesso que me sentirei mais tranquilo com sua aprovação. - Sorriu.

— Não aprovo, teríamos que pensar bastante, mas o que fazer? Você é teimoso e não escuta ninguém.

— Te deixo escolher a casa.

— Você acha que vai me comprar com essa proposta? - Alice fez cara de incrédula.- Saiba que eu amo o mar. - Deu um largo sorriso.

 Khalil ficou satisfeito com todos os planos em que faziam dentro daquele quarto, estava tão feliz que não notou uma preocupação estampada no rosto de sua esposa.
Alice não parava de pensar em Lorenzo e que o tempo estava totalmente contra sua segurança e integridade física.


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