A Arte da Guerra escrita por clariza


Capítulo 14
// Halloween no Natal //


Notas iniciais do capítulo

Heeeeeeeeeeeeey there folks.
Espero que gostem.



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Eu tenho a teoria que sonhos ruins são como teias de todas as aranhas crepitando assustadoramente em todos os cantos da sua mente, e a sua mente é como um labirinto que vai ficando cada vez mais estreito, se arrastando e me assombrando todas às vezes em cada esquina escura e amedrontadora. O labirinto é feito do seu medo, para alguns são palhaços enfileirados, para outros aranhas grotescas, para algumas pessoas eu suponho que seja feito do próprio medo, que seja viscoso, nojento e grude na sua pele a cada passo que nos damos no enredo dos nossos sonhos. Como areia movediça, quando mais você se mexe mais fundo você vai.

As milhares de histórias que eu tinha ouvido quando criança no consultório de mamãe agora se confundiam na minha própria mente. Por um longo tempo em me perdi nos labirintos alheios, me afundei em lamaçais que não me pertenciam, isso durou até que eu entendesse o meu próprio medo, até eu encontrar a minha própria floresta viscosa que se estreita. As paredes do meu labirinto são feitas de sorrisos perdidos e uma vida sacrificada, por todas as paredes eu ainda me vejo uma criança rechonchuda caminhando com seu irmão esguio numa zona de guerra, as paredes logo são pintadas de sangue, voando por todos os lugares, eu tento correr da onda vermelha que tenta me afogar, mesmo que em certas partes do labirinto seja inimaginável fazê-lo.

No final eu sempre chego ao mesmo ponto, há uma porta no final do labirinto, ela é metálica e gelada, eu sei o que eu vou encontrar lá. Eu não quero entrar pela porta, mas eu não tenho escolha, no desespero para fugir do banho de sangue eu entro na sala futurista onde há um caixão redondo ocupando a sala, a parte de cima é feita de vidro, e na extremidade onde devem ficar o fundo do caixão, existe um painel de controle com fios coloridos expostos. A sala é fria, e eu caminho até o caixão onde Oskar está deitado cercado por um gás branco que o mantém congelado, o rosto dele é o mesmo de quinze anos atrás quando ele morreu, ele tem lábios cheios e rosto oval, como o meu. Mas eu sei que quando ele abrir os olhos, suas pupilas são mais cristalinas que as minhas, são o verde que eu sempre quis ter, a pele dele está pálida ao contrario da cor habitual, flocos de gelo prende os fios de cabelos loiros juntos na sua cabeça.

Ele não acorda como eu espero que ele acorde e me diga a chave para trazê-lo de volta, ele nunca acordou, eu desperto sempre como se nada tivesse acontecido, sem um grande susto, sem pular da cama ou algo parecido, eu somente abro os meus olhos e fico o resto da noite encarando o teto e tentando me pegar aos detalhes, a alguma resposta, ao fim do meu labirinto. Nessas longas noites meu único conforto é Yuri, se aconchegando em mim como uma bola quentinha e reconfortante, um fio de realidade. Queria que ele entendesse que ele é uma das melhores coisas que me aconteceram e o quão ele é importante.

Bucky por outro lado quando acorda geralmente se senta na cama, tentando guiar a sua mente de volta para a realidade, algumas vezes ele acorda entre gritos e eu tento acalma-lo, eu digo que está tudo bem. Ele não me deixa tocá-lo, muito menos que eu me aproxime demais, quando o perguntei o porquê disso, ele disse que tem medo de me machucar durante uma crise.

Ainda não sei do que o labirinto dele é feito, mas eu suponho que seja de corpos de todas as pessoas que ele matou durante a sua vida, suspeito que as suas almas ainda o assombrem. Então eu sorrio e digo que tudo vai ficar bem. Eu me virei na cama, podia ver o peito dele subindo e descendo conforme a sua respiração lentamente, Bucky tinha o habito desconcertante de dormir sem camisa.

Quando ele acordou minutos mais tarde, ele se levantou com um grito profundo e verdadeiramente aterrorizado, rapidamente eu joguei o meu cobertor de lado e fui até a sua cama, me sentando a distancia segura que havíamos estabelecido.

―Bucky, está tudo bem ― eu disse, mas dessa vez o seu olhar parecia distante e perdido, o que era não usual para ele, geralmente ele voltava nos primeiros segundos dessa vez ele parecia preso dentro de sua cabeça, os olhos fixos em um ponto distante.

Eu me aproximei bem a frente da zona segura, tocando os seus ombros descobertos Bucky se afastou das minhas mãos, seus lábios entre abertos fitando a escuridão ao nosso redor a respiração pesada, entrecortada, ruidosa uma fina camada de suor brotava em sua cabeça, quando parecia não notar toquei o seu pulso. Acelerado. ― James, olha pra mim.

―Quem? ― perguntou, se afastando e tentando levantar da cama, eu segurei o braço dele tentando fazê-lo voltar, seus olhos me avaliaram por um momento ― quem é você?

Ele estava dissociando, naquele momento bucky não era mais ele mesmo, o verdadeiro James estava em algum lugar pedido dentro da sua própria mente. A dissociação é um mecanismo de defesa do nosso corpo, para preservar a nossa mente de algo, mas tudo que eu consegui pensar era: Se bucky está dormindo, quem está aqui?

Me movi para longe, criando um espaço entre nós, não havia lugares para eu correr e me esconder caso ele ficasse perigoso.Pensei no banheiro, onde eu poderia me prender com Yuri até que fosse seguro sair,eu só não sabia quando seria seguro sair.

―Eu sou a Doutora, lembra?― eu disse cuidadosamente, me ponto de pé.

Bucky se levantou do lado oposto da cama, ele fez como se fosse jogar o cabelo para trás até notar que não ele não estava mais lá, passou as mãos em sua cabeça procurando algum traço do seu cabelo e não encontrou nada. Juntei as minhas mãos na frente do meu corpo e mantive a minha pose séria, facilmente quebrada pelo meu pijama verde do hulk se eu alcançasse meus óculos de leitura eu poderia pelo menos tentar ― Estamos aqui num experimento social, você deve deitar agora e aguardar as minhas instruções.

Apontei para a cama, ele hesitou.

―Onde estão os aparelhos? ― perguntou, se recusando a voltar para a cama.

―Escondidos, é um experimento de adaptação, nós precisamos medir os níveis de stabiliendum no seu organismo durante o sono, e averiguar uma possível narcolepsia ou catalepsia e como essas alterações afetam o seu tecido cerebral, causando a perca de neurônio, que causa morte cerebral. ― ele ainda parecia confuso ― O dispositivo que vai medir os níveis já está dentro do seu organismo, você os ingeriu algumas horas atrás antes de dormir. E te causou amnésia temporária, curioso.

Eu me afastei, indo até mais perto do banheiro, pegando meus óculos de leitura no caminho.

―Tudo está borrado ― ele disse, se sentando ― Eu não me lembro de nada disso.

―Qual a sua ultima memória, soldado?

―O porta aviões, eu estava na América, uma missão. ― ele me encarou, seus olhos perfurando a minha pele.

―Sua missão foi concluída com sucesso, alvo eliminado, você voltou para a base de Piasa.

―Não, eu não finalizei Doutora Konstantinovka― ele se levantou.

―Sim você finalizou, é por isso que estamos aqui hoje. Agora eu realmente preciso terminar isso.

Eu mal pude ver os seus movimentos, quando dei por mim Bucky estava vindo em minha direção numa velocidade incrível. Agradeci por estar tão perto do banheiro e ter dado tempo o suficiente para que eu corresse e me trancasse lá dentro.

As batidas na porta eram ensurdecedoras, a madeira da porta soltava ácaros a cada batida e eu sabia que não haveria muito que eu pudesse fazer pra me defender do soldado, meu coração batia completamente descompassado e eu sentia a minha respiração falhar. Eu precisava ser racional, com os poucos segundos que eu sabia que tinha eu abri o armário do banheiro e peguei algumas coisas, um pouco da minha maquiagem e embalagem do enxaguante bucal, misturei algumas coisas e eu só precisava de um catalisador para ter um explosivo. Yuri estava do lado de fora. Eu não podia explodir o apartamento e eu não tinha nada para fazer clorofórmio.

Eu não podia me desesperar, havia uma solução eu só precisava pensar, quando o braço metálico pelo buraco que ele havia feito na porta e tentava agarrar qualquer coisa a seu alcance. Afastei-me da porta, entrando no box do chuveiro e me colando na parede, meu ombro esquerdo tocando a bancada onde ficava o xampu e os sabonetes. Bem eu poderia jogar xampu nos olhos dele, o que poderia me dar tempo de correr para algum outro canto da casa.

A porta de destroçou em um milhão de pedaços, voando por todos os lados, eu me abaixei segurando um frasco de xampu torcendo para que ele não me visse o que foi muito ingênuo da minha parte, ele me veria de qualquer forma, ao colocar seus olhos em mim ele veio na minha direção e eu senti o mundo entrando no mudo e um deja vú começando na minha cabeça, ele a principio agarrou as minhas pernas, enquanto eu me debati feito um peixe fora d'água em desespero, tentei chutá-lo com força, mas meus pontapés eram em vão.

Bucky era descomunalmente mais forte que eu. Em questão de segundos ele já tinha puxado com corpo quase completamente para fora do box, e tentava se posicionar em cima do meu torso, enquanto eu me retorcia e acertava a sua cabeça e ombros com o xampu, foi quando eu comecei a gritar, eu gritei o seu nome caso ele de alguma forma pudesse me escutar e acordar de vez, o que não aconteceu.

Minha mente vagava entre o terror absoluto e a esperança cega. Quando uma mão dele prendeu os meus pulsos sobre a minha cabeça, eu fechei os meus olhos e gritei “Sputnik” umas três vezes pra ter certeza de que realmente iria funcionar. O corpo dele caiu imóvel sobre mim, me esmagando com o seu peso, comprimindo meus pulmões. Um suspiro aliviado cortou os meus lábios, o mecanismo de Sputnik foi implantado no soldado para “desligá-lo” quando as coisas saíssem do controle. Eu nunca tinha realmente levado a sério até que isso fosse realmente necessário.

Empurrei o corpo dele para o lado, sentando e colocando a minha cabeça entre os meus joelhos. Eu sabia o que tinha de fazer, antes que o pânico me consumisse eu corri até o armário da cozinha e peguei a fita adesiva cinza e amarrei as suas mãos e pés e sai do banheiro, pegando Yuri contra a sua vontade e o fazendo deitar comigo, explodindo em fim em lagrimas.

Chorei tudo que eu tinha prendido até agora em relação à Bucky, até eu sentir o meu rosto esquentar e inchar. Eram lagrimas iguais as que eu costumava chorar, eram lagrimas de dor de se perder algo e não ter certeza se um dia iria voltar, o choro da incerteza era o pior tipo de lamuria. Eu poderia pedir a Deus ou algo parecido que não tirassem Bucky de mim, mas, a minha mente cientifica recusava isso, eu me recusava a acreditar em algo que eu não pudesse provar a existência. Era difícil. Mas, do mesmo jeito eu pedi.

“Querido Deus, sei que tenho sido uma péssima ovelha, mas eu preciso pedir para não tirar aquele homem dele mesmo, deixe-o encontrar o seu caminho de volta” ele não voltou. Levantei-me três vezes para ter certeza de que ele ainda estava respirando, James tinha caido no chão do banheiro e eu o cobri com o seu edredom e por volta das quatro da manhã eu peguei o meu edredom e deitei dentro da banheira, eu não conseguir pregar os olhos o resto da madrugada.

Bucky só acordou quando eram por volta de sete da manhã, a primeiro ele se assustou por estar amarrado eu esperei até ter certeza de que era ele mesmo para puxar a fita, não que ele não pudesse fazer isso, ele podia fácil até demais.

―Você dissociou ― Avisei, cortando a fica com uma tesoura, percebi que ele tentava processar as minhas palavras ― eu quero dizer, você não era mais você mesmo, ele esteve aqui.

Ele ouviu cuidadosamente, desamarrando os seus pés, quando se levantou se afastou de mim como o diabo foge da cruz.

―Eu te…

―Não ― menti, eu não podia deixá-lo se sentir mais culpado ainda por algo que não era culpa dele. Era um efeito colateral do transtorno pós-traumático. ― você só ficou confuso, tentou fugir então eu disse a palavra com “S” e você dormiu, mas eu fiquei receosa de que ele voltasse então eu usei a fita.

―E a minha confusão te deixou com os braços vermelhos, Freya?― ele perguntou com desprezo, eu não tinha notado que os meus braços estavam machucados, ele avaliou o estado do meu corpo, não podia ver as possíveis marcas das suas mãos nas minhas pernas por causa da minha calça do pijama.

―História engraçada essa, um acidente…

―Não tem nada engraçado eu ter machucado você, quando eu havia prometido que eu não o faria.

―Não foi sua culpa, isso foi contra a sua vontade Bucky você não tem escolha ou controle sobre ele, você não pode se culpar por isso, foi um acidente você não queria… ― eu me aproximei dele, Bucky se afastou mais uma vez, com seus braços erguidos dizendo para eu sair de perto ― Bucks, de todas as vitimas dele você é a mais ferida, durante anos você foi abusado, tratado como uma arma descartável, desumanizado, você nunca teve como escolher o seu caminho, você agora está colhendo as consequências disso. Infelizmente.

Eu lhe mostrei os meus braços, mais uma vez.

―Isso não é nada comparado com o que poderia ter sido ― ele desviou o olhar ― você achou o seu caminho de volta, e eu estou feliz com isso, eu estou feliz que a sua mente achou um jeito de volta, você está se recuperando. Colocando ele de lado.

―E eu posso te matar no processo ― havia amargura e nojo no seu tom de voz.

―Mas, eu sei que você não vai.

―Eu queria que fosse simples assim ― respondeu me deixando sozinha no banheiro.


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Notas finais do capítulo

He's an expert in the art of war
studied all his strategies
read the maps and saw the plans
its looking to me like world war three
Art Of War - Caroline Webb