Bels adentra a sala com passos cautelosos, mas sem desviar os olhos dos meus. Engulo seco. Que diabos eu faço agora?! Minha mente tenta pensar em algo para dizer, uma boa explicação, mas nada decente aparece. Ela está há apenas dois passos de mim quando abro a boca, não sabia bem o que ia dizer, mas sabia que precisava dizer algo, quando sua mão atinge fortemente o meu rosto. Admito que doeu.

– Seu cretino! Desgraçado! Mentiroso! – ela começa a me xingar, enquanto coloca o dedo na minha face. Levo a mão ao rosto, massageando o local que deve está vermelho.

– Bels, fica calma! O Hayden pode explicar... – Steve me defende.

– Ficar calma?! Meu querido, eu estou calma! Aliás, quem é você mesmo? o tio cozinheiro do mentiroso ai, ou o Steve Rogers, também conhecido como Capitão américa? – ela pergunta irritada, direcionando sua ira para Steve, que apenas fica calado. – a piada perdeu a graça né? Vocês realmente acharam que eu nunca descobriria? Que eu sou tão idiota ao ponto de não sacar que havia alguma coisa errada e eu mesma investigar?

– Ninguém achou ou te fez de idiota. As coisas só aconteceram e acabaram saindo do controle. – Natasha explica, calma.

– Saíram do controle... cara, eu gostava de vocês. – olha pra mim – eu gostava de você. Deixei você entrar na minha e em resposta você me sacaneia? – acusa magoada.

– Não foi minha intenção. Eu juro. – começo – mas eu não podia te contar nada, é perigoso. Ou era. Eu não sei. – suspiro – minha vida virou de pernas pro ar, nada faz sentido e eu entendo que você esteja muito irritada comigo, mas...

– Mas o que Hayden? – ela me interrompe – você vai continuar mentindo? Mesmo depois de eu ter descoberto a sua farsa? – a tensão no ar é quase palpável.

– O Jarvis me falou que temos visita, quem é a gatinha ai? Sua namorada Hay? – Tony pergunta malicioso, se aproximando de nós.

– Primeiramente, eu sou a ex namorada do Hayden – ela dá bastante ênfase no ex – e segundo. Quem é você? o Hulk? – Tony arregala os olhos.

– Eu sou Tony Stark. O Homem de ferro. O gênio...

– Tá, tá, tá, tanto faz quem é você! – ela o interrompe, o deixando com os olhos mais arregalados ainda. Natasha tenta conter o sorriso e Clint, que está tão quieto que havia esquecido dele, solta uma gargalhada. – tá rindo de quê? – Bels questiona, com o cenho franzido. Clint apenas ergue as mãos na defensiva.

– Acho melhor, conversamos em outro lugar. – sugiro, pegando em sua mão, mas ela se solta.

– Não. Eu acho que aqui tá ótimo! Sala grande, arejada. Com muitos objetos que eu posso usar para matar você. – ela ameaça, pegando uma garrafa de whisky que estava em cima da mesa.

– Você não vai precisar chegar a esse extremo. Eu já estou morrendo mesmo. – falo. Ela lentamente olha na minha direção.

– O que você quer dizer com isso? Que história é essa? – respiro fundo.

– Eu tenho um soro, uma mistura dos soros da viúva negra – aponto para Natasha – e do Capitão América – olho para Steve – no meu sangue. E essa mistura está desintegrando minhas células e literalmente, me destruindo. – dou uma breve explicação. Ela me encara por alguns minutos, e posso ver nos seus olhos que ela está analisando a veracidade da minha história.

– Eu... eu... – ela começa a falar, abaixa a cabeça e quando a levanta, atira a garrafa de whisky com tudo na minha direção. Desvio por pouco, mas Tony que estava atrás de mim, não é tão rápido e a garrafa o acerta na cabeça.

Ele cai no chão, com a testa levemente avermelhada. Todos correm na sua direção e começam a avalia-lo.

– Ai meu Deus! Eu matei ele? – Bels pergunta, alarmada. Natasha se abaixa e dá alguns “tapinhas” na cara do Tony. Ele pisca algumas vezes.

– Não, não o matou não. Infelizmente. – Natasha fala. Bels suspira, agradecida.

– Ela é forte... – Tony murmura. Steve e Clint o ajudam a se levantar.

– Eu digo que tô morrendo e você atira uma garrafa em mim?! – exclamo irritado. – você é maluca?! – Bels me fuzila com os olhos.

– E você acha mesmo que eu vou acreditar nessa história? – pergunta com desdém.

– Mas é verdade. – uma sétima voz fala. – eu sou o Dr. Bruce Banner. Também conhecido como Hulk. – ele estende a mão e Bels o cumprimenta. – o Hay está realmente morrendo. O que ele falou sobre os soros é mais pura verdade. – Bels parece inclinada a continuar acreditando que estou mentindo.

– Eu não teria lhe trazido aqui se fosse mentira. – Natasha afirma. Bels olha para cada um ali presente.

– Okay. Acho que vocês venceram. Mas eu quero saber toda a história desde o princípio. – afirma, sentando no sofá e cruzando as pernas. Todos se sentam e eu começo a narrar os fatos.

Conto tudo, desde o momento em que fui encontrado pela Maria até aquele exato momento. Conto sobre a SHIELD e sobre a HIDRA, o soldado Invernal e tudo o mais. Ela não me interrompe em nenhum momento. Apenas me olha de forma analítica e franze a testa de vez em quando. Quando falo sobre o nosso “jantar familiar” Tony solta algumas piadas inconvenientes, mas cala-se assim que Bels pega outra garrafa de whisky e a segura, como se fosse um taco de beisebol. Steve e Natasha me ajudam, contando algumas coisas do ponto de vista deles, assim como Clint. Bruce dá as explicações cientificas.

– Enfim, é isso. – concluo a história. Todos ficam calados, esperando alguma reação por parte dela.

– Essa história é de longe a história mais maluca que eu já ouvi. – comenta. – então, seus tios não são seus tios, Hayden O’Cornel não é você e você não tem 19 anos... – ela levanta-se. – é muita coisa pra ser digerida. – ela começa a caminhar até a saída e eu a seguro pelo braço.

– Onde você vai? – pergunto.

– Não sei, dar uma volta. Eu preciso espairecer, tentar entender melhor essa história.

– Eu posso te levar pra casa. – Steve oferece.

– Não precisa, obrigada. Eu preciso ficar um pouco só. – solto seu braço. Ela olha para além de mim – foi mal pela garrafada. – lamenta sem graça.

– Foi mal? Você quase me matou! – Tony exclama.

– Agradeça por ter ficado no quase. – ela devolve e ouço o som da gargalhada de Clint.

– Essa garota é hilária! – Clint comenta. Sorrio com isso.

– Eles gostam de você. – falo pra ela.

– E gostam mais ainda de você. – suspira – fica bem garoto. – me dá um beijo na bochecha.

– Você vai voltar, certo? – pergunto esperançoso. Mas ela apenas dá um sorriso triste e vai embora. Sem me responder.

– Ela precisa de um tempo. Só isso. – Steve afirma. Me viro e caminho de volta ao sofá.

– Como você a encontrou? – pergunto.

– Na verdade, ela me encontrou. Estava no shopping quando ela apareceu, eu até tentei me esquivar, mas ela começou a fazer um monte de acusações. Já sabia quem nós éramos e eu então, esclareci logo a parte de sermos os Vingadores. Achei melhor traze-la, afinal, ela merecia ouvir toda a verdade de você. – Natasha explica.

– Garota maluca! Minha cabeça dói! – Tony reclama. Mas é ignorado.

– Então aproveitando que estamos contando toda a verdade. O Tony tem um comunicado a fazer. – anuncio. Tony me fuzila com os olhos, mas ignoro.

– Você vai falar ou não? – Clint incentiva.

– Lembram-se do projeto que foi roubado pela HIDRA, mas que graças ao nosso querido trio aqui, foi salvo? – ele começa.

– Salvo? Você quer dizer destruído não é mesmo? – Steve o corrige.

– É, isso. Vocês destruíram tudo o que a HIDRA tinha de informações sobre esse projeto, mas eu não destruí o meu. – esclarece calmamente.

– Você o quê?! – Natasha exclama. – Tony, você sabe o perigo que esse projeto representa! Você deu sua palavra ao Coulson que o destruiria! – acusa-o.

– Eu sei! Eu sei! – defende-se. – mas eu não consegui! Esse projeto vai revolucionar o mundo! Podemos mudar a história! Guerras poderão ser evitadas, vidas salvas! – começa um discurso que logo é interrompido.

– Não Tony! Você não está fazendo isso pelo bem da humanidade, mas apenas para inflar ainda mais seu ego! Você quer créditos! Reconhecimento, apenas isso! – Steve retruca.

– Calma pessoal. – Bruce intervém – a probabilidade disso dar certo, é ínfima! O Tony ainda tem que construir a máquina, o que levaria um bom tempo, além de várias outras questões. – Natasha parece relaxar, mas Steve continua com sangue nos olhos.

– Na verdade, ela já está pronta. – anuncia baixinho.

– Assim fica difícil te defender. – Bruce fala num misto de admiração e derrota.

– Você é um idiota! Um idiota egocêntrico! – Steve começa.

– Hayden, me ajuda aqui! – Tony pede.

– Okay pessoal, sei que isso pode soar estranho, mas um dos motivos que fizeram com que o Tony construísse a máquina, sou eu. – falo. Steve franze a testa e Natasha faz o mesmo. – quando a máquina estiver completamente pronta para uso, Tony a usará para me mandar ao passado. De preferência ao momento antes de eu ser usado como cobaia pela HIDRA. – esclareço.

– Você só pode tá brincando... – Natasha comenta.

– Vai funcionar. Podemos salvar o garoto. – Tony afirma e vejo um lampejo de esperança cruzar o rosto de Steve.

– Dr. Isso daria certo? – pergunta a Bruce.

– Pode funcionar sim. Mas os riscos são muitos. – avisa.

– Eu já estou morrendo mesmo. – falo convicto.

– Vai funcionar. Sou eu, o Tony Stark por trás desse imenso projeto! – reviro os olhos.

– É exatamente isso que me preocupa. – Natasha comenta. – e quando seria esse “momento” para o qual você voltaria? – putz, boa pergunta.

– Ainda estamos analisando isso. Mas é um mero detalhe. – Tony dá de ombros.

– Uma máquina do tempo... – Clint comenta, com ar pensativo – quer dizer que você vai voltar ao passado? – ele pergunta mais para si mesmo com os olhos semicerrados – mas já pensou se esse suposto “passado” for na verdade o seu futuro? – todos nós o encaramos sem entender nada.

De que diabos ele tá falando?!