–Fico feliz por ainda se lembrar de mim, minha querida- respondeu Mime com um tom venenoso na voz-

Os dois imediatamente se levantaram e encararam o recém chegado.

–Só me pergunto o que faz aqui- falou Botan séria o encarando-

–O que eu faço?- perguntou Mime com escárnio na voz cantarolando em seguida-

Quão frio eu me tornei
Eu não queria
Te perder pelo o que fiz
Preso ao cinza

–Não acha um pouco tarde para tentar consertar o que se quebrou?- perguntou Botan o encarando bem séria-

–Todos temos direito à uma segunda chance- respondeu Mime se aproximando bem dela-

–Sua insanidade me levou à morte, você não sabe metade do que eu passei- esbravejou Botan furiosa-

Eu deveria saber, eu deveria saber
Eu não tinha chance
Você me puxa e me guarda e me diz o que eu preciso ouvir

(cantarolava Mime de modo doce)

–Ainda bem que você sabe, agora ela é minha- intrometeu-se Kurama Youko, que abraçou a namorada por trás-

–Seu ladrão insensível, roubou ela de mim- retrucou Mime enraivecido-

–Kurama não me roubou, eu me entreguei a ele depois que você covardemente terminou nosso noivado- falou Botan bem séria o encarando-

–Era preciso, nosso amor estava desgastado- justificou-se Mime cabisbaixo-

–E você ainda tem coragem de dizer isso na minha cara?- perguntou Botan furiosa querendo partir para cima dele-

–Deixa, Botan, não vale a pena sujar as suas lindas mãos com um infeliz desse- falou Kurama Youko contendo a namorada-

–Infeliz? Você me chamou de infeliz, Kurama Youko? Como se atreve?- esbravejou Mime com um olhar de ódio-

–Você é pior do que qualquer coisa, é frio, calculista, cinzento- xingou Botan séria-

–Não era do que você me chamava quando éramos noivos- alfinetou Mime com escárnio na voz-

–Você falou certo, quando éramos noivos, mas não somos mais, esqueceu?- rebateu Botan de modo atrevido-

–Posso saber o que está acontecendo aqui? Vocês estão perturbando as rosas- falou Afrodite, que era um dos guardiões do jardim real-

Botan e Kurama se soltaram do abraço e notaram o recém chegado. Mime se limitou a cumprimentá-lo com um meneio de cabeça.

–Perdoe- nos, Afrodite, estávamos discutindo sobre algo muito sério- justificou-se Botan com um tom de voz contido-

–Compreendo, senhorita pitonisa, mas se querem resolver suas pendências, deveria fazer isso no seu próprio templo ou em um ginásio- falou Afrodite sério-

–Ginásio?- perguntou Botan sem entender-

–Entendi perfeitamente, te desafio à um duelo, Kurama Youko, seu insolente- desafiou Mime, que retirou uma de suas luvas e a usou para bater no rosto de Kurama Youko-

–Duelo?- perguntou Botan espantada-

–Desafio aceito, Mime- rebateu Kurama Youko bem sério encarando o adversário-

–Pra que isso?- perguntou Botan espantada-

–Muito simples. Duelaremos por você, Botan, se eu ganhar, retomamos nosso noivado e se eu perder, irei embora e você fica com o Kurama Youko- respondeu Mime de modo calmo porém encarando o adversário-

–E quanto a mim? Vocês me perguntaram se eu quero isso?- perguntou Botan irritada colocando as mãos na cintura encarando os dois-

–Tem razão, me desculpe, Botan- pediu Kurama Youko de modo calmo a olhando-

–Está com medo, seu insolente ladrão?- perguntou Mime encarando o rival-

–Não, apenas respeitando os sentimentos dela- respondeu Kurama Youko o encarando-

–Deixa, Kurama, faça o que deve ser feito- falou Botan olhando nos olhos dele de modo determinado-

–Tem certeza?- perguntou Kurama Youko temeroso-

Na sua dor mais profunda
Em seu momento mais fraco
Na sua noite mais escura
Tu és lindo

(cantarolou Botan com um sorriso gentil nos lábios)

–Está bem, se é o que quer, farei- falou Kurama Youko com um sorriso gentil, nessa hora, ele voltou à forma de antes- Desafio aceito, Mime- falou ele encarando o rival-

–Já não era sem tempo- disse Mime o encarando bem sério-

–Espere, só uma coisa não entendo, Mime, por que voltar depois de ter ido embora por tanto tempo?- perguntou Botan séria porém com um tom de voz mais calmo-

–Simples, depois de peregrinar vários anos em Asgard e nas outras terras míticas, soube que você retornou para resolver as pendências do passado e claro que isso incluía a nós dois, então decidi voltar para resolver o nosso relacionamento- respondeu Mime sério mas com o mesmo tom de voz dela-

Botan gargalhou sonoramente.

–O que é tão engraçado?- perguntou Mime sem entender-

–Você oras. Achou que eu ficaria te esperando todo esse tempo? Pelo dia em que você resolvesse voltar? Não, Mime, eu poderia ter feito tudo isso- respondeu Botan o olhando de modo frio- Mas só se eu não tivesse encontrado Shuichi na minha vida- falou ela olhando para o namorado-

–Chega, já falamos demais. Kurama, escolha seus padrinhos que escolherei os meus, nosso duelo será amanhã na Arena Oraculum no primeiro Sol da manhã- falou Mime encarando o rival- E quanto a você, Botan querida, voltará a ser minha amanhã- falou ele colocando a mão no rosto dela, porém ela imediatamente se afastou-

–Veremos- respondeu Botan enraivecida-

–Então, até amanhã- falou Mime com um sorriso venenoso se retirando em seguida-

–Shuichi, por favor, eu não quero que você se machuque- pediu Botan aflita olhando para o namorado-

–Eu não vou me machucar, minha deusa, vou me preparar para vencer- garantiu Kurama colocando a mão no rosto dela gentilmente-

–Nada de insolências no meu jardim- advertiu Afrodite para mostrar que ainda estava ali-

–De modo algum, Afrodite, sei que esse é um lugar sagrado- garantiu Kurama o olhando-

–Aliás, sei muito bem que usa plantas para lutar e outros afins, permito que use o que for preciso para esse duelo- falou Afrodite sério-

–Muito obrigado- agradeceu Kurama calmamente-

–E não se esqueça do elixir de Youko, terá muito mais chances se tomá-lo antes da luta- recomendou Afrodite calmamente-

–Não esquecerei, colherei as plantas certas para prepará-lo- garantiu Kurama de modo calmo-

–Afrodite, por que está nos ajudando?- perguntou Botan de modo calmo-

–Simples, confio no amor verdadeiro de vocês, Mime nunca deveria ter voltado para escavar o passado- respondeu Afrodite calmamente-

–Não mesmo- concordou Botan séria-

–Botan minha deusa, precisarei me retirar para colher os materiais que preciso- pediu Kurama de modo gentil se aproximando dela-

–Não quer minha ajuda?- ofereceu-se Botan-

–Não, prefiro colher tudo sozinho, eu conheço bem as plantas, não quero que nada dê errado- falou Kurama gentilmente colocando as mãos nos ombros dela-

–Você não confia em mim?- perguntou Botan fazendo beicinho-

–Não é isso, só não quero que você tenha contato com nenhuma planta venenosa, não quero te perder de novo- respondeu Kurama de modo gentil-

–Me perder de novo? Quando foi que...?- perguntou Botan sem entender-

–Desde 1415, eu já a amava em silêncio, quando soube que você iria se casar com Mime, quase entrei em depressão, mas quando te vi mortificada depois do fim do noivado, estranhamente não fiquei feliz, pelo contrário, senti toda a sua tristeza, depois da nevasca que te soterrou, caí em uma depressão profunda e perambulei pelos mundos espirituais até o dia em que você reencarnasse na terra, até que te reencontrei no festival das cerejeiras- contou Kurama de modo calmo-

Botan sentiu o coração palpitar mais forte e rapidamente beijou Kurama, que tratou de retribuir o beijo.

Na sua dor mais profunda
Em seu momento mais fraco
Na sua noite mais escura
Tu és lindo

–Caham, vocês têm pouco até amanhã- lembrou Afrodite pigarreando para chamar a atenção-

Os dois pararam e assentiram com a cabeça.

–Botan minha deusa, vou colher meus materiais- pediu Kurama segurando as mãos dela-

–Está bem, Shuichi, mas antes, deixe-me te dar algo- consentiu Botan com um sorriso gentil-

–O que é?- perguntou Kurama a soltando-

Botan soltou os cabelos, pegou sua fita de cabelo e deu para ele.

–Fique com ela, vai te dar sorte no duelo.

–Mas você já é a minha sorte- declarou Kurama segurando a fita-

–Eu sei, por isso te dei a fita, entenda como se fosse uma parte de mim- declarou Botan o olhando nos olhos de modo gentil-

–Te amo, Botan.

–Também te amo, Shuichi.

Os dois trocaram mais um beijo apaixonado. Depois, Kurama foi colher os materiais enquanto Botan voltou para o templo.

Lá, ela contou toda a história: desde a montanha, o encontro com Yukina, o túmulo, as lembranças de Kurama, o retorno de Mime e o desafio para o duelo.

–Isso é impossível de acreditar, um duelo- retrucou Shunrei ouvindo tudo-

–É a mais pura verdade, por isso, preciso invocar as pitonisas de outro país também, para serem testemunhas- falou Botan séria-

–As outras pitonisas? Como Hilda de Polares e Pandora?- perguntou Shunrei-

–Isso mesmo- respondeu Botan, porém ela estava com um olhar preocupado-

–Está preocupada com Kurama, não é?- perguntou Shunrei notando o olhar da pitonisa de cabelos azuis-

–Fácil de notar, não é? Estou sim- respondeu Botan com um tom de voz embargado-

–Não fique assim, Kurama é um excelente guerreiro, não vai perder fácil- garantiu Shunrei com um sorriso terno-

–Tem razão, preciso confiar nas habilidades dele- falou Botan com um sorriso-

–Isso mesmo- concordou Shunrei-

–Estou sabendo de tudo, Botan, sinto muito- pediu Kurapika, que chegou de repente-

–Você não precisa sentir, Kurapika, quem armou isso tudo foi seu irmão- falou Botan de modo calmo-

–Mas mesmo assim me sinto um pouco responsável, isso não poderia ter acontecido- retrucou Kurapika sério-

–Mas aconteceu, não se preocupe, Kurapika, vai dar tudo certo- falou Botan com um sorriso-

–Eu te admiro, Botan, o Mime não a merece- elogiou Kurapika com um sorriso discreto-

Botan assentiu com a cabeça, deu um sorriso discreto, mas nada falou.

–Certo, vamos todos nos recolher aos nossos aposentos, amanhã será um longo dia- falou Shunrei de modo amável-

Botan e Kurapika assentiram com a cabeça e cada um se recolheu à um aposento.

Enquanto isso, Kurama já havia coletado os materiais e preparava o elixir de Youko auxiliado por Afrodite, que colocava outros produtos junto.

–Isso vai dar certo?- perguntou Kurama sério-

–Vai sim, essas plantas farão o efeito do elixir durar mais- respondeu Afrodite de modo calmo-

–Hum, isso é ótimo!- exclamou Kurama animado-

–É sim, afinal, você tem um duelo para vencer e não pode bobear com os materiais- falou Afrodite sério-

–Me diga, Afrodite, por que está me ajudando?- perguntou Kurama sem entender enquanto fazia as misturas-

–Muito simples, acredito no seu amor verdadeiro pela pitonisa e o dela por você, por isso não admito vê-los separados, só isso- respondeu Afrodite de modo gentil-

–Realmente nos amamos muito- concordou Kurama com um sorriso apaixonado-

–Então, mãos à obra- mandou Afrodite animado-

Kurama consentiu, ficou preparando as misturas enquanto pensava em Botan. No templo, ela também pensava nele, ambos mal conseguiam dormir pensando um no outro, apenas fizeram isso quando foram vencidos pelo cansaço, porém algumas horas depois, os raios de Sol ameaçaram surgir anunciando que era chegada a hora do duelo.