Avatar - A Trilogia do Dragão escrita por João Gabriel, Melaine_


Capítulo 6
Capítulo 6 - O Selo


Notas iniciais do capítulo

Final da primeira série de 6 capítulos.



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O dia começou com um clima pesado, a Capital da Nação do Fogo acordou entristecida com as noticias do cerco de 600 dias a Bah Sing Se, a vitória dos soldados do Dai Li sobre o exército de Iroh, lhe custando a vida do próprio filho, o oficial Lu Teng. Parte do batalhão iria se retirar, voltar para as Ilhas, para Iroh a guerra tinha acabado. Os alunos foram dispensados e Jinzo foi convocado para participar da procissão que realizaria o funeral. Foi das mãos de Jinzo que Iroh recebeu lírios de fogo, colhidas no jardim de Anghor Kot.

Os alunos ficariam por mais umas semanas na Escola até que pudessem entrar de férias, as aulas preparatórias tinham se tornado um fardo. Jinzo não teve mais problemas graves, conseguia praticar as lutas e dominar as chamas. Aos finais de semana, Hyung vinha visita-lo, e também aproveitou para lhe informar a aposentadoria do exercito. A empolgação por parte dos dois era visivelmente contagiante em contra partida dos filhos de Ozai, havia um certo medo sobre a relação da família, Zuko parecia distante, nem a sua amiga Kira, parecia consolar. Azula continuava a manter as aparências de mandona, mas Jinzo acreditava que ela sentia aquilo de uma forma diferente. Um pouco antes de se encontrar com Hyung, Jinzo tratou de devolver os livros que havia levado para o dormitório, principalmente o volume que ensinava os movimentos de Dobra, também levaria o livro de biografia que estava lendo quando viu Mai pela última vez. Como costumava fazer, o jovem levou até as seções correspondentes cada um de seus empoeirados exemplares em seu devido espaço nas estantes de ferro. Deixou o de biografias por último, ficou ali onde ganhou um pequeno beijo e tentou esquecer que depois foi levado a força a sala da direção. Ao se retirar ouviu uma conversa, as vozes eram baixas, uma das pessoas estava distraída e já outra parecia estar perdendo a paciência, Jinzo achou que eram alunos mais velhos. Chegou mais perto para escutar melhor, reconheceu Kira que segurava o livro de gerações da família Real, Jinzo reconhecia pela capa, dura, com letras em dourado e a insignia do poder máximo das Ilhas de Fogo. Achou uma posição confortável e pôs se a ouvir o que diziam:

–- Qual sessão é esse livro mesmo? - perguntou Kira alto.

Zuko, aparentemente, perdido em seus pensamentos não respondeu.

–- Zuko? - chamou alto.

Nenhuma resposta. Irritada então a garota decidiu tacar o enorme e pesado livro no chão.

Uma psiu por silêncio foi falado pela velha bibliotecária ainda sentada em seu balcão.

–- O que você tá fazendo? - perguntou ele atônito.- Estamos numa biblioteca!

–- Ah, sério?! - perguntou ela irônica e então começou a chegar perto do garoto com o dedo indicador tocando o peito dele a cada palavra. - Você vai me contar o que está acontecendo agora.

Jinzo não conseguia compreender que o filho de Ozai estava sendo pressionado por uma garota, pensava em Azula naquela mesma situação e riu imaginando a briga para levá-las até a sala da direção. Pensou, que Zuko estivesse lamentando a morte do primo Lu Teng, mas pouco compreendia sobre a linhagem de Sozin e seus sucessores.

–- Hã? Não está acontecendo nada. - respondeu ele rápido.

–- Você passou o dia todo com essa cara, mal tem ouvido o que eu falo… Por favor, Zuko, confie em mim. - ela fez um pausa e repetiu a pergunta. - O que está acontecendo?

A bibliotecária ameaçou levantar, mas logo mudou de ideia.

–- Eu não sei - disse ele irritado.

–- Como não sabe?

–- Eu não sei. É esse o problema.

Kira esperou que ele continuasse e então ergueu uma das sombracelhas como gesto de impaciência.

–- Eu não estava conseguindo dormir ontem a noite e decidi sair do quarto e caminhar até a cozinha e quem sabe comer algo, mas antes mesmo de sair do corredor dos dormitórios eu ouvi pessoas falando alto, como se estivessem brigando. Segui as vozes e elas deram no quarto dos meus pais.

Kira não tirava os olhos de Zuko enquanto ele falava, mostrando total atenção e apoio para com o amigo. Para Jinzo, a atenção dela com ele era diferente de quando estava com a Mai, as poucas oportunidades com ela, e o garoto sentia como se ela também estivesse doente, talvez fosse esse sentimento que não permitia se importar com a falta de interesse dela. Jinzo sorriu pensando.

–- Eu não conseguia entender o que eles dizam, mas pareciam discutir alto sobre algo muito sério porque nunca tinha ouvido minha mãe usar aquele tom de voz.

–- Zuko, pais brigam o tempo todo. - disse ela calmamente.

–- Sim, mas…

–- Mas o que?

–- A Azula estava mais perto da porta do quarto deles e me viu, ela disse que meus pais…meus pais estavam…

–- Seus pais o que? - perguntou ela ajudando o amigo.

–- Ela disse que meu pai estava discutindo sobre qual colônia do Reino da Terra me mandar. Que alguma família de lá ia me adotar. - disse ele triste.

–- E você acredita na Azula? - perguntou Kira descrente.

–- Ela estava lá antes de mim, ela ouviu tudo…

–- Eu não duvido, mas com certeza não foi isso que ela ouviu...

Jinzo se afastou porque lembrou de encontrar o pai próximo ao lago, estava cheio de dúvidas sobre o que havia escutado nas última semanas sobre sua condição. Ficou um pouco triste sobre a situação de Zuko, não conseguia compreender porque Azula teria mentido, será mesmo que Zuko seria afastado? Um pai não pode fazer isso com os próprios filhos, pensava Jinzo.

–- Pai, preciso de contar uma coisa, eu ouvi do diretor Shinji - Jinzo parecia preocupado - Ele me disse algo sobre eu ser o filho do Dragão, para um grupo de velhos. O que isso significa?

–- Jinzo, meu filho, alguns homens na Nação do Fogo ficaram conhecidos por capturar e matar os dragões para provar a força. Eu fui um desses, eu sou o Dragão de Rukon e você é o herdeiro - Hyung sorria. - Não importam o que digam sobre a sua saúde.

–- Mas, ele não disse isso com uma aparência boa, o diretor estava feliz por eu ser o O Filho do Dragão - Jinzo ainda não entendia nada sobre aquelas palavras - O que isso quer dizer?

–- Filho, por favor, não pense nisso, o diretor sempre se orgulha dos principais alunos - Hyung abraçou Jinzo com força, mas sabia que ele não se convenceria com aquelas palavras.

Ainda naquele dia, Hyung deixou Jinzo próximo ao lago e foi se encontrar com Patel na enfermaria, o velho general estava decidido a falar com Shinji. Tinha ficado perturbado com o que o diretor fez com o garoto e sabia que era parte do plano do diretor para obter alguns favores de alguém com alta proximidade do governo. Usar o garoto como barganha era inadmissível aos princípios de Hyung. Patel já havia lhe confidenciado sobre o presente que daria ao garoto no fim do período letivo e tranquilizara o pai sob as condições de vigiar o garoto e aos poucos ir explicando sobre a condição que ele vai carregar enquanto for vivo.

–- Shinji, o que você fez foi inaceitável! - Hyung entrou arfando na sala, a violência com que as portas da sala do diretor se abriram fizeram apagar algumas das velas.

–- General Hyung, que falta de educação entrar desse jeito - Shinji parecia não se importar com a raiva de Hyung.

–- O que você tinha na cabeça para dizer aquelas coisas a Jinzo - Hyung vociferava, as chamas das velas que permaneceram acesas trocaram o laranja pelo azul. - O que você pretende? Hein, o que você negociou com o conselho que estava aqui presente?

–- Por favor Hyung, se acalme - interveio Patel - Shinji, lhe peço, o garoto não pode lidar com esse segredo até que tenha forças para enfrentar. O que você realmente quer? - Patel parecia antecipar o que Shinji diria.

–- Eu quero a sua posição Hyung, quero participar do conselho de guerra, como bem sabe também fui militar - dizia Shinji. - Preciso que renuncie e me indique como guardião de seu filho e na posição de conselheiro de guerra do próximo Senhor do Fogo…

Ao anoitecer, Jinzo esperou até de noite para ir a enfermaria, queria saber o porque aqueles dias tinham sido tão confusos. Mai havia saido antes para acompanhar seus pais a uma viagem, e o jovem não se despediu. Azula e Zuko também haviam partido para o Palácio Real, só restou o pequeno garoto e o cantil de remédio para manter sua mente equilibrada.

As palavras de seu pai não tinham convencido, porém ele decidiu acreditar. Não havia porque o próprio mentir a respeito de qualquer coisa e mais algumas horas eles estariam de volta a Rukon para Jinzo voltar a seus velhos afazeres e agora com a animação de conseguir dominar sem machucar ninguém em volta. Ansiava por praticar com o pai todos os movimentos que via nos livros, e também queria voltar para sua casa, para os bosques e ler até escurecer. A vida monótona de casa era o que Jinzo precisava depois dos sustos que passou na escola.

–- Mestre Patel? -- Jinzo entrou direto na enfermaria, e o mestre estava pegando um objeto em um baú.

–- Vamos garoto, você precisa ver isso - Patel estava animado.

Os dois se encaminharam para a parte de trás da enfermaria, ainda no pátio eles foram até campo aberto que seguia até o Dojo Externo. A noite era de lua crescente, não estava muito claro, mas a lua não brilhava tanto como os olhos do mestre Patel. Quando chegaram no campo, o ancião revelou o objetivo. Era uma faixa, de um tecido leve, havia umas esferas amarradas bem próximas e no centro um distintivo com um simbolo de dois dragões cruzados.

–- Jinzo, preciso que você retire a faixa da cabeça - Patel já sabia que isso causaria estranheza no garoto.

–- Mas, mas, eu não posso - Jinzo relutou.

–- Por incrível que pareça você vai sentir um alivio momentâneo, depois uma raiva vai queimar todo seu interior, seus braços e pernas vão querer se movimentar e você vai Dobrar o fogo - Patel explicava. - Preciso que você faça muito fogo, que lance todo fogo que conseguir para cima. Aqui nós temos espaço e você não precisa se preocupar comigo.

Jinzo ofegava, começou a sentir medo só de tocar a faixa. Ouvia dentro de sua cabeça a voz que dizia “Lute como um dragão” e recuou. Não esperava por aquele pedido. Abriu o cantil para tomar o remédio, mas Patel o impediu. Jinzo arrancou a faixa e a segurou com força, suas costas arqueadas se endireitaram. Sentia-se mais leve, revigorado como na aula de Dobra do professor Khao, porém se lembrou das chamas e começou a sentir um misto de raiva e vergonha. Os olhos fecharam, viu o rosto do dragão bem próximo do seu, respirou e gritou, mas ao invés de som, o que saiu foram chamas densas. Caiu para trás, se levantou e não conseguia gritar, começou a disparar bola de fogo para todos os lados e fazer movimentos desorganizados com os pés e mãos. Quando abriu os olhos, sentiu uma pressão em sua testa e um ruído, baixo, como uma flecha um raio foi disparado de sua fissura e causou uma explosão. Jinzo sentiu mais raiva, suas mãos ficaram envoltas por duas luvas de fogo azul, o garoto as juntou e criando uma esfera lançou para cima, como um cometa. Nesse momento começou a ouvir Patel, a voz dele era baixa e repetia palavras em um idioma desconhecido. O corpo começava a cansar, mas a vontade ainda era grande, como se o fogo tivesse reprimido e buscando o mundo externo por milênios. Jinzo olhou para Patel, seus olhos estavam fixos no velho como um alvo, esticou o braço e com dois dedos em riste disparou uma rajada de relâmpago sobre Patel.

O velho esquivou, começou a se aproximar, outro relâmpago veio em sua direção, mas passou por cima. O garoto veio correndo na direção dele, e com um chute giratório tentou lançar uma labareda no mestre, que sem fazer nenhum gesto criou uma parede de fogo. Patel, então, alcançou Jinzo e vestiu a faixa em sua cabeça, quando o selo pousou sobre a fissura, o garoto recuperou a consciência. Assustado se afastou de Patel para cair sentado, suava, tentou beber o remédio e pela ansiedade derramou mais do que conseguiu ingerir.

–- Você está sobre a proteção de sete anos do Selo de Anghor Kot, as contas vão cair aos poucos e quando fizer sete anos, o selo desprenderá da faixa e até você terá que ter forças para controlar o seu espírito. Jinzo, agora você será um Dominador de Fogo normal.

Na manhã seguinte sentia-se cansado, mas feliz. Queria ter feito amigos para compartilhar, porém agora seria uma outra realidade. Uma nova fase na vida de Jinzo iria abrir e os sentimentos de fraqueza iriam se dissipar como uma névoa. Vestiu uma roupa leve, largou a capa e correu até a entrada principal de Anghor Kot, havia acabado o período letivo e Jinzo voltaria renovado para Rukon. Suas coisas já estavam arrumadas, passou as mãos nos livros e foi até a enfermaria se despedir e Patel, no caminho lamentou não poder ver Mai. Jogou o pingente de Dragão no Ovo de primeiro ano no gramado e correu.

Ao chegar na enfermaria, Patel estava sentado em frente a porta meditando, sua aparência era preocupada. Olhou em volta e só viu alguns alunos saindo para encontrar seus responsáveis no lado de fora. Jinzo se aproximou com cuidado e sentou ao lado do mestre.

–- Jinzo, a Nação do Fogo transformou o mundo em lugar hostil, e partir de hoje - Patel respirou fundo, manteve os olhos fechados - … uma Era de tirania e crueldade vai se instalar. Cuidado. Azulon está morto, Ozai tomará o trono e não descansará até que o mundo esteja sobre seu poder.

Jinzo não conseguiu responder, ficou lá por um tempo e depois se retirou, não queria mais correr. Uma onda de medo tomou seu corpo, sentiu frio e teve que colocar a capa. Foi com essas palavras que Jinzo rumou para Rukon com seu pai.


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