Quando eu era pequena, tinha medo de tudo. Desde filmes de terror à lendas urbanas. Eu me sentia excluída de saber que eu era a única das minhas amigas a acreditar nessas coisas. Por isso comecei a me isolar de todos.

Com quatorze anos entrei em depressão, minhas notas na escola começaram a cair e posso dizer por mim mesma que eu comecei a enlouquecer. Eu comecei a ser o tipo de pessoa que via o bem onde todos não veem. Principalmente nele...

Eu estava sozinha em casa, no meu quarto escuro. Eu odiava abrir as janelas e acender a luz. Eu, basicamente, amava o escuro e observar o teto do meu quarto, sem fazer nada. Meus pais não se importavam comigo e não ligavam se eu tinha depressão ou não. Eles vivem dizendo que eu atrapalho a vida deles. Eles nem dariam a minha falta se eu morresse...

Pensar sobre a morte não era mais um incomodo para mim. Eu adorava morte e tortura. Acho que essas são duas das poucas coisas que eu gosto...

Eu não sabia o que fazer e nem sabia o que pensar quando decidi fazer aquilo. Eu nem ligava para isso, na verdade.

Sai de casa e fui para a floresta logo à frente dela. O cheiro do ar puro sempre me fazia dar um sorriso. Eu amava aquela floresta, mesmo sabendo que era proibida. Eu não ligava para isso. Eu só queria encontrá-lo.

Quanto mais fundo eu entrava na floresta, mais escuro ficava. Eu devia ter trago um casaco porque já estava sentindo um pouco de frio. Mas eu não podia voltar, não agora...

Horas se passaram. Minhas pernas já estavam cedendo ao peso do meu corpo cansado. Eu já estava longe demais para voltar e acho que estou quase em meu objetivo. Mas eu estou tão cansada... Acho que ele não vai se importar se eu dormir em alguma árvore próxima.

Me encostei em uma árvore e dormi.

Acordei com barulhos de passos perto de mim. Me levantei rapidamente e olhei ao redor. Não havia ninguém e parecia estar mais frio do que antes.

Eu não o ouvi, mas senti que ele estava atrás de mim. Eu conseguia sentir a presença dele. Queria que ele me atacasse, que se teleportasse para eu poder ver seu rosto. Não ligo se ele me matar. Eu já estou morta há anos.

Me virei para olhá-lo. Ele era mais alto do que eu pensava. Ele usava um terno preto e não tinha rosto. Seus braços eram compridos e ele tinha vários tentáculos negros. O homem esguio estava ali, bem na minha frente e eu não sabia o que fazer. E parecia que ele também não sabia.

—Você não é quem todos pensam que é. Não ligue para eles. Acho que as pessoas não sabem mais no que devem acreditar. — A verdade é que o homem esguio não era perigoso. Como todos os monstros, ele era assustador, mas tinha uma má imagem a seu respeito. Tudo o que ele quer é um abraço, mas ele não sabe como fazê-lo e acaba fazendo coisas horríveis. Por isso ele é solitário e ninguém chega perto da floresta. Ele é solitário assim como eu...

—Queria não ser tão amedrontador. - Disse um sussurro. O seu sussurro era como uma brisa suave.

—Para mim você não é. - Falei, em voz baixa.

Peguei a sua mão e a acariciei. Era estranho sentir aqueles dedos finos e sua pele fria, mas ao mesmo tempo era reconfortante. Acho que se ele pudesse exibir alguma expressão em seu rosto, seria de espanto por eu ter coragem de tocá-lo.

Cheguei mais perto dele e o abracei. Ele não fez nenhum movimento, apenas deixou eu abraçá-lo.

Ele não era um monstro. Era apenas alguém que queria um abraço...