Sweet Dreams escrita por Kori Hime


Capítulo 1
Sweet Dreams are made of this


Notas iniciais do capítulo

É curtinho mesmo.



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A Major General Olivier Mira Armstrong é uma mulher exigente e de pulso firme. Ninguém em toda a União Soviética duvidava disso. Quando a noite chegou, e a temperatura do lado de fora poderia congelar qualquer pessoal como um picolé, Olivier estava colocando suas luvas e dando um nó mais apertado nos cordões de seu coturno, preparando-se para sair.

Miles achou uma loucura, não o fato dela sair no frio, esse era um detalhe tão insignificante que não havia passado por sua cabeça, o que lhe preocupava era o fato de sua General não aceitar que os homens sob seu comando a seguisse. Ele não achava certo que a pessoa mais importante do Comitê Central do Partido Comunista da União Soviética simplesmente saísse sem maiores informações. Afinal, estavam em um momento de alerta após a morte de Iuri Andropov.

— Eu não sou um cabo, sou seu General. — Olivier arqueou a sobrancelha, não gostando da maneira que Miles a encarava com aquele par de óculos. — Respeite minhas ordens.

Miles não desviou o olhar pois ele não era esse tipo de homem. E a General Armstrong não era aquele tipo de mulher.

— General, peço permissão para acompanha-la. — Ele insistiu, recebendo um olhar fuzilante.

Armstrong estava pronta para deixar a base. Ela vestiu o longo casaco de couro, afivelando o cinto. Sua farda de gala estava impecável.

— Você pode vir, mas não pode abrir a boca para nada. Compreendeu?

— Perfeitamente, General. — Miles se sentiu vitorioso, ele sabia perfeitamente onde iriam aquela noite.

O Teatro Bolshoi estava apinhado de pessoas elegantes. Mulheres desfilavam em seus maravilhosos vestidos de grife quando Olivier chegou acompanhada de seu fiel assistente. Mesmo contra a vontade da General, ele ajudou a tirar o casaco de couro, o clima agradável e quentinho dentro do teatro era convidativo, embora Olivier fosse mais íntima com o frio.

O espetáculo iria começar, mas a General não se encaminhou para o camarote reservado especialmente para ela. Como era de se esperar, Miles estava logo atrás, quando Olivier começou a caminhar na direção dos bastidores.

Um segurança permitiu a passagem dos dois imediatamente. E tão logo proibiu a entrada de outra pessoa que não possuía autorização para estar ali.

Miles parou logo atrás de sua superior, ela se virou e o olhou friamente.

— Pode ficar aqui fora, acredito que o camarim não é um lugar perigoso. — E assim, ela entrou fechando a porta na cara do assistente.

O camarim era grande e abafado, os artistas corriam de um lado para o outro, buscando ganhar tempo. Faltava dez minutos para o início da Ópera, eles precisavam se aprontar e Olivier não queria ser o motivo da demora do espetáculo. Ela estava ali somente para desejar boa sorte para uma conhecida.

Sentada em uma cadeira diante da penteadeira, arrumando o cabelo, estava Natasha. Ela penteava os cabelos negros com uma escova dourada, e finalizava a caracterização com uma coroa na cabeça.

— Vossa Majestade. — Olivier estava perto o bastante para somente Natasha ouvir o que ela dizia. — Por acaso viu uma atriz de teatro muito talentosa passando por aqui?

Natasha continuou sentada, olhando-a através do espelho.

— Ela acabou de deixar o camarim, é uma atriz maravilhosa, dizem que vai conquistar a Rússia com sua voz.

— Hmm é, ouvi falar sobre isso. — Olivier checou os demais artistas, cada um ocupado demais com seus afazeres que não estavam sequer preocupados com sua presença ali.

Natasha se levantou e sorriu para a General.

— Espero vê-la na plateia essa noite, seria uma honra para mim.

— Eu espero não dormir. — Olivier falou a sério, mas Natasha apenas sorriu.

— Prometo que vai valer a pena se assistir até o final. — Ela estendeu a mão, alcançando as medalhas de honra do traje de Olivier. — Ou, quem sabe mais tarde.

— Ah! Agora acho que estou me interessando mais por Ópera.

— Preciso ir. — Natasha se despediu com um breve aceno. Olivier apenas saiu do camarim após todos deixarem o lugar.

Miles estava parado ao lado da parede, em frente a porta, aguardando-a.

— Podemos chegar ao camarote a tempo do primeiro ato. — Miles aguardou a General caminhar na frente, mas, em vez de subir as escadas para acessar o camarote, ela continuou andando em direção a saída do teatro, onde recuperou seu casaco na chapelaria e saiu.

— Traga o carro. — Olivier ordenou, sua voz estava dura, Miles não a questionou. Ele trouxe o carro. — Vá para o Savoy.

Eles viajaram menos de meia hora pelas ruas geladas de Moscou. Miles já conhecia aquele caminho, não precisou de nenhuma rota alternativa, pois eles tinham tempo para chegar lá, até que a Ópera acabasse.

Assim que estacionou o carro, o tenente saiu e abriu a porta para a General.

— Espere aqui. — Ela saiu do carro.

— Eu...

— Você já disse muito. Apenas aguarde. — Olivier podia ler o que se passava na mente do tenente. — Não vou discutir minha vida pessoal com você, não agora. Talvez amanhã ou algum outro dia que eu esteja de bom humor.

Miles compreendia, afinal, aquela mulher possuía muros altos em volta de seu coração. Mas ele ainda tinha a esperança de que a confiança presente no campo de batalha, fosse igualmente compartilhada na vida pessoal. Enquanto isso, ele iria aguardar dentro do carro, protegido do frio.

Horas depois, viu o táxi estacionar em frente ao hotel e Natasha sair, carregando uma pequena mala. Ela pagou o motorista e ajeitou o cachecol em volta do pescoço, vestia um casaco simples e botas de cano longo. Miles cogitou a possibilidade de ajudá-la, levando sua bagagem até a porta do hotel, mas não se moveu.

Natasha entrou no hotel, sendo recepcionada por alguém. Mile encostou a cabeça no banco do motorista, no rádio, tocava Sweet Dreams, da banda Eurythmics. Ele tentou, mas estava difícil de relaxar e esperar o tempo passar.

 

Olivier estava pronta para a chegada explosiva de Natasha. Ela já podia ver a bela mulher entrar pela porta como uma bala de canhão, afiada nas palavras, agitada, possessiva.

Entretanto, Natasha girou a maçaneta da porta que já entrara diversas vezes pela madrugada, dessa vez em silêncio.

A General estava sentada em sua poltrona, como de costume, ela bebia uísque e fumava um charuto. Ouviu passos leves pelo carpete do quarto, e a mala pequena ser deixada no chão, com um leve baque.

Natasha tirou o casaco e cachecol. Ela caminhou pelo quarto, leve, como se pisassem em nuvens. Olivier apenas a admirou enquanto se aproximava. Notou sua expressão dura no rosto e um sorriso desgastado pela noite cansativa. Armstrong não gostava de ópera, apesar de amar a voz de Natasha.

— Como foi o espetáculo? — Perguntou, puxando assunto, já que Natasha estava agindo de maneira estranha.

— Como deveria ser. — Natasha estava já perto da poltrona, mas sua atenção era toda para a janela.

Olivier colocou o charuto sobre o cinzeiro de cristal, repousado sobre a mesa ao seu lado. Ela terminou de beber o uísque e então segurou a mão de Natasha, trazendo-a para mais perto, até que a fez sentar em seu colo.

Uma de suas mãos subiram pelas costas de Natasha, enquanto a outra acariciava sua perna. Olivier a beijou no pescoço, sentindo aquele cheiro característico da comemoração pós apresentação. Cigarros, bebida e o cheiro do figurino antigo, utilizado por outras belas e talentosas artistas.

Mas a frieza de Natasha impediu que elas entrassem naquele jogo de sedução, onde iriam segurar o máximo possível com alfinetadas, conversas íntimas ao pé do ouvido e, finalmente, caírem na cama. Esqueceriam todas as brigas e dificuldades quando estivessem abraçadas, nuas, vivas nos braços uma da outra.

E nada disso aconteceu aquela noite. Olivier imaginava que aquele fatídico dia chegaria, mesmo que ela desejasse adiar o máximo possível. Não poderia prever o futuro. Uma lástima, pois era a melhor estrategista de sua época.

Natasha acariciou a pele pálida da General. Havia lágrimas molhando seu rosto. Nenhuma palavra poderia descrever os sentimentos daquela noite.

Elas se abraçaram, imaginando que o calor do corpo poderia fazer esquecer as noites frias, quando não estavam juntas. Ou que o amor era suficiente para fazer com que os longos dias de ausência fossem superados facilmente.

A ausência poderia ser superada, mas a farsa que viviam jamais seria.

A noite acabou, e com ela os sonhos e planos feitos ao pé da cama. Os dedos entrelaçados, os olhos sonhadores, os corpos colados. Os sonhos eram uma cilada, das mais ardilosas.

O dia estava nublado, não era uma novidade. Assim que deixou o hotel, Olivier caminhou em passos largos e rápidos na direção do carro. Ela abriu a porta e sentou-se no banco traseiro.

Miles a encarava pelo espelho retrovisor, ficou tentado em perguntar qual a situação, mas preferiu apenas ligar o carro e partir dali.

Assim que o trajeto foi cumprido, o tenente ouviu um suspiro vindo do banco de trás. Ele abriu a porta e saiu do carro. Depois, abriu a porta do banco traseiro, sentando-se ao lado da General.

— É curioso como o tempo parece demorar para passar e quando mal percebemos, tudo se foi. — Miles não foi interrompido, então decidiu continuar. — Nós passamos muito tempo trabalhando para cuidar das pessoas, e o que ganhamos em troca, senão algumas medalhas e uma aposentadoria num rancho distante.

— Um rancho?

— Hmm. É, eu penso em morar em um rancho. — Miles ajeitou os óculos, e notou um pequeno sorriso quando a General virou o rosto para observar a janela.

— Isso sim é uma perda de tempo.

Miles também sorriu. Olivier abriu a porta do carro, antes de sair, agradeceu. Apenas disse obrigada, sem dar explicações, e saiu.

A General era mesmo uma mulher exigente e de pulso firme, Miles a admirava. Principalmente por saber que, embaixo daquela muralha de gelo, havia uma pessoa de carne e osso. Com sentimentos e sonhos.


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Notas finais do capítulo

Fim do amor



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