Avril Lavigne - When you're gone

Estava completamente decidida em acabar com todos os encontros que eu ajudei. Zeus e Hera devem ser os primeiros, claro, por serem os deuses que impõem maior respeito. Quero que eles vejam que nem eles estão acima do amor e que eu posso colocar qualquer pessoa entre eles.

Tive que fazer muito esforço e tive um tempão de trabalho para descobrir como era a mãe de Thalia e Jason. Creio eu que Hera mantêm uma certa aspereza em relação àquela mulher e se ver alguém que a lembre dela – claro, a mulher está morta! - ela irá estourar.

Tadinho de Zeus.

Mas eles não podem sair felizes do dia dos namorados. Esse dia sempre foi o meu favorito no ano, mas Hefesto e Ares estragaram o meu.

Tenho em meu palácio um espelho mágico que me mostra todos os casais que quero ver e me permite interferir na realidade deles.

Zeus e Hera no momento estão chegando de táxi na Broadway. Eles estão glamorosos, todos de olho neles e parecem estrelas de cinema. Eles irradiam amor e beleza.

Zeus leva Hera até a bilheteria com o braço dela entrelaçado no dele. Eles demoram uns minutos ali, parece haver algum problema com seus ingressos, mas como Zeus é o todo poderoso deus, desfaz rapidinho esse engano.

Eles entram no teatro e se encaminham até a primeira fileira, lugares de honra.

Hera está toda animada, rindo e falando com Zeus, enquanto ele está todo sorrisos e abraçando ela.

Quando se sentam, ele pega sua mão e coloca no colo. Ele beija o ombro dela, seu pescoço e sua bochecha. Ela sorri e cora.

— Zeus, amor, aqui não – ele sorri e beija seus lábios.

Observo pelo espelho essa cena maravilhosa de amor. Quase – quase – sinto vontade de abortar o plano e ir para outro casal, mas então me lembro de que Hefesto é filho deles, que ele fez o que fez comigo. Lembro que Ares terminou comigo por causa dele e que eu amo os dois…

Enquanto Zeus e Hera estão ocupados sendo carinhosos um com o outro, as pessoas começam a entrar no teatro e tomarem seus lugares. As cortinas do palco se abrem, Zeus e Hera fixam o olhar ali. Deixo um sorriso maligno surgir em meu rosto. Quando a atriz principal entra em cena, Zeus se contorce na poltrona e Hera retrai o corpo, seu rosto retorcido de raiva.

— Eu achei que ela estivesse morta – ela ralha com Zeus.

Zeus engole em seco.

— Por favor, estamos tão felizes, vamos esquecer ela por um momento.

— Não consigo esquecer da Grace desde que ela apareceu em nossas vidas. Hoje era para ser um dia só para nós dois e até nesse momento ela aparece – Hera aponta para o palco. Eles estão falando em voz baixa, porém, seus gestos chamam muita atenção – e tudo desmorona. Não sei se aguento mais disso.

— Hera, meu amor – ele pede, segurando suas mãos nas suas. Ela puxa as mãos, não querendo contato dele na sua pele.

A peça continua, mesmo com o humor dos dois estando explosivo, eles se ignoram.

Nós, deuses, não lemos o pensamentos dos outros, mas conheço esses dois o suficiente para saber o que pensam.

Pela cara de Zeus, ele está tentando entender como aquela mulher se parece com sua Grace. Ela era tão linda, mas enlouqueceu quando quis cada vez mais dele. Zeus lhe deu dois filhos, mas não foi o suficiente para ela…

Já Hera, estava apenas pensando em como se livrar daquela mulher. Era mais uma para separar Zeus dela. Era mais uma que daria um filho a Zeus. Lhe daria mais um herói.

Ver a reação dos dois começa a ficar tedioso, observo os outros casais como estão. Decido que o próximo será Piper e Jason, mas não está na hora ainda. Zeus e Hera precisam de mais uma briga, precisam de mais um escândalo.

Acaba o primeiro ato da peça, e Zeus se levanta, dizendo ir até o banheiro esfriar a cabeça. Deixa Hera sentada sozinha e sem poder responder. Ele caminha rapidamente e anda em direção aos camarins.

Sua intenção é provar que a mulher da peça não é a mulher com quem teve dois filhos.

Ele pede informação a todos que encontra pelo caminho, até que chega em um camarim com uma estrela dourada na porta. Ele abre sem bater e entra.

— Ei – grita alguém dentro. É a mesma voz que Zeus ouviu durante todo o primeiro ato e estava gravada na sua mente. E na minha.

— Desculpa estar fazendo isso, mas você parece alguém do meu passado. Precisava conferir se não é – ele se aproxima, observando ela atentamente. - Qual é o seu nome?

Ela sorri, satisfeita por atrair esse homem belo.

— Meredith, e o seu? - ela estende a mão para cumprimentar ele.

— Zeus – ele responde.

— Ah, como o deus grego – ela sorri, chega mais perto e encosta em sua barriga definida. Uso meu charme e faço Hera sair de seu lugar e ir atrás do marido. - Você até se parece com um…

Ela aproxima seu rosto do de Zeus e suspira em seu ouvido. Zeus está com a postura tensa, ainda pensando em sua Grace, mas sem reagir a Meredith.

Sabia que seria essa a reação quando usei meu charme para mudar a aparência dela para apenas Zeus e Hera. Na realidade, ela é baixinha, magrela e ruiva, bonita, mas não como Zeus a vê.

A porta do camarim está aberta, então, qualquer um pode ver… Boa, Zeus nem precisa tanto de minha ajuda para acabar com seu encontro.

Ele ouve barulho de passos, mas ignora. Resolve acreditar que a Meredith é a mulher dos seus pensamentos e a deixa beijar seus lábios. O som de passos para e uma respiração acelerada chama atenção do deus.

— Que bonito. Você vê alguém parecido com aquela vaca e já vem dar uns beijos – Hera pega um vaso de flores e joga no chão. - Você é um canalha Zeus, não acredito que aceitei que mudaria. - ela está aos berros – Você sempre vai ser assim. Cansei do casamento, eu quero o divórcio!

Suas palavras me provocam um sorriso – a certinha deusa do casamento se cansou do seu marido – e em Zeus isso provoca um choque. Ele larga a atriz e se aproxima de sua esposa – ou ex-esposa? Ai, esse dia vai melhorar em muito meu humor.

— Meu amor, desculpa, ela que me beijou – ele implora para sua esposa. Seus olhos mostram o arrependimento. - Eu juro, só vim ter certeza de que não era ela e fiquei preso ao encanto que essa mulher lançou.

— Essa mulher não tem nada de especial. Afrodite iria ter um ataque se a visse – o que era verdade, mas só se fosse de risos. – Não acredito que você me traiu novamente, em um encontro de dia dos namorados.

Seus olhos estão cheios de lágrimas e suas mãos tremem. Ela dá dois passos para trás, perde um pouco o equilíbrio, se vira, coloca uma mão na frente da boca e sai correndo.

Seu lindo vestido longo esvoaçando atrás de si, seus saltos retinindo no chão do teatro.

Por um momento sinto pena dela, mas me lembro que estou na mesma situação.

Observo Zeus novamente, ele está parado. A atriz se aproxima, coloca uma mão em seu ombro e Zeus dá um pulo.

— Quem era a maluca? - Ela pergunta, abraçando ele.

Zeus se desprende dela e sai andando, para na porta e se vira.

— Ela é minha esposa, e se ela se divorciar de mim, eu mato você – ele avisa, seus olhos parecendo uma pequena tempestade, cheia de raios e trovões.

Ele continua andando e quando está sozinho no corredor, se desintegra, assumindo sua verdadeira forma e se teletransportando para o Olimpo.

Ele aparece na porta do meu palácio, cubro rapidamente o espelho com uma renda preta e o espero na sala.

Ele entra com a cabeça baixa.

— Afrodite, Hera viu algo que não era para ver – ele diz. O olho intrigada. - Precisa fazer ela recobrar a razão e voltar para mim.

Seus olhos estão tristes e repletos de lágrimas.

Deuses, ele ama ela.

Ela ama ele.

Do mesmo jeito que eu amo Hefesto e Ares.

— Se você fez algo que não deveria, não sou eu quem irá consertar – respondo ríspida. - Você pode assumir seus erros e os consertar uma vez na vida. Boa sorte.

Acompanho ele até a porta e a fecho antes dele dizer mais algo.

Sorrio para mim mesma.

Um casal infeliz. Ponto para mim.