Pensão da tia Odete. escrita por Costa


Capítulo 6
Capítulo 6




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Apesar de estar um pouco moído, dormi bem como há dias não dormia. Não acordei por música alta e nem por gritos, mas um desgraçado tinha que vir bater na minha porta. Levantei reclamando e fui ver quem era. Abri a porta e me deparei com um homem, mais alto do que eu e mais musculoso. Será morador novo?

–Posso ajudar?

–Rogério?

–Eu mesmo.

Nesse momento a besta me atingiu com um golpe certeiro no rosto. Desmaiei. Acordei após alguns minutos com um forte cheiro de álcool. Olhei ao meu redor e me vi deitado na minha cama com a dona Odete tentando me acordar. A maioria dos moradores estavam no meu quarto. A besta discutia com a criatura nefasta, não pude deixar de ouvir a conversa.

–Por que bateu nele, Carlos?

–Porque mulher minha não fica por aí trazendo bebuns quando o dia tá amanhecendo. Ele precisa aprender que você tem dona.

–Ele não estava bêbado!

–Claro que não. Alguém em estado normal precisa ser carregado escadaria acima.

–Aguenta aí, como sabe que eu o ajudei nas escadas? Pode ir falando, Carlos, quem te contou?

–Não interessa. O que interessa aqui é esse engomadinho.

–Se não me falar quem te contou, não te darei explicações nenhuma.

–Tá bom, foi o Jorge. Satisfeita?

–Agora sim. Para seu governo, o Rogério é meu patrão e eu o estava ajudando já que ele estava com intoxicação alimentar e mal conseguia andar.

–Fosse se arrastando pela escada. Precisava se apoiar, tocar em você?

–Mas eu que ofereci a ajuda, Carlos.

A besta saiu andando e a criatura nefasta foi atrás. Mais da metade dos moradores os seguiram. Creio que queriam saber em primeira mão das fofocas. Só ficaram no meu quarto Odete, Camilo e Ricky Martin.

–Rogé, que babado forte é esse? Você colocou o chapéu no Carlos? –Camilo me perguntou.

–Chapéu, que chapéu, Camilo?

–O de corno. Tudo bem que sou gay, mas admito que a Lívia é uma mulher bonita. Deixa qualquer homem babando.

–Não, eu e a cri, digo, a Lívia somos apenas colegas. Ela só me ajudou ontem porque estava passando mal.

–Já que estava passando mal, por que não me acordou? Ficaria feliz em te carregar.

E em me apalpar.

–Não quis incomodar, mas agradeço no mesmo modo.

Jorge, o motivo dos meus problemas, entrou no quarto com cara de poucos amigos. Pegou Ricky Martin que dormia tranquilamente sobre minha cama e lançou apenas um olhar para Camilo. Ele logo entendeu, se despediu de mim e correu atrás do macho man dele.

–Você está melhor, meu filho? –Dona Odete me perguntou.

–Estava, dona Odete, mas agora tenho o olho roxo e meu estômago remoído.

–O olho ainda vai ficar marcado uns dias, mas seu estômago podemos arrumar com uma boa sopinha. Espera aqui que eu vou preparar e já trago.

–Não precisa, dona Odete.

–precisa sim. Você não está bem e precisa de alguém que te ajude.

A senhorinha saiu falando e me deixou sozinho no quarto. Levantei cambaleando e fui até o espelho. Queria ver o tamanho do estrago. Para o meu desespero não era pequeno. Estava com o meu olho esquerdo bastante vermelho. Amanhã estaria todo roxo. O Jonas vai rir da minha cara até cansar. Como não havia outra coisa a não ser chorar, deitei em minha cama novamente. Depois de quase uma hora, dona Odete voltou com uma bandeja e um enorme prato de sopa fervendo, delicia nesse calor, me fez sentar na cama e colocou a bandeja sobre minhas pernas. Me colocou um babador improvisado e quando iria pegar a colher para tomar esse conteúdo, ela me tirou a colher das mãos e enchendo de sopa me enfiou goela abaixo. Ela deve achar que ainda sou criança.

–Dona Odete, calma. Eu sei tomar sozinho.

Outra colherada na minha boca. Essa estava quente, desceu queimando.

–Então toma tudinho, não quero ver nenhuma gotinha no prato.

É, ela acha que sou criança. Preferi não discutir. Peguei a colher e tomei toda a sopa. Até que estava boa, tenho que admitir. Estava melhor do que meus sanduiches e minhas barrinhas. Até me senti melhor depois de disso.

Achei que poderia finalmente descansar, estava quase dormindo quando entraram no meu quarto fazendo algazarra. Logo saltei da cama achando que fosse a besta para me atacar novamente, mas era só o Jonas. Ele ria como um louco.

–Isso tudo é medo, Rogério?

–Cala a boca, Jonas. Já te contaram, não é?

–Já. O seu rosto está bonito. Já está criando uma coloração roxa.

–Quem te contou?

–Uma moça bastante simpática, ruiva. Vânia, eu acho.

–Flávia.

–É, é Flávia. Gente boa a moça.

–Fala logo o que veio fazer aqui.

–Ver como estava meu melhor amigo, ver se ainda estava vivo e se você e a Lívia não se mataram.

–Estou meio vivo, a Lívia não me matou, mas o namorado, peguete dela, não sei, quase.

–Por falar nele, ele e a Lívia estão lá na rua batendo boca.

–Bem que ele poderia me fazer um favor e estrangula-la, já que eu não posso.

–Do jeito que estavam, é bem capaz mesmo dele fazer isso.

–Com uma mulher como aquela, eu não o julgarei se fizer, ao contrário, até agradeceria. Seria menos dois para me atazanar.

–Dois? Sei que nunca foi bom em matemática, Rogério, mas errar essa conta é demais.

–Dois sim. A Lívia morre e ele vai preso. Menos dois.

–Deus! Você está mesmo ficando um amargado, como ela diz.

Continua.


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