ROSA

O bom humor era tangível nos corredores da Chicago Elementary School. O fim do último dia letivo do ano se aproximava e alunos, professores e funcionários estavam ansiosos por isso há meses.

Para mim, era um milagre. Disléxica, sempre com notas menores do que a média, consegui terminar o fundamental.

Rose, minha irmã, também passava por aquele milagre. Enquanto caminhava para a aula de matemática, encontrei Rose encostada à porta, com fones de ouvido. Pelo jeito como balançava a cabeça, estava ouvindo rock pesado.

-Não vai querer ser pega matando aula no último dia, não é? – tirei seus fones.

-Não estou matando aula – ela respondeu rispidamente. – Tenho geografia no próximo tempo e essa é minha última chance de colocar aquela cobra odiosa em seu lugar.

Ok, a senhora Filplace era uma cobra, e era odiosa, portanto, Rose estava certa dessa vez, mas o quê raios ela tinha em mente? Olhei para a sala onde eu teria matemática. Havia seis pessoas na sala e o professor não havia chegado.

Fui com Rose até sua sala para “colocar os pingos nos is” junto com ela. Rose tinha tramado algo simples – bem diferente das outras vezes em que fez isso – cola na cadeira.

Eu não contava que era uma mistura de cola de sapateiro com Super-Bonder, o que significava que a professora teria um pedaço da calça arrancado quando fosse se levantar.

Depois que despejamos aquilo no assento, corri para a aula de matemática. O senhor Solene – ele fazia jus ao nome – ainda não havia chegado, mas toda a turma já estava sentada em silêncio de catedral, que era exigido pelo sr. Solene.

Assumi meu lugar e abri meu caderno, esquecendo por completo a cola na cadeira da sra. Filplace. Solene entrou e deu inicio à aula anunciando a entrega dos bolentins finais.

Conseguia passar com nota na média pela primeira vez na vida, e ainda por cima em matemática! Devo reconhecer que apesar do nome, o sr. Solene era um cara legal.

O sinal tocou, anunciando o início da última aula do dia. Estou quase lá, nada de esquisito vai acontecer agora; nenhum professor vai tentar me enforcar com um casaco feito de víboras. O alto-falante guinchou. Isso não é nada bom.

-Senhoritas Rosa e Rose Lapen, por favor, dirigiam-se à diretoria.

Corrigindo: Isso é péssimo. Algumas pessoas olham para mim quando passo por elas, engolindo meu nervosismo a cada passo que dou. A porta da diretoria estava aberta, com Rose, sra. Filplace e o diretor dentro da sala.

O diretor começou seu sermão enquanto a sra. Filplace sorria. Ela devia adorar quando alunos eram repreendidos, principalmente alunos que ela odiava.

-Vou comunicar a expulsão de vocês à sua mãe agora mesmo.

A cobra odiosa quase caiu na gargalhada. Tive vontade de enfiar alguns lápis na garganta dela, mas me detive. Já estava expulsa, nunca mais ia vê-la. Mas como minha irmã é a mestra do aproveitamento de oportunidades, ela certamente pensou: Já que tudo terminou, preciso aproveitar isso aqui.

Ela saltou da cadeira, armada com o porta-lápis do diretor MacLaine e atacou a professora. O diretor tentou impedi-la, mas não foi rápido o bastante, a sra. Filplace engoliu dois lápis em um segundo.

Eu não sabia o que fazer. Por um lado, minha mãe mataria Rose duas vezes, por ser expulsa de novo e por ter atacado uma professora. Por outro, a professora em questão bem que merecia aquilo.