A Arte da Guerra escrita por clariza


Capítulo 15
// Ao Sul de Lugar Nenhum //


Notas iniciais do capítulo

hey there folks!!!!
Por onde andam as minhas leitoras? Bonecas, não sumam :(
Espero que gostem do capitulo que nem eu amei escrever e o capitulo tem um link de música escondido.



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Eu sabia que Bucky era bonito. Quero dizer ele tinha todas as características masculinas me atraiam, mesmo que isso fosse terrivelmente errado e eu tinha tentado matar essa parte minha que secretamente o admirava fisicamente, mas ficava realmente difícil quando nós convivíamos tanto tempo juntos. Eu já o tinha visto sem camisa e os quadris prendendo o calção no lugar, com camiseta velha e shorts, de pijama, Jeans casual, o look corrida, mas eu nunca tinha me preparado para a versão requintada de terno e gravata. Tínhamos comprado o terno semana passada, antes do incidente do sputinik e eu nunca o havia visto o usando, mas devido ao evento que fomos convidados ele vira a necessidade de usá-lo e eu de me arrumar elegantemente. Fazia séculos que eu não me arrumava propriamente, a ultima vez que eu tinha colocado um vestido de festa fazia meses então senti a necessidade de comprar um novo e um par de saltos altos.

Camila tinha nos convidado para o aniversário de casamento dela, e nós como o casal perfeitamente normal que aparentávamos ser tínhamos a obrigação de aparecer por serem os nossos únicos, apesar dos pesares, amigos. Então às oito da noite eu tinha terminado de colocar os meus brincos e descia as escadas tentando parecer menos desconfortável do que eu realmente estava eu não gostava de usar salto, o vestido era delicado demais, fluido demais, eu estava prevendo a minha despencada nada graciosa no chão.

Bucky estava disperso e sentado no canto mais longe possível da escada, ele estava me evitando, construindo um muro entre nós de novo, mesmo eu tendo dito que tinha sido um acidente e que não era culpa dele, eu sabia que no fundo ele estava com remorso doas suas ações. Ele tinha até parado de me chamar de boneca. Quando eu adentrava um cômodo ele discretamente saia, e recentemente tinha adquirido o habito de ir correr sozinho, o que me preocupava bastante, ele saia depois que achava que eu estava dormindo e voltava quando o sol estava raiando. Eu tinha fingido que não sabia o que ele estava fazendo, mas, essa manhã quando ele voltou e seus dedos da mão de carne e osso voltaram machucados eu realmente comecei a me preocupar, porem não trouxe o assunto a tona, havíamos sido convidados há tanto tempo, não seria justo comigo e nem com ele estragar uma noite potencialmente agradável.

Quando eu cheguei ao ultimo degrau, agarrando o corrimão com todas as forças ele tinha finalmente notado a minha entrada, os cantos da sua boca se levantaram suavemente os olhos focando em mim durante um segundo e vagando mais uma vez para qualquer coisa além de mim.

―Você está bonito ― eu disse em contra partida as suas investidas de me afastar e por que era verdade, ele estava bonito. O terno lhe caia bem, o tecido preto contrastava com a pele pálida dele, eu sabia que a natureza do tom de pele dele era bronzeada, no entanto eu nunca tinha chegado a ver essa tonalidade nele, a camisa por baixo do paletó também era preta assim como a gravata ― Quem diria que Bucky Barnes é o tipo de cara que fica elegante num terno, eu não tinha previsto isso.

Terminei de descer as escadas já que percebi que ele não iria se aproximar de mim, ele ajustou o seu terno e enfiou as mãos no bolso.

―Eu acho que você sabe que está bonita, então eu não preciso reafirmar isso pra você ― disse, ainda sem me encarar eu comprimi meus lábios me sentando numa das cadeiras da bancada sem poder apoiar a minha mão no rosto para não borrar a maquiagem que tão cuidadosamente eu tinha feito.

―Não precisa elogiar ― respondi ―Mas seria bom.

―Me desculpe então.

Revirei os olhos.

―Se você não quiser ir, tudo bem, eu posso cancelar ou você pode ficar em casa ― sugeri ― não tem problema, eu posso dizer que você está com enxaqueca ou algo do tipo.

―Por que você acha que eu não quero ir?

―Bem, você tem chamado Camila de Dumpfbacke* desde que a conhecemos, e especialmente hoje, achei que você a odiasse.

Ele me olhou confuso, se aproximando um centímetro.

―Você fala alemão? ― perguntou.

―Meu pai é alemão, claro que eu falo alemão ― sorri para ele ― eu falo alemão, inglês, Polonês, um pouco de Búlgaro, Romeno e eu posso dizer que arranho no russo já que tive que trabalhar com um bando deles e precisava saber quando eles estavam me insultando.

―Romeno? Qual a necessidade de se falar romeno?

―É a língua oficial da Sokovia, e eu morei uma boa parte da minha vida na Sokovia― Eu comecei a brincar com uma laranja enquanto esperávamos o Taxi ― procurei aprender a língua de todos os lugares que eu morei, ajuda quando você se muda muito.

Eu estreitei os olhos na direção dele.

―Você está mudando de assunto! ― acusei ― Você não precisa ir, mas se quiser vai ter que tirar essa cara amarrada, eles acham que somos um casal.

―Casais brigam ― rebateu.

―Mas eles fazem as pazes, você mal está olhando pra mim, todo mundo vai notar que tem algo errado, e fizemos muito barulho outra noite ― ergui uma sobrancelha em sua direção.

―Isso pode ser facilmente explicado ―ele disse, deixando o final da frase no ar, eu olhei para a laranja para que ele não visse que eu tinha corado levemente com a insinuação dele. ― Os pesadelos, metade da vizinhança sabe sobre isso ― concluiu a frase.

―Você está certo, só não fique de cara amarrada o tempo todo. ― reclamei, vendo pela parede de vidro que o nosso taxi tinha chegado, saímos do apartamento e fomos até a beira do lago, onde a festa aconteceria, a ponte JK cortava o céu negro salpicado de estrelas, Bucky me ofereceu o braço de metal para que eu me apoiasse e fomos andando na grama fofa até o cais, onde um barco chamado “machado de assis” aguardava os convidados, Camila e Pedro estavam em frente a embarcação. Camila e seu marido aparentavam estar feliz, ela usava um vestido longo e colado verde safira que caia perfeitamente no tom de pele escura dela, os cabelos estavam soltos em grandes ondas negras caindo por suas costas, estava fabulosa. Eles nos cumprimentaram e nos enviaram pra dentro, o ambiente era luxuoso.

Estava completamente certa em ter comprado um vestido novo, todas as garotas naquele barco usavam vestidos que deveriam custar um rim ou mais e todas sorriam em direção a Bucky. Chamei atenção dele para esse fato, ganhando um olhar de escárnio imediato e ele me guiou até uma mesa onde nos sentamos um uma mulher loira e seu marido, que imediatamente começou a conversar conosco num inglês perfeito, melhor que o meu, Felipa e Diego tinham estudado numa escola americana no Brasil e feito inúmeras viagens internacionais desde que se conheceram cinco anos atrás, eu fazia toda a social enquanto Bucky bebericava alguma coisa alcoólica que eu tinha recusado, expliquei que ele não era muito de conversa. O jantar foi servido, e comemos entre risos e conversas.

―Então, como vocês se conheceram? ― Diego perguntou. Eu abri a minha boca buscando algo para dizer e imediatamente olhando para James em busca de alguma ajuda, ele gargalhou.

―Se eu contar a minha versão da história ela me mata ― ele passou o braço sobre os meus ombros ― Effy adora contar essa história.

Eu o esfaqueei mentalmente com um garfo.

―Bem, tudo começou cinco anos atrás ― pigarreei ― Ele era apenas um soldadinho de papel e eu estava me formando em genética, eu tive que fazer uns testes na base americana e ele estava lá, e começou a me chamar de “boneca” e me convidar pra sair.

Eles riram e Bucky me olhava de soslaio com um leve sorriso em seus lábios.

―Eu obviamente o neguei, estava lá a trabalho! ― peguei o vinho que Bucky tinha deixado sobre a mesa e bebi um pouco, buscando uma ajuda divina de onde essa história ia acabar ― Voltei para a Sokovia, onde eu contratada por um laboratório na Polônia e me mudei, então como sabem o Iraque já estava em guerra e meu querido soldado foi em missão e alguém usou armas químicas e eu tive que ir investigar os efeitos no genoma humano. Bucky foi atingido nos olhos, mas sem sequelas permanentes, e ele me disse “Se eu voltar a enxergar, eu juro que vou te levar pra jantar comigo, boneca” ele não sabia que era eu, mas quando ele voltou a enxergar ele me arrastou pra jantar com ele.

―E ele te fisgou? ― Felipa perguntou animada.

―Não tão fácil, ele teve que fazer muitas viagens pra Polônia.

―Eu a ganhei quando um soldado tentou bater nela por ajudar um inimigo, eu nunca poderia admitir que isso acontecesse. ―ele disse me surpreendi que ele lembrasse ― ela queria ajudar um completo estranho potencialmente perigoso.

―Ele me salvou de uma rinoplastia com o Edward mãos de tesoura ― eu o olhei, meio sorrindo ― Parado num canto tentando decidir qual a melhor forma de socar aquele cara. É bem mais romântico do que soou.

Eles sorriram com a nossa história de amor, Felipa não conseguiu segurar o riso.

―Você realmente queria bater naquele cara?― perguntou, Bucky sorriu para ela tomando um gole do vinho tinto.

―Na verdade eu bati ― ele ergueu uma sobrancelha, eu o encarei surpresa.

―Quando foi isso?

―Quando você deixou a sala ― respondeu vagamente, sem realmente se importar com a minha indignação ― Vamos lá boneca, você achou mesmo que eu iria deixar isso barato, ele merecia. Nem você pode achar alguma coisa boa papisa.

―Bem... ― ele sorriu vitorioso ― Não é certo.

―Eu quero escrever sobre vocês dois ― Diego disse, fazendo com que eu e James o encarássemos assustados ― eu sou escritor, eu gosto de escrever sobre pessoas que eu conheço, vocês são um casal bonito, eu adoraria escrever algo sobre vocês. Eu posso sentir isso.

―Eu não acho que eu ficaria confortável com isso ― respondi, tomando mais um pouco do vinho branco da taça do Bucky ―Seria estranho.

―Eu não cito nomes, escrevo por cima eu posso te dar o meu site se preferir, pra vocês terem uma ideia da minha escrita, tem milhares de coisas sobre a Felipa e quem não me conhece na vida real nem sabe quem é a minha noiva, eu nunca disse o nome dela ou invadi a privacidade dela ― ele explicou ― e vocês não podem me culpar, olha só pra vocês dois! Estão até dividindo a taça.

―Eu te asseguro que isso foi um acidente, ela nem bebe! ― Bucky se intrometeu, também desconfortável.

―Tudo bem ― ele ergueu as mãos em forma de rendição ― eu não vou insistir.

Depois de algumas perguntas desconfortáveis sobre o nosso relacionamento, inclusive sobre como estávamos nos adaptando a um pais estrangeiro e o que tinha nos levado lá, algumas horas mais tarde fomos para proa onde Camila fez um discurso lindo sobre como o seu marido foi a melhor coisa que já lhe acontecera e eles durariam pra sempre, eu tinha achado bem bonito, e quando todos esvaziaram dianteira do barco eu me sentei no assento acolchoado of white e fechando os olhos, deixando a brisa gelada agasalhar o meu corpo, uma suave luminosidade afagava o meu rosto.

Eu sentia um doce ar aquecido preenchendo o meu interior, eu sabia que todo aquele vinho que eu tinha tomado devido ao nervosismo da ocasião, quando eu abri os meus olhos Bucky estava na minha frente, com as suas mãos nos bolsos os olhos fixos em mim.

―O que você está fazendo? ― perguntei.

―Checando se você não capotou com duas taças de vinho, isso é o seu recorde? ― balancei a cabeça, rindo dele.

―Do que está falando, você não nasceu durante a proibição?

―Eu não tinha idade para beber quando a proibição acabou.

Poderia ter sido aquela baixa quantidade de álcool dentro de mim, mas de alguma forma eu coloquei as minhas mãos na cintura.

―A festa está chegando ao fim e eu não acredito que o Sargento James Buchanan Barnes não vai me tirar pra dançar. ― Eu sentia um biquinho se formar nos meus lábios, ele esticou a mão com um sorriso.

―Boneca, me daria à honra de uma dança?― eu peguei a sua mão e ele me puxou delicadamente para cima, colocando uma de suas mãos na minha cintura e segurando a outra na altura do meu ombro, coloquei a minha mão livre sobre o ombro dele, de tão perto eu podia sentir o calor da pele dele, podia sentir o cheiro de sabonete e loção pós-barba refrescante e tinha um cheiro diferente, um adocicado meio picante.

―Está usando perfume, mister Barnes? ― Eu estava surpresa, ele ignorou o meu olhar acusatório com um sorriso. Apesar do interrogatório e da possibilidade de virarmos personagens, estávamos nos divertindo.

―A ocasião pediu ― Encostei a minha cabeça em seu peito, ficamos assim por um tempo, mesmo quando tocava alguma musica dançante continuávamos num ritmo lento. A minha mente vagava num lugar distante, me imaginei como seria uma Freya versão anos 40, me imaginei como uma refugiada na América. Imaginei-me num daqueles vestidos bonitos querendo trabalhar fora, será que eu poderia trabalhar? Ou que eu poderia ser uma cientista? Ou talvez eu fosse obrigada a me casar com algum soldado e ter filhos, como Bucky falara milhares de vezes, me perguntei se eu seria feliz.

―Aqueles que escapam do inferno, nunca falam sobre isso e nada mais os incomoda ― eu disse, de olhos fechados, ainda mentalizando a minha versão anos 40 ― Quero dizer, coisas como falta de uma refeição, ir para a cadeia, bater seu carro ou mesmo morrer.

―Do que você está falando? ― Eu abri os meus olhos, me afastando dele.

―Eu estava declamando um poema! ― reclamei.

―Um poema? Isso não soa como um?

―É Bukowski! Ele não é Edgar Allan Poe, que escrevia coisas bonitas e requintadas apesar de tanta tristeza e coisas macabras, mas, Bukowski era paixão bruta, exposta, um velho safado, eu gosto da escrita dele, e eu acho que esse trecho combina com você.

Havíamos parado de dançar e agora nos olhávamos atentamente, Bucky girou o meu corpo na sua frente e me trouxe de volta para a dança.

―Você nunca reclama de nada, nada nunca é ruim, você foi para o inferno e voltou.

―Por que o fato de eu estar aqui vivo e passando por isso é a melhor forma de celebração silenciosa que eu poderia ter, isso é mais que é o suficiente ― ele me girou no salão ― Eu estou num barco, com uma garota brilhante, numa cidade linda, do que eu deveria reclamar? Eu fico grato por quando eu acordo e há eletricidade ou quando eu olho pela janela e eu vejo ratos ou pessoas correndo com os seus cachorros, eu não vejo o que mais eu poderia pedir.

―Eu vejo, você poderia me deixar cuidar de você ― olhei em volta, verificando se estávamos realmente sozinhos ― poderia reverter o que eles te fizeram, eu posso te dar uma vida normal.

Nesse momento ele abaixou os nossos braços, me colocando ainda mais perto do seu corpo, suas mãos nos meus quadris, encostei a minha cabeça no seu peito a tempo de ouvir um meio sorriso melancólico.

―Você não pode reverter isso Effs, você só me deixaria fraco.

Não coloquei os meus braços sobre o pescoço dele, invés disso eu deixei as minhas mãos escorregarem até as costelas dele, onde eu o abracei ignorando completamente qualquer pensamento negativo sobre isso.

―Eu odeio isso, você é meu amigo, eu odeio te ver com dor, odeio ver você sair todos os dias e me deixar só por medo de me machucar, por medo que ele volte ― disparei ―Odeio não ser capaz de te ajudar, Bucks, eu não quero que você continue me afastando por causa dele.

―Você acha que eu estou de afastando?

―Sim, como dois polos iguais, você está me repelindo.

―Você é a pessoa que eu mantenho mais perto de mim, a que eu quero proteger e cuidar ― ele sussurrou ― depois do Yuri.

―Sim, claro, Yuri em primeiro lugar sempre.

Com a minha visão periférica eu vi o flash, pisquei os olhos me escondendo no paletó de Bucky, me virei para de onde a luz vinha, um fotografo estava parado perto de nós, explicando que precisava de fotos de todos os convidados, deixamos que ele tirasse fotos nossas e pedi que eles as me enviasse depois, para recordação.

Quando o fotografo saiu, Bucky beijou a minha têmpora e inclinou o meu corpo para trás, me fazendo levantar a perna e explodir em gargalhadas.

―Eu gosto de fazer isso ― Ele disse me abraçando, me segurei na lapela do paletó dele, ainda rindo. Quando eu olhei para cima, os seus olhos brilhantes encontrando os meus, um sorriso em seus lábios, eu notei o quanto eu queria beijá-lo. Eu queria que ele me puxasse tão perto e que eu pudesse me perder no cheiro dele, no gosto dele, nele. Queria que ele me beijasse tão ardentemente que o calor pudesse provocar um incêndio, que me consumisse. Mas ele não o fez e eu não tive coragem de beijá-lo. E eu finalmente entendi o quanto eu estava sendo estúpida por tê-lo negado e da minha coisa de somos amigos, não que eu estivesse errada na minha insistência, eu estava fazendo o certo. Mas era difícil pensar nisso agora, nessa posição.

―Acho que estamos bem convincentes agora ― ele disse.

―Sim, estamos. ―concordei.




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Notas finais do capítulo

Things have gotten closer to the sun
And I've done things in small doses
So don't think that I'm pushing you away
When you're the one that I've kept closest
Crystalized - The XX
( se o gif não pegou aqui o link > https://33.media.tumblr.com/71a91cdc50367069605dec8b342c4acf/tumblr_nsh4dwHHve1t5zzjfo1_250.gif)
(Dumpfbacke = pessoa chata e irritante em alemão )