Noite de lembranças escrita por Cary Monteiro


Capítulo 2
Capítulo II


Notas iniciais do capítulo

Notas no final do capítulo.



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Assim que conseguiu que Clara estivesse dentro da TARDIS, o Doutor fechou a porta e correu para o console. Mal podia-se acompanhar seus dedos enquanto digitava freneticamente. Enquanto isso, seu cérebro matutava por que de Clara não se lembrar de nada, o que poderia causar isso e por que alguém toma um chá tão ruim pela manhã.

– Doutor, onde está o banheiro? – perguntou Clara segurando uma pequena muda de roupas que conseguiu pegar enquanto era empurrada para a TARDIS.

– Onde ele sempre foi: terceira porta a esquerda, então pegue a sétima a direita, siga reto até chegar numa bifurcação e pegue a direita. A partir daí é a primeira porta que tiver. – respondeu ele agora puxando alavancas.

– Claro, como eu poderia esquecer... – Exclamou Clara passando pelo pórtico.

Alguns segundos depois, lá estava ela de novo, mas do lado oposto da sala de controle. Como ela errou? Era a terceira à direita... ou à esquerda?

– Doutor, como que era o caminho mesmo?

– Sério como vocês aguentam viver com memórias tão curtas? – Gritou o senhor do tempo saindo do console. – Vocês não conseguem seguir instruções tão simples assim? É só virar na terceira a esquerda, então na sétima a direita, daí pegar a direita na bifurcação.

– Não está ajudando... Não dá pra você criar um banheiro mais perto?

– Ah, nunca tentei. Porque eu nunca tive problema em chegar ao atual, diferente de certos humanos. – Após apertar alguns botões num pequeno console na parede que ninguém havia notado até então, ele responde para uma Clara que o encarava – Pronto, só entrar na primeira porta que aparecer.

– Obrigada. Foi tão difícil?

– Cérebro de pudim... – Resmungou ele quase inaudivelmente enquanto voltava ao console.

– Bem melhor agora – Falou uma Clara com roupas mais aceitáveis que uma camisola e com um cabelo molhado.

– Sua memória foi alterada, não apagada... O que você está fazendo no meu console com um cabelo pingando? – Vociferou ele ao vê-la se inclinando no console com o cabelo pingando.

– É só um pouco de água. Qual é o pior que pode acontecer?

Essa famosas palavras ditas, a TARDIS mudou sua iluminação para um vermelho doentio e piscante. Mais alguns segundos e ela foi chacoalha como se houvesse passado num buraco sem frear. E rapidamente, tanto o Doutor quanto a Clara estavam lutando para se segurar.

– O que está acontecendo Doutor?

– Não faço ideia, mas eu culparia seus cabelos. – Ele gritou sendo lançado em direção às escadas. – Não as estantes! Estou tentando organizar esses livros por séculos.

– Faça alguma coisa! – Respondeu Clara no mesmo tom.

– Acho que colocar livros em ordem cronológica e alfabética neste momento não vai resolver nada. - Ele correu pulando degraus de volta ao console. Após olhar para as telas concluiu: - Fomos sabotados. Alguem plantou um embaralhador eletromagnético que está interferindo com a gravidade artificial da TARDIS. Se não tirarmos logo você vai ter o prazer de conhecer o teto do mundo. Segure-se firme! Vou aumentar a massa relativa da TARDIS, e não se atreva em dizer que ela ganhou peso.

– Aaaaaahh! - Gritou Clara ao notar que ela havia ficado muito pesada e então muito leve. - Pode fazer isso parar?

– Não. Pelo menos se quiser estar viva para descobrir tudo que aconteceu ontem.

O Doutor colocou as coordenadas da estação espacial onde havia sido o baile e a TARDIS começou seu usual barulho de desmaterialização. Em poucos segundos ela parou de chacoalhar e as luzes voltaram ao normal. Eles haviam pousado.

– Estamos bem agora? A gravidade voltou ao normal. - Clara levantou-se lentamente e ajeitou a roupa.

– Por hora, certamente. Mas quem sabotou a TARDIS está vindo para cá com toda certeza.

– Você podia começar me explicando um pouco mais das coisas, sabe? - Clara observou o senhor do tempo de braços cruzados. Ele correu até ela no mesmo instante e a segurou pelos ombros, encarando-a.

– Clara, você confia em mim?

– Sim. Claro. Quer dizer, eu não tenho muita escolha…

– Clara, diga que confia em mim, é sério.

– Tudo bem! Eu confio! Só é irritante você me levar a um lugar sem eu saber de nada. Vou ser deixada de lado…

– Tudo ao seu tempo, eu prometo. - e sairam os dois da nave, ela havia estacionado do lado de fora de um grandioso palácio futurístico. Clara não tinha visto nada igual, bem, no caso, ela não se lembrava de ter visto algo assim tão azul e reluzente. E mesmo sobre a abundância de luzes e flashes era possível observar um céu estrelado, até mesmo uma galáxia não muito distante, pelo menos à olho nu.

Enquanto Clara observava tudo ao seu redor, o Doutor subia as escadas até a entrada principal.

– Clara! O que está esperando? Venha logo!

– Okaay, já estou indo! - ela correu para alcançá-lo.

A entrada principal era simplesmente a maior porta que Clara ja tinha visto. O Doutor deu apenas um peteleco nelas e rapidamente abriram.

– Como você fez isso?

– Estão destrancadas.

E ainda encarando as portas duplas se abrindo, ela comecou a ouvir vozes, muitas delas.

– BO KO FLO KO JO KOMO JO KO!

– KOJO GO TO FLO.

Para ficar ainda mais estranho, o senhor do tempo respondeu rapidamente:

– Kno flo jo.

– Doutor, o que eles estão dizendo? Por que não consigo entender?

– Eles estão falando na lei universal.. O que eu falei ali foi o ultimo verso, em sinal de respeito e conhecimento das leis.

Ela então viu um gigantesco salão feito de metal, em dourado e prata, que parecia reluzir ao olhar. Era como se tivessem pego a Noite Estrelada de Van Gogh e usado de base para o chão. Clara não conseguia encontrar palavras para descrever tudo o que via. O lustre era um orbe do que parecia água dourada mas que irradiava luz. Então ela notou os estranho seres que pareciam rinocerontes num canto.

– Quem são esses? Eles me parecem familiares...

– São judoons, uma especie de policia intergalactica mercenária.

– E o que eles estão fazendo aqui?

– Sabe, houve um assassinato aqui. O que você acha que a policia está fazendo? Cantando? - Então os judoons começaram a cantarolar a lei de novo. - Okay, desconsidere isso.

– Eles são confiáveis?

– Nem um pouco. Mas eles tem normas bem diretas e práticas para esse tipo de situação.

– De que tipo?

– Interrogar suspeitos.

– Ah…

E foram andando em direção ao pelotão de judoons.Quando o Doutor e Clara chegaram perto demais dois dos judoons lhe apontaram as armas.

– Parados! Quem são vocês? - o da esquerda perguntou numa voz gutural. O Doutor retirou lentamente o papel psíquico do bolso do paletó, esperando que funcionasse.

– Somos do Saúde&Segurança e estávamos presentes no ocorrido da noite anterior. Viemos prestar depoimento sobre o que vimos e ajudar no caso, é claro.

– Já temos pessoal o suficiente aqui, não será necessário. Além do mais, não serão pagos! - o da direita exclamou.

– Não se preocupem com isso. Estamos de folga e apenas querendo ajudar no que for preciso. Minha nave sofreu uma pequena interferência à caminho da estação e não podemos sair por algumas horas de qualquer maneira. - Os dois judoons se entreolharam.

– Iremos contactar nosso superior. Ô SUPERIOR! - o da direita comentou.

– Oh, sim, fiquem à vontade. E digam que é o Doutor.

– “Doutor” quem? - o da esquerda perguntou.

– Apenas O Doutor. - e sorriu.

Um judoon albino com mais detalhes na armadura veio andando pesadamente na direção do pequeno grupo. Ele parecia que tinha acabado de sair de uma briga, ou era só a impressão do fato que ele tinha uma cicatriz do começo do chifre até a orelha esquerda.

– Doutor! - Ele vociferou. - Faz muito tempo que não temos noticias suas. Desde seu pequeno empreendimento em Demons Run. Houveram boatos que o ultimo senhor do tempo havia perecido para as frotas Dalek.

– Bom te ver também Bast’ak.

– Espera aí, você o conhece? - Perguntou uma Clara que tentava entender a estranha relação dos dois.

– Se conheço ele? Tentou me matar mais vezes do que muitos podem contar. - E então olhando para o judoon proclamado Bast’ak. - Hoje sem tiroteios?

– Não me dê razões para te matar então. - Disse rudemente o judoon com o que parecia um sorriso, isso é, se eles tem condições de sorrir. O Doutor gargalhou sobre o comentário e olhou para Clara rapidamente. Ela por sua vez estava de braços cruzados, possivelmente irritada por ser posta de lado. Ele colocou a mão no ombro dela e a pressionou para mais perto de si.

– Escute, Bast’ak. Sei que estão se esforçando para resolver o caso, mas não vai ser tão simples quanto parece. O assassino não é qualquer um. Ele sabe bem o que está fazendo e tenho a leve impressão de que esta situação está longe de acabar.

– Vamos para um cômodo mais reservado trabalhar estas suas suposições, Doutor. Elas serão importantes mais tarde. - o judoon ofereceu. O Doutor olhou para Clara receoso.

– Clara, desculpe, mas terá que ficar aqui. É para sua proteção, eu prometo. - Ela suspirou e fechou os olhos.

– Tudo bem… Pelo menos estou livre para passear por aí? - Ela perguntou ao Doutor que virou seu olhar de volta ao judoon. Ele fez um sinal para que seus soldados lhe prestassem atenção.

– Façam o que a humana…

– Clara.

– Façam o que a Clara mandar. - ele abaixou ao nível da Clara e sussurrou à ela - Eles não são muito inteligentes, tenha paciência. - ela afirmou com a cabeça em resposta. O judoon albino passou a andar com o Doutor ao seu lado que deu uma última olhadela para sua amiga antes de entrar numa saleta e fechar a porta atrás de si.

Clara suspirou profundamente mais uma vez. Ela odiava quando isso acontecia. O Doutor lhe arrastava para uma aventura deixando-a completamente cega. E para variar, jogando papo-furado com velhos amigos. Será que outras companhias passaram pela mesma situação? Ela queria acreditar que sim apenas para se sentir melhor. Mas podia ser pior, pelo menos ela tinha um exército de homens-rinocerontes para usar e abusar.

– Muito bem, homens, err, rinocerontes? - Clara começou a falar, o pelotão a desprezou. Ela teria que ser um pouco mais rígida. - ATENÇÃO, PELOTÃO! - todos os judoons presentes bateram continência e aguardaram as ordens. Clara posicionou as mãos para trás e começou a andar perto deles. - Como já sabem, houve um assassinato na noite anterior e todos estão aqui para descobrir quem foi o criminoso de sangue frio a desafiar o poder da justiça e por a própria vida em risco ficando contra vocês, senhores, err, judoons… Tanto faz!

– Senhora, todas as pistas já foram catalogadas, senhora! - um judoon na linha da frente comentou.

– Ótimo, levem-me até a cena do crime!

– Senhora, precisamos TODOS ir até a cena do crime com a senhora? - outro judoon perguntou. Clara percebeu que eles eram muitos mesmo.

– Não, não, só preciso de um me acompanhando. Você! -Clara apontou para o menor deles, que deu um passo à frente, um pouco receoso. Os outros judoons presentes pareciam segurar os risos, aquilo incomodou Clara, mas ela preferiu deixar para lá. Ela fez um gesto para que o soldado mostrasse o caminho e ela foi logo atrás dele. Os dois subiram dois lances de escadas que levavam até o salão principal.

As grandes portas já estavam abertas e antes de entrar Clara podia sentir o aroma da aguardente, de glacê e de… Ferro?

– O que… - Clara não tinha palavras para expressar diante do que via. Ela se apoiou no soldado judoon que estava ao seu lado. Ele pareceu surpreso, mas não se atreveu a se mexer.- Houve aqui…

Enquanto isso, o Doutor e Bast’ak conversavam no que parecia ser a sala de estudos do palácio. Haviam estantes abarrotadas de livros na maior parte das paredes, uma grande mesa de mogno e um lustre gêmeo ao da entrada no teto iluminando todo o cômodo. Bast’ak se acomodou na cadeira do chefe e pousou a arma na mesa.

– Vamos, diga o que tem em mente, Doutor. Eu soube que você e sua humana presenciaram todo o ocorrido.

– Certamente, amigo… - ele deu um pequeno suspiro antes de continuar. - Mas eu não vim aqui para lhe descrever o que houve, sei que já está a par de toda a situação e com um assassino desses à solta, não podemos perder tempo.

– Me parece que ele errou de alvo e matou a pessoa errada. Não me parece ser assim tão profissional cometendo um erro desses. Tenho certeza de que logo o pegaremos.

– Acontece, Bast’ak que ele só cometeu um erro porque eu o impedi a tempo. - A frase fez com que o judoon levantasse as orelhas. ele coçou o queixo e se posicionou melhor na cadeira. - Um baile recheado de figurões de toda a galáxia, com bastante imprensa e mídia, paparazzis. Ele conseguiu passar por isso tudo e fazer o seu trabalho sem ser visto. Nem mesmo eu o vi. O que eu fiz foi descobrir quem seria a sua vítima e tirá-la de circulação até que tudo estivesse acabado.

– Mas se a vítima estava longe, porque o assassino fez questão de matar outra pessoa, Doutor?

– Podem ter sido várias coisas. Não há como entendê-lo realmente até que eu possa dar uma olhada melhor nas informações que você possivelmente já coletou.

– Sim, claro, eu o levarei até a cena do crime pessoalmente. Mas por que a saída repentina? Já fazem quase oito horas desde o ocorrido.

– Eu precisei tirar a Clara daqui. Tudo foi muito traumatizante para ela. Tenho quase certeza de que ela presenciou o rosto do assassino e-

– Oras, então vamos perguntá-la! - Bast’ak levantou rapidamente da cadeira num salto.

– Não! Eu já disse! Ela estava em um estado deplorável. Eu precisei retirar a memória dela!

– Você pode fazer isso? Não pode ver quem foi?

– Não, não é tão simples. Ela não passou as memórias por livre e espontânea vontade. Eu as retirei. É como se houvesse um cadeado que me impossibilita de acessá-las. - o Doutor explicou. O judoon sentou na cadeira novamente com o rosto frustrado.

– Se não podemos usar as memórias da humana, como faremos para encontrar o assassino, Doutor?

– Ele tentou interceptar a TARDIS. Mas eu nos ganhei algum tempo para desvendar o que há por aqui antes disso.

– Há! Ele não seria louco o bastante para enfrentar um pelotão inteiro de judoons mais o senhor, não é, Doutor? - O judoon perguntou risonho, mas o senhor do tempo olhou-o muito sério.

– Eu não tenho ideia com o que estamos lidando. Não tenha tanta certeza disso. - A resposta desmanchou o sorriso de Bast’ak e ele levantou-se da cadeira.

– Vamos, então, Doutor. Para a cena do crime. - ele andou até a porta e abriu-a para que o Doutor passasse. antes de sair, ele encarou o judoon albino nos olhos.

– Bast’ak, não comente uma palavra do que falamos aqui para Clara, entendido? - O judoon afirmou com a cabeça. - A propósito, ela não é minha humana. É minha amiga. Mantenha este respeito, por favor.


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Notas finais do capítulo

Uh, eu disse que ia melhorar, não? Já tem ideia de quem seja o assassino? Agora as coisas começarão a esquentar um pouco, heheheheh....



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