A Herdeira dos Black II escrita por Akanny Reedus


Capítulo 21
Os novos hospedes




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Point of View: SUSANA BLACK 

Além de ter ido dormir, acordei com uma sensação muito boa, parecia que tudo à minha volta e meus pensamentos desapareceram. A única coisa que me vinha em mente e não saiu um minuto sequer dos meus pensamentos, era o Malfoy. Dormi, sonhei e acordei pensando nele. Não conseguia parar de pensar no que aconteceu ontem de noite. 

Hoje logo que acordei, mas sem sair da cama, Hermione veio me perguntar sobre a festa e a única coisa que disse a ela foi: Malfoy e eu nos beijamos. Ela não me disse nada, apenas repetiu o que tinha dito.

— Susana! 

— Quê? 

Não desviei um segundo sequer os olhos do teto de pano da cama. 

— É — disse Hermione abafando um riso —, acho que já tenho minha resposta.

Aquilo me fez acordar do meu transe, balancei a cabeça e olhei Hermione sentada na minha cama.

— Resposta? — repetiu sem entender. — Resposta do que?

Ela se levantou rindo baixinho, acho que para não chamar atenção das outras garotas.

— É que eu perguntei como foi o beijo — disse ela em voz baixa. — E digamos que a resposta está estampada na sua testa.

Revirei os olhos e respondi:

— Foi bom.

A sensação do beijo me veio à mente, fazendo-me pensar e voltando a encarar o teto.

— Não, não foi bom… foi muito bom.

Hermione soltou uma risadinha e disse:

— É melhor você se arrumar, Harry e Rony já devem estar esperando.

Dito e feito os dois já estavam na sala esperando. 

— Credo — exclamou Rony quando saímos da comunal. — Como vocês duas demoram são sempre as últimas a descerem.

— Quase estávamos saindo sem vocês — disse Harry em seguida.

— E para que tanta pressa para ir tomar café? — perguntei aos dois. — Tudo bem que você é um saco sem fundo, Rony. Só que mesmo assim, não estamos em cima da hora do término do café-da-manhã. 

— Susana, você não se lembra o que vai ter hoje? — Rony parou no último degrau das escadas para o saguão.

Parei um minuto para pensar, mas nada vinha em minha mente, exceto o beijo de Malfoy.

— Não. 

— Garota, hoje é o dia que chega às outras escolas.

Soltei uma exclamação.

— É mesmo — disse, agora me lembrando que hoje era trinta de outubro, dia em que ia chegar Durmstrang e Beauxbatons. — Eu tinha me esquecido, minha cabeça está em outro mundo...

No mesmo momento parei de falar assim que vi Malfoy, subindo as escadas das masmorras, ele próprio assim que me viu parou. Ficamos um tempo se olhando, mas logo percebendo a cena que estávamos fazendo, desviei o olhar e entrei no salão com os garotos e Hermione.

Coloquei até a mão no coração para ver se ele se acalmava, por um momento senti ele saindo da boca, e sem contar a súbita felicidade que senti quando eu o vi. Juro que estou começando a me estranhar. 

Assim que me sentei de frente com Fred e Jorge com Harry ao meu lado esquerdo, dei uma olhada no salão e reparei que ele estava um pouco diferente. Corrigindo, eles apenas colocaram as bandeiras que representavam cada casa. Eram bandeiras grandes e as quatro estavam presas atrás da mesa dos professores e no meio delas havia a maior bandeira com o brasão de Hogwarts: leão, águia, texugo e serpente unidos em torno de uma grande letra “H”.

Logo que tirei os olhos das bandeiras acabei seguindo o olhar para a porta do salão, tentando ver se via de novo o Malfoy, só que nada dele. Apenas quem entrou foi o Theodore com Zabini ao lado, pelos gestos de Zabini parecia até que estava dando “bronca” nele. Já Theodore estava com a mão na cabeça com uma cara péssima.

Como não era exatamente eles que queria ver, tentei espiar a mesa da Sonserina que era logo a última do outro lado. Era difícil achá-lo, acho que nem tanto, até porque não é difícil achar uma cabeleira loiro platinada. O que realmente me dificultava a procura era minha altura. Nunca pensei que existia tanta gente alta assim em Hogwarts. Por um breve segundo consegui achar Malfoy, graças ao Zabini que se sentou bem onde ele estava só que também foi apenas isso. Não conseguia vê-lo direito. Droga!

— Vocês já tiveram alguma ideia para o Torneio Tribruxo? — perguntou Harry para os gêmeos, a voz dele foi a que me fez acordar para vida e me focar nos meus ovos mexidos. — Continuaram pensando como vão tentar se inscrever?

— Perguntei a McGonagall como é que os campeões são escolhidos, mas ela não quis dizer — respondeu Jorge com amargura. — Só me disse para calar a boca e continuar transformando o meu racum.

— Fico imaginando quais vão ser as tarefas — disse Rony pensativo. — Sabe, aposto que poderíamos dar conta, Harry e eu já fizemos coisas perigosas antes...

— Não na frente de uma banca de juízes, isso vocês não fizeram — disse Fred. — McGonagall disse que os campeões recebem pontos pela perfeição com que executam as tarefas. 

— Quem são os juízes? — perguntou Harry.

— Bem, os diretores das escolas participantes sempre fazem parte da banca — disse Hermione e todos os garotos a olharam surpresos —, porque os três ficaram feridos durante o torneio de 1792, quando um basilisco que os campeões deviam capturar saiu destruindo tudo.

Ela notou que os garotos a olhavam e disse, com o seu costumeiro ar de impaciência quando via que ninguém mais lera os mesmos livros que ela:

— Está tudo em Hogwarts: uma história. Embora, é claro, esse livro não seja cem por cento confiável. Uma história revista de Hogwarts seria um título mais preciso. Ou, então, Uma história seletiva e muito parcial de Hogwarts, que aborda brevemente os aspectos mais desfavoráveis da escola. 

— Do que é que você está falando? — perguntou Rony, fiz uma careta para ele, tentando demonstrar que não era uma boa ideia questionar.

Eu sabia perfeitamente do que ela estava falando.

Elfos domésticos! — disse Hermione em voz alta. — Nem uma vez, em mais de mil páginas, Hogwarts: uma história menciona que somos todos coniventes na opressão de centenas de escravos!

Assim como eu, Harry também sacudiu a cabeça e ficamos concentrados nos nossos ovos mexidos. Harry e Rony deveriam ter achado que a falta de entusiasmo deles ia refrear a minha decisão e a de Hermione em obter justiça para os elfos domésticos. Os dois até pagaram os dois sicles pelo distintivo do F.A.L.E., mas sei que tinham feito isso apenas para fazer a Hermione ficar quieta. Ao contrário de mim, Hermione era muito mais radical em relação a F.A.L.E. e com o passar dos dias ela foi ficando ainda mais vociferante. Nem eu estava me safando dessa. Ela andava atormentando-nos desde então, primeiro para usarmos o distintivo, nisso não era problema comigo já que eu usava — mas às vezes eu esquecia de colocar —, depois para persuadirem os outros a fazerem o mesmo. Por mais que ela reclame, eu era a que mais ajudava, mesmo que eu seja relaxada no uso do distintivo, só que quem mais sofria nisso tudo eram os garotos. 

 — Vocês têm consciência de que os seus lençóis são trocados, as lareiras, acesas, as salas de aula limpas e a comida preparada por um grupo de criaturas mágicas que não recebem salário e são escravizadas? — ela não parava de lembrar a todos disso com veemência.

Infelizmente, alguns dos colegas, como Neville, tinham pagado só para Hermione parar de fazer cara feia para eles. Alguns pareciam ligeiramente interessados no que ela tinha a dizer, mas relutava a assumir um papel mais ativo no movimento. Amanda era uma dessas, eu tinha conseguido fazê-la comprar um dos distintivos, até acho interessante, mas por causa da Hermione ela decidiu não ser muito ativa. Muitos encaravam a coisa toda como piada.

Vi que Rony agora contemplou o teto e Fred fingiu-se extremamente interessado no bacon que havia em seu prato (os gêmeos tinham se recusado a comprar um distintivo do F.A.L.E.). Jorge, no entanto, chegou mais perto de Hermione. 

— Escuta aqui, Mione, você já foi à cozinha?

— Não, claro que não — respondeu ela secamente.

— Susana, você nunca a levou? — perguntou Jorge e eu apenas neguei. — Então é melhor você levá-la. 

— Pode deixar — disse observando minha amiga. — Acho que ela está precisando muito conhecer a cozinha. Já disse a ela que os elfos são muito felizes. Não sofre nenhum maus tratos e além disso, eles acham que têm o melhor emprego do mundo...

— Su, eu já te disse, é porque eles não têm instrução e sofrem lavagem cerebral — começou Hermione acaloradamente, mas suas palavras seguintes foram abafadas pelo ruído de asas que vinha alto anunciando a chegada das corujas com o correio. Harry e eu erguemos os olhos e, na mesma hora, avistei Edwiges que voava em nossa direção e junto dela vinha uma outra coruja, acho que a mesma que mandei para o meu pai com minha carta.

— Duas corujas? — disse Harry em dúvida, enquanto me via desamarrando a resposta de meu pai na perna da coruja.

— Tinha mandado uma carta para ele — expliquei. 

Harry desamarrou a resposta na perna de Edwiges e ofereceu a ela suas aparas de bacon, e a outra coruja que tinha me entregado a carta, já tinha voado de volta para o corujal.

Aproveitando que Fred e Jorge estavam entretidos em outra conversa. Harry foi um pouco para o lado, fui logo depois para assim a gente ficar de frente para Rony e Hermione. Os dois nos olhavam curiosos.

— Leia você primeiro — disse Harry.

Assenti e comecei a ler a carta em voz baixa para que os três ouvissem. 

 

Filha, não se preocupe comigo.

Infelizmente não poderei conceder esse seu pedido. Já estou de volta ao país e posso lhe assegurar que estou muito bem escondido. Ninguém vai me mandar de volta para Azkaban. Fique tranquila, está bem? Não tenha medo. Estarei sempre com você, filha. Sempre que der vou te escrever e assim te mostrar que nada me aconteceu, ok? Se cuide, querida.

Sirius.

 

— Viu? — Hermione foi quem disse me olhando. — Ele está bem. 

Concordo apenas com a cabeça, me sentindo mais tranquila com essa resposta dele. Só era isso que precisava para me sentir menos preocupada com ele. 

— Harry é a sua vez — disse.

 

Não me convenceu, Harry.

Estou de volta ao país e bem escondido. Quero que me mantenha informado de tudo que estiver acontecendo em Hogwarts. Não use Edwiges, troque de corujas e não se preocupe comigo, cuide-se. Não se esqueça do que lhe disse sobre a cicatriz.

Sirius.

 

— Por que é que você precisa trocar de corujas? — perguntou Rony em voz baixa.

— Edwiges chamará muita atenção — respondeu Hermione na mesma hora. — Ela se destaca. Uma coruja muito branca que fica voltando para o lugar em que ele está escondido... Quero dizer, ela não é um pássaro nativo, não é mesmo?

Enrolei a minha carta e guardei na minha bolsa. 

— Obrigado, Edwiges — disse Harry para coruja, acariciando-a. Ela piou sonolenta, meteu o bico rapidamente no cálice de suco de laranja do dono, depois tornou a levantar voo, visivelmente desesperada para tirar um longo sono no corujal.

Havia uma sensação de agradável expectativa no ar naquele dia. As duas primeiras aulas de manhã foram bem tranquilas, mas não consegui prestar muita atenção, e o motivo nem era meu pai e nem mesmo pela chegada das outras escolas. Bem que o povo de Beauxbatons poderia acabar se perdendo no caminho ou acabar perdidos em uma montanha lotada de gigantes. Não seriam problemas, afinal de contas os alunos de Beauxbatons teriam a diretora que não me surpreenderia dela ser uma meia-gigante, e ela poderia dar conta dos parentes. Só que o verdadeiro motivo da minha falta de atenção foi a vontade imensa que tinha em ver o Malfoy. Não via a hora de vê-lo, e por causa disso, pela primeira vez na minha vida desejei muito que a aula do Snape chegasse logo. 

Se eu contasse isso ao Harry e Rony, os dois diriam que eu estou louca, sem contar o detalhe que iriam fazer o show ao saber que beijei o sonserino. Uma coisa é certa, a melhor pessoa para eu desabafar no momento era a Hermione, Harry e Rony estão fora de cogitação. Infelizmente estava meio que impossível conversar com ela sobre essa minha vontade, justamente por causa dos garotos, que não saiam de perto. 

— Susana? — chamou-me uma vozinha atrás de mim, assim que me sentei na mesa da Grifinória para almoçar. — Você é Susana Black?

Olhei para trás e pelo que me lembro é Dênis Creevey, o irmão caçula de Colin.

— Sim, sou eu — disse, olhando-o de forma suspeita. 

Esse garotinho nunca veio falar comigo, e quando chegava perto dele se afastava, parecia até que tinha medo de mim. Segundo Hermione ele apenas tinha vergonha, pois ela uma vez ouviu sem querer uma conversa dele com alguns amigos primeirista e Dênis tinha dito aos amigos que me achava muito bonita. Traduzindo tudo o que Hermione quis me dizer é que ele tinha uma paquerinha por mim. De primeira achei exagero, mas depois que via ele sempre se afastando de mim e agora o vendo todo vermelho, estou achando que a minha amiga tinha razão.

— Mandaram isso para você — ele colocou um pequeno bilhete na mesa e depois saiu correndo, sem me dar tempo de perguntar quem mandou.

— Quem está te mandando cartinhas? — perguntou Rony já de boca cheia.

— Sei lá — falei. — Deve ser alguma brincadeirinha dele... ou não. 

Eu realmente achei que fosse desse próprio Dênis o bilhete, ia até me servir de purê, mas logo recuei e peguei o bilhete para ler.

— Será que é dele? — disse Hermione, enquanto se servia de purê. 

— Outro pretendente, Susana? — indagou Harry surpreso.

Hermione acabou soltando uma risada e disse em tom provocativo:

— Você não sabe, Harry? Susana é popular.

Dei uma cotovelada no braço dela para ficar quieta.

Abri o bilhete e tinha escrito uma pequena mensagem:

 

Encontre-me no lago da lula-gigante.

D.M

 

Meu coração acelerou de um jeito inexplicável. Cutuquei mais uma vez Hermione e mostrei o bilhete.

— Você vai? — murmurou ela. 

Não respondi, mas eu sabia a minha resposta. 

— Vejo vocês depois — disse aos três, pegando minha bolsa, colocando no ombro e me levantando.

— Aonde você vai? — perguntou Rony. — Você ainda nem começou a comer.

— Depois eu como, estou sem fome — respondi. — Encontro com vocês na aula de Poções — e assim sai apressada do salão com o coração acelerado.

Todos os alunos estavam no salão nesse momento almoçando, então o pátio e a área do lago estavam sem ninguém. Como dito no bilhete, ele estava realmente me esperando apoiado em uma das árvores, observando o lago que já estava sendo coberto por uma longa camada de neblina. 

— Oi — disse apenas isso quando cheguei perto dele. 

Malfoy me olhou por trás do ombro, mas logo se virou para me olhar melhor. 

— Achei que você ia me dar um bolo — disse, diminuindo a pequena distância entre nós dois. — Ou que o moleque ia entregar para pessoa errada.

— Ele entregou, mas também saiu correndo em seguida — comentei.

Parece que o assunto se perdeu por uns segundos, e nesse meio segundo, ficamos nos olhando. Eu me sentia tão estranha ao lado dele. Não era nem a primeira vez que me sentia daquela forma, senti tudo aquilo nas férias e agora parece que ficou mais forte depois de ontem.

— Por que me chamou até aqui? — perguntei, quebrando de vez aquele silêncio todo.

— Queria conversar com você — respondeu Malfoy.

— Sobre?

Ele parou para pensar um pouco, me olhou bem atento, pela forma que ele me olhava parecia até que estava observando cada parte do meu rosto. Olhou meus olhos, mas logo reparei que o olhar dele parou na minha boca por uns segundos; depois voltou a olhar os meus olhos. Nunca parei para reparar como os olhos dele eram lindos, o olhar é tão único.

Malfoy abriu a boca para responder, mas logo fechou o que me fez suspeitar sobre o que ele queria conversar.

— É sobre o que ouve... — ele não conseguiu terminar a frase, pois na mesma hora o puxei pela nuca e o beijei.

Um turbilhão de sentimentos surgiu naquele momento. Não se tratava de um beijo intenso, mas era calmo, só que cheio de sentimentos que jamais poderia sentir. Pude sentir sua mão ir para minha cintura e me puxando para levantar um pouquinho já que ele era mais alto que eu. Já sua outra mão foi para o canto do meu rosto e a minha desceu da sua nuca pousando em seu peitoral. Juro que consegui sentir seus batidos que não eram diferentes do meu.

Aos poucos fomos parando com selinhos. Encostamos nossas testas tentando não diminuir tanto a distância. Conseguia sentir sua respiração, nossos lábios ainda se roçavam. Do nada, Malfoy começou a rir que me contagiou.

— Achei que você ia me azarar pelo beijo de ontem — disse ele em um sussurro.

Sorri ao receber logo em seguida um selinho.

— Minha varinha está no bolso interno da minha capa — dizia enquanto passava a ponta do dedo no pequeno broche prateado de serpente preso na gravata dele. — Se você quiser eu pego e te lanço uma azaração.

Ele fez uma falsa expressão que estava pensando.

— Hum... melhor continuarmos de onde paramos, agora não estou a fim de receber uma azaração — brincou, se aproximando. — Falando nisso, onde foi que paramos?

Sorrimos um para o outro e voltamos a nos beijar.

Como queria que as horas parasse naquele momento para que assim pudesse ficar mais tempo. Infelizmente isso não era possível e parece que as horas se passaram voando. Por sorte íamos ter a mesma aula que era a de Snape, mas o lado ruim é que íamos ficar separados, ele ia ficar com os amigos dele e eu com os meus.

— A gente se vê hoje à noite? — Malfoy tinha dito enquanto saímos de perto do lago. 

— Será que vai dar? Hoje vai ter aquele jantar de boas-vindas para os novos hóspedes e vão dar início ao torneio. 

— Verdade… droga acho que não vai dar mesmo — disse ele pensativo. — Então acho que é só amanhã mesmo? Caso não tenha nada para fazer é claro.

Pensei um pouco e amanhã seria sábado, então acho que só de noite teria o tempo livre, pois antes Harry tinha sugerido fazer uma visita ao Hagrid já que não tínhamos ido lá ainda então a visita deveria rolar antes. 

Disse apenas ao outro que é mais provável eu ter a noite livre, não comentei sobre Hagrid, mas disse apenas que ia fazer algo com Harry, Rony e Hermione.

Para não chamar atenção dos outros, ou criar suspeitas, decidimos ir separados. Primeiro fui eu na frente; depois de um tempo foi a vez dele. Pela primeira vez em dois anos de Hogwarts a aula de Poções foi mais tolerável do que de costume porque durou meia hora a menos e, porque me sentia muito bem por dentro e o Snape não conseguiu estragar nada disso. 

Como dito no aviso a sineta tocou mais cedo e guardamos nossos materiais na comunal. No dormitório apenas arrumei melhor a capa e reforcei a maquiagem, Hermione fez o mesmo, e por último pegamos o chapéu preto antes de descer para o saguão de entrada.

Os diretores das Casas estavam organizando os alunos em filas.

— Weasley, endireite o chapéu — disse a Profª Minerva secamente a Rony. — Srta. Patil, tire essa coisa ridícula dos cabelos. 

Parvati fez cara feia e retirou o enorme enfeite de borboleta da ponta da trança. Eu bem disse a ela que isso estava ridículo no dormitório, mas ela não me ouviu, então acabou levando esse toque da professora.

— Sigam-me, por favor — mandou a professora —, alunos da primeira série à frente... sem empurrar...

Descemos os degraus da entrada e nos enfileiramos diante do castelo. Fazia um final de tarde frio e límpido; o crepúsculo vinha chegando devagarinho e uma lua pálida e transparente já brilhava sobre a Floresta Proibida. Na fila eu tinha ficado entre Harry e Hermione, Rony ficou do lado de Harry. 

— Quase seis horas — comentou Rony, verificando o relógio e depois espiando o caminho que levava aos portões da escola. — Como é que vocês acham que eles vêm? De trem?

— Duvido — respondeu Hermione.

— Como então? Vassouras? — arriscou Harry, erguendo os olhos para o céu estrelado.

— Acho que não...  — disse pensativa. — Não vindo de tão longe...

— De chave de portal? — aventurou Rony. — Ou quem sabe aparatando, talvez tenham permissão de fazer isso antes dos dezessete anos no lugar de onde vêm.

— Não se pode aparatar nos terrenos de Hogwarts, Rony — digo.

— Do que você acha que Beauxbatons vai vim? — perguntou Rony, demonstrando que ignorou completamente o que tinha dito antes.

— Sei lá — chacoalhei os ombros. — Talvez venham por cavalos alados.

Os três na hora me olharam surpresos.

— Cavalos alados? — repetiu Harry.

— Sim, lembro que lá se tinha muitos deles. Inclusive era com eles que eu ia para o castelo. São enormes e digamos que são criaturas que aguentam uma viagem longa.

Parece que acertei, levou algum tempo, mas logo Beauxbatons chegou. Todos os olhos ficaram super excitados quando viram a enorme carruagem azul-clara do tamanho de um casarão que voava por cima das árvores da Floresta Proibida. E como tinha dito, as carruagens estavam sendo puxadas por doze cavalos alados nas cores douradas e grandes olhos cor de fogo.

A porta da carruagem se abriu e de lá saiu um garoto, curvando para a frente, mexeu por um momento em alguma coisa que havia no chão da carruagem e abriu uma escadinha de ouro. Em seguida, recuou respeitosamente (sempre achei ridículo esses atos deles, tudo muito brega). Logo apareceram os pés enormes da Madame Maxime.

Assim que ela saiu da carruagem pude ver que ela era mais alta que Hagrid. Deveriam ter uns dois centímetros de diferença de tamanho. Confesso que Madame Maxime não era tão feia, tinha um rosto bonito de pele morena, grandes olhos negros que pareciam líquidos e um nariz um tanto bicudo. Seus cabelos estavam puxados para trás e presos em um coque na nuca. Vestia-se da cabeça aos pés de cetim negro, e brilhavam numerosas opalas em seu pescoço e nos dedos grossos.

Dumbledore começou a aplaudir; os outros estudantes fizeram o mesmo, eu fiquei apenas na minha.

O rosto dela se descontraiu em um gracioso sorriso e ela se dirigiu ao diretor, estendo a mão faiscante de anéis. O diretor, embora alto, mal precisou se curvar para beijar-lhe a mão.

— Minha cara Madame Maxime — disse. — Bem-vinda a Hogwarts.

— Dumbly-dorr — disse Madame Maxime, com uma voz grave. — Esperro encontrrá-lo de boa saúde.

— Excelente, obrigado — respondeu Dumbledore.

— Meus alunos — disse Madame Maxime, acenando descuidadamente uma de suas enormes mãos para trás.

Fiz questão de expressar todo o meu desgosto quando vi os alunos que já haviam descido da carruagem. Deveria ter uns doze garotos e garotas. Eles tremiam de frio, o que não me surpreendeu, já que os uniformes eram todos feitos de finíssima seda e nenhum deles usavam capas.

— Depois pergunta por que eu os acho ridículos — disse baixinho no ouvido de Hermione, e apontando para eles que olhavam para o castelo, com uma expressão apreensiva.

Hermione não disse nada, mas fez uma cara de desgosto quando viu onde eu apontava.

— Você usava isso? — perguntou em um murmúrio.

— Olha para minha cara e vê se eu realmente usava essa roupa — respondi, revirando os olhos. — Por que se acha que fui expulsa a pontapé de lá?

Ela me olhou muito compreensiva, arqueei as sobrancelhas e ela precisou segurar uma risadinha.

A delegação de Durmstrang era a mais demorada, eu estava começando a ficar com frio e fome.

— Cheguem logo — reclamei batendo o pé. — Eu estou com fome!

— Também, não comeu nada no almoço — disse Harry revirando os olhos.

— Acontece que estava ocupada e acabei perdendo a hora do almoço — digo.

— E o que era de tão importante para te fazer perder a hora?

— Bom, é... hum...

— Vocês estão ouvindo isso? — perguntou Rony de repente, cortando o que ia dizer a Harry, o que até agradeci mentalmente.

Prestei melhor atenção no que Rony disse, e tentei apurar melhor meus ouvidos, um barulho alto e estranho chegava até nós através da escuridão, um ronco abafado mesclado a um ruído de sucção.

— O lago! — berrou Lino apontando. — Olhem para o lago!

De onde estávamos não se dava para ter uma boa visão do lago, além de que estava tudo escuro, até que se pode ver no meio da água um redemoinho, e algo começou a emergir lentamente do redemoinho... Era um navio que logo que emergiu inteiramente, começou a deslizar para a margem.

Não demorou muito e logo pararam, atiraram a âncora na água rasa e um pranchão foi baixado sobre a margem.

Havia gente desembarcando, e podia ver silhuetas passarem pelas luzes das escotilhas. Eles pareciam ter físicos semelhantes aos de Crabbe e Goyle... Mas então, quando subiram as encostas dos jardins e chegaram mais próximos à luz que saía do saguão de entrada, percebi que aquela aparência maciça se devia às capas de peles de fios longos e despenteados que estavam usando. Mas o homem que os conduzia ao castelo usava peles de outro tipo; sedosas e prateadas como os seus cabelos.

— Dumbledore! — cumprimentou ele cordialmente, ainda subindo a encosta. — Como vai, meu caro, como vai?

— Otimamente, obrigado, Professor Karkaroff.

O homem tinha uma voz ao mesmo tempo engraçada e untuosa; quando ele entrou no círculo de luz das portas do castelo, vi que era tão alto e magro como Dumbledore, mas seus cabelos brancos eram curtos, e a barbicha (que terminava em um cachimbo) não escondia inteiramente o seu queixo fraco.

Quando alcançou o diretor, apertou-lhe a mão com as suas duas.

— Minha velha e querida Hogwarts! — exclamou, erguendo os olhos para o castelo e sorrindo, seus dentes eram um tanto amarelados, e reparei que seu sorriso não abrangia os olhos, que permaneciam frios e astutos. — Como é bom estar aqui, como é bom... Vítor, venha, venha para o calor... Você não se importa, Dumbledore? Vítor está com um ligeiro resfriado...

Karkaroff fez sinal para um de seus estudantes avançar. Quando o rapaz passou, meu queixo caiu.

— Caramba é o Vítor Krum! — exclamou Rony de repente.


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam?