Oito Estações escrita por Pandora Imperatrix


Capítulo 8
Primavera - Plumeria




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Disclaimer: O único Naruto que eu, supostamente, sou dona é meu gato de estimação.

Esse capítulo se passa três meses pós The Last.

Eis o capítulo final, eu achei que me sentiria aliviada, mas estou um tanto triste em dizer adeus, anyway, enjoy!

Oito Estações

Primavera – Plumeria

Zínia

Diferentemente da primeira noite em que passaram naquela hospedagem, em vez de assovios e provocações, foi com dois tapinhas afetuosos no ombro de Naruto e um “boa sorte, cara” que Kiba se despediu do loiro e entrou – quase correndo – no quarto que dividia com Shino, deixando Naruto encarar Hinata sozinho no quarto em que o casal dividia. E não era para menos, por mais rara que fosse a ocorrência, uma Hinata irritada era uma Hinata a ser temida. Especialmente quando se é o culpado de tal acontecimento.

Sentindo o coração na boca, Naruto engoliu seco, esperando que este voltasse a seu lugar, mas não teve sorte.

Cautelosamente, ele abriu uma fresta da porta, espiando com um de seus enormes olhos azuis, mas não conseguindo ver nada além da janela e a parte da frente das camas. Juntando coragem – afinal ele havia sobrevivido a ira de Sakura e a de Tsunade por tantos anos, Hinata não podia ser pior, podia? Ele foi subitamente lembrado dos gritos de Toneri tendo seus olhos arrancados e um arrepio passou por seu corpo – empurrou a porta adentrando totalmente.

Ela estava sentada em uma das camas, segurava um potinho de algo que Naruto sabia ser unguento, os olhos voltados para o chão, a expressão imperscrutável.

Ele pirragueou e deu alguns passos vacilantes em direção a ela.

– Hinata... – ele tentou.

Ela ergueu os olhos, talvez planejando alcançar os deles, mas seu olhar parou na enorme mancha de sangue na região do abdômen de Naruto.

– Vá se lavar – ela disse, sua voz sem sentimento algum. E com este simples gesto Naruto foi violentamente lembrado de que ela era Hyuuga e podia agir como tal. Hinata se levantou – vou examinar seus ferimentos depois de checar os do resto do time.

E saiu. Passando por ele com cuidado para não encará-lo. Naruto teve o impulso de agarrá-la pelo pulso, mas antes que fizesse algo, o estalido seco da fechadura anunciou a partida da kunoichi fazendo o estômago de Naruto despencar.

Ele fechou os olhos com força.

– Estúpido! Estúpido’ttebayo! – murmurou ele para si mesmo, puxando os próprios cabelos.

Ele ainda considerou mais uma vez ir atrás dela, mas pensou em como os olhos de Hinata haviam se tornado duros ao mirar suas roupas manchadas, afinal, sua pouca convivência com mulheres havia lhe ensinado que, em momentos como esse, o melhor mesmo era obedecer.

Com um suspiro, ele puxou o zíper de sua jaqueta e se encaminhou para o banheiro.

Naruto tinha acabado de vestir as calças do pijama quando ela entrou com o rosto um tanto corado. Ele se perguntou se era por vê-lo sem camisa – ela ainda corava fácil por culpa dele e ele se divertia achando mil modos de trazer o colorido ao rosto dela – mas pela expressão que ela estava fazendo, o fulgor em seus rosto não parecia ter a ver com Naruto. Bem, não pelos motivos que ele gostaria. Aliás, ela não parecia nem ao menos estar olhando para ele até Naruto a chamar. Será que Shino e Kiba haviam tentado intervir?

– Eu... er... estou pronto’ttebayo.

Ela finalmente olhou para ele e empalideceu na hora.

– S-sente-se, por favor – ele sentiu uma pequena onda de alívio o atingir quando ela gaguejou. Ok, essa era a Hinata que ele conhecia e podia lidar.

Ou era o que ele achava.

Até a expressão dela se fechar completamente ao examinar – byuakugan ativado – o ferimento que ia da base do peito até o início do quadril direito de Naruto onde as shuriken de chakra o haviam atingido.

Naruto riu nervosamente.

– Eu já tive piores’ttebayo. Não precisa se preocupar ‘nata. Kurama vai resolver isso rapidinho.

Ela não disse nada, apenas se afastou para pegar ataduras limpas em sua mochila e passou a trabalhar, com delicadeza e mortal silêncio, nas feridas de Naruto.

– E você? – ele continuou tentando conversar. – Se machucou em algum lugar?

A risada que saiu dos lábios dela não era nenhum pouco parecida com as risadas que Naruto se orgulhava tanto de fazê-la dar. Era seca e amarga.

– Oh, eu não tenho ferida alguma.

Ele fechou a cara, sentindo a frustração queimar em seu estômago.

– Hinata, eu estava tentando te proteger dattebayo – foi direto ao ponto.

Ela terminou o curativo e ergueu os olhos para encarar os dele pela primeira vez desde que saíram do campo de batalha.

– Eu sou uma kunoichi. Eu não preciso que você se coloque em perigo e ponha nossa missão a perder para me proteger – ela quase cuspiu a última palavra.

– Eu sei, mas-

Ela tremia e Naruto temia que ela tivesse prestes a chorar.

– Se Kakashi-sama me colocou nesta missão, é porque ele me acha apta para ela.

– Eu nunca disse que você não era’ttebayo!

– Mas não me achou forte ou competente o bastante para desviar de um simples golpe!

Ela tentou se levantar, mas ele agarrou as mãos dela mantendo-a perto de si.

– Hinata, você não está entendendo. Eu não acho você fraca nem nada do tipo!

Ela se manteve em silêncio, mas seu olhar magoado dizia tudo. Hinata não acreditava nele e Naruto estava começando a entrar em pânico.

– Eu fiquei assustado, ok? Eu vi a shuriken vindo e você estava no caminho, eu não pensei direito’ttebayo! Eu não acho você fraca, nem incompetente nem nada do tipo, mas não me peça pra assistir alguém tentar te machucar e não fazer nada dattebayo!

Ela puxou as mãos para si. O peito dela subia e descia rapidamente, como se ela tivesse tido aquela discussão aos berros, mas Hinata não havia levantado a voz nem uma só vez.

– Naruto-kun, você não pode mais se pôr em perigo desnecessariamente assim.

– Desnecessariamente’ttebayo?! Eu estava tentando proteger você!

– Não faça isso de novo, por favor.

Naruto teve vontade de rir. Se ela pedisse para ele parar de comer ramen pelo resto da vida, talvez conseguisse mais sucesso. Ele aproximou o rosto do dela e um leve sorriso convencido brotou de seus lábios ao notar que ela se aproximou de leve por reflexo.

– Eu não quero ouvir isso de você – e pelo olhar dela e o rubor em suas bochechas, Naruto tinha certeza de que ela sabia muito bem ao que ela se referia.

Mas Naruto iria descobrir que Hinata não era nada senão teimosa e, cheia disto e de dignidade, ela se levantou da cama se afastando dele.

– Bom, se é assim – a voz dela soou fraca e apesar de saber que a discussão terminaria num impasse, ele se sentiu um tanto vitorioso pelos efeitos causados nela. – B-boa noite, Naruto-kun – e foi em direção ao banheiro.

Ele quase gemeu de frustração quando deixou seu corpo cair para trás no colchão e passou boa parte da noite olhando para as costas dela na outra cama, pensando como resolveria aquilo. Não iria se desculpar, aos olhos de Naruto, não havia feito nada de errado.

Mas na manhã seguinte, quando voltavam para Konoha, ela entrelaçou os dedos aos dele quando ele a pegou pela mão e Naruto soube que eles estavam bem.

Girassol

Nada para Naruto veio fácil. Dos seus sonhos mais inalcançáveis a coisas que a maioria das pessoas tinha como dadas.

As coisas para ele sempre haviam sido tão difíceis que a cada dia ele se surpreendia no quão fácil era estar apaixonado por Hinata. Primeiro, ele nunca precisava se esforçar para que ela gostasse dele. Embora, como qualquer rapaz ele gostasse de tentar impressionar a namorada com gestos extravagantes – e sendo ele quem era, “extravagante” geralmente eram levados a níveis alarmantes de exagero – era extremamente fácil agradá-la. E mesmo quando seus planos davam errado, a única decepção com que tinha que lidar era a dele mesmo, pois Hinata sempre ria das trapalhadas que ele fazia, mesmo aquelas que causariam irritação em outrem, e ela sempre parecia oferecer uma alternativa simples para todos os problemas que apareciam ou que ele acabava por criar.

Tanto que ele às vezes se perguntava como havia vivido tanto tempo sem tê-la em sua vida.

– Naruto-kun? – deitada em seu colo, ela inclinou a cabeça para olhá-lo fazendo as flores que ele havia entremeado nos fios negros de sua franja caírem na grama.

E ainda havia o modo como ela o olhava que o tirava o fôlego. Pupilas brancas dilatadas e o leve rubor sempre presente nas delicadas maçãs do rosto. Naruto não sabia que podia ter tanto amor assim direcionado a si. Às vezes era tanto que sufocava, mas era doce aquela morte.

Ele sorriu e se curvou a beijando nos lábios, nariz, testa, descendo para bochecha e quando ele chegou ao ouvido ela se encolheu e riu.

– F-faz cosquinha!

Ele se afastou, ela levantou das pernas dele, se sentando sobre os calcanhares e derrubando mais flores.

Ele observou o sol, que se infiltrava pelas folhas da árvore sob qual eles estavam sentados, criar formas cintilantes no rosto dela, fazê-la apertar os olhos algumas vezes e franzir o nariz adoravelmente.

– O-oque tem de errado?

Puxando a namorada de volta a si – e a fazendo soltar uma exclamação de surpresa no processo – Naruto beijou o topo da cabeça, agora livre de flores, de Hinata.

– Nada’ttebayo. Não tem absolutamente nada errado – disse ele inspirando profundamente, se enchendo do perfume suave de lavanda que os fios azulados exalavam, de amor pela moça em seus braços.

– Oh... o-ok.

Realmente, como ele havia sobrevivido todo esse tempo? Como, se agora ele não conseguia sequer conceber uma vida sem ela?

Íris

– Eu devia ter te trazido flores, né? Mas é que eu achei esquisito trazer flores para um cara mesmo que ele esteja, bem...

Ele limpou a garganta. Não tinha ideia de como fazer aquilo. Havia passado anos sem saber quem eram seus pais, por isso, não havia pegado o habito de visita-los no cemitério. Hoje em dia, quando tinha tempo, apenas passava para deixar flores de vez em quando pra sua mãe, como se para compensar todos os aniversários e dias das mães que havia perdido. O corpo de seu pai Naruto quase nunca visitava. Toda vez que queria se sentir próximo a Minato, preferia subir no topo do rosto esculpido em pedra, deitar ali observando o céu, imaginando como teria sido sua vida se tudo tivesse sido diferente.

Abrindo um de seus largos sorrisos, acabou por decidir agir o mais naturalmente o possível, afinal, ele havia vindo apenas visitar um amigo, não é mesmo?

– E aí, Neji? Como vão as coisas no céu’ttebayo? – ele ficou satisfeito com o tom casual e animado de sua própria voz e continuou mais confiante. – Felizes, espero. Você finalmente se encontrou com seu velho, isso deve ser legal. Eu gostei de reencontrar os meus pais quando eu tive a chance, só espero que você não tenha recebido o seu pai como eu recebi o meu – ele riu, relembrando – bem, não a menos que ele mereça... – Ele fez uma pausa, o cenho franzido – o meu meio que merecia. Mas já está tudo perdoado hoje em dia e isso é o que importa! – Ele descruzou os braços de trás da cabeça e deixou as mãos caírem pesadamente nas coxas antes de se sentar na grama – mas você deve estar perguntando o que eu estou fazendo aqui, ainda mais sozinho... Eu não sei como as coisas funcionam aí no céu, mas acredito que você saiba sobre eu e a Hinata – o nome trouxe facilmente de volta o sorriso a seus lábios.

Naruto encarou a placa a sua frente por alguns segundos, como se esperasse uma resposta.

– Ah! Eu sei que você está feliz pela gente! Você era um cara legal, Neji. Um pouco metido, mas dava pra aturar.

Ele fez outra pausa, havia algo que queria dizer, algo que estava preso em seu peito há algum tempo. Naruto geralmente era naturalmente bom com palavras. Se expressar através delas fosse talvez o único talento que exercia naturalmente, mas se via agora com dificuldade de pôr em palavras o que sentia. Ele encarou os túmulos insensíveis a sua volta, talvez fosse a falta de uma plateia mais vívida. Ele riu por dentro de sua própria piada imprópria. E então, com um longo suspiro, tentou focar-se em seu objetivo.

– Bem, o que eu queria te dizer basicamente é: obrigado. Eu não quero soar muito metido, mas acho que estou conseguindo fazer a Hinata feliz’tebayo. E acho que era isso que você queria, não é mesmo? Quanto a mim... eu acho que nunca fui tão feliz quanto eu sou agora – ele franziu o cenho outra vez, meio que surpreso ao conseguir dizer aquilo em voz alta. Havia pensado sobre o assunto antes várias vezes, especialmente quando tinha Hinata em seus braços ou percebia nas pequenas coisas, como o leite em sua geladeira nunca estava vencido quando ele voltada das missões, o perfume de lavanda que ela deixava em suas roupas mesmo depois de horas depois de tê-lo abraçado, o modo como a risada dela fazia seu coração bater mais forte, como ela o olhava quando achava que ele não estava prestando atenção, todos os pequenos sinais de que ela existia e que ele era amado. Mas nunca tinha dito em voz alta, nunca tinha admitido de forma tão sincera – eu não sou idiota, eu sei que nada disso seria possível se você não tivesse feito o que você fez. Se você não tivesse entrado na frente dela eu... – ele fechou os olhos com força, deixando escapar o ar com dificuldade por suas narinas – me perdoe se eu estou sendo egoísta aqui, mas só de pensar num mundo em que ela não existe, as coisas meio que perdem o sentido’ttebayo. Mas acho que você, de todas as pessoas, sabe bem o que eu estou dizendo. No começo eu não tinha entendido direito porque você fez aquilo. Mesmo depois que a Sakura-chan me contou que você... Cara, eu tô tentando manter essa conversa o menos estranha o possível, mas está difícil’ttebayo...

Ele passou a mão pela cabeça nervosamente, fazendo seus cabelos arrepiados ficarem ainda mais assanhados.

– Mas então, às vezes eu fico pensando nas coisas que você me disse naquele dia e imagino o quanto deve ter sido difícil, até mesmo antes de... – ele suspirou cruzando os braços. – Sendo sincero, ver a Hinata gostar de mim todo esse tempo deve ter sido um saco pra você’ttebayo. Não digo que eu sei exatamente o que isso é. Quando a gente era moleque, eu achava que gostava da Sakura-chan e ela sempre só teve olhos pro Teme. Hoje eu sei que não tinha nenhum sofrimento por ser a Sakura-chan, era só a frustração de sempre. Quero dizer, eu até tinha um carinho especial pela Sakura-chan, ainda tenho, mas naquela época ela só era mais uma pessoa que me desprezava sem eu saber por que e, no fim das contas, eu queria a atenção do Sasuke-sou-melhor-que-você-teme tanto quanto ela – ele fez uma careta – não, apaga isso soou horrível – e como se recebesse resistência a seu pedido, Naruto enfiou o dedos nos ouvidos, gritando de olhos fechados com força – LALALA EU NÃO DISSE ISSO DATTEBAYO!

Os pássaros da árvore mais próxima debandaram por causa dos gritos dele e, corado, Naruto agradeceu internamente que não tinha ninguém perto pra ouvir o que ele havia dito – e ele checou duas vezes para ter certeza.

– Do que eu ‘tava falando mesmo’ttebayo? Oh sim... Antes da guerra, eu não entendia direito a Sakura-chan e o Teme. Porque, né? Eu nunca tive a vida perfeita da Sakura-chan ou os tipos de laços que o Sasuke-teme tinha com a família dele. Eu nunca fui amado e, por causa disso, eu acho que nunca nem tinha sentido medo de verdade’ttebayo. As pessoas me tratavam como algo sem valor e, embora eu tivesse toda aquela atitude – ele riu levemente – é difícil não se convencer de algo que todos dizem ser verdade sem prova alguma do contrário... E, embora essas coisas sejam horríveis, Nagato estava certo, eu nunca tinha experimentado a “verdadeira dor”. Foi por isso até que eu não consegui parar o Sasuke-teme, eu não entedia a dor dele ou o desespero da Sakura-chan... Eu que nunca tive nada a perder, nada a que valesse a pena me preocupar. Acho que eu comecei a entender quando o Ero-sennin morreu. Ah! Manda um alou pra ele por mim! E não fica dando confiança quando ele tentar te levar pro lado pervertido da força’ttebayo!

Ele sorriu e se deitou de lado apoiando o queixo na mão de deu braço bom.

– Como eu dizia, eu era bem imbecil. Sabe, é por essas e outras que, por mais que eu lamente não ter notado a Hinata antes, eu fico feliz de que a gente não tenha sido tão próximos. Eu fiz coisas que teriam machucado ela demais... E você provavelmente teria me matado dattebayo – ele riu alto e então percebeu o que havia acabado de dizer.

Naruto olhou de novo para a placa esperando uma reação e a imagem de Neji lhe olhando com uma cara bem séria lhe veio a mente.

– Ok, foi um comentário infeliz, mas não fique irritado comigo nem planeje nenhuma vingança que envolva puxar meu pé de noite. Sério, Neji, nada de me assombrar’ttebayo! – ele se encolheu com o arrepio que lhe percorreu pelo corpo só de pensar em sentir uma mão invisível e gelada se esgueirando por debaixo de sua cama e agarrando seu calcanhar na calada da noite. Ele limpou a garganta – c-como eu dizia, eu acho que posso dizer que entendo melhor as coisas agora. E recentemente até tive uma boa prova do que é ter um coração partido.

Ele gargalhou.

– A vila toda me odiou por anos e eu continuei firme, meu melhor amigo tentou me matar um monte de vezes e eu não desisti por nada de fazer a razão entrar na cabeçona dura dele, mas Hinata me dá um fora? Oh não, aquilo foi demais pra mim! Eu, a quem as pessoas chamam de herói, desabei que nem uma pilha de potes vazios de ramen – ele riu de novo – foi bem patético’ttebayo.

Ele se perdeu em pensamentos de novo, lembrando de sua desastrosa confissão de amor a Hinata, de como ele sentiu que alguém havia lhe roubado a alma quando ela foi embora com aquele cara, o Toneri.

– Mas não é como se eu fosse guardar mágoa da Hinata’ttebayo... Imagino o quanto deve ter sido difícil pra ela fazer aquilo. Ir com aquele cara pra salvar a irmã, ainda mais depois de ter esperado tanto por um idiota como eu finalmente entender meu próprio coração. Ela teve que desistir de um monte de coisas de uma vez só. E foi ela, não só dessa vez, mas daquela outra, quando ela salvou a minha vida quase à custa da dela pela primeira vez que eu aprendi uma das maiores lições da minha vida: que desistir, por incrível que pareça, às vezes é mais difícil que continuar lutando’ttebayo.

Ele se deitou na grama encarando o azul do céu por entre as frestas da árvore que fazia sombra no túmulo de seu amigo. Sua expressão pensativa.

Ele se deitou na grama encarando o azul do céu por entre as frestas da árvore que fazia sombra no túmulo de seu amigo. Sua expressão pensativa.

– Eu achava que desistir era uma coisa que só pessoas fracas faziam. Mas, agora eu entendo que tem coisas pelas quais vale a pena se sacrificar, como meus pais fizeram, como o Itachi. E, em questão de decisões difíceis, você e a Hinata são dois dos shinobis mais fortes que eu conheço.

– Naruto-kun?

Num pulo, ele se levantou e se virou para ela. Hinata carregava um ramalhete de girassóis e usava roupas civis, um vestido de verão, e parecia simplesmente a coisa mais adorável que Naruto já havia posto os olhos com sua expressão surpresa ao vê-lo e os cabelos ao vento.

– Hinata! – saudou ele, sorrindo. – Você veio visitar Neji também’ttebayo? Nós estávamos aqui tendo uma conversinha...

– Conversinha?

– É, eu estava atualizando o Neji em todos os seus novos podres’ttebayo!

– O-o que?

Ele gargalhou e se aproximou, colocando as mãos nos bolsos para suprimir a vontade de abraça-la ali mesmo.

– ‘Tava brincando com você, boba. Como se tivesse alguma coisa ruim pra falar de você...

Ela corou, o sorriso dele aumentou, mas seu olhar perdia o brilho brincalhão e se tornava mais quente, cheio de afeto.

– Eu não sei, Naruto-kun. Alguns dos anciões do clã poderiam te entregar uma lista das minhas faltas... – ela disse brincando, mas havia uma nota de amargura em sua voz.

O coração de Naruto se partiu um pouquinho e ele se arrependeu a piada instantaneamente. Um pássaro por perto soltou um pio agudo e ele soube que onde quer que Neji estivesse, Naruto sabia que não estava sozinho em seu desgosto pela forma como o Clã Hyuuga havia causado danos a opinião que Hinata tinha de si mesma.

Ele a observou se sentar sobre os calcanhares colocar as flores no túmulo antes de responder.

– Os anciões do seu clã são um bando de velhos babões! E o Neji concorda comigo, não é Neji?

Ele deu uma piscadela para a placa como nome de seu amigo. Hinata, ainda corada, riu escondendo o rosto com as mãos.

Gladíolo

Ela estava usando a cozinha de Naruto para tentar a receita de rolls de canela que Kiba tinha dito que ela não conseguiria fazer. Coisa que ela encontraria problemas fazendo no complexo Hyuuga, uma vez que, o prédio onde era instalada a cozinha era restrito aos membros da Bouke e seria desrespeitoso se ela entrasse lá atrapalhando os afazeres dos membros da casta inferior. Na vez em que ela teve que explicar isso pra o resto de seu time, há muito tempo atrás, quando ela se recusou a ficar responsável pela a alimentação do time durante as missões, já que não tinha como treinar em casa o que havia aprendido na academia. Kiba havia rido por um longo tempo, dito que o clã dela era ridículo e ficado responsável pela tarefa. Ele até cozinhava bem – e fazia questão de se vangloriar com frequência até hoje o que levou ao desafio envolvendo os rolls de canela – mas Kurenai e Shino tinham que insistir muito para que ele fizesse algo que não seja bife mal passado. Quando ela explicou o fato para Naruto e pediu autorização para usar o apartamento dele – corada e um tanto constrangida de ter que expor não só as particularidades de seu clã, mas o relacionamento cheio de discussões meio bestas e desafios sem sentido do time oito – a reação do loiro foi bem parecida com a de Kiba, mas ele disse que ela era sempre bem vinda ao pequeno apartamento dele e que aceitaria o pagamento do aluguel em beijos.

Hinata havia escolhido um dia em que ele estaria fora de propósito, amava a companhia de Naruto, mas sabia muito bem que não conseguiria fazer nada de útil com ele no apartamento a rondado pelos lados, cheio de curiosidade e intenções não tão inocentes.

Ela estava sentada no chão de pernas cruzadas, em frente ao forno, olhando fixamente para os rolls atrás da tampa de vidro enquanto mastigava nervosamente a unha de seu polegar quando a porta do pequeno apartamento se abriu de supetão.

– Hinata!

Ela se levantou rapidamente, tanto que se sentiu um pouco tonta.

– Naruto-kun? O que houve? Você não tinha treino com seu time depois que terminasse com Kakashi-sama?

Ele se virou para ela, indo sem sua direção com rapidez, pulando até mesmo por cima da mesa para alcança-la, segurando-a pelas mãos firmemente. Seu rosto estava pálido e ele tinha os olhos arregalados, Hinata estava começando a ficar realmente assustada e se ele não dissesse algo logo ela teria um treco.

– Hinata, você acha que eu deveria pedir ao seu pai sua mão em casamento’ttebayo?

– O-oque? – as palavras dele a deixaram mais perto ainda de ter um treco que o silêncio. Hinata sentiu sua cabeça rodar e não tinha nada a ver com o movimento ríspido que havia feito momentos antes.

– Seu pai. Eu devia falar com ele antes que nosso romance termine em tragédia!

– Tragédia?

– Ou você acha que nós deveríamos fugir? Tenho certeza que o Gaara nos esconderia por uns tempos em Suna, mas eu detesto ir pra lá, minha cara fica descascando naquele sol e você não ficaria só cor de tomate quando eu te provoco’ttebayo...

– Naruto-kun, d-do que você está falando? Alguém do clã Hyuuga te disse alguma coisa? Otou-sama te ameaçou de alguma forma?

Hinata não entendia o que estava acontecendo, mas sentia o medo começar a crescer dentro de si. É claro que a felicidade na qual estava mergulhada não era duradoura, é claro que algo – e esse algo geralmente era sua própria família – surgiria para chover em seus dias de sol. Mas não fazia sentido. Seu pai nunca pareceu ser contra seu relacionamento com Naruto. Ainda mais depois que ele havia participado do resgate de Hanabi. Sem falar que não havia motivos razoáveis para que os anciões fossem contra. Não é como se Naruto não fosse o melhor partido da vila. Eles mesmos nunca imaginaram que Hinata seria digna de um Kage e absolutamente ninguém tinha dúvidas de quem tomaria o lugar de Kakashi.

– Não’ttebayo – ele engoliu em seco – eu estava treinando com o Sai, Sakura-chan e o Teme. Daí você sabe que o Teme meio que pediu a Sakura-chan em casamento, né? Pior pedido de todos os tempos, o esperado de um perdedor como o Teme, mas do que eu estava dizendo? Ah! Eu e o Sai estávamos provocando os dois quando do nada a conversa se virou contra mim e Sai me disse que leu uns livros sobre clãs antigões tipo o seu e disse que sua família provavelmente esperava que nós casássemos logo. E quando eu disse que nunca tinha falado com seu pai antes da gente começar a sair, eles disseram que provavelmente seu clã está planejando-me matar pra limpar sua honra.

– Minha honra?

– Sim! Hinata, isso não pode acontecer. Eu vi uma vez um filme com o Ero-sennin, que duas pessoas de famílias inimigas se apaixonavam e várias pessoas morriam. Vai ser igualzinho! Hinata, o que a gente faz’ttebayo?

Ela mordeu o interior das bochechas pra não rir. Ele parecia estar em verdadeiro estado de pânico. Ela soltou as mãos das dele e diminui o espaço entre os dois o abraçando.

– Naruto-kun... Por mais que eu esteja lisonjeada que você ser tão sério quanto a mim, acho que é um pouco cedo pra gente falar em casamento.

– Cedo?

– Sim.

– Você não quer casar comigo’ttebayo?

Ela sentiu o rosto corar e seu coração – que tinha se acalmado ao perceber o que estava realmente acontecendo – voltou a acelerar um pouco.

– Me faça essa pergunta outra vez no futuro. Quando a decisão for inteiramente sua e não por alguma coisa que outra pessoa disse.

– Oh... ok’ttebayo – ele tirou as mãos que ainda estavam presas ente os dois corpos e a abraçou de volta, apoiando as palmas no quadris de sua namorada.

– E meu clã não está tentando de matar, Naruto-kun.

– Não? – ele se afastou somente o suficiente para buscar o olhar dela.

Hinata sorriu.

– Não. Seria algo bem estúpido de fazer, mesmo para os anciões. Ainda mais por algo como a minha honra – ela riu. – Eu não sou uma princesa de verdade, Naruto-kun. Eu sou uma kunoichi.

Ele não tinha muita certeza do que ela queria dizer com aquilo, mas não foi tão tranquilizador como o que ela havia dito antes.

– E por último – ela continuou – mesmo se meu Otou-sama e os anciões fossem contra nosso relacionamento, eu jamais fugiria. Porque não é meu jeito ninja.

Foi a vez dele sorrir e foi sorrindo e cheio de orgulho por dela que ele recostou a fronte a dela, batendo a ponta de seus narizes levemente antes de beija-la, puxando-a pelos quadris, trazendo-a para perto de si o máximo que podia. Rindo ela tentou escapar do abraço dele, mas Naruto não parecia estar muito disposto a deixar que ela fosse a nenhum lugar e logo ela se viu sentada na mesa com ele entre suas pernas, as jaquetas jogadas em algum canto da cozinha e marcas de beijo em seu pescoço e ombros que renderiam a Kiba e Hanabi motivos para provoca-la por um bom tempo.

Ofegante, ele se separou dela por alguns segundos, seu cenho franzido.

– ‘Nata, você não está sentindo um cheiro estranho de queimado?

Quando Hinata o empurrou, Naruto a deixou sair de seu abraço, muito chocado, havia sido a primeira vez que a havia ouvido falar um palavrão.

Extra: Omakê NaruSasu-ish

– É ela, então, a Hyuuga? – perguntou Sasuke apontando para a foto do Konoha Onze.

– V-você sabe da Hinata’ttebayo?

Naruto ouviu Sasuke soltar um de seus suspiros entediados.

– Sakura, uma vez, passou uma tarde toda choramingando sobre os seus problemas com essa garota.

Naruto, apesar de si mesmo, teve muita vontade de rir ao imaginar Sasuke ouvindo Sakura relatar a triste história de seu relacionamento complicado com Hyuuga Hinata, ele sentiu mais vontade ainda de rir quando se deu conta que Sasuke poderia simplesmente ter ignorado as palavras da colega de time ou a mandado calar a boca, mas escolheu não fazer. Sasuke era alguém que realmente demonstra afeto dos modos mais estranhos. A vontade de mudar de assunto e implicar com o moreno era grande, uma grande parte de si não queria discutir sobre aquele assunto e outra parte acha que Sasuke era a última pessoa quem ele deveria recorrer para um assunto tão delicado, mas Naruto sabia que aquele gesto era também uma enorme prova de que Sasuke se importava com seu bem estar, era algo novo e que, apesar de suas desconfianças, faria seu coração se alegrar, então, não frustrou a tentativa do Uchiha em ser seu amigo.

– Sim, é ela – ele bebeu da garrafa que compartilhavam.

– Você não deveria levar em conta o que ela está dizendo agora, dobe. Pelo que a Sakura contou o irmão mais velho se sacrificou por ela – ele fez uma pausa, Naruto engoliu a bebida amarga estudando com o canto dos olhos as feições bonitas de Sasuke endurecerem – a dor tende a cegar as pessoas. Elas acabam dizendo e fazendo coisas das quais se arrependem depois. Ela precisa de tempo. Isso e de que não desistam dela.

Naruto sentiu seu rosto fazer o que ele menos esperaria que fizesse depois de ouvir as palavras de Hinata, sorrir. Ele se virou para Sasuke com seu rosto sorridente, mas o moreno fechou a cara totalmente e pegou de volta a garrafa num gesto bruto. Naruto aproximou mais o corpo no moreno que o olhou com nojo.

– O que você está fazendo, dobe? – e se afastou, Naruto podia jurar que havia visto um certo rubor no rosto do Uchiha que nada tinha ver com a bebida.

O loiro deu uma risadinha.

– Nada’ttebayo.

Sasuke revirou os olhos e prometeu mentalmente nunca mais ajudar Naruto na vida.

N/A: O processo de escrita dessa fic foi curioso, me lembrou de porque eu larguei esse fandom e o quanto eu estava saturadíssima de lidar com NaruHina, mas me lembrou também de porque eu amo tanto esse ship. O quanto eu me identifico com a Hinata – motivo pelo qual eu me irrite tanto com ela de vez em quando, tadinha – e o quanto eu absolutamente adoro o Naruto. Eu digo que meu fave é o Neji e é mesmo, mas Naruto é basicamente meu filho, meu bebê, ele basicamente está no mesmo nível que Harry James Potter no meu coração e não existe altar mais alto que este, o que a Hinata disse no capítulo anterior praticamente saiu da minha boca. Se eu tivesse que escolher, seria o Naruto. Não importa quantas vezes.

Eu não escrevi roteiros, não quis que isso fosse uma masterpiece, foi algo bem oldschool da minha “carreira” como ficwriter, sem planos, só caos. Obviamente que, pra ser sincera, minha atual natureza perfeccionista não está inteiramente satisfeita com o resultado, mas acho que essa fic cumpriu seu propósito.

Mas, embora eu tenha aceitado que eu sempre vou ter um coração NH, ainda tenho que me resolver com NaruSasu, para cimentar bem o muros em volta de NaruHina na minha cabeça e poder seguir meu caminho em paz. Eu posso ter feito dessa fic uma valva de escape pro pouco tempo que eu tive de NaruHina no canon e pela sensação de vazio e sentimentos mal resolvidos que a morte do Neji deixou, mas eu ainda não terminei com Uchiha Sasuke. Eu provavelmente só vou ter tempo pra escrever a ficlet que eu tenho na cabeça depois que eu adiantar as paradas do coculto, provavelmente vocês vão me ver postando Naruto na NejiHina Week primeiro até (isso se eu resolver traduzir pra português, já que vou participar do evento em língua inglesa).

As flores nesse capítulo tem significados. Plumeria para novos começos, zínia para leviandade, girassol significa adoração, Iris sabedoria e gladíolo convicção ou honra.

Espero que vocês tenham gostado, muito obrigada a todos que comentaram e até a próxima!

Beijos.


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