A Herdeira dos Black II escrita por Akanny Reedus


Capítulo 23
Harry Potter!




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Point of View: SUSANA BLACK

Como todo sábado e domingo eu durmo até tarde. Recupero todas as minhas energias gastas durante toda a semana por causa das aulas, mas sinto que algo sempre quer me contrariar, estava praticamente impossível dormi nesse maldito dormitório. Tudo por culpa das minhas colegas de quarto que também incluíam a minha amiga.

— Mione é sábado! — reclamei irritada com o travesseiro na cara. — Você me acorda apenas na semana.

— Eu sei, mas esqueceu que hoje vão escolher os três campeões?

— E?

— E você não quer ver quem vai colocar o nome no Cálice?

— Não… Que diferença faz eu ver ou deixar de ver?

Ouvi um muxoxo de derrota vindo dela, mas que disse logo em seguida:

— Se é assim que prefere, então tudo bem, então pode ficar dormindo, não me importo.

— Mione…

— Não vou te obrigar.

Bufei nervosa, depois de ouvi-la se afastar, tirei o travesseiro do rosto e a encarei.

Por mais que eu quisesse dormir mais, era de qualquer forma impossível — isso é o que acontece quando tem Lilá e Parvati como colegas de quarto —, e eu sou uma pessoa muito boa. Odiaria deixar a Hermione assim na mão, além dos garotos, pois logo me lembrei que ainda hoje estava marcado para visitar Hagrid. 

— Achei que você ia ficar dormindo? — perguntou Hermione assim que me viu entrar no banheiro.

— Desisti! — respondi, antes de fechar a porta.

Após terminar de fazer minha higiene matinal, fui me arrumar colocando uma camisa qualquer e uma calça escura. Calcei o tênis e fiz o contorno nos olhos como de costume. Penteei o cabelo, deixando-o solto e peguei por fim a varinha e a blusa de frio porque o dia não parecia nada quente. Quando Hermione deu o sinal que estava também pronta, descemos.

Os garotos já estavam nos esperando na comunal, depois de um “bom dia”, seguimos rumo ao salão principal.

— Parece que não fomos os únicos que acordaram cedo — disso ao ver a multidão de alunos no saguão.

O Cálice de Fogo tinha sido colocado no centro do saguão sobre o banquinho usado para o Chapéu Seletor. Uma fina linha dourada fora traçada no chão, formando um círculo de uns três metros de raio.

— Alguém já depositou o nome? — perguntou Rony, ansioso, para uma garota do terceiro ano.

— Todo o pessoal da Durmstrang — respondeu ela. — Mas ainda não vi ninguém de Hogwarts.

— Aposto que tem gente que depositou ontem à noite depois que fomos todos dormir — disse Harry. — Eu teria feito isso se fosse eles... Não iria querer ninguém me olhando. E se o cálice cuspisse o meu nome de volta na hora?

Ouvimos risos às nossas costas. Viramos, e vi que se tratava de Fred, Jorge e Lino correndo escada abaixo, os três parecendo excitadíssimos.

— Resolvido — disse Fred num cochicho vitorioso para nós quatro. — Acabamos de tomá-la.

— Quê? — perguntou Rony.

— A Poção de Envelhecer, cabeça de bagre — disse Fred.

— Uma gota cada um — acrescentou Jorge, esfregando as mãos de alegria. — Só precisamos envelhecer alguns meses.

— Vamos dividir os mil galeões entre os três se um de nós vencer — disse Lino, ao meu lado, com um largo sorriso.

— Não tenho muita certeza de que isso vai dar certo — disse Hermione em tom de aviso. — Tenho certeza de que Dumbledore terá pensado nessa possibilidade.

Fred, Jorge e Lino não lhe deram atenção.

— Pronto? — perguntou Fred aos outros dois, tremendo de excitação. — Su, caso queira um pouco da poção, guardamos um pouco para você.

— Ah, valeu, Fred — disse sorrindo. — Só que antes de tomar, quero ver se vai funcionar mesmo.

— E vai funcionar — diz Fred bastante confiante, tirando do bolso um pedaço de pergaminho com seu nome. — Eu vou primeiro...

Ele foi direto à linha e parou ali, balançando-se nas pontas dos pés como um mergulhador se preparando para um salto de quinze metros. Depois, acompanhado pelo olhar de todos que estavam no saguão, ele respirou fundo e atravessou a linha.

Por um segundo, achei que tinha dado certo — Jorge certamente pensou o mesmo, porque soltou um berro de triunfo e correu atrás de Fred — mas no momento seguinte, ouvi um chiado forte e os gêmeos foram arremessados para fora do círculo. Ao caírem com tudo no chão, ouvi um forte estalo e nos dois brotaram longas barbas brancas e idênticas.

Na mesma hora Lino e eu caímos na gargalhada, junto com todos no saguão que riam, mas não tanto quanto Lino e eu. Até porque precisamos um se apoiar no outro para não cair no chão de tanto rir. Minha barriga doía e sentia lágrimas saindo dos meus olhos de tanto que eu ria. Fred e Jorge não ficaram de fora das risadas, os mesmos começaram a rir, assim que se levantaram e olharam um para o outro.

— Eu avisei a vocês — disse uma voz grave e risonha, virei para olhar a porta do Salão Principal e de lá saiu Dumbledore. Ele examinou Fred e Jorge, com os olhos cintilando. — Sugiro que os dois procurem Madame Pomfrey. Ela já está cuidando da Srta. Fawcett da Corvinal e do Sr. Summers da Lufa-Lufa, que também resolveram envelhecer um pouquinho. Embora eu deva dizer que as barbas deles não são tão bonitinhas quanto as suas.

Fred e Jorge seguiram para a ala hospitalar acompanhados por Lino, que ainda não tinha contido seu acesso de risos, e Harry, Rony, Hermione e eu, também às gargalhadas, fomos tomar o café da manhã.

— Acho que nunca ri tanto em uma manhã — disse entre risos me sentando-se à mesa com Hermione do lado esquerdo, Rony e Harry estavam no meu lado esquerdo. 

A decoração no Salão Principal estava mudada essa manhã. Fiquei mais uma vez maravilhada com a decoração de Dias das Bruxas. Já tinha me apaixonado com a do ano passado, que foi meu primeiro Dia das Bruxas aqui em Hogwarts, e não foi diferente nesse meu segundo ano na escola. Havia uma nuvem de morcegos vivos que esvoaçava pelo teto encantado, enquanto centenas de abóboras esculpidas riam-se em cada canto.

Meu acesso de risos só parou quando minha barriga deu um aviso que estava com fome. Enchi minha xícara de café e escolhi algumas torradas, passando geléia de morango nelas. 

— Sabem de alguém que se inscreveu? — perguntou Harry para Dino e Simas, que estavam sentados na nossa frente.

— Corre um boato que Warrington se levantou cedo e depositou o nome no cálice — disse Dino a Harry. — Aquele grandalhão da Sonserina que parece uma preguiça.

Ao ouvir Dino mencionar Sonserina, na mesma hora, virei o rosto para olhar a mesa deles e infelizmente não achei quem eu queria ver.

— Não podemos ter um campeão da Sonserina! — disse Harry com desgosto.

— E todo o pessoal da Lufa-Lufa está falando em Diggory — disse Simas com desprezo. — Eu não teria imaginado que ele fosse querer arriscar aquele belo físico.

— Isso é inveja, Simas? — perguntei assim que desviei o olhar da mesa da Sonserina.  

— Eu não tenho inveja daquele mauricinho — retrucou Simas de cara emburrada.

— Sei — digo com as sobrancelhas levantadas, e tomando um gole do café. — Conta outra Finnigan.

— Olha...

— Escutem! — disse Hermione de repente. 

Cortando o que Simas ia dizer.

Aplausos vinham do saguão de entrada. Viramos para olhar e vimos Angelina entrando no salão, sorrindo meio encabulada. Ela era uma garota de pele escura, alta e jogava como artilheira no time de Quadribol da Grifinória, Angelina se aproximou da gente, sentou-se e disse:

— Bom, está feito! Depositei o meu nome!

— Você está brincando! — disse Rony, parecendo impressionado.

— Então você já fez dezessete? — perguntou Harry.

— Claro que sim. Você está vendo alguma barba? — respondeu Rony.

— Fiz dezessete anos na semana passada — disse Angelina.

— Que bom, Angelina, fico feliz que alguém da Grifinória esteja concorrendo — comentei.

— Espero sinceramente que você seja escolhida, Angelina! — disse Hermione.

— Obrigada, Susana e Hermione — agradeceu Angelina, sorrindo para nós duas.

— É, é melhor você do que o Zé Bonitinho Diggory — disse Simas, me olhando de um jeito provocativo, revirei os olhos com aquele comentário idiota dele. 

Terminando o café, junto com os garotos e Hermione, seguimos caminho para sair do salão.

— Então, o que é que vamos fazer hoje? — perguntei aos três. E uma voz na minha cabeça torcia para que Harry tivesse esquecido a ideia de ir ver o Hagrid hoje, assim eu poderia passar à tarde com o Malfoy.

— Ainda não fomos visitar o Hagrid — lembrou Harry. 

Droga!

— Tudo bem, Susana? — era Harry me olhando, acho que fiz sem querer um cara de desgosto. — Não quer ir ver o Hagrid?

— Não... quero dizer, sim, eu quero vê-lo... só espero que ele não nos peça para doar uns dedos aos explosivins.

Uma expressão de grande excitação surgiu de repente no rosto de Hermione.

— Su, acabei de me tocar, ainda não pedimos ao Hagrid para se alistar no F.A.L.E.! — disse ela animada. — Me esperem aqui enquanto dou uma corrida lá em cima para apanhar os distintivos.

Dei apenas um sorriso amarelo para Hermione que se virou e subiu correndo escada acima.

— Bom, acho que vamos ter que esperar — disse os dois. 

— Qual é a dela? — exclamou Rony, exasperado, me olhando.

Apenas balancei a cabeça, sem dizer nada a ele.

— Ei, Susana — disse Harry de repente. — É a sua amiga... 

Os alunos de Beauxbatons entravam no castelo, vindo dos jardins, entre eles estava Fleur.

— Amiga? — perguntei áspera ao Harry. — Ela não é e nunca vai ser minha amiga, Harry.

Ele soltou um riso abafado e disse:

— Era só brincadeira.

— Idiota — murmurei, dando um tapa de leve no ombro dele. 

O pessoal aglomerado à volta do cálice se afastou para deixar os outros passar, observando-os ansiosos. Madame Maxime entrou atrás dos alunos e organizou-os em fila. Um a um eles atravessaram a linha etária e depositaram seus nomes nas chamas branco-azuladas. A cada nome inscrito, o fogo se avermelhava e faiscava por um breve instante.

— Que é que vocês acham que acontece com os que não são escolhidos? — murmurou Rony para Harry e eu, quando Fleur deixou cair seu pedaço de pergaminho no Cálice de fogo. — Vocês acham que voltam para a escola ou ficam por aqui para assistir ao torneio?

— Eu não sei — respondeu Harry. — Você sabe?

— Não — disse balançando a cabeça. — Acho que devem ficar por aqui, suponho... Madame Maxime vai ficar para julgar, não é? 

Depois que os alunos de Beauxbatons se inscreveram, Madame Maxime levou-os de volta aos jardins. 

— Onde é que eles estão dormindo, então? — perguntou Rony chegando até as portas de entrada e os acompanhados com o olhar.

— Caramba, a Hermione está demorando — disse aos dois, passando meu braço no de Harry e encostando a cabeça no ombro dele. — Será que ela se perdeu no caminho?

— É bem provável que ela tenha...

Antes de Rony terminar, ouvimos uma gritaria vindo do salão principal. Todos no saguão olharam para ver quem era e vimos um grupo de Lufanos comemorando e empurrando Cedrico até o cálice. Ele sorria e balançava a cabeça para os amigos, em sua mão ele segurava um pedaço de pergaminho que deveria ter o seu nome. Cedrico passou pela linha e depositou os pergaminhos no cálice.

Vários alunos o aplaudiram, principalmente um grupo de meninas que estava do nosso lado soltou uns gritinhos e quando Cedrico desviou o olhar dos amigos, elas começaram a mandar tchauzinho. Devem ter achado que ele estava olhando para ela, eu também achei isso, mas me enganei.

Cedrico falou algo para os amigos e se afastou deles. 

— Ele está vindo falar com a gente — ouvi uma das meninas. — Como eu estou?

Cedrico passou reto por elas e parou na minha frente, dando aquele sorriso lindo que só ele tinha. 

— Oi Susana — disse ele ainda sorrindo.

Na hora soltei do braço de Harry e me aproximei melhor de Cedrico.

— Oi — falei, retribuindo o sorriso dele.

Conseguia ouvir alguns gruinhos de raiva vindo das meninas ao lado.

— Vejo que vai tentar competir — digo, lançando um olhar ao cálice.

— Pois é, eu estava pensando mesmo nisso e meus amigos me obrigaram a colocar logo o nome.

Concordei um pouco sem graça. Não sei o porquê, mas sempre me sinto muito sem graça na frente dele. Provavelmente fiquei com as bochechas um pouco coradas.

— Bem, queria falar outra coisa com você — Cedrico começou a dizer. — Na verdade eu vim lhe fazer um convite.

— Convite?

— Queria saber se está com o dia livre, para passar um dia comigo... Aceita?

Ele está me chamando para um encontro?

— Não! — disse do nada uma voz muito conhecida nas minhas costas. — Ela não vai...

Era Rony que veio ao meu lado.

— Ela não pode ir, você não pode ir com ele... Susana.

Cedrico olhava sem entender.

— Rony, para com isso— pedi em um resmungo.

— Entendi, você então já tem compromisso? — disse Cedrico.

Juro que senti uma pitada de decepção nas palavras dele. Mesmo ele tentando não deixar amostra, eu conseguia ver uma face de desaponto, Cedrico olhava Rony que estava ao meu lado e depois a mim. 

— Tudo bem, se já tem um compromisso, eu compreendo...

— Cedrico — chamei-o antes dele se retirar, ele voltou a me encarar com aqueles olhos cor de mel que ele tinha. — Sinto muito por isso, desculpe o Rony, mas acontece que eu não ia poder ir mesmo. Estamos esperando a Hermione e bem, eu já tinha dito que ia passar o dia de hoje com eles. 

De qualquer forma não poderia ir. Se eu não tivesse com Harry, Rony e Hermione, eu iria me encontrar com Malfoy. Então de qualquer forma não ia conseguir passar a tarde com Cedrico. 

— Tranquilo, então acho que podemos combinar de nos encontrar outro dia — ele olhou para Rony —, eu acho.

— Desculpe. 

Isso foi apenas o que consegui pensar quando Cedrico se retirou. Ele balançou a cabeça e fez um gesto com a mão para não se preocupar. Nessa mesma hora acabei olhando as garotas iludidas e digamos que elas me olhavam como se eu fosse louca. 

Ignorando essas bobinhas, eu peguei minha atenção para o Rony, dando um beliscão no braço.

— Ai! Por que fez isso sua louca? — exclamou Rony passando a mão no braço.

— Você é um idiota, sabia disso?

— Por quê?

— Por ter dito aquela besteira — respondi.

— Eu não disse nenhuma besteira, apenas disse que você já iria passar o dia com a gente, e só. Ia ser muita mancada sua aceitar o pedido do Zé Bonitinho.

— Agradeço a ajuda — ironizei. — Só que acontece que eu não ia precisar dela. Eu ia mesmo recusar o convite por causa de vocês. Você achou mesmo que ia deixar vocês na mão?

Rony não respondeu nada, mas continuou passando a mão no braço.

— E outra coisa, o Zé Bonitinho além de bonitinho é muito educado. Deveria aprender melhor com ele, Rony e não ficar entrando no meio da conversa dos outros.

— Ah, eu só...

— Espero que ele não tenha entendido errado esse seu não.

— Como assim? — perguntou Harry.

— Que ele não pense que Rony estava com ciúmes — respondi.

— Ciúmes? — repetiu Rony de olhos arregalados. — Claro que não! Você é minha amiga.

— Ah, Rony, então foi um ciúme de amigos — brinquei com ele, puxando o mesmo para um braço e lhe dando um beijo no rosto. — Que lindo! 

— Boba — murmurou Rony, rindo.

Hermione tinha chegado nessa mesma hora e já pedia explicação sobre o motivo da risada. Durante o caminho narrei o acontecimento com Cedrico para Hermione, e é óbvio que ela criticou o que Rony tinha feito, mas ele nem ligou já que estava com os olhos fixos em Fleur perto da carruagem. Não sei se Harry reparou, vi Hermione ficar com o rosto vermelho, parecia até que estava com raiva.

Chegando na cabana, Harry bateu na porta e os latidos retumbantes de Canino responderam imediatamente.

— Até que enfim! — saudou Hagrid, quando abriu a porta e viu que era a gente. — Achei que vocês tinham esquecido onde eu morava!

Meu queixo caiu assim que Hagrid apareceu, ele estava... horrível? Será que essa seria a palavra certa? Ou o certo seria, cômico? 

Hagrid estava usando um horroroso terno de tecido marrom peludo, com uma gravata amarela e laranja. Mas isto não era o pior; ele evidentemente tentou domesticar os cabelos, usando uma grande quantidade de um produto que parecia graxa. Estavam agora analisados em dois molhos — acredito que ele tenha tentado fazer um rabo de cavalo como o de Gui, mas acho que se tocou que tinha cabelo demais. Devo dizer que o penteado realmente não combinava com Hagrid. 

— Hagrid, o que...

— Onde estão os explosivins? — Hermione na mesma hora me cortou, me lançando um olhar de “não comenta nada”.

— Lá fora no canteiro de abóboras — respondeu Hagrid alegre, enquanto entramos na cabana. — Estão ficando uns bichões, quase um metro de comprimento agora. O único problema é que começaram a se matar uns aos outros.

— Ah, não, sério? — exclamou Hermione.

— Disfarça — sussurrei no ouvido de Rony que olhava sem disfarçar o penteado esquisito de Hagrid.

— É — disse Hagrid com tristeza. — Mas tudo bem, eles agora estão em caixas separadas. Ainda sobraram uns vinte.

— Isso é que foi sorte! — disse Rony. Mas parece que Hagrid não percebeu a ironia.

Sentamo-nos na enorme mesa enquanto Hagrid preparava o chá e ficamos discutindo sobre o Torneio Tribruxo. Hagrid parecia muito mais excitado com o assunto do que a gente.

— Aguardem — disse ele, sorrindo. — Aguardem só. Vocês vão ver uma coisa que nunca viram antes. A primeira tarefa... ah, mas eu não posso contar.

— Vamos, Hagrid! — insistimos, mas ele apenas sacudiu a cabeça rindo. 

— Não quero estragar a surpresa. Mas vai ser espetacular, isso eu posso dizer. Os campeões vão ter tarefas escolhidas sob medida. Nunca pensei que ia viver para ver organizarem novamente um Torneio Tribruxo!

Com as horas voando, acabamos almoçando com Hagrid, ou não almoçamos, já que eu perdi completamente a fome quando Hermione encontrou uma garra no picadinho de carne dela. Mas nos divertimos bastante tentando fazer Hagrid contar as tarefas que haveria no torneio, especulando quais dos inscritos seriam provavelmente escolhidos para campeões, e imaginando se Fred e Jorge já teriam perdido as barbas.

No meio da tarde uma leve chuva começou a cair; foi muito gostoso sentar ao pé da lareira e escutar as gotas de chuva tamborilando de leve na janela, vendo Hagrid cerzir suas meias enquanto discutia com Hermione sobre os elfos domésticos — porque ele se recusou terminantemente a entrar para o F.A.L.E. quando ela lhe mostrou os distintivos.

— Por que não, Hagrid? — perguntei tentando dar um apoio para Hermione.

— Seria fazer a eles uma maldade, Susana — disse ele sério, enquanto trabalhava com uma enorme agulha de osso enfiada com uma linha de cerzir amarela. — Faz parte da natureza deles cuidar dos seres humanos, é disso que eles gostam, entendem? Vocês duas os faria infelizes se tirasse o trabalho deles e os insultaria se tentasse lhes pagar um salário.

— Mas Harry libertou o Dobby e ele foi à lua de tanta felicidade! — disse Hermione. — E ouvimos dizer que ele está exigindo salário agora!

— Tudo bem, tem aberrações em toda espécie da natureza. Não estou dizendo que não haja elfo esquisito que aceite a liberdade, mas você jamais convenceria a maioria deles a concordar com isso, não, nada feito, meninas.

Hermione pareceu ficar realmente contrariada, eu balancei a cabeça para ela não insistir. Não adianta o que dizer, Hagrid não iria mudar de ideia.

Lá pelas cinco horas começou a escurecer, e nós decidimos que já era hora de voltar ao castelo para a festa do Dia das Bruxas.

— Vou com vocês — disse Hagrid, deixando o cerzinho de lado. — Me dêem um segundo.

Ele se levantou, foi até a cômoda ao lado da cama e começou a procurar alguma coisa nas gavetas. Não prestamos muito atenção, até que um fedor horrível chegou em nossas narinas. O que me fez ter um acesso de tosses, e tossindo, Rony perguntou:

— Hagrid, o que é isso?

— Eh? — exclamou Hagrid, virando-se com um enorme frasco na mão. — Você não gostou?

— Isso é loção de barba? — perguntou Hermione, com um tom de voz levemente chocado.

— Hum... Eau-de-Cologne — murmurou Hagrid. Ele ficou vermelho. — Talvez seja um pouco demais — disse meio impaciente. — Vou tirar, esperem aí...

Ele saiu desajeitado da cabana e o vimos lavar-se vigorosamente no barril de água do lado da janela.

— Eau-de-Cologne? — repetiu Hermione surpresa. — Hagrid?

— E qual é a explicação para os cabelos e o terno dele? — perguntou Harry em voz baixa.

— Olhem lá! — exclamou Rony de repente, apontando para fora da janela.

Levantamo-nos muito cautelosamente, para que Hagrid não nos visse, e espiamos pela janela e vi que era Madame Maxime e os alunos de Beauxbatons tinham acabado de sair da carruagem. Não se dava para ouvir nada, mas Hagrid estava falando com a diretora com os olhos embaçados e uma expressão de arrebatamento, além dele estar mais vermelho que antes.

 — Eu não acredito no que estou vendo! — disse olhando a cena que presenciava incrédula. — Hagrid está flertando com ela?

Sem lançar sequer um olhar à cabana, Hagrid foi subindo pelo gramado com Madame Maxime, e os alunos. Ele tinha esquecido por completo da gente.

— Ele está caído por ela! — comentou Rony incrédulo. — Bom, se eles tiverem filhos, vão marcar um recorde mundial, aposto que um bebê deles irá pesar uma tonelada.

Já que Hagrid esqueceu da gente, voltamos sozinhos para o castelo. Estava bem mais escuro do que imaginei, além de estar mais frio, o que me fez me encolher com Hermione. Ficamos uma grudada na outra para se aquecer.

— Ah, são eles. Olhem lá! — sussurrou Hermione do nada.

A delegação de Durmstrang seguia do lago para o castelo. Rony que estava ao meu lado, observava Krum todo animado, mas ele nem sequer olhou para os lados ao alcançar as portas do castelo um pouco a nossa frente.

Quando entramos, o salão iluminado por velas estava quase cheio. O cálice fora mudado de lugar; agora se encontrava diante da cadeira vazia de Dumbledore, à mesa dos professores. Fred e Jorge estavam de volta — novamente de cara lisa — pareciam ter aceitado o desapontamento muito bem.

— Espero que seja Angelina! — disse Fred, quando me sentei com Harry ao meu lado de frente aos gêmeos. 

— Também — disse sem fôlego. Estava muito ansiosa para saber quem seriam os escolhidos.

A festa das bruxas parecia não acabar mais. Comi pouca coisa e sempre olhava para a mesa de Dumbledore, vendo se ele já tinha terminado, ou se via alguma reação de que tinha chegado a hora.

Depois de muito tempo, os pratos voltaram ao estado limpo, e Dumbledore se levantou. E ao seu lado se encontrava o Sr. Karkaroff e Madame Maxime. Juntos estavam os senhores Bagman e Crouch.

— Bom, o Cálice de Fogo está quase pronto para decidir — disse Dumbledore. — Estimo que só precise de mais um minuto. Agora, quando os nomes dos campeões forem chamados, eu pediria para que eles viessem até este lado do salão, passassem diante da mesa dos professores e entrassem na câmara ao lado — ele indicou a porta atrás da mesa —, onde receberão as primeiras instruções.

Ele puxou, então, a varinha e fez um gesto amplo; na mesma hora todas as velas, exceto as que estavam dentro das recortadas, se apagaram, mergulhando o salão na penumbra. O cálice brilhava agora com mais intensidade, o que chegava até doer os olhos. Levou alguns minutos, mas para mim levou horas, até pedi para Hermione dar uma conferida no relógio dela.

De repente as chamas dentro do Cálice tornaram a se avermelhar. Fazendo sair algumas faíscas. No momento seguinte, uma língua de fogo se ergueu no ar, e expeliu um pedaço de pergaminho chamuscado.

Dumbledore apanhou o pergaminho e leu-se em voz alta.

— O campeão de Durmstrang é Vítor Krum.

Ouve-se uma grande tempestade de aplausos e vivas percorreu o salão. Krum se levantou da mesa da Sonserina e se encaminhou para o local mencionado pelo diretor, minutos antes.

Segundos depois, o Cálice tornou-se a se avermelhar e não demorou muito para lançar um outro pedaço de pergaminho.

— O campeão de Beauxbatons é Fleur Delacour!

— Ah, tadinhas, eles estão desapontados — debochei, apontando para a mesa da Corvinal com o resto dos alunos de Beauxbatons com cara tristinha. E se tivesse tempo ia tirar sarro das duas garotas que estavam aos choros. — Ridículos!

Quando Fleur desapareceu na câmara vizinha, todos tornaram a fazer silêncio, e confesso que agora estava bem mais ansiosa. Agora era a vez do campeão de Hogwarts. Meu coração estava acelerando mais ainda quando o cálice lançou o pedaço de pergaminho.

— O campeão de Hogwarts — anunciou o diretor — é Cedrico Diggory!

Rony tentou protestar em voz alta, exclamando um “não”, mas seria impossível ele ser ouvido já que houve uma enorme zoeira vindo da mesa dos Lufanos. Todos ficaram de pé, gritando e aplaudindo. Eu mesma aplaudi, e não fui a única, Hermione e várias garotas e alguns garotos também aplaudiram. 

Levou um tempo para tudo se acalmar, quando Cedrico passou todo sorridente pela porta atrás da mesa dos professores, a barulheira ainda continuava.

— Excelente! — exclamou o diretor, feliz, quando finalmente o tumulto serenou. — Muito bem, agora temos os nossos três campeões. Estou certo de que posso contar com todos, inclusive com os demais alunos de Beauxbatons e Durmstrang, para oferecer aos nossos campeões todo o apoio que puderem, torcendo pelos seus campeões, vocês contribuirão de maneira muito real...

Mas Dumbledore parou inesperadamente de falar, e tornou-se óbvio para todos o que o distraía. O fogo no Cálice acabara de se avermelhar outra vez.

— Achei que já tinha acabado? — ouvi Harry murmurando no meu ouvido, assim que saiu um quarto pedaço de pergaminho.

Ele estava sentado do meu lado esquerdo. 

— Vai ver o Cálice se arrependeu de escolher a Fleur, viu que ela não tem neurônio suficiente para participar do torneio — digo maldosa.

Harry acabou soltando uma risada abafada, o que acabou me contagiando, assim que o olhei, mas tanto o sorriso dele como o meu se desfez quando Dumbledore disse:

Harry Potter!

Aquilo só podia ser uma piada, e uma piada de muito mau gosto!


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam?