Forgotten escrita por S Pisces


Capítulo 35
Guilty




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/615511/chapter/35

Acordo sobressaltado e suando frio. Minha respiração completamente descompassada, me fazendo arfar. Viro de lado e meus olhos pousam sobre uma figura deitada desajeitadamente numa poltrona próximo a cama e sinto um aperto no peito. Mesmo na penumbra do quarto, é possível ver os cabelos bagunçados, presos num rabo de cavalo mal feito.

Levanto-me tentando não fazer barulho e me aproximo da poltrona. Natasha tem uma expressão suave, mas não tranquila. Até mesmo dormindo é perceptível a tensão pela qual está passando. Minha mãe. Penso com um nó na garganta. Uma vontade de tocar seu rosto toma conta de mim, e eu estendo a mão, mas não consigo completar o movimento. Como posso fazer isso, quando sou o culpado pela sua morte? Sim, se eu não tivesse sido tão estupido e egocêntrico, ela não teria desviado a atenção da estrada e provavelmente teria passado por cima do Soldado sem hesitar. Idiota!

O bolo em minha garganta aumenta e sei que se não sair dali perderei o controle há qualquer momento. Pego um casaco de moletom e visto por cima da camisa que usava, calço meu tênis e saio do quarto, mas não sem olhar uma última vez para ela.

– Me desculpe – murmuro com a voz embargada.

A princípio não sabia para onde ir. Sentia uma coisa estranha dentro de mim, me corroendo. Culpa. Como poderia não ser? Em um minuto estávamos bem e depois... estávamos brigando, e só porque ela queria que eu fosse a escola! Sinto tantas coisas que não consigo nem mesmo nomeá-las, embora eu saiba que cada uma ali tem um nome e significado.

O céu está escuro e não é possível ver estrelas, um vento frio sopra me fazendo tremer até os ossos e por alguns segundos me arrependo de ter saído da torre. Eu preciso conversar com alguém e mesmo sabendo quem é esse alguém, não tenho certeza se essa pessoa estará disposta a me ajudar. A casa da Bels está descartada.

Continuo andando a esmo, até me deparar com várias arvores, até então desconhecidas. Um parque. Entro no mesmo, caminhando com cuidado em meio a escuridão, seguindo a trilha na qual as pessoas andam sem medo de se perder. Uma sensação de deja vú me invade e finalmente entendo o porquê.

Foi aqui que tudo começou.

As lembranças do dia em que conheci a Maria me invade e começo a correr até o exato local em que fui encontrado. Mesmo sendo noite e nuca tendo voltado aqui depois daquele dia, meus pés encontram o caminho como se tivessem o feito várias vezes. Paro em frente a arvore e me sento, encostando em seu tronco. “O começo do fim de tudo.” Ou seria “o recomeço do fim de um começo?” no fim das contas acho que isso nem importa. Voltei aqui para consertar meu erro e evitar a morte da minha mãe, mas agora que sei disso, como contar a ela?

O fim da conversa que tive com Clint no dia das descobertas me vem à cabeça.

“– Eu acho que ela não quer ser mãe. – comento.

– Não fala isso garoto. Você não sabe da metade das coisas pela qual a Nat já passou, pra ela esse lance de família feliz é uma piada. Se o resultado desse teste der afirmativo, você vai precisar ser muito paciente e compreensivo com a Nat. Ela vai precisar de tempo pra se acostumar com tudo isso. – ele me olha nos olhos.

– Principalmente se eu quiser nascer. – afirmo.

– Principalmente por isso. – ele concorda.

Se ela não acredita em família feliz, quando eu contar a ela sobre o meu sonho/lembrança, ela vai apenas ter certeza disso e provavelmente não irei nascer. Idiota ao quadrado! Voltei para evitar que ela morra, mas tudo que conseguirei é evitar meu próprio nascimento.

– O que eu faço? – pergunto, mas obviamente não obtenho resposta. Eu poderia omitir essa minha lembrança, fingir que não sei de nada, contudo, eu não vou conseguir olhar todo dia para ela e fingir que está tudo bem. – droga! O que eu faço? O que eu faço? – começo a chorar e soluçar, sei que em algum momento esmurrei o solo ao meu redor e provavelmente quebrei um dedo ao fazer o mesmo com o tronco as minhas costas.

Em meio ao choro, dor e soluços, caio na inconsciência, torcendo para não voltar a acordar.

~~ 8 ~~

– Hayden? – sinto algo bater na minha cara – Hayden, acorda! – sou sacudido e caio de lado, e ao tentar me erguer, tombo com a cara na terra. – cuidado! – gemo com o aviso tardio.

– Quem é? – pergunto sem abrir os olhos. Passo a mão no rosto, tentando tirar a terra, mas acabo me sujando mais. Escuto um suspiro.

– Deixa que eu faço isso. – a pessoa me ajuda a sentar e começa a esfregar alguma coisa contra meu rosto. Alguns segundos depois, finalmente posso abrir os olhos.

– Hill? O que você está fazendo aqui?

– Acho que eu devia fazer essa pergunta. – ela semicerra os olhos – por que você estava dormindo no parque? – sua pergunta me faz olhar em volta e lentamente as lembranças da noite passada voltam a minha cabeça.

– Eu... precisava pensar. – suspiro. Que ótima desculpa.

– E precisava ser aqui? – sua pergunta soa reprovadora.

– Não foi planejado, por algum motivo vim parar onde tudo começou. – passo a mão pelo cabelo. O parque está movimentado, algumas pessoas caminham completamente alheias a nossa presença, outras nos encaram com desconfiança.

Maria se senta ao meu lado.

– Eu desconfiava. – dá um meio sorriso. – recebi uma ligação mais cedo do Rogers. Ele disse que a Natasha acordou e não te encontrou. Eles fizeram uma busca pela torre e o Jarvis disse que você havia saído por volta das 3 da manhã. Ligaram para o Coulson, mas ele disse você não deu entrada lá, então ligaram pra mim. Eu estava em casa e falei o que sabia, mas depois de um tempo, pensei: “Se eu fosse um garoto de 16 anos, e minha vida estivesse uma loucura, e eu quisesse ficar sozinho para pensar, para onde eu iria?” – ela ri – o único lugar que só você conhece. Ou melhor, que quase ninguém conhece. – ela despeja tudo rapidamente.

– Você é realmente uma boa agente. – comento e ela ri.

– Eu sou uma boa... madrinha. – quem ri agora sou eu. – e imagino o quão difícil deve estar sendo para você toda essa história de degeneração, Rogers e Romanoff serem seus possíveis pais, volta no tempo, ataque do soldado. Acho que ninguém conseguiu assimilar tudo ainda.

– Eles são mesmo meus pais. – afirmo – eu lembrei.

Ela me encara a princípio surpresa e depois com preocupação.

– Porque você ainda não contou a eles?

– Porque... – respiro fundo tentando conter as lagrimas que ameaçam voltar a cair – porque não posso. – sussurro.

– Como assim não pode? O que aconteceu? – sua voz soa muito preocupada.

– Se eu contar, a Natasha não vai querer me ter. Eu não vou nascer. – sinto um medo devastador tomar conta de mim.

– O que? De onde você tirou isso? Hayden, você está se precipitando e –

– A Natasha vai morrer! – exclamo – o soldado invernal vai matá-la e a culpa é minha! – minha voz tão embargada que nem eu entendo o que estou falando.

– Okay. Calma! Conta essa história direito. – ela pede num tom autoritário. Respiro fundo várias vezes e narro todo o sonho para ela.

Não omito nenhum detalhe, e até conto sobre os primeiros sonhos que havia tido. Ela não me interrompe e sua expressão permanece impassível o tempo todo.

– Hayden, você tem que contar. – ela fala quando termino minha narração.

– Eu não posso. Ela vai me odiar. O Steve vai me odiar. – Hill revira os olhos.

– Eu ouvi toda sua história e estou procurando sua culpa nela até agora. – ela me olha com severidade. – você é adolescente. Você e a Natasha tem personalidades muito forte, batem de frente o tempo todo. Não seria diferente com vocês sendo mãe e filho. Não foi sua culpa. – afirma com convicção. – quanto ao Steve... Hayden, o Steve é o homem mais compreensível que eu conheço e tenho certeza que ele vai entender e saber que você não pôde fazer nada.

Abaixo a cabeça. Que nós temos a personalidade forte é perceptível, desde o começo nós brigamos e discutíamos, mas agora é diferente. Tudo mudou.

– Hay. Você sabe que isso é infundado. Pare de se martirizar por isso. Vocês discutiram, e por azar do destino, o Soldado tinha escolhido esse momento para atacar. Você já a salvou das mãos dele uma vez e tenho certeza que fará isso de novo. – ela se põe de pé e me estende a mão.

Com um sorriso de derrotado a pego. De qualquer forma, não poderia passar o resto dos meus dias – que não são muitos – sentado aqui me lamentando. Mesmo sendo menor que eu, ela passa desajeitadamente um braço ao redor do meus ombros e caminhamos em silêncio de volta a Torre.

POV Natasha Romanoff

Steve estava sentado no sofá a minha frente, as mãos no queixo e a expressão preocupada. Eu já havia caminhado, sentado, levantado e até mesmo dado uns tapas no Tony por sua completa falta de sensibilidade, mas nada disso havia conseguido diminuir minha preocupação. Onde diabos esse garoto se meteu?! Eu tentava disfarçar, mais a cada batida dos ponteiros ficava mais perceptível meu estado.

– Olha só quem apareceu! – Tony exclama, chamando a atenção. Viro-me e olho para a porta, onde Hill e Hayden estão parados.

– Onde diabos você estava? – minha voz soa algumas oitavas mais alta que o esperado e todos me encaram.

– E-eu... – Hayden gagueja, mas não fala nada.

– Ele precisa conversar com você. – Hill fala, sem responder a pergunta – e com você. – olha para Steve.

Steve se levanta automaticamente e eu continuo encarando Hayden. Hill fala alguma coisa para ele, mas ninguém ouve. Ele concorda com a cabeça e caminha em direção ao elevador. Apenas o seguimos. Até chegarmos ao andar de Steve, ninguém fala nada, embora eu tenha certeza que todos tem muita coisa para falar.

Entramos no quarto e Hayden parece extremamente desconfortável.

– Hey, o que aconteceu? Pode confiar na gente. – Steve fala calmamente e se aproxima de Hayden, mas o mesmo se afasta.

Trocamos um olhar apreensivo.

– Onde você passou a noite? – decido começar com uma pergunta mais...fácil, digamos assim.

– No parque. – ele responde depois de alguns segundos em silêncio. – onde a Hill me encontrou da primeira vez. – troco mais um olhar com Steve.

– E porque você foi para lá? – Steve questiona dessa vez.

– Porque... porque eu precisava pensar. – ele fala cauteloso.

– Entendo. – e eu realmente entendia. Todos nós estávamos tão confusos ultimamente. – mas porque você saiu no meio da noite e não contou a ninguém? – tantas perguntas estavam me fazendo sentir como se estivéssemos em um interrogatório. E eu não estava gostando disso... devíamos agir como pais e não carrascos.

– Eu precisava ficar sozinho.

– Mas você chamou a Hill. – meu tom soa acusatório e me arrependo assim que pronuncio as palavras.

– Não a chamei! Ela apareceu, sabia que eu estaria lá. – defende-se.

– O que você está insinuando? – questiono irritada.

– Nada. Ele não está insinuando nada. – Steve intervém. Steve me lança um olhar reprovador e me seguro para não lhe dar um soco.

Nesse meio tempo, Hayden se sentou no chão, se recostando na cama, com os olhos fechados.

– Você está bem? – Steve se aproxima dele.

– Me desculpe. – ele pede e eu acho que ele está pedindo desculpas por ter saído sem nos avisar, até que ele começa a chorar. – me desculpe papai! – ele pede e agarra Steve. Arregalo os olhos com a cena.

Definitivamente por essa eu não esperava. Steve retribui o abraço sem hesitar, passando a mão carinhosamente pelos cabelos de Hayden, dizendo coisas reconfortantes, enquanto o garoto continua chorando. Me sentia uma completa penetra naquela cena. Dou dois passos para trás, pronta para sair correndo quando a voz de Hayden adentra meus ouvidos.

– Nat, me desculpe. – Nat? Porque o Steve ele chamou de pai e eu sou chamada de Nat? Não consigo disfarçar a decepção.

– Tudo bem Hayden. – falo com a voz mais firme que consigo – nós exageramos também. Não é como se você fosse uma criança indefesa que fugiu de casa. – dou de ombros.

– Você não entende. – ele sussurra.

– Então explica Hay. – Steve pede. O garoto respira fundo, os olhos vermelhos pelo choro repentino.

– Eu realmente sinto muito... – ele fala e então começa a narrar sua história.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Espero que tenham gostado! :)
Beijos