Prisoner escrita por bitterends


Capítulo 19
Com ou Sem Você


Notas iniciais do capítulo

Espero que gostem bastante!
Buona lettura!



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Khalil estava deitado na cama em posição fetal, agarrado ao vestido azul que havia dado para a esposa no início do casamento. Tudo ainda tinha o cheiro dela, mesmo depois de um mês.

Sentia-se ridículo por estar deitado naquela posição em plena segunda-feira, beirando as 15:00h da tarde, quando deveria estar preso no escritório pensando se ainda valia a pena estar no mundo da política. O Egito estava entrando num derradeiro caos político e ele já havia retirado do país a maior parte de seus negócios, queria mudar-se dali, se livrar de vez dos vestígios da personalidade agressiva de seus antepassados.

Na realidade, ele estava louco para incendiar aquela casa e virar cinzas junto com ela.

Com dificuldade decidiu se levantar e tomar um banho quente. Demorou apenas cinco minutos, vestiu-se e desceu as escadas para o porão que abrigava sua oficina mórbida.

Olhou para seu majestoso amigo, Khan, que o olhava de volta, imóvel, empalhado. Deu-lhe um afago.

 

— Me perdoe, meu amigão, mas pedi para Samir me trazer outro como você. Ele nunca será você. É que eu me sinto sozinho, sem nenhum amigo e preciso de algo que responda aos meus carinhos.Você já não faz isso há muito tempo, Khan.

 

Bebeu o que não bebia haviam meses, embriagou-se pouco mais de duas horas depois. Aproveitou uma inútil lareira naquele cômodo, acendendo-a, pegou com muita dificuldade um dos animais taxidermizados e atirou nela.

 

— Chega de guardar o que já morreu.

 

***

 

Alice estava apática durante a última semana e seus pais estavam preocupados, avisaram a Lorenzo que a moça encontrava-se na cidade, em sua casa e o rapaz não coube em si de felicidade. Correu para vê-la.

Entrou no quarto da moça e fechou a porta. Agarrou-lhe e roubou um beijo.

— O que você fez, Lollo? Aqui não!

Mi dispiace, miele. O que aconteceu? Você está preocupando seus pais.

— Khalil me pediu o divórcio.

O sorriso no rosto do rapaz foi inevitável.

— Você não deveria estar feliz, Alice?

— Não sei o que sentir, eu queria que ele sofresse o que eu sofri.

— Querida, cada um tem seus próprios demônios na mente para lidar. Talvez ele sofra todos os dias, sinta remorso pelo que fez, sei lá. Deixe essa vontade de se vingar para trás e aproveita essa chance de ser feliz!

Che dolore. Não é fácil.

— Eu estou aqui, vou te ajudar a passar por isso.

Lorenzo a abraçou forte e beijou sua testa carinhosamente. Ela suspirou e retribuiu o abraço.

— Vamos sair daqui, Lollo.

 

Ambos caminharam um pouco pela orla de Amalfi e seguiram para a divisa com Atrani, falaram o tempo inteiro sobre coisas triviais e  outro punhado de coisas que faziam no passado.

Em meia-hora chegaram na propriedade que a moça conhecia bem.

— Eu preparava as massas para um jantar aqui em casa antes de encontrá-la. Vou finalizar a comida, você é minha convidada hoje.

— Lollo, depois eu pensei… A esposa de sua prima, depois de nos ver aquele dia, comentou alguma coisa?

— Lolita? Não. Ela agiu como se nada tivesse acontecido, eu esperava que assim fosse. Ela é muito compreensiva, de confiança e discreta.

— Não duvido, é que Millene é esposa dela, entre um casal não há segredos… Ou deveria não haver.

— Querida, está tudo bem agora. Não precisamos nos esconder.

— Calma, legalmente ainda estou casada. Posso sofrer processo de adultério na hora do divórcio e perder tudo o que é meu, que eu conquistei!

— Meu amor, eu tenho todas as condições para sustentar você! E sou um ótimo cozinheiro.

 

O rapaz soltou uma piscadela e Alice sorriu.

A prima demoraria com a esposa para chegar em casa, ambas avisaram que após o expediente, sairiam para fazerem compras, então Lorenzo teria tempo para se deliciar com sua amada.

Ele a conduziu ao seu quarto e ali se despiram com rapidez e vontade.

Alice apoiava-se com os braços estendidos na parede enquanto ambos namoravam um ao corpo do outro, quando pediu ao rapaz:

— Me bate.

Ele parou de se movimentar e afastou-se de Alice.

— O que?

— Bata em mim! Na minha bunda! Puxe os meus cabelos! Me morda. E… não pare o que estava fazendo.

— Ora, para que tanta violência? - Sorriu ele, entre assustado e malicioso.

— Na cama, querido, vale qualquer coisa.

Dio mio.”

Alice rugia feito um animal, empurrou o homem para a cama e montou como se estivesse num cavalo. Rápido. Ela cravou as unhas nas costelas de Lorenzo e estremeceu, em seguida ele gritou e todo seu corpo amoleceu.

Permaneceram deitados por alguns minutos, ainda um dentro do outro.

Foram para o banho e se recompuseram para o jantar.

— Alice, você não tem medo?

— De novo essa pergunta? Estou pensando que é o que você quer.

— Eu adoraria ser pai de um filho seu, é verdade. Só que…

— Ora, vamos lá? Fizemos isso várias vezes quando eramos mais novos, fazemos agora... Nunca usei nenhum método contraceptivo com Khalil em todos esses anos e nada nos aconteceu. Eu não posso ser mãe, estou conformada.

— Não sei…

—Você e essa sua intuição, está tirando meu apetite.

— Tudo bem, não precisamos nos aborrecer agora com isso, não é mesmo?

— É. Tudo vai bem.

 

A moça ajudou o dono da casa a colocar a mesa de jantar e ele finalizava tudo para servir.

A prima e sua esposa retornavam no momento em que ficou tudo pronto.

— Que cheiro delicioso! - Gritou Millene da entrada de casa e Lorenzo correu para recebê-las.

— Hoje cozinhei para nós, tenho uma convidada.

— Humm… Eu até diria que deve ser uma convidada especial, mas você sempre cozinhou muito bem. - Disse Lolita, em pouco desconfiada, suspeitando de que conhecia a tal convidada.

Ele sorriu e conduziu as mulheres para a sala de jantar. Puxou as cadeiras e elas se acomodaram.

Trouxe da cozinha a massa e Alice, que sorriu angelical para as duas.

Millene fechou a cara rapidamente.

— Lembram meninas, de minha amiga Alice?

— Olá, quanto tempo! Acho que eu e Mi ainda nem namorávamos a última vez que a vi. - Disse Lolita, tentando ser cordial.

— Eu queria muito me lembrar de você, perdoe minha memória traiçoeira! - Respondeu Alice.

— Sem problemas!

— Puxa, Millene. Você ainda era uma criancinha quando a vi pela última vez. Continua parecendo um querubim.

— Verdade. Aliás, você se casou não é? Um homem muito bem apessoado, bonito pra caramba e dono de um bocado de grana! Sempre leio matérias com ele, o cara é muito inteligente além de tudo. Eu adoraria conhecê-lo. - Respondeu a moça, sarcástica, deixando todos em uma bela saia-justa.

— Receio que não seja possível… - iniciou Alice.

— Alice está passando por uma crise no casamento, Mi. - Completou Lollo.

— Ah, claro. Querida, você precisa mesmo de amigos num momento assim, é difícil passar por esse momento sozinha. Lollo, você esqueceu o queijo ralado, pode buscar? Per favore?

Contrariado, ele foi.

— Escuta aqui, Alice… - começou Millene.

— Amor, por favor! - Interrompeu Lolita.

— Cala a boca, Lolita! Não se intromete! - Apontou o dedo no rosto da esposa. - Então, Alice. Para o bem de Lorenzo, volte para sua casa, para a de seus pais, para a quinta dos infernos! Onde preferir! Você é casada com um cara muito importante, imponente... você não pensa em Lorenzo e no que seu marido pode fazer com ele se descobrir essa aventura idiota? Meu primo é tudo o que me restou da família... Ele sofreu de amor por sua causa, então por favor, não use-o para sua carência .

— Millene, seu primo é adulto e sabe o que quer da vida dele. Já te falei isso mil vezes. Alice, resolva sua situação, não queremos problemas para Lorenzo.

— Meninas... obrigado por toda a preocupação, mas a minha convidada não precisa ouvir sermão. Ok? Aqui está o que pediu, Millene. - o rapaz bateu o frasco com o queijo ralado sobre a mesa, tomando a mão de Alice os guiou para fora da casa.

A moça estava estarrecida, não teve tempo para processar todas as coisas que ouviu. Sentia raiva de Millene e queria falar horrores. Oscilou, porque até uma estranha havia percebido a imponência e poder de seu marido.

“Ex marido.”

 

— Você apontou o dedo para mim, gritou! Não foi justo.

— Me perdoe querida, mas eu não aguentei ver aquela mulher aqui. Não estou acreditando que Lollo fez isso comigo... - Lolita respirou fundo e abraçou a esposa.

— Querida, acho que está na hora de vivermos em nosso cantinho. Só nosso. Aceite que seu primo adora essa moça e estou tão cansada de ver vocês dois brigando tanto…

— Não posso deixar Lorenzo sozinho… - Lolita se afastou da amada.

— Então se acostume com a possibilidade dessa moça estar conosco por mais vezes.

Todos estavam virando as costas para Millene, literalmente, naquela noite.

***

 

— Pensei nas coisas que sua prima me disse… - Já em Amalfi, sentados numa ponte sob o luar, Lollo e Alice conversavam. - Ela está certa, sabe? Mesmo que Khalil quem tenha pedido o divórcio, ele vai ficar enfurecido se descobrir que estamos juntos logo após nossa separação. Ele pode te prejudicar de verdade.

— Não tenho medo.

Ma che cosa! Eu conheço Khalil melhor que ninguém, isso porque cada dia que passa descubro que o conheço menos do que imaginava… Vamos parar por aqui. Foi ótimo estar com você, mas eu vou dar uma chance ao meu casamento.

— Você só pode estar brincando comigo! Você está de palhaçada com a minha cara! ELE NÃO TE QUER MAIS! Ele pediu o divórcio! Ele não te atende há um mês. É nossa chance de sermos felizes desta vez! Ele fez atrocidades com você…

— Lollo, é a vida. Sua prima não gosta de mim, vocês moram todos juntos… Não quero passar por isso. Prefiro a vida com Khalil do que viver sem privacidade com você.

— Eu nunca vou te entender.

— Só saiba que eu te amo, quero o melhor para você. Quero sua segurança e Khalil vários quilômetros de distância de você.

— Que marmelada. Que papinho pra boi dormir… Você quer se vingar desse cara, é isso o que você quer! Vem cá, você é doente?

 

Alice começou a gargalhar.

 

— Alice, sua louca. Você acha que estou contando alguma piada? Eu estou te avisando que isso não vai acabar bem. Deixe esse homem em paz, não quero que ele volte a encostar em você.

— Lollo, eu sei me cuidar.

— Se soubesse, não tinha passado por tudo isso.

— Acontece que sou outra pessoa agora, Lorenzo. Hoje eu sei me cuidar. Quero que você vá embora agora. Outra hora nos falamos.

 

O rapaz bufou, mas se levantou e foi embora sem olhar para trás.

 

***

 

Matheo encontrou Alice sentada no jardim pela manhã, com o rosto avermelhado e os olhos inchados. Beijou-lhe o topo da cabeça e perguntou o que a afligia.

— Eu sinto tanto a falta dele… - respondeu a jovem.

— O que houve entre vocês, figlia? Você já está aqui há muito tempo e não a vejo falando com seu marido.

— Ele não me quer mais, nós brigamos.

Miele, todo casal passa por momentos complicados e falamos coisas que não queremos um para o outro. Logo ele aparece.

— Não quero viver sem ele.

 

Recebeu mais um afago e outro apertado abraço.

A moça decidiu ir para a sua suíte, fechou a porta e encontrou no fundo de sua mala um frasco com antidepressivos – seus velhos companheiros de longa data, deixados de lado pouco antes de seu casamento e voltando para ela havia um ano. Também encontrou seus remédios para dormir e tomou dois deles.

Preparou a banheira para envolvê-la de água morna. Despejou o conteúdo do frasco de antidepressivos na privada e jogou o frasco vazio no chão.

Deitou-se na banheira que começou a esparramar água e inundar o banheiro, reclinou confortavelmente e esperou o sono gerado por efeitos dos remédios acometê-la.

 

Ela se recordou de todo o desespero estampado no rosto de seu marido quando ela tentou se livrar daquela vida.

Daquela vez, fazia para recuperá-la.

Nada como um drama bem feito e uma mentira que parecesse bastante real.

 

Anitta percebeu o barulho da água e a poça que se formava na entrada do quarto da filha. Gritou o esposo, que arrombou a porta para entrar.
Retiraram sua filha da banheira. Enquanto Matheo fazia respiração boca-a-boca e retirava a água dos pulmões de Alice, Anitta chamava a emergência.

Tudo foi rápido, menos a volta da consciência da moça.

 

***

Khalil estava em reunião com investidores de uma nova empreitada sua, em Madrid, na Espanha.

Estava animado com a nova possibilidade de negócio e seu discurso foi interrompido pelo toque de seu celular ecoando na sala. Esperava um telefonema importante e havia avisado que talvez a reunião seria interrompida em algum momento.

Como já esperava uma ligação, sequer checou o número que aparecia na tela e acabou surpreendido com uma voz de forte sotaque italiano, desesperada.

— Venha para Amalfi! Per favore! Avanti!

— Anitta?

Si. Precisamos de você aqui.

— O que houve? - O homem começou a ficar nervoso de ansiedade.

— Alice fez uma loucura. Grave.

— Estou em Madrid, tentarei o primeiro voo para Nápoles, para seguir até Amalfi. Não devo chegar em menos de quatro horas…

— Apenas venha, querido. Apenas venha.

 

Khalil desligou a ligação, juntou todos os papéis que havia espalhado na mesa oval e colocou de volta em sua maleta. Vestiu seu paletó e olhou para todos os presentes.

 

— Senhores, tenho uma emergência e preciso ir. Meus advogados estão à disposição, então façam suas considerações e entreguem a eles, para que eu analise pessoalmente cada uma delas. Desculpem-me o inconveniente, nos vemos logo.

 

Se foi apressado para o aeroporto de Madrid-Barajas.

“Como um homem feito eu fui enlouquecer por uma mocinha cabeça de bagre feito Alice?”

 

Ele estava imaginando o que ocorria naquele momento em Amalfi, algo que ele havia visto um tempo atrás.

“Que covardia usar esse método de novo.”

Resmungou sozinho:

— Ai, Alice. Pelo jeito eu não posso viver em paz, com ou sem você.


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