O dia das mães é uma data estranha para mim, mas nem sempre foi assim. Lembro-me de quando era pequena, não importava em que país estivéssemos ela sempre passava o dia comigo. Era uma das datas que eu mais ansiava, afinal de contas era raro termos um momento só nós duas. Mas os anos foram passando, depois do divórcio ela ficou ainda mais distante, e comigo crescendo e sendo rebelde não ajudou muito a nós aproximarmos. “Ligue para ela” ele me tira do meu lamento anual “Ela deve estar ocupada” Eu disse “Ela sempre tem tempo para você Emily, e você sabe disso”.
Gastei alguns minutos encarando aquele telefone, a verdade é que eu não sabia o que dizer, mas eu segui o conselho dele, e disquei o numero dela. “Alô?” Ela disse do outro lado da linha, tomando um último folego de coragem eu disse “Oi mãe” a linha ficou muda por um tempo “Emily! Que surpresa” Eu não resisti a um sorriso, lembro-me de quando era criança e todo dia das mães eu sempre acordava primeiro que ela e levava seu café da manhã na cama “Desculpe-me” Eu disse enquanto uma lágrima teimosa escapava pelo meu rosto “Pelo que?” Ela perguntou curiosa, afinal não é toda dia que peço desculpas “Por não ter sido uma boa filha” Ela fica calada por um tempo, acho que está pensando no que dizer “Querida, você é a melhor filha que uma mãe poderia querer, se tem alguém que deveria pedir desculpas sou eu.” “Mas foi eu que te abandonei mãe” eu disse e pude ouvir uma risada sem graça do outro lado “Você não me abandonou, você cresceu Emily. Eu é que deveria ter te apoiado durante o divórcio, mas eu fiquei tão abalada que busquei conforto no trabalho e não em você que é o que verdadeiramente importa”. “Mas eu fugia de você” eu disse me lembrando, e ela pareceu lamentar “Eu realmente sinto por ter causado tanta dor a você, eu deveria ter ido atrás de você e não esperado você voltar, sei que o divórcio foi tão doloroso para mim quanto para você, mas você parecia tão equilibrada...” “Isso não significa que eu não estivesse sofrendo” eu a interrompi “Você tem razão e por mais que me doa admitir a culpa de termos nos afastados foi minha” pela primeira vez eu ouvi Elizabeth Prentiss se lamentar por algo “Não foi só sua mãe, eu também tive culpa nisso”. “Mas você mais uma vez me deixou orgulhosa Emily. Mesmo seguindo uma carreira contra meu gosto, você provou mais uma vez que sabe caminhar com as próprias pernas, e no final é apenas isso que uma mãe quer” Nesse momento eu já deixava as lagrimas correrem solta, minha mãe nunca mostrou orgulho por eu seguir essa carreira “Eu sinto tanto mãe” eu disse com a voz embargada. “Pois não sinta querida, o que passou, passou. O que realmente importa é o que vamos fazer daqui para frente, apenas peço que não cometa os mesmos erros que eu” ela dizia isso tão serenamente enquanto eu estava lutando para poder falar sem deixar que minha voz entregasse meu estado “Você foi a melhor mãe que alguém poderia querer” eu confessei a ela, mesmo tendo um relacionamento tenso, de uma forma ou de outra eu sabia que em algum lugar no mundo ela estava torcendo por mim, sem falar que por mais que ela negue eu sei que ela estava me acompanhando. “E você será ainda melhor” ela me disse. “Já escolheu o nome?” ela me perguntou, toquei a minha barriga, eu e Aaron já havíamos escolhido o nome há alguns dias “Elizabeth” eu contei a ela, “Um belo nome”. “Eu tenho medo” confessei ela algo que nem mesmo tinha confessado a Aaron “Pois não tenha medo, você irá conseguir, você é forte e Aaron sempre está aí para você”. “Eu te amo mãe” eu disse já me despedindo “Eu também te amo Emily”.
Desliguei o telefone e fiquei ali sentada por um tempo, absorvendo tudo que tínhamos conversado. Sempre pensei que minha mãe não sentia o mínimo de orgulho de mim, então de repente ela lamenta por tudo e me pede perda, logico que da sua maneira. Pela primeira vez me cai a ficha, e por mais que ela negue, nossa relação chegou a tal ponto por minha causa. Eu deveria ter apoiado ela durante o divórcio e não me rebelado, eu deveria ter visitado ela durante todos esses anos, eu deveria ter dito a ela que a amava mais vezes, enfim eu deveria ter sido uma filha para ela.