Avatar - A Trilogia do Dragão escrita por João Gabriel, Melaine_


Capítulo 5
Capítulo 5 - O Dragão




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“Quando ainda os espíritos habitavam bosques sagrados vivendo harmoniosamente nas terras continentais com os humanos, muito antes dos esforços preciosos do Avatar Wan, a vida naquele mundo caminhava para o equilíbrio. Entretanto, muitos pecados foram cometidos, após a separação do mundo espiritual do material. Ambições exageradas e falsos justiceiros colocavam a prova o trabalho feito pelo única pessoa que poderia ser a ponte entre os dois mundos. A partir daquele momento, cada um que desenvolvia as melhores técnicas de Dominação eram levados a batalhar pela supremacia de um determinado lugar. Se as Toupeiras-Texugo, os Dragões, e a Lua pudessem intervir sobre os humanos que usaram suas habilidades para impor o medo, ao invés, da comunhão e da justiça, talvez teríamos um mundo melhor sob a tutela do Avatar. Até mesmo os Bisões voadores, deveriam se sentir envergonhados pela omissão dos que se intitulavam acólitos do Ar, sacerdotes que não obtiveram sucesso em partilhar a cultura e a paz e se isolaram em templos longínquos para criarem uma nação completamente diferente das outras, livre de ambição ou de poder. Mas, um dia, o Avatar seria nascido entre os imparciais e a neutralidade dele seria colocada a prova (...)

(...) Para cada lugar que os humanos criavam, por meio de fortalezas, muros e castelos, um pouco da conexão entre os povos ia se perdendo. Os espíritos sentiam isso e a luta contra bem e o mal continuava travestida de ‘justiça’. Uma prática perigosa começou a ser realizada sob a orientação dos espectros oportunistas que, por vezes, varavam barreiras e tinham que ser contidos as pressas pelos Avatares regentes. Contudo, muitos conseguiram semear a ideia da individualidade e ofereciam aos humanos de cabeça pouco orientada a possibilidade de conseguir uma formação plena de sua dominação, era como se existissem um Dragão maligno para ensinar o Fogo destruidor, ou até mesmo, um Bisão Voador que vociferava pelo domínio dos ares. Em anos, os sábios de diversas Nações começaram a caçar esses homens que buscavam a Dobra perfeita, a Dominação completa de todas as técnicas daquele elemento. Será que os antigos mestres conseguiram estirpar essa maldição que consumia o elo de trevas e luz de dentro das almas comuns e pendia pelo lado do poder máximo?”

O trecho do livro, ainda com título desconhecido por Jinzo, era de longe, o mais amedrontador que leu desde o ultimo súbito de Fogo que teve antes das provas. O jovem criou um medo de si próprio que começou a perturbar até mesmo o velho mestre Patel. O garoto conseguiu realizar as provas a tempo e tirou notas mínimas, logo depois, se trancou nos dormitórios esperando os dias de retorno para Rukon. Ficou semanas sem falar com o mestre Patel, ou com qualquer pessoa que demonstrou preocupação. Antes das ultimas semanas de aula, a visita de Patel foi a única coisa que alterou a rotina de estudos e meditação, não mais praticava os movimentos antigos. Tinha medo.

Patel estava usando uma túnica preta, com um rosário de contas vermelho, nele haviam inscrições antigas e as chamas características da Nação do Fogo. O dia estava propicio para um passeio pelo lago, ou até para praticar no parque ao lado do dojo externo. No dormitório masculino, as únicas pessoas presentes eram Jinzo e o curandeiro, o silêncio reinava com o mesmo poder de Azulon.

–- Jovem, o isolamento não deveria ser feito para esconder-se do mundo e sim para reflexão de como ele é, para então, poder aceitá-lo - começou Patel falando baixo, sem querer assustar o garoto que estava lendo o velho livro de capa escura.

–- Mestre… - Jinzo fez a reverência e se colocou de pé. - Eu quero ficar sozinho.

–- Não, Jinzo. Você não quer ficar sozinho no escuro de seus aposentos - Patel foi até as janelas e as abriu, a luz do meio dia incomodou o garoto.

–- Por favor, eu não quero assustar mais ninguém, o que aconteceu da última vez, eu não entendo - Jinzo tinha a voz mais rouca do que o habitual, não tinha falado o suficiente para exercitar suas cordas vocais. - Aquilo não sou eu. Eu quero meu pai - continuou o garoto tomando um gole do remédio.

–- Seu pai não pode te ajudar e aquilo que aconteceu não é você, é parte de você… - Patel respirou, sentia que de alguma forma ele deveria começar a ter respostas. - Escute garoto, você é um pequeno aprendiz que nasceu com um, digamos, uma condição especial que não foi tratada corretamente.

–- Mestre, aquilo que eu vi foi coisa da minha doença? O vulcão, o dragão… - Jinzo tossiu.

–- Sim, e o que você têm não é uma doença. Mas, vamos ter calma, é necessário você compreender o básico - Patel parecia escolher as palavras sabiamente para que um garoto de sete anos pudesse ter noção de algumas coisas sem assustar. -- Você sabe sobre a história do Avatar?

–- Que ele morreu?! - Jinzo respondeu sem ter certeza se era uma resposta.

–- Isso é o que Anghor Kot quer lhes passar, o Avatar é um espírito poderoso que não seria facilmente derrotado - começou Patel. - Dizem as canções que quando a nação do Fogo chegou no Templo do Ar Oeste, onde supostamente nasceria o Avatar sucessor de Roku, os monges disseram que ele não estava lá. Então, Sozin ordenou que todos os monges deveriam ser assassinados, para que o Avatar não tivesse onde se esconder. Mas, sobre o que você aprendeu a respeito dos avatares, é possível acreditar que ele tenha simplesmente morrido? - Patel tinha prendido a atenção de Jinzo.

–- Não, mas porque ele não impediu a guerra? - Jinzo não entendia porque aquele assunto seria importante para sua condição.

–- Não é uma tarefa simples nascer com essa missão, Jinzo. Você deve passar por provações que são difíceis impossíveis para qualquer humano comum, não é diferente para o Avatar - Patel pegou o livro das mãos de Jinzo. - Jinzo, você sabe quem escreveu essas palavras sobre os primeiros habitantes das ilhas de fogo e os Guerreiros do Sol? Foi um dragão. - Patel olhava nos olhos de Jinzo.

–- Dragões são criaturas misticas, mestre. Eles foram caçados, Iroh, o Dragão do Oeste matou o último - Jinzo se orgulhava em lembrar dessas coisas. Admirava a força dos grandes soldados, seu pai havia matado um dragão também, e aquilo é uma das honrarias mais altas que a família poderia ter recebido.

–- Não Jinzo, você não entendeu, os dragões foram além de serem os primeiros Dominadores de Fogo, eles também foram os primeiros sábios e manifestavam suas sabedoria através de sacerdotes. Por meio de pessoas que estavam abertas a receberem tais condições. Entretanto, até mesmo no mundo místico, existem pecados que trazem grandes riscos aos humanos. O que você precisa saber é, de maneira nenhuma, pode fugir de si mesmo, entende? - Patel devolveu o livro para Jinzo e colocou a mão sobre a faixa na cabeça dele. - Você terá que entender que sofrerá uma transformação, e minimizar isso vai fazer o seu corpo padecer e ai, não terá mais controle. - Patel se levantou para sair do quarto. - Até mais, Jinzo. Vá brincar, pois, desde que entrou aqui não se divertiu ainda.

–- Mestre, existe um jeito de conter essa minha… condição? - Jinzo olhava para o livro.

–- Não, mas me procure ao anoitecer do dia de amanhã, quero lhe dar algo - respondeu Patel se retirando.

Aquela conversa de alguma forma mexeu com Jinzo, as palavras do curandeiro não responderam as perguntas, mas de alguma forma, conseguiram direcionar os pensamentos do garoto para que o procurar. Ele se vestiu e partiu em direção a biblioteca, queria começar a compreender o que realmente acontecia dentro do seu corpo. Era como se houvessem duas pessoas brigando pelo poder de controlar a mente de um garoto. A disputa de força o levava ao descontrole do chi e então, os acidentes. Mas porque quando envolvia a dobra? O que deixava o corpo mais susceptível a esse tipo de ataque?

Jinzo não vestiu a capa como de costume, trajava apenas uma camisa sem mangas e preta e dourada, e as calças de dominação era presas por um cinto afivelado com a insignia da Nação do Fogo. O pátio externo tinha a grama aparada, recente a julgar pelo cheiro. Outros alunos estavam praticando as sequências básicas de Dobra, um soco direto, um chute giratório e um movimento de defesa. Próximo ao lago, estavam os alunos mais velhos, seus broches mostravam um dragão imponente com asas abertas. Lá eles davam uma demonstração de Dominação avançada, golpes rápidos, labaredas de chamas a cada chute, rodopios e até uns pequenos lampejos de relâmpagos apareciam, as meninas adoravam. Jinzo decidiu se aproximar do lago, passara tempo demais dentro do dormitório que se sentia muito mais fraco, precisava ficar no sol. O lago era rodeado por pedras cinzas, havia um portico onde algumas alunas se estendiam para ler, ou sentir o vento fresco. As águas eram límpidas, quase um espelho perfeito. Jinzo se abaixou, molhou os braços brancos pálidos, depois a nuca e por fim o rosto, quando percebeu que o reflexo na água não era o rosto aredondado, com olhos pequenos e uma faixa grossa na testa. Ali, refletido no lago, eram olhos amarelados, um focinho comprido com narinas soltando fumaças a cada respirada, longos bigodes pareciam ter vida própria balançando nas águas do pequeno lago termal da escola. Não parecia um filhote de dragão, era um adulto, e tinha o olhar ameaçador. Jinzo caiu para trás, arrancando risos de um grupo de estudantes. Se recuperou, tomou um gole longo do remédio e voltou para o trajeto original, a biblioteca.

“O que foi aquilo? O reflexo no lago era o dragão da minha visão” não pensava em outra até chegar na biblioteca. A velha responsável pela organização estava retirando alguns livros esquecidos sobre as mesas de leitura. Ainda haviam as carteiras das provas disciplinares realizadas ali. A estampa de dragão que cercava o balcão da bibliotecária, tinha um tom assustador depois da visão de minutos atrás. Passou direto e fui direto na seção sobre os caçadores, teria que encontrar alguma coisa a respeito. Ficou ali por horas, mas nada além de bajulações e adjetivações positivas aos grandes e corajosos homens, incluindo Hyung, que foram lá e mataram os dragões. Sentou e encostou nas estantes de ferro para pensar onde mais poderia procurar. Precisava de uma inspiração.

Ali sentado não percebeu os passos de Mai se aproximando, a jovem trajava uma pesada capa vinho, sobre os ombros um cachecol vermelho. Sentou ao lado de Jinzo e ficou folheando os livros que estavam espalhados pelo chão. Não disseram nada por alguns minutos, nem ao menos trocaram olhares, nada. Jinzo voltou a pegar um livro de biografias e abriu na seção que falava sobre o general Hyung, passou duas páginas e mostrou para Mai.

–- Viu? Aqui diz que o general Hyung é um merecedor de um primogênito forte e corajoso, que tenha a mesma devoção pelo Senhor do Fogo e que cumpra com o destino de levar o nome da Nação do Fogo através dos tempos… - Jinzo leu com a voz baixa para evitar olhares inquisidores dos outros estudantes. Mai ainda não olhava para Jinzo, alias, não olhava para ninguém, para o nada.

–- Vou te contar uma coisa porque você não amigos nem ninguém que possa contar - começou Mai também falando baixo - é, bem, eu estou… - Mai não terminou a frase, de súbito, virou o rosto e deu um beijo no garoto, perto da boca - Se contar isso para alguém, eu nunca mais vou falar você.

Ela se retirou a passos rápidos, deixando Jinzo sentado com a página do livro aberta e com uma expressão assustada. Minutos depois fechou e guardou os livros, tinha perdido a concentração. Nunca tinha sentido aquilo, o estômago incomodava, mas era relacionado com a doença.Saiu da biblioteca e fui abordado por um professor de extremo mau humor. O homem foi rápido, segurou Jinzo pelo braço e o arrastou em direção da sala do diretor Shinji, todo aquele bom sentimento se desfez em troca de uma dor intensa em seu braço e um medo por não saber o que realmente estava acontecendo.

Pela primeira vez na sala de Shinji, o susto pela formalidade foi tremendo. Um salão oval, o teto era distante, Jinzo se sentiu minúsculo dentro daquela sala. As poucas janelas eram mera formalidade, a iluminação vinha das grandes velas circulavam atrás de uma série de cadeiras estofadas, grandes e antigas. Sentavam seis senhores, as barbas pontiagudas e os cabelos brancos bem arrumados com olhares de desprezo também diminuíram o pequeno garoto. Shinji sentava-se no alto de um palco, em uma cadeira muito grande, nada mais qualificado para um diretor narcisista se sentar em um trono, governando sua Escola como um Senhor do Fogo, mas sem a cortina de fogo.

–- Diretor Shinji, membros do conselho, venho solicitar a punição do provador para este garoto - Começou o homem - Ele não compareceu a nenhuma aula de Agni Kai, ninguém passa por Anghor Kot, sem lutar com fogo - o homem estava enfurecido.

–- Professor Noran, ele esteve debilitado por dias, passou com notas mínimas em Dobra e Luta Armada. O mestre Patel o dispensou se combates por algumas semanas. Não sei porque o senhor quer puni-lo? - Shinji não parecia intrigado com a situação, não tirava os olhos de Jinzo.

–- Por favor diretor, peço a chance de lembrar esse pirralho que não pode fugir de um Agni Kai, ele vai servir o Senhor do Fogo, como? - indagou o homem ainda apertando o braço de Jinzo.

–- Não será concedido o castigo, professor Noran, peço que aguarde ao próximo período letivo para que ele possa retomar a suas aulas - Shinji fez um sinal indicando que o irritado professor deveria se retirar, e no momento que Noran pensou em hesitar, as velas ampliaram as chamas em modo assustador.

Jinzo ajoelhou-se e agarrou ao braço com muitas dores. Reparou que o professor saiu com raiva, mesmo sendo pressionado pela Dominação de Shinji. O diretor realmente parecia o Senhor do Fogo. escondido atrás de uma parede alaranjada cheia de vida, no entanto, de repente aquelas chamas sumiram com um ruido leve. Shinji desceu as escadas e ajudou Jinzo a se levantar.

–- Conselho, o que temos aqui hoje é uma raridade - Shinji tinha a entonação de felicidade - Anghor Kot tem a honra de receber…


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