Prisoner escrita por bitterends


Capítulo 10
Mais Perto


Notas iniciais do capítulo

"Então
Lance alguma luz sobre mim
E me dê suporte nessa descrença
E lance alguma luz sobre mim
E diga-me alguma coisa em que eu irei acreditar"
(Shed Some Light, Shinedown)

Espero que gostem. Boa leitura!



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Millene e Lolita moravam na fazenda, a pedido de Lorenzo, que sentia-se extremamente sozinho na grande casa.

À noite, os três adoravam olhar ao redor daquela terra e se abraçarem conjuntamente.

Mesmo que o pai não tenha sido um homem rico, economicamente falando, Luigi dedicou-se à propriedade imensa, fruto de uma herança da mãe de Lollo.

Os avós maternos de Lorenzo eram pessoas de muitas posses, Julieta (mãe do rapaz), era a caçula de três filhas do casal. Eles não gostaram muito da filha mais nova ter se apaixonado pelo filho dos caseiros daquela terra na divisa de Atrani com Amalfi, mas nada conseguiram fazer para impedí-los, a terra foi dada como presente de casamento com muito contragosto.

Com o tempo, passaram a gostar um pouco de Luigi e assumiram que ele era um bom homem. Após dez anos de um casamento inteiramente feliz, Julieta engravidou.

Ela estava radiante de tanta felicidade.

– Eu tenho certeza que é menino, meu amor!

– Será?

– É sim, olhe o formato da minha barriga! Os outros meninos, meus sobrinhos, rejeitam meu colo! É um menino!

– E qual nome daremos?

– Quero Lorenzo.

– Eu gosto mais de Miguel… - Retrucou ele – E se colocarmos os dois?

– Talvez. - Sorriu a esposa.

Os cachos castanhos e os olhos azuis, imensos, deixavam Julieta sempre com rosto de criança pidona e Luigi queria muito que aquela criança se parecesse com ela, não importava o sexo daquele bebê já tão esperado e amado.

Perto do nascimento de Lorenzo, a mulher decidiu fazer um testamento, deixando a fazenda para o bebê e para Luigi. O marido achou bobagem, mas ela seguiu com a ideia, afirmando que era apenas por precaução.

Julieta estava mais certa do que nunca em sua vida.

Minutos após o parto, ela foi vítima fatal da síndrome de hellp (uma doença rara ocasionada pelo aumento excessivo da pressão arterial, que atinge uma em cada duas mil gestantes, que sem tratamento adequado, leva a gestante e às vezes o bebê também ao óbito.). Apenas teve tempo de sorrir para a criança:

Mio ragazzo, mio Lorenzo!

O bebê rosado chorou pela primeira vez, apreciando o único abraço de sua mãe. As sobrancelhas claríssimas já denunciavam que seu cabelo seria extremamente claro, como o de Luigi. Porém, a mulher tinha certeza de que ele teria todos os traços dela, para que nunca fosse esquecida pelo homem que tanto a amou e por ela foi amado até o fim.

Assim foi, Lorenzo era a cópia fiel masculina de sua mãe, com exceção aos cabelos muito mais claros que os dela. De certa forma, sua aparência fazia com que Luigi o amasse ainda mais, por ver nele o filho que ele tanto quis e a esposa linda que tanto amou.

Os avós maternos jamais quiseram conhecer o garoto, consideravam-no culpado pela morte da filha tão amada. Tentaram tirar a propriedade de Luigi e do neto renegado, porém o testamento de Julieta Prado os impedia daquilo.

Eles então viraram as costas e se recusaram a saber de ambos até o restante de suas vidas, além de obrigarem as outras duas filhas a não conhecerem o sobrinho, ameaçando-as deixá-las na miséria se o fizessem, uma vez que ambas estavam divorciadas, com seus filhos, e morando com os pais de novo.

– Deixe, Martinha… Quando esses velhos morrerem nós iremos conhecer o menininho. - Disse Sofia, a mais velha das três irmãs, fazendo a outra rir.

Porém, eles demoraram mais de trinta anos para morrerem.

As garotas eram contagiantes e alegres, supriam a necessidade do rapaz em ter alguém por perto que lhe desse carinho e atenção. Não como uma mulher por um homem, mas como de irmão para outro irmão.

Ele era o mais velho dos três, superprotetor e amorosíssimo com as mais novas.

Lolita era formada em economia e Millene em administração de empresas.

O sonho de ambas era de trabalharem juntas, prestando consultoria e fazendo planos de reestruturação de empresas. Porém, a resistência de Lolita em mudar-se de Amalfi para algum grande centro, em que as possibilidades do negócio dar certo eram maiores, minou parte deste sonho. Elas conseguiam fazer as consultorias, mas não eram suficientes para mantê-las no mesmo padrão de vida ao qual Lolita havia se acostumado e crescido, o que forçou-as a trabalharem com outras coisas.

Millene trabalhava como bancária e achava aquela rotina regrada uma coisa insuportável, Lola trabalhava em algumas ações com o pai e escrevia para a coluna de economia de um jornal local. Até gostava das duas atividades, mas pouco aplicava sua verdadeira paixão que era a matemática.

A mais velha via sua amada cada dia mais infeliz, começando a considerar que a mudança poderia trazer o brilho de volta aos olhos de sua pequena.

Quando Lolita estava pronta para conversar seriamente sobre a decisão de mudar-se com Millene para Turim, foi quando Lorenzo apareceu com um plano maluco de tornar as terras em que morava rentável e de abrir um restaurante com uma proposta bastante diferente, que instigou muito o espírito economista da moça.

O rapaz fez com que a prima largasse o emprego que ela tanto odiava, para dedicar-se inteiramente ao plano de negócio que ele tinha.

Poucos meses depois do início do planejamento, Luigi Bertoncello faleceu, vítima de anemia megaloblástica não tratada( doença comum em idosos, iniciada com dores nas extremidades do corpo -dedos dos pés e das mãos- que se alastram pelo corpo, resultando na perda total de movimentos dos membros, do corpo e por fim, atingindo o cérebro levando a pessoa à demência e posteriormente ao óbito.).

A fatalidade aumentou o desejo de Lorenzo pelo negócio que surgia, uma vez que amenizava a dolorosa perda.

Após um mês de luto, pediu para as moças, que moravam num pequeno apartamento, que morassem com ele, alegando a solidão que sentia numa propriedade tão grande. Prontamente o pedido foi aceito.

– O que não faríamos por você, meu irmão de alma? - Disse Millene, sorrindo, enquanto arrumava o novo quarto.

Aquela lembrança era tão vívida na mente dos três que, ao contemplarem a plantação de uvas, o pequeno galpão onde os vinhos artesanais ainda produzidos por Luigi envelheciam nos barris e o galpão muito maior onde os novos eram feitos, a queijaria que havia sido ampliada, ao fundo, a casa que os três moravam e que havia sido por eles reformada… Tudo aquilo, os emocionava de um modo impossível de ser descrito.

Aqueles abraços conjuntos sempre pareciam intermináveis.

– Podemos entrar? Estou morrendo de fome! - Millene se desvencilhava do abraço.

–Verdade, vamos comer! Temos muitos assuntos pra conversar! - Respondia Lorenzo.

A ligação dos três era tão forte que mesmo vivendo na mesma casa e trabalhando lado a lado, sempre tinham assuntos para conversarem, em especial na hora do jantar.

Tagarelavam sem parar, gesticulavam como todo tradicional italiano.

– Bem, pelo que tenho analisado, é possível que o negócio não cresça muito este ano, Lollo. Porém, nem se preocupe, preparei um plano para tempos difíceis… Você sabe que a economia mundial está passando por dificuldades, temos que rebolar no mesmo ritmo. - Dizia Lolita.

– Mas vamos passar por sufocos? Não quero demitir ninguém! - Retrucou o rapaz.

– Não, modéstia a parte, você tem ótimas gestoras. Aguentaremos três anos de crise numa ótima. Guardamos um ótimo capital inativo, temos um ótimo capital de giro… A plantação está ótima, estamos com uma boa logística… Tudo vai dar certo, de acordo com os números.

– Ai, como vocês dois são chatos! Vamos conversar sobre outra coisa pelo menos no jantar! - Reclamou Millene, fazendo os outros sorrirem. - Lorenzo, pode começar. Eu vi você saindo de carro e reparei nos chinelos! Você só usa chinelos na praia e olhe lá.

– Sim, fui até Amalfi.

– Que gostoso! Viu Anitta e Matheo? - Perguntava Lola.

– Ahn… vi Matheo, apenas. Eu queria só passear… Mas… Aconteceu um pouco mais que um passeio normal.

– O que? Viu uma sereia? - Debochou a moça mais nova.

– Quase isso… Vi Alice. Vocês se lembram dela?

– Sim, eu me lembro… era sua melhor amiga, né? Nos conhecemos há uns oito anos atrás. - Respondeu Lola

– Eu preferia esquecer essa garota, e olha que eu mal me lembro dela. - Soltou Millene, que em troca recebeu um olhar de reprovação da esposa.

Ignorando o comentário, Lorenzo continuou:

– Ela está tão linda, mas parece triste.

– Lollo, irmãozinho. Ela é casada. Não é da sua conta se ela está triste ou não. - Continuou a prima do rapaz. - Nós colhemos aquilo que plantamos. Se você causa a tristeza de alguém, outrem causará a sua.

– Millene, se toca! - Disse Lolita, revirando os olhos.

– Desde novinha, você nunca simpatizou com Alice… - Sorriu o rapaz, desanimado, se direcionando para Millene.

– Ela não me inspira coisas boas. - A garota finalizou aquele assunto.

Millene decidiu se calar por saber que Lola chamaria sua atenção depois, quando estivessem a sós.

Foi exatamente o que aconteceu.

– Amor, você não tem o que se envolver nessa história. Deixa o Lollo! Ele é um homem, sabe o que é certo e o que é errado.

– Não é isso, Lola. Mas essa mulher deixou marcas nele até hoje! Meu primo não sai com as mulheres, preso nesse sentimento que ele nem sabe se é amor…

– Mi, ela é casada, como você mesma disse. Eu sempre vejo o marido dela em revistas econômicas e políticas. Lorenzo deve descobrir por ele mesmo que não tem chance de se reaproximar.

– É muito mais que isso… Eu tenho um pressentimento terrível em relação a essa mulher. Senti arrepios só de ouvir o nome dela.

– Os arrepios foram de frio, boba. - Respondeu Lola, debochando da parceira.

– Lola, é sério… estou com o pressentimento de vão acontecer coisas nada boas se essa história for para frente.

– Mas que história, garota? Lollo apenas comentou que a viu!

– Lola, acredite em mim! Vai acontecer algo muito ruim!


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