Stiles me olha com sangue nos olhos e juro que se transformasse como eu, ele com certeza teria me arranhado até eu estar sem forças no chão. Seus olhos estão inchados então sei que ele chorou a pouco tempo. Mas o que aconteceu? Scott continua sentado no sofá fingindo que nada está acontecendo. Não faço nada com Stiles, pois não quero machucá-lo, então apenas fico olhando para ele.

— Me diz! O que você fez com ela? — Stiles grita.

Eu fiz o que, com quem?

— Eu fiz o que? Está maluco? — Falo praticamente sussurrando, já que estou assustada.

— Você sabe de quem estou falando. — Stiles para de gritar e fala normalmente, controlando a respiração para não chorar. Lydia. Ele só pode estar falando dela.

— Eu não fiz nada com ela. — Ele me solta e se afasta rindo.

— Anne, não somos burros.

— Eu juro que não fiz nada. Que eu não sabia de nada. Vocês desconfiaram de mim sem ao menos me ouvirem! — Se ele acha que tem direito de falar mentiras sobre mim, posso falar o que quero também — Vocês mentiram para mim e ainda foram atrás de respostas sem eu saber. Todo dia e a cada momento eu lembro que a Lydia foi sequestrada okay? Choro de noite e quando consigo dormir, sonho com ela. — Respiro fundo, mas não adianta — Liam é o meu melhor amigo, você acha que eu o sequestraria? Ou deixaria que o meu pai o sequestrasse? — Grito e é a vez de Stiles me olhar assustado. Scott levanta do sofá e vem até nós.

— O Liam foi sequestrado também? — Scott pergunta preocupado. Balanço a cabeça em afirmação. Mas o Isaac não vinha aqui contar? Ah meu Deus.

— O Isaac não veio aqui? — Pergunto com a voz falha. Não pode ser. Ou levaram ele, ou ele resolveu ir investigar sozinho. Nenhuma das alternativas são boas, considerando o fato dos boatos do bando.

— Não. — Stiles diz pensativo. — Ele me ligou dizendo que estava chegando, mas até agora nada....

— Ai meu Deus, levaram Isaac.

— Ontem também levaram a Alisson. — Stiles diz pensativo. Já pegaram praticamente todos do bando, só faltam Scott e Stiles – já que eu não os interesso. Logo, logo saberemos o que eles realmente querem e eu não sei se quero saber.

— Pera, como você sabe que o Liam foi sequestrado?

— Eu estava com ele quando aconteceu. — Stiles me olha desconfiado.

— Tem certeza que não o deixou escapar sem querer? — O que preciso fazer para ele parar de desconfiar de mim?

— Chega Stiles, se você não quer acreditar em mim, não vou ficar aqui beijando seus pés e implorando que acredite em minhas palavras. Se pra você é mais importante desconfiar de mim a ir salvar a menina que você ama, tudo bem, mas eu vou atrás das pessoas que eu gosto. Viro as costas e saio batendo a porta. Entro no carro pisando duro e Mary me olha assustada.

— O que houve? — Ela pergunta terminando de limpar suas unhas.

— Stiles me enche as vezes.

— Quem é Stiles? Assim que ela termina de falar, Scott e Stiles vem em nossa direção. Ligo o carro pois não quero continuar ouvindo Stiles me acusar injustamente. Scott grita.

— Por favor, me ouça! Juro que vou te ouvir. Não desligo o carro, mas também não dou a partida. Eles se apoiam na janela do carro e olham para Mary, que fica meio confusa com a situação.

— Quem é ela? — Stiles pergunta.

— Mary, minha prima que se mudou para cá. — Explico, tentando deixar claro que ela vai ter que andar comigo.

— Uma hora ou outra ela terá que saber de tudo,então melhor contar agora. —Mary me olha confusa.

— Saber de quê? — Não respondo, então ela bufa. Não sei como dizer toda a verdade agora, na verdade não sei como dizer para ela a qualquer momento.

— Depois eu te conto. — Digo e ela olha para Scott.

— Alguém pode me explicar o que está acontecendo? — Mary pergunta para eles. Scott coça a cabeça e olha para mim e Stiles finge que não ouviu, uma atitude bem idiota, já que ele está bem ao lado dela, apenas separados pela porta do carro.

— Meu pai não está traindo a minha mãe. — Respiro fundo para continuar — Eu inventei tudo isso para você me ajudar sem se meter por completo em toda história e eu também não teria coragem de contar. Medo da sua reação? Sim, já que para mim foi muito difícil... —Scott me interrompe com um uivo. Mary vira para trás e o vê transformado e dá um grito histérico.

— Mas que demônios é isso? — Ela grita, se afastando da janela e praticamente vindo para cima de mim. Desligo o carro e seguro em seus braços, fazendo com que ela olhe em meus olhos.

— Você precisa se acalmar. — Digo e ela fica em silêncio e isso me deixa meio assustada.— Mary?

— Eu, eu... — Ela passa a mão em seus cabelos — Eu já vi gente assim antes. Eu achei que era um sonho, real demais, mas mesmo assim um sonho. —Quem ela viu assim?

— Quem estava assim? — Stiles pergunta antes de mim.

— Meu pai. —Ela parece completamente perturbada, mas sei que ela vai superar, assim como eu. Será que o pai dela também se mudou para cá por causa de Scott?

— Uma coisa que me intriga muito é o fato dos pais de vocês serem lobisomens e vocês não terem nascido lobisomens. Será que eles foram mordidos depois de vocês nascerem? — Stiles pergunta, e eu realmente não sei a resposta.

— Veremos isso depois, agora a gente tem que dar um jeito de encontrá-los.

— Mas por que vocês querem encontrá-los? — Mary pergunta confusa.

— Eles estão sequestrando meus amigos, por uma razão desconhecida. — Digo.

–Acredito que eles estejam atrás de Scott e vão usá-los para conseguir o que querem. — Stiles diz.

— Mas o que eles querem do Scott?

— O poder dele. — Digo. O celular de Scott anuncia uma nova mensagem e ele ignora. Stiles o olha com um olhar de reprovação.

— Melhor você ver, vai que é o Derek ou Isaac. —Scott pega o celular e vê a tal mensagem, depois disso ele passa o celular para Stiles que bufa.

— Sério?

— O que foi? — Pergunto curiosa.

— Temos um compromisso hoje no colégio.

Mandaram uma mensagem para o Scott dizendo para ele ir ao colégio à 00:00, temos um dia inteiro para bolar um plano, mas eu e Mary não podemos dar muita bandeira, porque se alguém estiver nos vigiando, descobrirão que armaremos um plano. Scott e Stiles foram atrás do Deaton e eu e Mary agora estamos entrando em minha casa. Combinei com Mary que a contaria tudo quando chegar em meu quarto se meu pai não tivesse em casa.

— Demoraram, hein. — Minha mãe diz assim que passamos pela sala.

— Achei que ela fosse me levar até algum lugar interessante, mas ela me levou até a biblioteca para ver coisas de trabalho escolar. —Nós duas seríamos ótimas atrizes, eu acho. Minha mãe ri.

— É bom que você já sente a pressão do colégio novo, afinal, você começa amanhã. —Amanhã?

— Amanhã? — Mary perguntou tão surpresa quanto eu.

— Seus pais pediram para ver as coisas antes de vocês chegarem, então você já está matriculada.

–Fala sério, meus pais não tinham coisa mais importante para ver não? — Cloe riu, nem tinha percebido a sua presença.

— Lá é muito legal, você vai gostar. E tem vários meninos bonitos. — Todas nós rimos.

— Garota, to de olho, hein. — Minha mãe diz para ela.

— Agora vou terminar uma pesquisa lá em cima e daqui a pouco descemos para almoçar.

Chegando ao meu quarto, tranco a porta e sento em minha cama, fazendo o mesmo que Mary. Ela respira fundo.

— Pode contar tudo.

Depois de contar tudo desde o dia em que fui mordida, até hoje cedo, Mary me olhou boquiaberta. Durante todo o tempo em que eu falei, Mary não fez nenhuma pergunta e isso me deixou meio intrigada, mas talvez seja apenas o espanto com tanta informação.

— Meu pai é um lobisomem e está com o seu pai sequestrando seus amigos? — Mary pergunta confusa.

— É uma hipótese.

— E nossas mães? Será que elas sabem de tudo isso? —Isso nem tinha passado em minha cabeça. Será que sabem?

— Não sei.

— Na lua cheia você vai se descontrolar?

— Provavelmente, mas Isaac disse que preciso de uma coisa para me estimular a voltar ao normal. Eles falam que é uma âncora . —Mary parece pensativa.

— E você vai ficar aonde durante esse processo? Você não pode ficar em casa, se não pode matar seus pais e sua irmã.

— Eu não sei de muita coisa ainda, Isaac está me explicando as coisas aos poucos, são muitas informações.

— Okay. E mais tarde a gente vai atrás deles? —"A gente?" Se ela acha que vai, está muito enganada.

— Você não vai a lugar nenhum. — Ela ri.

— Você acha mesmo que eu vou ficar de fora dessa? —Não é possível, ela só pode estar achando que estamos em um filme ou série.

— Mary isso é perigoso, às histórias que ouvimos sobre esse bando não tiveram finais felizes. E você não tem poder nenhum, não vai se curar se algo acontecer com você.

— Stiles também é humano. —Putz.

— Mas ele já está acostumado.

— Eu também vou me acostumar.

— Não! Você não vai! — Grito e Mary me olha assustada — Mary, desculpa. Eu não posso deixar que nada aconteça com você.

— Tudo bem. — Ela praticamente sussurra. —Fico feliz que ela tenha entendido. Dou um abraço apertado nela e ela retribui.

Durante a tarde pedi que Mary me ensinasse algumas táticas de defesa e de ataque, e apesar de ser bem difícil, eu consegui aprender alguns. São 23:00 e eu estou me preparando para sair de casa. Combinamos de nos encontrar na casa de Scott para rever o plano. Tranco a porta do quarto e saio silenciosamente pela janela. Entro no carro, depois de empurra-lo até uma certa distância para não ser possível ninguém lá de casa ouvi-lo e dou a partida.

Chego à casa de Scott e vejo Stiles, Scott, Deaton, mais um senhor e um rosto familiar. Mary. Eu vou matar essa garota. Falei que era para ela ficar em casa! Vou até eles pisando duro.

— Vai para casa agora!

— Já disse que vou com vocês. Já até acharam uma função para mim, agora não tem como voltar atrás. — Ela diz sorrindo vitoriosa.

— Eu te odeio.

— Bom, qual é o plano? — O senhor que eu não conheço pega duas armas que estavam em sua cintura e as avalia.

— Antes de tudo, Anne esse é o Sr.Argent, pai da Alisson. — Scott diz. Ele assente com a cabeça e eu sorrio. — O plano é o seguinte, vamos encurralar eles. Não sabemos quantos deles têm, mas temos que tentar. Mary e Stiles ficarão juntos. Deaton e Sr.Argent também. Eu vou sozinho encontrá-los no ginásio, como pediram

— E eu? — Pergunto.

— Você tenta achar o pessoal, acredito que eles estejam lá. Trouxemos algumas coisas deles, tenta seguir o cheiro.

— Acho que posso fazer isso.

— Okay.

— Agora vamos. — Deaton diz.

O vento frio faz os pelos de meus braços se eriçarem. Nós seis estamos parados atrás do estacionamento do colégio. Na teoria parecia muito menos perigoso do que na prática. Está tudo muito silencioso e isso me deixa um pouco apavorada, ainda mais com esse silêncio entre nós.

— Bom, vocês podem usar isso para se proteger e isso para prendê-los. — Deaton diz dando uma bolsa grande com mais ou menos uns 5 quilos de pó preto e uma bolsinha com algumas seringas.

— O que é isso? — Mary perguntando segurando as seringas e Stiles pega o saco com o pó preto.

— Veneno de Kanima. — Mary faz uma cara dúvida, então ele explica. — Ele paralisa por uns minutos, talvez até horas, dependendo da quantidade que injetar. E o pó se chama... —Quando Deaton ia continuar falando, ele é interrompido por um grito estridente. Todos tampamos os ouvidos, menos Stiles que está com o saco nas mãos. Sabemos de quem é esse grito. Lydia.

— Vamos, não temos mais tempo. — Stiles diz começando a andar. Scott coloca a mão em sua frente, bloqueando sua passagem.

— Vocês têm que esperar eu entrar primeiro, lembra?—Stiles bufa, mas reconhece que Scott está certo.

— Vai logo. —Scott respira fundo e vai em direção a porta que leva do estacionamento para dentro da escola. Ele quebra a corrente que estava fechando a porta e entra na escuridão.

''Agora é só esperar''.