Avatar - A Trilogia do Dragão escrita por João Gabriel, Melaine_


Capítulo 4
Capítulo 4 - A Limitação




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–- Garoto, pelo jeito você gostou mais dos meus aposentos, hein? - falou mestre Patel, levantando a cabeça de Jinzo para lhe servir o remédio de ervas.

–- Há quanto tempo estou deitado aqui? - a voz de Jinzo estava rouca, mais até que o habitual.

Jinzo estava assustado, haviam outros dois mestres naquela pequena sala observando o garoto deitado em uma rede na água quente. Corpo estava parcialmente submerso, só trajava as calças que haviam lhe colocado, eram pretas. Passou a mão na cabeça e viu que estava sem a faixa, assustou-se. Logo, o efeito calmante das ervas lhe deixou quimicamente mais calmo.

–- Dois dias - respondeu Patel. - Seu pai está aqui, posso chamá-lo para entrar? - Jinzo concordou.

Jinzo se sentia envergonhado, nunca seria um grande general e com o medo de descobrirem que poderia ser um Homem Combustão, imaginaria que a vergonha do lendário general Hyung fosse espalhada por todas as nações. Apesar disso, queria muito ver o pai, precisava conversar, explicar-lhe que deveria haver uma cura, algo que o tornasse normal. O jovem queria explicar, também, que ao sentir o fogo nas mãos, pela primeira vez se sentiu revigorado, feliz. As consequencias daquele ato, por sua vez, o tornaria conhecido pelo descontrole, uma vergonha até mesmo para todos os grandes alunos que passaram pela Escola.

–- Jinzo meu filho, como você está? -- A voz de Hyung estava embargada.

–- Pai, me desculpe - Jinzo chorou.

O general Hyung estava cansado, não só da viagem, mas também sentia o peso da idade e que não conseguiria mais participar das reuniões militares. Ao receber a noticia que seu filho estava inconsciente em Anghor Kot, conseguiu o aval de liberação e se dirigiu a Capital da Nação do Fogo para ver como estava a situação do garoto. Ficou sabendo do livro e teve uma longa conversa com mestre Patel a respeito do destino de Jinzo.

–- (...) ele será afastado de tudo, não sei se suportaria - dizia Hyung

–- Não se preocupe general, ele não será um Homem Combustão, fique tranquilo. Lhe dei o livro para que veja sobre as técnicas perdidas no tempo, que os grandes Sábios esconderam durante centenas de anos. - Patel explicaria, mesmo que ainda não compreendesse, se o garoto tinha mesmo aquela condição.

–- Mas, mas… Esses poderes sumiram, os que possuíam essas técnicas foram banidos por serem nocivos a paz da Nação do Fogo. - Hyung relutava em acreditar.

–- Independente do que acredita general, não retire seu filho de Anghor Kot, aqui ele encontrará as respostas. - Patel estava convicto no que dizia.

A recuperação de Jinzo durou mais quatro dias, o fazendo perder a primeira semana de aulas. Por dois dias, Mai deixou alguns livros necessários para que ele estudasse, mas não entrou na sala, falou com Patel apenas na entrada da enfermaria. O único contato que teve com algum visitante foi com Azula, mas naquelas circunstâncias, Jinzo conseguiu retribuir alguns maus tratos.

–- Pelo jeito alguém é melhor que você em alguma coisa, não é mesmo? - Jinzo gostou daquilo.

–- Quem você pensa que é? Isso aqui foi um acidente seu infeliz - Azula estava com o pé quebrado. Mas, dois arranhões no rosto e outras escoriações nas mãos indicavam que ela havia brigado com alguém.

–- Hum! Deixa eu pensar, parece então que a gravidade decidiu brigar com você? Ou as aulas de dobra foram bem mais interessantes depois que eu sai - O garoto não falava com ela olhando nos olhos, mantinha-os no livro de História Política que Mai havia emprestado.

–- Olha aqui seu insole… - Azula foi interrompida por Patel.

–- A menina Real tem um linguajar impróprio para uma dama - advertiu.

De volta a rotina escolar, Jinzo ainda não havia feito amigos, na verdade nem havia conseguido devolver os livros a Mai para agradecer, contudo aquilo não parecia lhe afetar. Afastado por ordens de Patel das aulas de dobra e luta armada, o garoto resolveu praticar no dormitório já que estavam sob supervisão médica não poderia ser vistos fora das salas de aula ou dos dormitórios. Com um livro dos Guerreiros do Sol aberto em um pedestal sob a mesa, Jinzo copiava os passos na velocidade que lhe convinha. Depois, praticava a meditação e as respirações necessárias para a dominação básica. Ficou horas sentado tentando achar um ritmo decente. Essa rotina o deixava mais confiante, com o passar do tempo, o garoto estava mais ágil apesar do efeito do remédio.

Quando expirou o prazo do afastamento, Jinzo conseguia fazer pequenas chamas e realizar manobras com o bastão, arma que escolheu para proteger e manter distância de alguns oponentes. Certa vez, na aula do mestre Byaku, um homem pequeno, cabelos grisalhos e não dobrador, mas que tinha uma habilidade incrível com qualquer tipo de arma, mesmo contra dominadores, o homenzinho tinha uma valentia que o deixava em vantagem em diversas situações. Em uma das aulas, Jinzo foi escolhido para lutar contra Mai, um momento embaraçoso, porque até então, ele só enfrentava os bonecos de corda, lutou pouco contra outras pessoas. Contra Mai, que usava uns dardos com ponta redonda, para evitar acidentes, e lutando um estilo ninja, a péssima utilização do bastão fez Jinzo apanhar dela, dos dardos e depois com a própria arma.

Na semana das avaliações, a Academia gostava de separar por dias, então nos primeiros eram as provas disciplinares e depois as práticas, logo, dentro da grande biblioteca para uma bancada de professores e do diretor Shinji, Azula e Kira conseguiram médias exemplares para azar da filha de Ozai que achava inadmissível ser superada por uma “qualquer”, apelido da melhor amiga de Zuko, assim como Jinzo era o menino doente. Jinzo conseguiu uma boa nota em História da Nação do Fogo, com um trabalho sobre os dobradores plenos de Fogo, as avaliações eram provas escritas e trabalhos de pesquisa. Aqueles desempenhos lhe conferiam a passagem para o segundo ano, mesmo com uma reprovação na parte prática.

Naquela semana uma crise acometeu Jinzo, horas antes da primeira avaliação prática de combate armado, o corpo do garoto parecia pior do que as outras vezes. Nada que havia acontecido era parecido com aquelas dores, a novidade dessa situação era o gosto amargo na boca resultado do mal estar estomacal. O coração de Jinzo parecia não ter ritmo, a respiração falhava. Além das dores de cabeça, um pensamento, uma voz espiritual que repetia no mesmo ritmo: “Lute como um dragão”. Os sintomas começaram a se espalhar, o garoto caiu no corredor dos dormitórios e foi levado pelos outros alunos até o mestre Patel, a sensação de estar perdido e o estado febril, que até então não havia acontecido intrigava o curandeiro escolar.

Jinzo estava tendo visões, sempre se via em um vulcão, sentado no topo olhando para dentro da cratera contando as bolhas de enxofre que as lavas produziam, o calor intenso não incomodava o garoto. Do seu lado um dragão negro, olhos amarelos e com asas enormes voava por cima dele e repetindo as palavras. Jinzo não as ouvia direito, não entendia. Olhava para as lavas e subitamente recuperava a consciência. Enquanto era levado as pressas, o garoto via o dragão voando pelos corredores de Anghor Kot no caminho até a enfermaria. A cada tosse de Jinzo ou grito de dor, o monstro voador se sentia mais satisfeito.

–- Eu não… - tentava falar. - Pare… não aguen... mais - a voz de Jinzo era baixa.

–- Deixem-nos a sós - Patel expantava os curiosos, até mesmo Azula ficou assustada com aquela situação. -- Garoto, você vai precisar ser forte, isso vai doer - o curandeiro alcançou a bacia e encheu com água quente. Estendeu a rede e colocou o pequeno corpo de Jinzo dentro da água. Desabotou a camisa deixando o peito nú e retirou a faixa da cabeça, a fissura estava incandecente.

–- Coloquem as mãos sobre o garoto, e vamos curar o espirito dele - Patel havia chamado os outros senhores que estavam presentes na última vez que Jinzo foi trazido as pressas.

Em unísono, os mestres começaram a recitar o mantra da cura, as mãos sobre o plexo solar e as palavras atingindo os ouvidos do garoto que se contorcia de dor. A água, já quente, começava a vaporizar, as dores só aumentavam, a fissura brilhava. Patel admirava como aquele fraco corpo de sete anos conseguia suportar tanta pressão. Os olhos de Jinzo estavam virados, balbuciava algumas coisas, mas nada compreensível. Na cabeça dele, o vulcão havia entrado em erupção, o dragão que antes voava longe, estava próximo cuspindo fogo sobre o garoto ainda sentado imobilizado. Ele ouvia as vozes de Patel e os outros senhores, tentava se mexer e sem sucesso conseguia estabelecer contato entre sua mente e o corpo. O dragão chegava cada mais perto e no momento que conseguiu usar as patas para levantar o garoto, Jinzo desviou, se pôs de pé e atacou o dragão. O monstro cuspia labaredas de fogo azul, o menino corria para longe e após achar uma brecha conseguiu disparar uma bola de fogo no peito do monstro. Nesse momento, o cenário se desfez, o céu vermelho com nuvens acinzentadas e calor intenso, deu lugar a estrutura de madeira que segurava os telhados na enfermaria. Jinzo estava sentado no chão, encostado na parede com a camisa aberta. Dois senhores curandeiros estavam caídos, Patel tinha as mãos envoltas pelas chamas azuis que logo se dissiparam quando os olhos de Jinzo se abriram.


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