Marque-me escrita por Metz


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Tomara que não seja tarde demais ;u;
Mesmo se for, eu curti escrever a fic então foda-se.
De qualquer forma, boa leitura!



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Eu vivia em uma sociedade construída na base do amor. O ser humano estava se concentrando em seus sentimentos ao decorrer dos últimos anos com intuito de trazer paz e honestidade para nosso planeta Terra. Então, cada meio século, um soro era injetado em todas as pessoas para que, de uma forma ou de outra, nos tornássemos conscientes de nossos sentimentos e os dos outros. A idéia surgiu e logo foi aceita. Em 2068 foi criado o soro do primeiro sentimento a ser marcado em nossos corpos; o amor. Junto com o soro, eu nasci, fazendo parte da primeira fornada da geração que viveria com as marcas. O soro nos marcava de uma forma simples, quando você se apaixonava uma tracinho vermelho aparecia em seu peito, quando seu amor fosse rejeitado seu tracinho ficaria branco e caso seu amor morresse, seu tracinho se tornaria preto. Meus pais então acharam que seria uma ótima idéia de me dar o nome do próprio cupido, Eros.
Eu, no ano de 2084, com dezesseis anos, tive minha primeira marca no peito. Eu soube que meu peito estava marcado sem nem precisar verificar, eu soube que estava apaixonado quando o momento chegou. E eu me sentia ridículo.

Não me achei ridículo por ter me apaixonado, nem por ter sido por outro garoto, mas por ter sido tudo tão repentino e pela forma como me apaixonei. Ele era um ano mais velho que eu, estudava na minha escola, seus olhos eram perfeitamente azuis e a claridade de suas orbes contrastava com o escuro de seu cabelo e as roupas que usava. Além de tudo isso ele estava completamente bêbado e bem machucado.

Eu o conhecia de vista pelos corredores da escola, porém ele tinha seus amigos e eu tinha os meus, então não nos falávamos muito. Já conseguimos conversar por um tempo e ele me parecia uma boa pessoa. Então o reconheci quando voltava para casa, vendo-o sentado contra uma parede na calçada meio acordado, meio desmaiado. Imediatamente me sentei a sua frente para tentar ajudá-lo.

- Er... Will? Você está bem? É esse seu nome, não é? – Chamei, tentando trazê-lo de volta para a realidade.

Quando seu olhar se encontrou com o meu engoli o seco, ele começou a sorrir e então deu uma risada leve.

- Eros... – Ele me respondeu. – Você por aqui? Eu devo estar alucinando e olha que eu nem bebi tanto assim.

Olhei Will de cima a baixo.

- Eu não tenho tanta certeza... – Suspirei. – Não acha melhor ir pra casa? Eu posso te ajudar.

Mais uma risada da parte dele, só pude erguer uma sobrancelha questionando essa reação.

- Eros, eu sou menor de idade bêbado, eu não posso voltar pra casa, seu bobinho... – Ele sorriu para mim e soluçou um pouco com o álcool em seu sistema.

Suspirei com sua resposta.

- Eu ainda não acho uma boa idéia te deixar sozinho neste estado... – Murmurei cruzando os braços.

- Haha, você é mesmo uma gracinha... – Ele parecia achar graça em tudo que eu dizia, aquilo me irritou um pouco.

- Vem . – Estendi minha mão para ajudá-lo a se levantar. – Você pode vir comigo, eu te ajudo.

Seu sorriso não se desfez, mas soube que ele percebeu que eu estava falando sério. Ele segurou minha mão e conseguiu manter-se em pé, eu ainda auxiliava seu caminhar porque ele andava cambaleando sob efeito do álcool. Andamos em silêncio, ele se apoiando em mim e em completo silêncio.

- Você não via perguntar? – Ele quebrou o silêncio, questionando minhas ações. – Tipo... Por que eu estou sozinho? Por que eu estou machucado? Por que eu estou um pouco bêbado? Nada?

- Não pensei que quisesse falar sobre isso. – Respondi honestamente, ele não parecia ter tido uma noite muito boa. Com isto ele soltou mais uma risada curta e silenciosa.

- Você está realmente pouco se fudendo para mim, não é? – Ele sorriu para mim e depois se inclinou para frente, pensei que ele fosse vomitar, mas ele só começou a rir muito alto.

- O que você está fazendo?! – Perguntei e tentei cobrir sua boca com minhas mãos. – Está tarde, você vai acabar nos metendo em encrenca!

Ele não me respondeu. Em silencio, ele me olhava, sem mais risos. Eu o encarei de volta, ele parecia estar tentando seu máximo para me provocar. O pouco que eu conhecia sobre ele não me parecia o suficiente, eu não estava o vendo em seu melhor estado e naquele momento eu quis saber mais. Foi então que eu senti. Tirei imediatamente minhas mãos de sua boca.

Prendi minha respiração, eu tinha me apaixonado. Engoli o seco e prestei atenção em como meu coração estava batendo forte.Tudo aquilo me pareceu ridículo, clichê e inconcebível. Como eu tive a falta de bom senso de me apaixonar tão repentinamente.

Will sorriu para mim e por um momento fiquei com medo de que ele soubesse. Mas lembrei que ele vinha sorrindo para mim a noite toda então ignorei o fato. Eu me xingava mentalmente enquanto ele voltava a se apoiar em mim para que voltássemos a andar.

- Então, o que aconteceu? – Perguntei finalmente, continuei olhando para frente porque não tive coragem de olhar em seus olhos de novo. Eu o ouvi suspirar.

- Bem, o que eu posso te dizer, caríssimo Eros? – Ele sorriu tristemente e soluçou. – Saí para beber com um pessoal da escola, as coisas saíram de controle, nos metemos em uma briga, apanhei pra caralho e você me encontrou. – Ele fechou os olhos por um segundo. – Mas eu não diria que essa foi a pior noite da minha vida. Não ainda.

Não quebrei a cabeça tentando descobrir o que ele quis dizer, ele provavelmente levaria a resposta para o túmulo, sendo o garoto sombrio e misterioso que eu conhecia.

Com isto chegamos em minha casa, soube que meus pais estavam viajando então a casa estava vazia. Aproximei meu bracelete do sensor na porta para destrancá-la . As luzes da casa se acenderam assim que entramos. Pedi para que Will se sentasse e esperasse enquanto eu ia à cozinha buscar-lhe água.

Entrei na cozinha e, assim que a porta atrás de mim se fechou, me sentei no chão e abracei meus joelhos. Respirei fundo e puxei a gola de minha camisa para verificar minha pele, lá encontrei o traço vermelho, meu primeiro. Eu tentei ignorar meus sentimentos recém-nascidos pelo garoto em meu sofá, porém estes estavam marcados em mim e não havia nada que eu poderia fazer. Convenci a mim mesmo que seria um ótimo primeiro amor, depois dessa noite ficaríamos melhores amigos, eu poderia amá-lo secretamente por uns dois meses e depois me confessaria, seria rejeitado e acabaria esquecendo sobre ele mais cedo ou mais tarde. Parecia um plano perfeito.

Voltei para a sala com água e um kit de primeiros-socorros, dei-lhe o copo d’água e tentei me concentrar em limpar seus machucados e não em ouvir meu coração batucando em meus ouvidos.

- Como você sabia meu nome, Eros? – Ele perguntou enquanto eu passava antisséptico em uma de suas feridas no rosto.

- Sei lá... – Deu de ombros. – Acho que eu só... ouvi falar de você,

Não era mentira. Will não era um bad boy delinqüente juvenil, mas ele chamava a atenção às vezes brigando com alguém da escola. Então não era incomum de ouvir que Will tinha que ir ver o diretor.

- Imaginei. – Ele sorriu vergonhosamente.

Cobri seus pequenos corrtes com band-aids para rosto.

- Aonde mais dói? – Perguntei, sabia que encontraria hematomas de socos então deixei preparado um saco de gelo ao meu lado.

Então ele tirou a camiseta. Prendi a respiração pela segunda vez no dia, me sentindo ridículo por o encarar sem piscar uma vez sequer. Ver seu torso nu me chocou por um segundo, mas o que mais me chocou foram as marcas em seu peito. Pude contar mais de vinte traços, cada um dele era branco e ver aquilo me deu vontade de abraçá-lo. O único traço que não estava branco era último, ele estava vermelho, perfeitamente normal. Aquilo foi o suficiente para quebrar meu coração.

Claro, não fazia parte do meu plano que ele correspondesse meus sentimentos, então eu não soube dizer por quê eu estava tão triste. Ele já estava apaixonado por outra pessoa. Eu quase desejei que o tracinho fosse branco como todos os outros, para que eu tivesse uma chance, mas decidi que não era algo que deixaria Will feliz. Eu fui rejeitado sem que ele dissesse nada, meu traço deveria estar branco naquele momento. O pensamento me entristeceu mais ainda.

Pressionei a sacola de gelo contra o roxo em sua barriga.

- Sinto muito por... suas marcas brancas. – Senti que precisava falar algo sobre aquilo.

- É, não foi muito divertido ganhá-las... – Ele riu um pouco, o riso foi cortado por um soluço. – Eu também não estou muito confiante nessa última aqui. – Ele apontou para o único traço vermelho.

- O que faz pensar isso? – Não quis saber, mas perguntei mesmo assim.

- Só não acho que dei muitas boas impressões de mim. Isso sem falar da minha fama de deliquentezinho alcoólatra. – Ele sorriu para mim. – Posso ver as suas?

Assenti, decidi tirar minha camisa, eu poderia inventar alguma coisa se ele perguntasse sobre minha marca recém-embranquecida. Porém ao olhar para minha pele, o traço continuava vermelho vivo como da última vez que chequei.

Olhei para minha marca e para Will, ele parecia fazer o mesmo. Quando nos olhamos nos olhos um do outro, ele, pela enésima vez naquela noite, começou a rir.

- Qual é a graça afinal? – Perguntei em um suspiro.

- Eu só... Eu me lembro que eu tinha me metido em uma briga com um cara na escola mês passado. – Ele disse entre risos. – Eu estava metendo porrada nele lindamente, juro. Então você surgiu do nada e me mandou parar. Você perguntou o que tinha acontecido, disse que queria ajudar e toda essa merda... Você se lembra disso?

Eu lembrava.

- Então naquele momento eu pensei comigo mesmo que eu precisava me casar com você. – Sua risada saiu mais calma. - Então eu jurei que faria esta marquinha durar o máximo que pudesse. Então... acho que estou muito feliz... Me desculpa.

Então me aproximei para beijá-lo, o gosto do álcool infectava minha boca, mas eu não poderia ligar menos. Abracei seu pescoço para aprofundar o beijo que Will correspondeu quase imediatamente. Nossas peles roçavam uma contra a outra e logo nossa posições foram se tornando mais horizontais. Eu me deitava no sofá e ele estava sobre mim sem quebrar o beijo. Sentia que poderia ficar bêbado apenas com aquilo. Tomei um susto quando ele começou a me apalpar.

- Não... – Pedi. – Ainda não...

Will olhou para mim, então assentiu sorrindo. Ele beijou minha testa.

- Certo, sem pressa. – Ele disse. – Essa marca vai ficar aqui por um bom tempo ainda.

O abracei sorrindo, ele me abraçava de volta. Não demoramos muito a dormir, ele principalmente devido ao seu estado. Me senti feliz, por estar amando e por ser amado. Eu finalmente compreendia o quão importante era aquele sentimento. Adormeci com o calor do sentimento me envolvendo.

Acordei antes de Will e sorri ao ver seu rosto.

- Horas? – Perguntei a meu bracelete em um bocejo.

- Meio dia e vinte e seis. – Uma voz metálica vinda do mesmo respondeu.

Grunhi com a resposta, eu normalmente não acordava tão tarde. Me espreguicei e voltei a olhar para Will, o cutuquei com o indicador.

- Will, acorda. – Chamei cutucando mais forte por que ele não esboçava reação alguma. – Will? Vamos, já é meio dia. – Comecei a sacudi-lo pelo ombro. – Will é sério.

Nada. Ele não apenas ficava em silêncio como também não mostrava reação nenhuma aos meus chamados. Então comecei a me preocupar, chamei seu nome mais alto e verifiquei sua respiração, esta estava normal. Verifiquei seu pulso, que foi o que me preocupou, ao comparar com o meu percebi que estava extremamente irregular.

- Ambulância, chame a ambulância! – Falei para meu bracelete em um tom urgente enquanto juntei minhas mãos sobre o peito e empurrei algumas vezes. Meus olhos se encheram imediatamente d’água, aquilo não podia estar acontecendo. – Não faça isso comigo! Você precisa fazer a marca durar, Will! Não faça isso comigo!

Meu medo e a falta de resposta de Will fizeram dez minutos parecerem dez anos de espera. Os paramédicos chegaram e levaram Will até a ambulância para ser teletransportado imediatamente ao pronto-socorro. Pude acompanhá-lo até um certo ponto e a pior parte foi precisar explicar o ocorrido aos seus pais.

Não quis acreditar no que estava acontecendo. O hospital estava em estado de emergência para mantê-lo vivo. Will estava em um coma alcoólico, eu só poderia culpar a mim mesmo. Eu poderia ter feito algo, poderia ter ajudado, mesmo contra sua vontade. O pensamente me assombrou durante o restante do dia.

Até meu traço se escurecer.

Da mesma forma como eu senti a marca nascer, eu a senti se escurecer, mas era dez vezes pior. Ganhar a marca era um sentimento caloroso e repentino te abraçando, perdê-la era como se a arrancassem de seu peito, lenta e dolorosamente.

Era aquela dor que me machucava sempre que olhava no espelho e via a marca.


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Notas finais do capítulo

Me diga o que achou em um comentário! Sua opinião faz o dia do autor!
Até o próximo õ/



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