Pensão da tia Odete. escrita por Costa


Capítulo 33
Capítulo 33


Notas iniciais do capítulo

Fala gente! Tudo bem com vocês?
Consegui digitar mais um capítulo. Acho que tenho uma péssima notícia: A história está chegando em sua reta final. Não sei exatamente quantos capítulos ainda terão, mas já está em sua última fase.
Eu deixarei mais esse e espero de coração que gostem.
Forte abraço e até a próxima.



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Depois do mico que paguei tendo que cantar, agora o pessoal tá me chamando de Batman Caipira. Será que eles não podem me chamar só de Batman ou de Batman amargado? Ao menos com esses já me acostumei. Mas, deixa quieto. É melhor não discutir mais com eles. A Roseni parece que ouviu o que disse. Ela está lidando melhor com o pessoal daqui, mais simpática. Me parece que ela está começando a ceder aos encantos do Jonas. Eles até saíram outro dia para almoçarem juntos. Tomara que engatem.

Minha mãe, depois de um tempo aqui e conhecer o meu bar, voltou para a Bahia. Graças a Deus! A amo, mas já não aguentava mais ela contando os meus podres para todos. Todo mundo tem um passado um pouco negro, mas ninguém precisa saber.

Também comprei um desses celulares mais moderninhos. O Camilo zombou um pouco de mim, mas acabou por terminar de me ensinar a mexer naquela tranqueira. É muito complicado pro meu gosto. Ainda preferia meu bom e velho “tijolão”. Adicionei a Lívia no Whats e até conversamos por um tempo, uns 10 dias. Ela me contou que o Carlos estava andando meio estranho. Viajando a trabalho mais que o normal. Achei que se continuasse assim, eu teria uma chance, mas já faz mais de um mês que mando mensagens e ela não me responde. Acho que deve ter se acertado com a besta peluda.

Eu, depois disso, tenho andado meio deprimido. Pra me distrair comecei a sair com umas velhas “amigas” que tenho, mas a verdade é que já não é a mesma coisa. Eu nunca fui muito de me ligar em nenhuma mulher e essas “amizades” sempre bastaram para me satisfazer, mas depois que estive com a criatura já não é mais a mesma coisa. Acho que ela jogou uma macumba de amarração bem forte em mim. Sempre achei que eu seria aquele tipo de cara que não se ligaria em ninguém, morreria solteiro. Talvez até cassasse para formar uma família, filhos, mas nunca achei que realmente me apaixonaria por alguém. Apesar de tudo, eu só desejo o melhor para a Lívia e que ela seja muito feliz, mesmo que não seja comigo.

Eu estou com dor de cotovelo, sentimento de fundo de poço, mas a vida precisa continuar e eu trabalhar. Acabei de tomar um banho rápido e já estou na rua esperando o Djair e a Flávia para eles me darem uma carona.

–Rogé, preciso falar contigo. Tem um minutinho? –Camilo, apareceu não sei de onde, com o Ricky Martin.

–Tenho. Estou esperando o Djair e a Flávia, mas aqueles lá sempre demoram.

–Você tem falado com a Lívia?

–Não. Tem mais de um mês que deixo mensagem e ela não me responde.

–Ai, agora fiquei preocupado. Essa babado não tá me cheirando bem.

–Você também não tem falado com ela?

–Não e já estou ficando nervoso. Nem mais pra casa dela eu consigo ligar. Só diz que o número não existe.

–Agora tu também me deixou encucado. Será que tá tudo bem?

–Isso que não sei. A Lívia nunca ficou tanto tempo assim sem dar notícias.

–Tem razão. Isso tá estranho demais. Camilo, tu sabe onde ela tá morando? Podíamos, talvez amanhã, se der pra você, já que é um domingo, passar lá e ver se tá tudo legal.

–Pior que eu não sei. Ela ficou de nos chamar pra ir lá almoçar e conhecer o lugar, mas sempre que ela podia eu não podia.

–Será que a dona Odete ou o seu Rodolfo sabem?

–Eu não sei, mas posso perguntar pra eles. Se eles souberem, vamos amanhã?

–Vamos. Isso não está me cheirando bem.

–Fechou então, Rogé. Amanhã a gente se fala. Deixa eu ir lá que Ricky, meu filhinho, já está desesperado pra ir fazer o pipizinho dele.

–Vai lá, amigo. Amanhã nos falamos.

Eu fui pro trabalho e sondei pra ver se o Jonas ou a Flávia sabiam de algo. Nem eles tinham notícia dela. Isso não estava certo. Algo me diz que ela estava precisando de mim. Hoje, para aumentar o meu desespero, Djair e Lívia saíram daqui direto para a praia. Terei que voltar de busão pra casa. “Ótimo!” Não vou pagar um táxi. Tá muito caro. E esse lugar aqui fechou tarde e o dia já está quase amanhecendo. Vou mofar um bom tempo no ponto do ônibus.

Cheguei no bendito local e só me restava esperar. Hoje eu queria chegar cedo na pensão. Daqui a pouco vou ver com o Camilo se ele conseguiu o endereço da Lívia para irmos lá. Tomara que ele tenha conseguido. Me ajeitei melhor no banco. Estava cansado e com sono. Aproveitei e fechei os meus olhos para respirar melhor um pouco da brisa da manhã. Adoro esse climazinho fresco. Daqui a pouco o sol sai e a cidade esquenta mais que um vulcão.

–Rogério?

Eu ouvi uma voz longe, mas não achei ser real. Ultimamente estava ouvindo coisas demais, delirando. Principalmente quando estou com sono. A verdade é que a criatura está me levando à loucura.

–Rogério!

Ouvi de novo e dessa vez não foi impressão minha. Levantei rápido e comecei a olhar ao meu redor. Lá longe, do outro lado da rua, consegui avistar a Lívia. Sim, era a criatura e estava vindo para cá. Ela parecia abatida, mais magra e estava com óculos escuros. Isso não está me cheirando bem. Ninguém usa óculos a essa hora da matina. Corri até ela e a abracei. Ela desabou a chorar sobre os meus ombros.

–O que foi, Lívia? Te passa alguma coisa?

A fiz olhar para mim, retirei os óculos dela e vi o que eu já desconfiava: a famosa mancha rocha ao redor de seu olho. Eu mato aquele desgraçado!

–Rogério... –Ela não conseguiu terminar a frase e começou a chorar mais ainda. A abracei apertado. Nenhuma mulher merece passar por isso.

–Por que não me contou antes? –Sussurrei.

–Eu tentei, mas ele tirou os telefones e a chave do pitanga. Fiquei presa na casa. –Me disse, entre soluços.

–Eu vou matar ele! Vamos, te levarei para a delegacia para darmos parte desse desgraçado.

–Não, por favor...

–Como não?! –Agora fiquei mais puto do que estava e a soltei. Como ela ainda pode defendê-lo?

–Ainda não, por favor. Só quero ir para casa, para a pensão.

Ela me olhou de um jeito que não tive como negar. A envolvi novamente em meus braços, fiz sinal para um táxi que estava passando e entramos nele. A viagem foi silenciosa. Ela me agarrou e chorava abraçada a mim. O taxista, preocupado, me perguntou se tudo estava bem e eu apenas me limitei a dizer que ficaria.

Depois de um tempo e bastante trânsito, finalmente chegamos. Paguei a corrida e nos dirigimos para a pensão. Ela não me largava. Parecia muito assustada ainda.

–Quer que eu chame alguém? Dona Odete ou o seu Rodolfo? –Perguntei.

–Não. Eu só queria falar com você, a sós, se for possível.

Assenti com a cabeça e entramos o mais silenciosamente possível. A levei para o meu quarto, a acomodei na minha cama e fui buscar um pouco de água com açúcar para a pobre. Enquanto ela tomava, ela me olhava assustada. Acho que estava buscando coragem para me falar algo. Isso estava me deixando numa agonia.

–Rogério, tem uma coisa que eu preciso te contar. –Me disse, um pouco insegura.

Me sentei em sua frente e ela me ofereceu uma das mãos. A segurei entre as minhas.

–Me conte. Seja o que for, te apoiarei.

–Talvez não nisso...

Agora fiquei preocupado. Porque ela não pode ser mais direta e ir logo ao ponto?

–Me conte, confia em mim.

–Eu estou grávida.

Ela soltou isso como uma bomba. Perdi a voz, minha garganta secou e eu olhava para ela de queixo caído. Eu ia ser pai, era isso?

–Como?!

–Eu estou grávida. –Disse, quase num sussurro.

–Eu sou o pai? –Perguntei na lata. Não tinha uma maneira de ser mais delicado.

Ela me olhou e seus olhos se encheram d’água novamente. Acho que isso é um não. A abracei e deixei que chorasse.

–Calma, isso não é um fim. Não se preocupe. Se seu desespero é pela besta, depois que comprovarmos o que ele te fez, nenhum juiz deixará ele se aproximar do filho. Eu tam...

–Eu não sei se ele é o pai. –Ela me cortou e meu coração gelou com essas palavras.

–Isso quer dizer que o pai sou eu?

–Eu não sei, sinceramente.

E começou a chorar novamente. Essa mulher quer me matar do coração. Eu pai? Gente, eu devo ter bebido demais, novamente, e estar sonhando. Isso não pode ser real. Seria bom e assustador demais para ser verdade.

–Seja de quem for eu assumo. –Falei sem pensar. Acho que ainda estou digerindo isso.

–Como?! –Me perguntou, surpresa.

–Eu assumo o nosso filho. Seja ele do meu sangue ou não.

–Rogério, isso não está certo.

–Claro que está. Eu te amo, Lívia. Custei a aceitar isso e não vou te deixar desamparada quando mais precisa de mim.

–Mas e se o filho não for seu?

–Eu o assumirei da mesma forma.

–Mas se ele for do...daquele sujeito? Você o odeia. Isso não vai dar certo.

–Mas eu te amo e isso me basta para amar o seu filho.

–Não sei...Eu estou confusa...Rogério, eu...

–Você vai descansar. Dormir um pouco e depois falaremos sobre isso. Certo? –A cortei.

Ela assentiu com a cabeça e deitou na minha cama.

–Você pode me fazer companhia? Pelo menos até eu dormir, por favor. –Ela me pediu.

Isso me lembrou daquela vez em que fomos assaltados. Daquela vez eu não sabia o que sentia por ela, mas agora já sei e não ficarei em uma cadeira dura novamente. Me sentei na cama, encostei da cabeceira e comecei a acariciar os seus cabelos. Ela me olhou , segurou na minha mão que estava livre e fechou os olhos para dormir.

Acho que poucas vezes na vida eu fiquei sem reação e essa foi uma delas. Eu vou ser pai? Eu serei papai. Isso é tão assustadoramente bom. Não sei o que me espera, mas a única certeza é de que quero passar ao lado dela, da Lívia. Essa criatura nefasta que fez o que nenhuma outra conseguiu: Arrebatou o meu coração.

Continua.


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