A Herdeira dos Black II escrita por Akanny Reedus


Capítulo 17
Maldições Imperdáveis




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“Acha mesmo que eu, Draco Malfoy, iria me apaixonar por uma traidora do próprio sangue.”

— Ei, Susana!

“Eu nunca iria me apaixonar por você, Black.”

— Hello! Planeta Terra chamando Gwenda — com um forte barulho de estalo eu sai do meu transe.

Quê?

Olhei Hermione que me encarava e sorria.

— Você está bem? — perguntou ela.

— Por que a pergunta?

  — É que você do nada ficou quieta — respondeu Hermione. — Te chamei, mas você não respondeu, então decidi te chamar pelo seu segundo nome.

Revirei os olhos e disse:

— Não é nada, apenas estava pensando.

— Então desde ontem que você está bem pensativa — diz ela arrumando e fechando um dos livros de criaturas mágicas — e parece estar triste. Aconteceu alguma coisa?

As palavras de Hermione me pegaram porque não sabia exatamente o que estava sentindo. Desde aquela conversa que tive com Malfoy e de suas palavras não passei a me sentir bem, me sentia desanimada e piorava quando o via, junto vinha aquela dor imensa no peito. Não tinha dito absolutamente nada sobre o que aconteceu para Hermione, queria contar, mas não contei e ela como boa observadora deve ter percebido facilmente que aconteceu algo de errado comigo.

Não a respondi e apenas sorri sem ânimo alguma, ela não insistiu e agradeci muito.

Diferente de Hermione que parecia ler mentes, Harry e Rony foram praticamente o oposto, tudo que eles repararam é que estava quieta até demais. As poucas vezes que abri boca foi para responder às perguntas das aulas da parte da manhã, ou até mesmo conversar com Mione, que foi quem estava mais grudada a manhã toda.

Hermione com a intenção de me animar, me chamou para ir com ela até a biblioteca e digamos que acabei descobrindo o que ela estava aprontando em suas repetitivas idas à biblioteca. Ela foi me narrando tudo que estava fazendo que era estudar e pesquisar a fundo sobre os elfos domésticos.

— Minha ideia é criar uma fundação que luta pelos direitos dos elfos! — dizia Hermione toda empolgada e mostrando toda suas anotações. — Você topa me ajudar? Eu já peguei muitas informações, mas tem muito mais e ter mais uma mão seria ótimo.

Claro que aceitei ajudá-la! Não é só pelo fato dela ser minha amiga, mas pelo ideal de tudo isso. Se tem algo que sou totalmente contra é aos maus tratos aos elfos domésticos. E depois do que presenciei na Copa Mundial de Quadribol com a Winky, claro que iria ajudar Hermione.

Enquanto estava já mergulhando nos livros que ela tinha pegado, comecei a pensar por tudo que estava passando e cheguei a conclusão que precisava muito me desabafar com alguém. Antes a única pessoa que ouvia meus desabafos era a Tonks, mas não dava para ficar falando tanta coisa delicada tudo por carta, além de ela agora está tão ocupada que até receber a resposta dela já vou estar doida. Se não dá com minha prima então por que não a Hermione?

Nós duas nos tornamos extremamente próximas durante essas férias e agora com o início das aulas, não está diferente, passamos a maior parte do tempo juntas. Então por que não?

Quando foi na hora da janta e depois acompanhei até a biblioteca e nós lotamos de livros, contei absolutamente tudo a ela, desde os beijos que troquei com Malfoy até os que troquei com Theodore. Bom da Hermione é que quando ela te escuta é para escutar mesmo, prestando atenção em absolutamente tudo que você diz e sem interromper. Ela apenas fala quando você diz o fim.

— Deixa eu ver se entendi bem — começou Hermione lentamente. — Você está dizendo que ficou com Draco Malfoy e Theodore Nott? Você beijou os dois?

Assenti.

— Foram os únicos garotos que beijei desde que entrei em Hogwarts e ainda por cima são sonserinos. Não basta ser só isso, mas o pior é que o primeiro foi justo com o Malfoy — reclamei passando a mão pelo cabelo. — Acho que preferia mil vezes ter meu primeiro beijo em Hogwarts com a lula-gigante.

— Justamente sobre ele é que me deixa um pouco intrigada — diz Hermione.

— Como assim?

— Pela forma como tudo aconteceu e ainda com aquilo que rolou no expresso que ele, juntando com o clima que presenciei dos dois na Copa Mundial de Quadribol e agora seu desabafo que está estranha porque o Malfoy negou estar gostando de você. Sabe o que acho com tudo isso?

Neguei com a cabeça.

— O que você acha?

— Acho que é você que está se apaixonando pelo Malfoy.

Senti como se Hermione tivesse me jogado um balde d’água gelada.

Levantei-me com tudo da cadeira, fazendo a mesma cair no chão. Chamando atenção de alguns olhares além de uma bronca da Madame Pince.

— Você pode acaso bateu a cabeça em algum lugar? — murmurei impaciente depois que voltei, arrumei a cadeira e voltei a me sentar. — Como pode achar que esteja apaixonada pelo Malfoy?

— Susana, também não é para tanto — falou ela guardando os pergaminhos na bolsa. — Você apenas me perguntou o que achei e eu respondi.

— Acho que isso então deve ser sinal para repensar quando te perguntar o porquê do "acho" — digo.

Ela revira os olhos e balança a cabeça.

— Mas isso tudo que você falou é óbvio, pois para pensar um pouco por qual outro motivo você ficaria dessa forma pelo que Malfoy te disse? — ela falou baixinho, arqueando a sobrancelha.

— Sei lá... Só sei que eu não estou gostando dele.

— Ok, se você diz, então certo — ela falou com um pequeno sorrisinho, mas logo murchou. — A verdade é que espero mesmo que eu esteja errada.

— Por que diz isso?

— Porque não acho que Malfoy seja uma opção para se gostar dessa forma. Temo dele te machucar, Su.

Mordi meu lábio nervosa assim que ouvi tais palavras vindo de Hermione. Fiquei incomodada, a palavra apaixonada ou insinuar que estou me apaixonando pelo Malfoy, me incomodava e muito. 

— Não se preocupe que não irei sofrer — disse suspirando. — Porque eu não gosto dele, Mione. Eu não o suporto! Entende?

— Talvez, pois o meu "não suportar" o Malfoy deve ser bem diferente do seu — Hermione se arrumou e me lançou um sorrisinho de canto. — Como disse e volto a repetir, espero mesmo que não goste dele porque não quero te ver sofrendo por culpa do Malfoy.

Não a respondi, mas me respondi mentalmente não iria sofrer por ele. Eu não gosto do Malfoy!

— Agora quanto ao Nott…

— Não vai me dizer que também acha que estou gostando dele?! — a cortei nas palavras enquanto a gente se levantava.

— Não! Claro que não — Hermione negou na hora. — Está bem óbvio o que rola com ele é mais para só ficar em pronto, mais um divertimento do que algo mais sério. Certo?

— Sim — respondi pensando em todos os momentos que Theodore e eu nos beijamos, eram apenas beijos, eu não conseguia ter a mesma sensação que tinha com Malfoy. — Sempre deixei claro a ele que eram apenas beijos.

— Então, o que pode acontecer é que uma parte dele não entende ou não quer entender isso.

Olhei Hermione curiosa.

— A verdade é que o Nott não tem uma fama muito boa, mesmo que você tenha mencionado dele ter ficado nervoso quando o Malfoy apareceu, sinto que algo por parte dele não é sincero e saudável. Ok, ele até pode gostar de você como ele diz, mas não acho que seja de um jeito legal — dizia Hermione tentando organizar o próprio raciocínio dela.

— Você acha que sou uma obsessão para ele ou que esteja fingindo que gosta de mim, apenas se aproximando de mim?

— Eu juntaria as duas opções — respondeu Hermione. — Claramente que nunca tive contato com ele, mas as coisas que sei sobre ele é pelo que ouço desde que entrei em Hogwarts. Nott é sim muito bonito, mas pelo que já chegou no meu ouvido o que ele tem de bonito tem de sujo e não é pouco sujeira.

— Entendo…

— Contudo, não precisa levar isso ao pé da letra, pois ele realmente deve gostar de você e não acho que seja impossível dele se aproximar de você. Digo isso porque todas as garotas que tinham uma paixonite por ele ou era uma nascida-trouxa ou uma mestiça, mas você é nenhum desses e é um fato que seu sobrenome tem um grande peso.

— Mesmo que meu sobrenome seja de um outro patamar ou mesmo que seja uma puro-sangue, ainda sou que nem o Rony, como o Malfoy mesmo disse. Eu sou considerada uma traidora de sangue.

— Só que ainda continua sendo uma puro-sangue e carregando um sobrenome de maior peso que a dos Weasley. É um pensando idiota, mas não me surpreendo que seja esse o pensamento do Nott, Malfoy e de todos aqueles que podem ir falar com você. 

Ao chegar em frente a mesa da Madame Pince que nós olhava com sua cara naturalmente feia. Hermione ia pegar uns livros. Assim que tudo foi acertado e já perto da porta, ela parou e falou baixinho.

— A verdade mesmo Susana é que sua melhor opção não é nem o Malfoy ou o Nott, mas ele é.

Não entendi de primeira quem ela se referia, mas quando foi feito o gesto sobre algo atrás de mim. Olhei por cima do ombro e então vi nada mais que Cedrico Diggory me olhando. Ele percebeu que suas observadas foram descobertas e sorri, mas logo olhou para o outro canto para falar com os amigos.

— Ele não tirou um minuto sequer os olhos de você enquanto estávamos sentadas conversando — murmurou Hermione. — Se eu fosse você, começaria a investir no Diggory.

Ri da cara que Hermione fez e dá risada sapeca dela. 

Acho que foi bom mesmo desabafar com Hermione.

 

(...)

 

Finalmente o dia tão aguardado para a aula mais aguarda por mim e pelos meus companheiros de turma, chegou quinta-feira que era o dia da nossa primeira aula de Defesa contra as Artes das Trevas com o professor Moody. 

A manhã acabou amanhecendo super bem para mim, meu ânimo tinha voltado ao normal e como sempre fui ótima na aula do Snape, diferente do Neville que teve o sexto caldeirão derretido na primeira aula do ano. Nem preciso dizer que o Snape fez a caveira do coitado? E é claro que como de costume eu acabei perdendo pontos logo na primeira aula, pois eu tentei ser um bom ser humano e fui ajudar o Longbottom com a poção, além de ter aberto minha boca para defendê-lo. No fim eu perdi pontos, cara feia dos meus colegas de casa e o Neville ganhou uma detenção horrorosa que é passar o resto da aula destripando uma barrica de iguanas.

— Snape como sempre estava hoje um trasgo — disse irritada depois que saímos da sala de aula para o salão para almoçar.

— Su, você deve ter sacado o porquê Snape está nesse mau humor tão grande, não sabe? — perguntou Rony a mim.

— Sei, sei bem — respondi.

No caminho fui tentando acalmar Neville e lhe ensinando um Feitiço de Limpeza para remover as tripas de iguanas presas sob suas unhas.

— Moody, não é mesmo? — disse Harry em seguida.

A história que Snape sempre desejou o cargo de professor de Artes das Trevas não era novidade, fui informado da história todinha desse desejo do Snape pelo cargo, mas como de costume ele não conseguiu o que queria esse ano. 

— Acho que Snape tem medo dele, sabe — disse Harry pensativo.

— Por que diz isso? — perguntei curiosa.

— Bom, sempre que eu vejo os dois juntos, tenho uma nítida impressão de que Snape evita os olhos de Moody, tanto o mágico como o normal — respondeu Harry.

— Nunca reparei nisso, mas eu acho que o Moody não é o único motivo do mau humor do Snape — digo.

— Se acha que ele ainda não esqueceu... hum... aquilo? — diz Rony prestando atenção no que diz, já que Neville estava ao nosso lado e ele não sabe de nada sobre o que aconteceu no final do terceiro ano.

— Pode ter certeza de que não — digo.

— Eu também acho — disse Hermione. — Você não viu as faíscas saindo dos olhos dele quando Susana tirou satisfação no meio da aula?

Entramos no salão.

— Vocês já pararam para imaginar se Moody transformasse Snape em uma iguana — disse Rony, seus olhos se toldando — e fizesse ele ficar saltando pela masmorra...

— É melhor o Snape continuar como está, pois se não ele vai lambuzar o castelo todo de óleo — digo maldosamente.

Rony e Harry gargalharam. Sorri ao ouvir Neville rindo junto e desfazendo a cara de choro.

Terminando o almoço me retirei com Hermione até a biblioteca e ficamos lá até dar a hora da próxima aula. Eu não queria chegar tarde e pegar lugar ruim, e nem Hermione, então saímos correndo da biblioteca assim que a sineta tocou.

— Estávamos na...

— ... biblioteca — Harry terminou a nossa frase. — Andem logo, senão não vamos arranjar lugares decentes.

Por sorte conseguimos pegar as carteiras da frente, bem diante da escrivaninha da professora, Hermione se sentou comigo na carteira do lado direito; Rony e Harry se sentaram na carteira do meio. Confesso que olhando para a sala e para a escrivaninha do professor acabei me lembrando do meu padrinho. Mesmo que daqui alguns segundos vou ter aulas com o famoso Olho-Tonto Moody, não tenho como negar que queria ter aula com o meu padrinho. 

Retirando os pensamentos do meu padrinho na cabeça, peguei o meu exemplar de As forças das trevas: um guia para sua proteção. Não demorou muito e logo ouvi os passos sincopados de Moody que vinha pelo corredor e que, ao entrar na sala, parecia mais estranho e amedrontador que nunca. 

— Podem guardar isso — rosnou ele, apoiando-se na escrivaninha para se sentar —, esses livros. Não vão precisar deles.

Gostei disso. Será que logo na primeira aula dele vamos ter aula prática?

Sem enrolar tornei a guarda do livro na bolsa.

Moody apanhou a folha de chamada, sacudiu sua longa juba de cabelos grisalhos para afastá-los do rosto contorcido e marcado, e começou a chamar os nomes, seu olho normal percorrendo a lista e o olho mágico girando, fixando-se em cada aluno quando respondia. 

— Certo, então — concluiu ele, quando a última pessoa confirmou presença. — Tenho uma carta do Prof. Lupin sobre esta turma. Parece que vocês receberam um bom embasamento para enfrentar criaturas das trevas, estudaram bichos-papões, barretes vermelhos, hinkypunks, grindylows, kappas e lobisomens, correto?

Houve um murmúrio geral de concordância.

— Mas estão atrasados, muito atrasados, em maldições? — disse Moody. — Então, estou aqui para pôr vocês em dia com o que os bruxos podem fazer uns aos outros. Tenho um ano para lhes ensinar a lidar com as forças das...

— Quê, o senhor não vai ficar? — deixou escapar Rony.

O olho mágico de Moody girou para fixar em Rony; para minha surpresa ele sorriu.

— Você deve ser filho do Arthur Weasley? — disse o professor. — Seu pai me tirou de uma enrascada há alguns dias... é, vou ficar apenas este ano. Um favor especial a Dumbledore... um ano e depois volto ao sossego da minha aposentadoria.

Ele deu uma risada áspera e então juntou as palmas das mãos nodosas.

— Então... vamos direto ao assunto. Maldições. Elas têm variados graus de força e forma. Agora, segundo o Ministério da Magia, eu devo ensinar a vocês as contra maldições e parar por aí. Não devo lhe mostrar que cara têm as maldições ilegais até vocês chegarem ao sexto ano. Até lá, o Ministério acha que vocês não têm idade para lidar com elas. Mas o Prof. Dumbledore tem uma opinião mais favorável dos seus nervos e acha que vocês podem aprendê-las, e eu digo que quanto mais vocês souberem o que vão precisar enfrentar, melhor. Como vão se defender de uma coisa que nunca viram? Um bruxo que pretenda lançar uma maldição ilegal sobre vocês não vai avisar o que pretende. Não vai lançá-la de forma suave e educada bem sua cara. Vocês precisam estar preparados. Precisam estar alertas e vigilantes. A senhorita deve guardar isso, Srta. Brown, enquanto eu estiver falando.

Lilá levou um susto e corou. Ela e Parvati estavam sentadas na carteira de trás de Hermione e eu. Parece que ela estava mostrando algo para Parvati, mas pelo jeito o olho mágico de Moody consegue ver através da madeira.

— Então... algum de vocês sabe que maldições são mais severamente punidas pelas leis da magia?

Ergui o braço assim que ele terminou de falar. E pelo jeito o meu não era o único, vários braços, inclusive os de Rony e Hermione. Moody apontou para Rony.

— Hum — disse Rony sem muita certeza —, meu pai me falou de uma... chama Maldição Imperius ou coisa assim? 

— Ah, sim — disse Moody satisfeito. — Seu pai conhecia essa. Certa vez, deu ao Ministério muito trabalho, essa Maldição Imperius.

Moody foi até sua escrivaninha e abriu a gaveta, tirando de lá um frasco de vidro. Três enormes aranhas pretas corriam dentro dele.

Moody meteu a mão dentro do frasco, apanhou uma aranha e segurou-a na palma da mão, de modo que todos pudessem vê-la. 

Apontou, então, a varinha para o inseto e murmurou “Imperio!”.

A aranha soltou da mão dele para um fino fio de seda e começou a balançar para a frente e para trás como se estivesse em um trapézio. Esticou as pernas rígidas e deu uma cambalhota, partindo o fio e aterrissando sobre a mesa, onde começou a plantar bananeiras em círculos. Moody agitou a varinha, e a aranha se ergueu em duas patas traseiras e saiu dançando um inconfundível sapateado.

Sem querer acabei rindo, assim como todos da sala — todos exceto o professor.

— Acharam engraçado, é? — rosnou ele. — Vocês gostariam se eu fizesse isso com vocês?

Parei na hora de rir.

— Controle total — disse o professor em voz baixa, quando a aranha se enrolou e começou a rodar sem parar. — Eu poderia fazê-la saltar pela janela, se afogar, se enfiar pela garganta de vocês abaixo...

“Muitos bruxos e bruxas alegaram que só obedeceram às ordens de Você-Sabe-Quem porque... estavam no controle da Maldição Imperius. Foi uma trabalheira para o Ministério separar quem estava sendo forçado a agir de quem estava agindo por vontade própria.”

Moody apanhou a aranha acrobata e atirou-a de volta ao frasco.

— Outra. Alguém aqui sabe de outra Maldição?

A minha mão e da Hermione se ergueram no mesmo instante e, para minha surpresa, a de Neville também.

— Qual? — E mais uma vez eu fico de fora, dessa vez o escolhido foi o Neville.

— Tem uma, a Maldição Cruciatus — disse Neville, numa voz fraca, mas clara.

Moody olhou Neville com muita atenção.

— O seu nome é Longbottom? — perguntou ele, o olho mágico girando para verificar a folha de chamada. 

Neville confirmou, nervoso, com a cabeça, mas o professor não fez outras perguntas. Tornando a voltar sua atenção à classe, ele meteu a mão no frasco mais uma vez, apanhou outra aranha e colocou-a no tampo da escrivaninha, onde o inseto permaneceu imóvel, aparentemente demasiado assustado para se mexer.

— A Maldição Cruciatus — começou Moody. — Preciso de uma maior para lhes dar uma ideia — disse ele, apontando a varinha para a aranha. — Engorgio!

Aranha inchou. Estava agora maior do que uma tarântula.

O professor tornou a erguer a varinha, apontou-a para a aranha e murmurou:

Crucio!

Aquilo foi a cena mais agonizante que já pude presenciar. Era horrível, a aranha se contorcia horrivelmente, balançando de um lado para o outro. Não emitia som algum, mas eu sei, tenho certeza se ela tivesse voz, estaria berrando. Moody não afastou um segundo sequer a varinha e a aranha começou a estremecer e a se debater violentamente...

— Pare! — gritou Hermione com a voz aguda.

Olhei Hermione e vi-a que ela não olhava a aranha, e sim em Neville. Segui a direção do seu olhar, vi que as mãos dele se agarravam à carteira diante dele, os nós dos dedos brancos, seus olhos arregalados e horrorizados. 

Moody ergueu a varinha. Mesmo ele parando a aranha continuou a contorcer.

Reducio — murmurou Moody e a aranha encolheu e voltou ao tamanho normal. Ele a repôs no frasco. — Dor — explicou o professor em voz baixa. — Não se precisa de anjinhos nem de facas para torturar alguém quando se é capaz de lançar a Maldição Cruciatus... ela também já foi muito popular.

“Certo... mais alguém conhece alguma outra?”

Mais uma vez levantei a mão, ninguém na sala tinha levantado, Hermione estava erguendo junto comigo, mas ao ver que eu erguia logo abaixou. Minha respiração estava bem ofegante só de pensar que depois das tentativas, eu ia falar justamente da última e a pior de todas as maldições.

— Senhorita...

— Black — completei olhando o Moody que me encarava.

— Muito bem — disse ele ainda me olhando. — Diga-me, Srta. Black!

Respirei fundo e disse:

Avada Kedavra.

A maioria senão todos me olhara constrangidos, inclusive Rony.

— Ah, a última e a pior. Avada Kedavra... a maldição da morte.

Novamente ele pegou uma terceira aranha colocando-a na mesa, e engoli em seco, só de imaginar o que a esperava.

Moody ergueu a varinha.

Avada Kedavra! — berrou ele.

Houve um relâmpago de ofuscante luz verde — instantaneamente a aranha virou de dorso, sem uma única marca, mas inconfundivelmente morta. 

— Somente uma pessoa no mundo já sobreviveu a ela e está sentada bem aqui na minha frente — disse Moody se referindo ao Harry.

Todos na sala olharam para ele e o próprio ficou apenas encarando o quadro negro.

— Foi uma aula e tanto, hein? — disse Rony assim que saímos. — Incrível.

— Incrível? — repetiu Hermione olhando Rony incrédulo. — Onde você viu algo incrível?

— Foi uma péssima aula — comentei. 

— De fato — concordou Hermione andando ao meu lado e bufando.

— Estão reclamando agora, mas na hora da aula não parecia acharem ruim para responder... — Rony se calou no mesmo momento quando o fuzilei com os olhos.

— Uma coisa é responder, outra coisa é ele mostrar no meio da sala de aula — falei. — Aquela forma que aquela aranha se contorceu e da outra que morreu... Isso não é coisa para se mostrar. Vocês viram a cara do Neville... — parei subitamente quando o vi olhando para a parede de pedra. 

Aproximei-me lentamente dele e toquei seu ombro.

— Neville — chamei, ele piscou os olhos e me olhou.

— Ah, alô! — disse ele, a voz mais aguda do que habitualmente. — Aula interessante, não foi?

— Tudo bem com você? — perguntei.

Ele estava com uma cara péssima.

— Ah, claro, estou ótimo — balbuciou o garoto. — Jantar muito interessante... quero dizer, aula... que será que tem para se comer?

Rony me lançou um olhar assustado.

Ia abrir a boca para dizer mais alguma coisa, só que fechei quando ouvi os passos do Prof. Moody.

— Está tudo bem, filho — disse ele a Neville. — Por que não vem até minha sala? Vamos... podemos tomar uma xícara de chá... Tenho uns livros que podem lhe interessar.

Neville pareceu mais assustado, mas não teve escolha senão ir acompanhar o professor.

— Parece que a aula afetou bem mais ele — comentou Rony.

— Sabe, eu fico pensando se foi assim que minha mãe morreu — disse pensativa, recebendo os olhos dos três. — Se ela foi morta pela maldição da morte. Se morreu como aquela aranha sem nenhum ferimento? Se viu apenas aquele rumorejo de luz verde...? 

— Por que você está dizendo isso? — perguntou Hermione em tom baixo.

— Minha mãe foi morta por uma seguidora de Vold... Você-Sabe-Quem... então, sei lá, eu pensei agora se usaram a maldição... ah, deixa quieto — digo balançando a cabeça para tirar esse tipo de pensamento da cabeça. — É melhor a gente ir, estou com fome e a noite vou precisar me encontrar com o Malfoy para o trabalho de Astronomia.

Para o meu horror e parece que foi obra do mundo, a professora Sibila passou um trabalho e isso não me pareceu um problema, pois até curtia Astronomia o problema mesmo foi o que veio depois que é o trabalho em dupla que ela escolheu e me colocou justo com a Madame. Será que eu taquei pedra na estátua de Merlin e não sei?

Infelizmente não consegui ficar muito tempo com Hermione na biblioteca porque precisei me encontrar com o Malfoy.

— Chegou atrasada, Black!

Joguei a bolsa com um pouco de delicadeza no chão e sentei ao lado da Madame. De preferência bem afastado dele. 

O céu naquela noite estava bem limpo com poucas estrelas, mesmo assim teria que fazer o dever de Astronomia com esse idiota, segundo a Profª Sinistra isso é importante para o trabalho futuro.

— Já vou logo avisando que não quero papo nenhum com você, a não ser que seja sobre o nosso dever — disse rispidamente tirando a enciclopédia da bolsa. — Entendeu?

— Te digo o mesmo — falou ele no mesmo tom.

Ficamos por um tempo anotando sobre as posições das estrelas e bem, devo confessar que não é tão ruim trabalhar junto com ele. Malfoy até que é estudioso. Único problema nisso tudo é que temos opiniões diferentes, então já dá para imaginar como estava sendo entre nós.

— Não é a Cruzeiro do Sul — diz Malfoy elevando a voz.

— É sim — retruquei nervosa. 

— Não é! — Malfoy passou a mão no cabelo e disse: — De onde você tirou que é a Cruzeiro do Sul?

— Do meu livro — e mostrei o meu livro.

— Essa eu quero ver...

Sem poder dizer algo ele arrancou o livro da minha mão.

— Malfoy! Devolve meu livro — disse indo para cima dele tentando tirar o livro da mão dele, mas o imbecil sempre tirava mais rápido o livro de perto de mim.

Malfoy colocou o livro no colo dele para abrir na página que estava, ia aproveitar agora para tirar dele, só que...

— Ai! — Acabei perdendo o equilíbrio e cai bem em cima da Madame.

Ele logo esticou o braço para não cair no chão de costas e eu me apoiei no peitoral dele. Fiquei completamente perdida naquela imensidão azul com um toque de cinza. Meu coração batia descontroladamente, parecia até que ia sair pela boca. Nossos rostos estavam bem próximos... Malfoy tocou o meu rosto, colocando uma mecha do meu cabelo que caiu na frente do rosto, atrás das orelhas. E com a mão na minha nuca ele me puxava lentamente para perto dele... Minha respiração estava mais ofegante... Nossos lábios estavam a milímetros de distância...

Senti algo passando de rasteira no meu cabelo, junto veio um forte vento e em seguida um piado de coruja. 

Como um despertador, aquilo acordou Malfoy e eu do nosso transe. Me afastei rapidamente dele e olhei para a coruja que agora estava em cima da minha bolsa.

— Edwiges? 

A mesma piou como respostas, era ela mesma e ao olhar para a perna, um enorme se formou nos meus lábios.

— Ele respondeu não foi?

Sabia que a carta era do meu pai, ele tinha respondido e sem demora dei o braço para Edwiges subir. Levantei-me do chão gramado e só quando Malfoy me chamou que me lembrei dele. 

— Black — chamou ele — onde é que você vai?

— O nosso trabalho acabou por hoje — digo ainda com respiração ofegante.

O motivo simplesmente era pela ansiedade para ler a resposta do meu pai e a outra é pelo que quase aconteceu entre Malfoy e eu. Se não fosse pela chegada de Edwiges mais uma vez teria beijado Malfoy. 

 — Como acabou? — repetiu ele sem paciência. — Acha mesmo que essa coruja mandou é mais importante do que... — Ele parou para pensar. — Merda! Acha que é mais importante do que terminar logo esse trabalho?

— Pode ter certeza que é muito mais importante do que Edwiges trouxe.

Sem esperar por mais resposta sai correndo até a comunal da Grifinória. Passando pela Mulher-Gorda, felizmente encontrei Harry, Rony e Hermione ainda acordados conversando em uma das mesas. 

— Gente ele respondeu! — exclamei, excitada, apontando para o pedaço de pergaminho preso à perda de Edwiges.

Colocando a coruja na mesa Harry e eu tiramos juntos o pedaço do pergaminho.

— Que é que ele diz? — perguntou Hermione ofegante.

— Leia, Susana — disse Harry parecendo ansioso.

Li em voz alta.

 

Susana e Harry,

Estou viajando para o norte imediatamente. A notícia sobre a sua cicatriz, Harry, é o último de uma série de acontecimentos estranhos que têm chegado aos meus ouvidos. Se ela tornar a doer, procure imediatamente Dumbledore — dizem que ele tirou Olho-Tonto da aposentadoria, o que significa que tem identificado os sinais, mesmo que os outros não os vejam.

Filha, perdoe-me por não responder sua carta na hora certa, queria saber os detalhes da sua estadia com os Weasley e sobre a Copa. Já que estava tão animada. Só que pelo que soube as coisas não foram nada bem na Copa Mundial. 

Logo entrarei em contato com os dois. Dê minhas lembranças a Rony e Hermione. Fique de olhos abertos, Harry.

Sirius.

 

— Ele está viajando para o norte? — sussurrou Hermione. — Está voltando?

— Dumbledore tem identificado que sinais? — perguntou, parecendo perplexo. 

— Harry para com isso — disse segurando a mão dele já que tinha acabado de dar um tapa na testa dele mesmo.

— Eu não devia ter contado a ele! — disse Harry, furioso.

— Do que é que você está falando? — perguntou Rony, surpreso.

— Fiz ele pensar que precisa voltar! — disse Harry, agora batendo o punho na mesa de modo que Edwiges foi parar no espaldar da cadeira de Rony, piando indignada. — Precisa voltar porque acha que estou correndo perigo! E não há nada errado comigo! E não tenho nada para você — falou ele com rispidez para Edwiges, que batia o bico, esperançosa —, vai ter que ir para o corujal se quiser comida.

Edwiges pareceu bastante ofendida e saiu voando pela janela aberta.

— Harry — comecei tentando tranquilizá-lo, sabia muito bem do que ele estava falando.

— Vou me deitar — disse ele impaciente. — Vejo vocês de manhã.

E ele subiu para o dormitório dos garotos.

Suspirei cansada, mas um pequeno sorriso se formou nos meus lábios.

— Por que está sorrindo? — perguntou Rony curioso.

— Ele vai voltar — falei baixo pensando no que meu pai dizia na carta. — Meu pai está voltando.

mente?


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Notas finais do capítulo

E ai, o que acharam?