Pensão da tia Odete. escrita por Costa


Capítulo 29
Capítulo 29


Notas iniciais do capítulo

Gente, como vão? Espero que estejam bem.
Já vou me desculpar, antecipadamente, pela demora em responder os comentários. Não é que eu não os tenha visto, mas me falta tempo para fazer tantas coisas.
Agora estou pior. Faculdade, estágio, trabalhos de faculdade e, de quebra, um seminário que farei como presente para um amigo. Pois é, meu dia está precisando ter mais que 24 horas. Mesmo assim, eu dedico sempre uma hora para escrever na madrugada.
Sem mais, deixo-lhes mais esse e espero que gostem:



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Acordei todo dolorido, com o braço dormente e de mau jeito, mas isso não me importava. Se para acordar com a Lívia entre meus braços eu tivesse que passar por isso todo dia, eu não me importaria de passar. Ela realmente é uma mulher bonita. Pena eu ter demorado pra ver isso. E agora, o que acontecerá?

Ela começou a acordar e eu preferi fingir que estava dormindo. Queria ver como ela reagiria.

–Puta que pariu. O que fiz? Ah, Rogério, por que você?

Porque eu aprendi a gostar de você, talvez? Porque tu me cativou a ponto de eu começar a te amar?

–Nunca achei que eu fosse ser infiel. Isso não tá certo.

Preferi levantar. Não conseguiria ficar respondendo apenas em pensamento. Ela me puxou o lençol e enrolou-se nele, me deixando como vim ao mundo.

–Rogério, vista-se, por favor!

–Pra quê? Tu já viu tudo mesmo e eu nem sei onde minha roupa foi parar.

–Não seja cafajeste.

–Tá. Se isso te deixa mais tranquila.

Levantei e peguei minha cueca sobre a mesa e vesti. Ela olhava cada movimento que eu dava.

–Por que tu não me impediu? Sou uma mulher casada!

–Porque você queria tanto quanto eu. Não sei se reparou, mas a tensão entre nós era grande. Nós dois precisávamos disso.

–Você precisava, eu não. E agora, como vou contar isso pro Carlos?

–Depois dessa noite maravilhosa, você ainda pensa falar isso pra aquele animal? Você quer me ver morto mesmo.

–Não sei, já não sei de mais nada. Só sei que isso não foi certo.

–Como não foi certo?

–Porque eu sou uma mulher casada.

–E o que tem? Quando é amor não há certo ou errado.

–E quem disse que eu te amo?

–Não? E o que foi que você disse ontem?

–Eu estava bêbada. Foram palavras apenas.

–Tá bom, mas e suas reações? Não acredito que tudo tenha sido fingimento, seus beijos, seus gestos...

Comecei a me aproximar dela e ela se afastou, mas a parede a deteve. A segurei pela cintura para aproximá-la de mim.

–Rogério, não...

–Não o quê?

–Não faça nada.

–Não farei nada que não queira.

Não me aguentei mais e a beijei. Ela me correspondeu com paixão. Por mais que dissesse que não, isso não poderia ser tudo fingimento. Ela também sentia algo. Me afastei dela. Se continuasse, terminaríamos entre os lençóis novamente.

–Vai me dizer que isso foi mentira sua?

–Não me complica mais, Batman.

–Eu não estou te complicando. Só quero que veja que também não é indiferente a mim.

–Mas que isso importa agora? Eu nunca fui indiferente a você, idiota!

–Não?

–Claro que não. Não gostava de você no começo, mas depois te conheci através do Jonas e passei a te admirar, ter carinho, mas o que mais mexeu comigo foi aquela noite em que nos assaltaram. Ali te vi sem máscara, como é realmente.

–Foi aquela noite também que eu passei a te amar. Pra falar a verdade, acho que nunca te odiei realmente. Você sempre mexeu comigo de um modo que não sabia explicar, desordenou o meu mundo.

–Você também desordenou o meu, mas isso agora já não importa. Queria ter te conhecido antes.

–Ainda podemos ser felizes.

–Já não podemos mais. Sou casada.

–Divorcie-se.

–Não é fácil assim. Já temos uma casa, casamos e, em breve, constituiremos família.

–Está grávida?

–Ainda não, mas pretendo no futuro. Só quero ter uma base financeira antes de dar esse passo.

–E a besta quer ser pai? Ele não tem muito o perfil pra isso.

–Acho que sim.

–Você tem certeza do que quer fazer?

–Já não tenho tanta, mas preciso acreditar que é certo.

Me aproximei dela e, dessa vez, ela não fugiu e se deixou ser abraçada.

–Deixe ele. Eu te assumo e até me caso, se quiser.

–Não posso, Rogério. Isso não é o certo. Eu e o Carlos sempre nos demos bem, tivemos nossos desentendimentos, mas nos amamos. Ele é meu porto seguro e eu o dele.

–Não duvido que tenha o amado um dia, mas depois de ontem não acredito mais nisso.

–Não torne isso mais difícil.

–E eu, como fico?

–Você encontrará alguém melhor. Talvez a Roseni.

–Não gosto dela e nem posso. O Jonas tá interessado.

–O famoso código de amigos? Um não pega a mulher do outro?

–Por aí.

Ela se afastou de mim e pegou suas roupas.

–Acho melhor eu ir. Me dá licença pra mim me vestir?

–Claro.

Coloquei a minha bermuda e sai do quarto. Se a visse sem roupa de novo, não me aguentaria. Depois de uns minutos ela saiu arrumada.

–Acho melhor eu ir.

–Não quer ficar pra tomar um café? Prometo não falar mais nada.

–Não. Se eu ficar sei que farei mais coisas para me arrepender.

–Te acompanho até a porta, então.

Fui com ela até a saída, mas não queria me despedir. Queria passar o resto do dia com ela, a vida com ela.

–Adeus, Rogério.

–Tchau, Lívia.

Ela me puxou e me deu um último beijo na boca. Senti dor naquilo. Acho que foi uma despedida. Ela saiu de lá sem me dizer mais nada, entrou no carro e foi embora. Ao virar eu dei de cara com a Roseni.

–Sabia que havia algo mais entre vocês.

–Roseni, é...

–Não precisa se explicar. No coração não mandamos.

–Por favor, não fale pra ninguém.

–Não vi nada, não sei de nada. Agora deixa eu voltar pra cama que estou com uma dor de cabeça horrorosa.

Eu esperei ela se afastar. Não gostei dela ter visto isso. Sei lá, mas isso ainda pode me trazer problemas.

–Pé no chão e sem camisa nesse ventinho da manhã? Quer pegar gripe, não quer?

Essa voz, não pode ser. Me virei rapidamente para ter certeza.

–Mãe?

–Você engordou. Não adianta ficar mostrando essa barriga pra mulherada. Há tempos que o seu tanquinho virou bolota. Não cola mais.

Corri e abracei minha velha. Não sei como ela veio parar ali, mas era tudo o que eu precisava agora.

–Como a senhora me achou? E o que faz aqui? E sua lojinha?

–Pedi seu endereço para o Jonas e vim te ver. Minha lojinha deixei com a sua prima. Acho que mereço um pouco de descanso e um tempo com o meu filho.

–Como é bom ter a senhora aqui.

–Também é bom te ver, filhote. Não vai me mostrar onde dorme?

–Claro. Vamos.

Peguei a bolsa dela e a levei até o meu quarto.

–Lugarzinho simples, hein. Achei que você moraria no melhor quarto daqui.

–Era o que tinha e o que eu podia pagar.

–Quem te viu, quem te vê hein! Antes só queria apartamentinhos bacanas, casa de praia e agora...

–As coisas mudam, mãe.

–Mas não achei que você fosse parar aqui. Esse não é tipo de lugar que te agradava.

–Disse bem: não agradava. Agora já não há outro lugar em que eu queira estar.

–E posso saber o nome da minha nora?

–Como é que é?

–Você e o seu quarto estão com um forte cheiro de perfume feminino e agora esse é o seu lugar. Quem é ela?

–A senhora não muda, não é, mãe?

–Não. Quero conhecer meus netos e te ver casado. Você já está com 36 anos nas costas. Se esperar demais, daqui a poucos teus filhos vão te chamar de vovô ao invés de papai.

–É complicado. Ainda não sei se tenho um relacionamento.

Ela pegou a foto, que o Jonas me deu, da minha cabeceira e começou a olhar espantada para mim.

–Eu tenho uma nora ou um genro?

–Tá me estranhando? É uma nora.

–Tem certeza? Nessa foto você está tão diferente...

–Tenho, absoluta. Essa foto foi quando eu joguei no time do futebol das piranhas.

–Não odiava isso?

–Odiava, mas foi uma emergência.

–Essa emergência, por um acaso, é essa mulher aqui? –Me perguntou, apontando para a Lívia na foto.

Minha mãe sempre teve esse senso, mas ainda acredito que ela é uma bruxa, uma vidente. Como ela sempre sabe que há mulher no meio?

–Digamos que ela teve sua parcela nisso.

–Se for ela, como eu acho que é, ela é bonita. Dariam uns filhos bonitos.

–Mãe, mãezinha querida, dá pra parar? Eu já estou ficando sem graça.

–Qual o nome dela?

Já vi que não dá pra parar.

–Lívia.

–Lívia e Rogério. Soa bem. L e R, os cartões do casamento ficarão bonitos. Podemos colocar as letras se entrelaçando assim como...

–Que casamento? –A cortei.

–O de vocês. Vão casar, não vão?

–Não! Eu e a Lívia somos como cachorro e gato. Não passamos muito tempo sem brigar. Eu sou a Batman amargado e ela a criatura nefasta.

–Então essa que é a mulher insuportável que você me contou?

–É.

–Bom saber... Vou querer conhecê-la.

–Tarde demais. Ela se casou e mudou daqui.

Só senti o pescotapa atrás do meu pescoço.

–Ai! O que te fiz agora?

–Foi lerdo e deixou ela escapar. Agora vou ter que procurar uma outra nora, menino teimoso!

–Mãe...

–Mãe nada. E onde está sua educação? Olha o chiqueiro que está esse quarto! Não foi assim que te ensinei. Você sabe fazer de tudo, mas parece que desaprendeu.

Ela começou a futricar nas minhas coisas, arrumar minha cama, dobrar minhas roupas. Como eu senti falta de minha mãe e sua espontaneidade, seus reclamos, suas rabugices. Acho que, no fundo, me pareço com ela. A única diferença é que ela fala o que quer e eu apenas penso. Vai ser divertido e perturbador ter ela aqui esses dias.

Continua.


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Notas finais do capítulo

A mãe do Batman apareceu. Não coloquei no capítulo, deixarei explicito no próximo, mas, para quem tiver curiosidade, ela se chama Telma.
Obrigada por lerem.
Forte abraço, pessoal!