Abriu os olhos acordando com a brisa leve do campo batendo em seu rosto, podia sentir a grama macia e gelada tocando seus dedos, o sol brilhando forte em cima dele, tentou puxar da sua mente o motivo de estar em um local assim. Pensou e pensou até finalmente se lembrar e virar rapidamente o rosto para o lado, confirmando a presença do belo garoto de cabelos azuis.

Ele ainda dormia calmamente, com o rosto sereno e um sorriso adorável, deveria estar tendo algum sonho ótimo. Karma se perguntava como pudera ter a sorte de encontrar uma pessoa tão cinza quanto ele, que era branco o suficiente para cobrir a escuridão do ruivo, mas que detinha de uma sede de sangue tão grande quanto ele, se não até maior.

Nagisa era um rapaz de um nível intelectual formidável, mas seu talento para assassinar era espetacular, muitas vezes mais talentoso que o próprio ruivo, que tinha como uma de suas maiores obsessões matar. Sempre quis sentir o sangue escarlate de um professor sobre suas mãos, molhando toda a palma e podendo sentir o aroma metálico percorrendo suas narinas. Era algo tão desejado que só de pensar o deixava empolgado.

No entanto, quando olhava para o jovem de cabelos azuis, se surpreendia. Era incontestável o seu talento para o trabalho de tirar a vida de pessoas, mas até o momento em que vivenciou o garoto em ação, nunca tinha passado por sua cabeça que um garotinho tão amável pudesse ser ao mesmo tempo tão sombrio. Ele se lembrava claramente do dia em que se conheceram:

Era uma manhã tranquila, as pessoas passeavam pelo parque alegremente com seus amigos, namorados ou filhos, mas ninguém conseguia ouvir os barulhos que eram emitidos dentro do bosque. O som do corpo batendo contra as árvores, os membros estalando e ossos mais frágeis quebrando. Eram como músicas para os ouvidos do sádico ruivo que batia em um grupo de rapazes muito maiores que ele.

Alguns ficavam amedrontados e saíam correndo assim que vissem uma oportunidade, alguns com falta de sorte acabavam por serem capturados pelas presas do rapaz sem nenhum problema. No meio de toda a confusão e garotos caindo desmaiados no chão, com pontos roxos por todo o corpo, estava um pequeno garotinho de estranhos cabelos azuis. A menos de quinze minutos ele estava sendo agredido verbalmente e os agressores estavam começando a partir para socos e talvez até coisas piores. Foi então que seu salvador apareceu.

No início, Nagisa viu Karma como um super-herói, mas conforme a situação foi se desenvolvendo ele pode perceber que não era exatamente assim. Não tinha certeza do porquê estava sendo ajudado,— talvez isso fosse apenas um “bônus” para o ruivo— mas o azulado tinha certeza que o outro estava se divertindo batendo nos outros, e muito.

Ele gostava de ver os malfeitores que tinham lhe causado mal recebendo a devida punição, mas também não achava que devolver a agressão com mais violência que a anterior era de um nível de selvageria que ultrapassava o estado de humano. Mas seu corpo não se mexia, não conseguia fazer nada, pois quando olhava para os olhos rubros do seu salvador sentindo tanto prazer em machucar os outros, pensava se era realmente certo interromper a diversão exótica que ele estava tendo.

Então se contentou em ficar sentado e observando a “festa”. O que antes parecia que seria rápido acabou por se tornar extremamente duradouro, o azulado cuidava o relógio de seu celular e via que já havia se passado mais de trinta incríveis minutos, repletos de gritos, pedidos de socorro e pequenas quantidades de sangue saindo das bocas dos “sacos de pancada” do ruivo. Com o grande tempo que teve que ficar esperando sentado, o azulado pode observar cada detalhe do seu herói. Ele era muito bonito e atraente, quando pensou nisso sentiu o rosto avermelhar e riu quando brincou consigo mesmo de que estava da cor de seus belos cabelos lisos.

Então ele ouviu um último som de corpo caindo e levantou seu rosto para se encontrar com um ruivo completamente ofegante, mas que esboçava uma tremenda satisfação, como se seu dia tivesse se tornado perfeito apenas por ter vivenciado esse momento. Desajeitado, o azulado se levantou e foi correndo em direção ao maior.

— O-Obrigado por me ajudar! Espero poder te recompensar por ter feito isso! — O rapaz disse desengonçadamente.

Quando disse isso, Karma sentiu como se um arco-íris perfurasse seu coração, seus olhos arregalados viam brilhos e faíscas saindo ao redor do rosto delicado do garotinho. Engoliu em seco, ele definitivamente estava achando o pequeno extremamente fofo, mas não podia demonstrar isso. Aproveitou a fala do garoto para continuar uma conversa.

— Não se preocupe, eu fiz isso por puro prazer, mas se você quiser comprar um suco para mim, estaremos quites. — Falava normalmente com seu típico sorriso de raposa, que escondia um feroz animal pronto para atacar a qualquer momento.

— E-Então está tudo bem, farei isso! — O azulado disse com um olhar convicto e que abalou ainda mais o coração do outro.

Desde aquele dia eles haviam se tornado grandes amigos, passavam todo o tempo que era possível juntos, Karma sempre protegia Nagisa dos valentões e o azulado cuidava do ruivo. Conforme o tempo passava, o sentimento que cada um nutria pelo outros aumentava cada vez mais, nutrindo um amor secreto que era correspondido, mas que nunca era revelado, e como todo balão alguma hora estoura se encher demais, o desejo de Karma chegou ao seu ápice e ele não agüentou mais, atacando o pobre garotinho dentro do almoxarifado da escola.

Karma sempre ria ao lembrar-se daquele dia, e com sua risada acabou por despertar o menor do seu sono. Os olhos azuis cruzaram os amarelos e quando isto aconteceu os dois sorriram puramente. O ruivo levou sua mão até o delicado rosto do azulado e pode sentir as bochechas geladas corarem levemente com a ação.

—É? Mas já? Achei que você não ficava envergonhado tão facilmente, Nagisa-kun. — O rapaz aproveitou a oportunidade para provocar o outro.

— Ca-calado, é só que foi inesperado, você nunca faz movimentos tão dóceis... — O garoto respondeu rapidamente, com o rosto extremamente vermelho, abaixando a voz a medida que terminada a frase.

— Então como que eu ajo normalmente? — Ao perguntar isso, se jogou para cima do outro tão rápido que o azulado nem teve tempo para reagir quando viu os braços do maior se botando sobre ao redor do seu corpo deitado na grama.

Nagisa sorriu aproveitadoramente e jogou o ruivo para o lado, ficando por cima e invertendo as posições. Inclinou a cabeça indo em direção ao ouvido do maior, botando a língua úmida para fora e lambendo o lóbulo do outro, fazendo-o tremer com a atitude, em seguida sussurrou no seu ouvido:

— Você ataca sorrateiramente, e depois de se deliciar com o medo da sua presa, você da o bote final aproveitando cada parte da sua refeição, só que você nunca fica satisfeito, então acaba deixando a presa completamente sem fôlego e sem energia para mais nada.

Karma então inverteu as posições novamente e teve certeza de ter imobilizado completamente o azulado, e então o olhou como se perguntasse se era assim que ele fazia, mas para a surpresa dele foi novamente derrubado e respondido com um olhar que dizia claramente que tinha sido um golpe óbvio demais, e que o rapaz já tinha feito melhor que isso.

E então se iniciou uma guerra interminável para ver qual dos dois conseguiria dominar o outro, mas nenhum cedia, eram dois tigres que lutavam pelo direito de governar o outro, e a com tamanha sede de sangue que não permitia que o outro tomasse controle da situação, pois tinha conhecimento de que o lado perdedor iria sair daquele lugar completamente demolido.

—Assim que terminarmos isso precisaremos procurar um almoxarifado... — E com essa frase, Karma ganhou a disputa.