Starlight escrita por Deny


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Yo pessoas o/
Beijos para àqueles(as) que já me conhecem, e um beijo também aos que não me conhecem u__u'
Enfim, sem mais delongas, a seguir a Jasico curta e sem muitas coisas hots e talz ...
Aviso desde já que essa não é tão feliz assim ...
Novamente, agradeço à Memé pela help (minha maninha linda ♥ )
Espero que gostem.



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A chuva caía forte enquanto o carro cinza-prateado de Jason corria pelo asfalto molhado. As gotas se chocavam contra o para-brisa como ferro derretido, deslizando e se acumulando no canto com o rápido movimento do limpador, escorrendo como lágrimas pelo vidro, praticamente idênticas às lágrimas que escorriam pelo seu rosto, lhe manchando as maçãs avermelhadas com as grossas tiras úmidas que reluziam à pouca luz.

O som dos pneus contra o asfalto a mais de cem quilômetros por hora, e a batida constante das gordas gotas da chuva sobre o metal do carro, eram os únicos sons que cercavam Jason, que insistia em estar mergulhado em seu próprio silêncio, com o peito aberto num enorme buraco negro de desespero e dor. Seus dedos estavam brancos devido à pressão que ele fazia no couro do volante. O farol de uma fluorescente luz amarelada iluminava o caminho escuro num leque de luz forte, que fazia a água da chuva se abrir a sua frente como uma infinita rede prateada.

Jason apenas queria encontrar um caminho. Um caminho luminoso em meio a tanta escuridão e incerteza que o cercavam, sussurrando em seus ouvidos, lhe lembrando de todas as expectativas.

Lembrou-se do momento em que deslizara as mãos sobre os cabelos negros de Nico num afago cheio de afeto e preocupação, e no forte sentimento que lhe inundou quando, ao recolher a mão, viu ali em sua palma um amontoado de fios negros que se soltaram do couro cabeludo do moreno.

O loiro rugiu. Um grito grave e desesperado de pura e simples dor, e girou o volante inconscientemente, fazendo o carro girar sobre o asfalto em direção ao acostamento num turbilhão de água e cheiro de borracha queimada.

***

O moreno de olhos escuros o fitava com um fraco sorriso nos lábios. Parecia hipnotizado com algo que Jason não sabia. Seus cabelos escuros e desgrenhados lhe caíam sobre a testa, nítidos em contraste com sua pele pálida e fina.

- Se eu não estivesse tão suado – Jason murmurou, retirando a camisa azul que exalava um forte cheiro de suor por cima da cabeça. – eu iria aí te agarrar agora mesmo.

O garoto pareceu surpreso, e o sorriso espontâneo desapareceu de seus lábios como se nunca sequer tivesse existido.

Nico era de uma beleza rara e incontestável. E Jason não se cansava de pensar isso. Impressionante como um melhor amigo pode passar a ser algo mais com apenas um simples acontecimento. Algo que o loiro era imensamente grato a Piper.

O namoro de Jason e Nico havia permanecido firme e quente durante os rápidos dois anos que se passaram após a noite em que Piper havia terminado com ele, e Nico viera tentar ajudá-lo, mesmo ambos estando bêbados.

Pensar na forma como tudo acontecera ainda fazia Jason rir, e olhando para onde ambos estavam agora, morando juntos num aconchegante e espaçoso apartamento em Williamsburg, fazia uma forte onda de felicidade encher o peito de Jason.

Jason tinha tantos planos; tantos desejos e sonhos que queria tanto realizar com Nico. Tantos lugares a que pensara em ir; tantas coisas que pensara falar, que pensara dizer... Pedir.

Mas tudo foi esmagado contra o pó quando Nico, após um mal súbito em que seu corpo ficara em péssimas condições, fora diagnosticado com um câncer maligno no lóbulo frontal. Uma parte importante, onde uma enfermidade como essa era o mesmo que – Jason odiava pensar nisso – morte certa e inevitável.

Mal haviam se passado três meses quando Nico fora internado.

Se não fosse tudo isso, Jason já teria há muito proposto a ideia de se casarem oficialmente, mas, com Nico deitado naquele mórbido ambiente hospitalar, com o branco por todo o lado, e com as maquinas a apitarem ao seu redor, Jason não tinha forças para fazer esse pedido. Parecia meio injusto para Nico.

- O branco realmente não combina com você, Nico – Jason disse suavemente ao se aproximar da cama onde o moreno jazia deitado sobre. Aquela clássica peça simples e azul que vestem os internados fazia o coração de Jason se estilhaçar em seu peito.

- Tenho que concordar – ele sussurrou, com sua voz fraca e áspera como uma lixa. Nico estava mais magro a cada dia, e o pálido de seu rosto cada vez mais intenso. – Esse branco por todo lado não me acalma nem um pouco – ele continuou após uma tosse seca que preocupou Jason. – Estou morrendo de qualquer jeito, como esse branco todo vai me ajudar, afinal?

Jason tomou as mãos de Nico e as envolveu com a suas protetoramente. Podia sentir seus ossos contra a palma, finos e frágeis como galhos secos, como se pudessem se quebrar em mil pedaços se Jason apertasse um pouco mais forte – só um pouquinho mais.

- Não diga isso, Nico – Jason tentou deixar a voz firme, mas ela vacilou e tremeu, denunciando seu abatido estado de espirito. Nico observava as olheiras escuras e fundas que haviam se formado abaixo dos olhos azuis de Jason. – Você não vai morrer. Eu não permito que faça isso.

- Jason. Você tem dormido? – lhe perguntou, estendo uma mão trêmula para o rosto de seu parceiro e lhe tocando o lado direito com um forte afeto e preocupação. O simples toque suave fez um choque percorrer a espinha de Jason. – Você está horrível.

- Estou bem – Como se eu conseguisse fechar os olhos com você aqui, assim, idiota. – Estou mais preocupado com você. O que os médicos disseram?

- A mesma ladainha chata de sempre. – Ele disse isso como se não fosse nada importante. Como se ele estivesse falando com alguma outra pessoa que mal conhecia e que não se importava. Como se sua vida não fosse nada para ele mesmo. Nada para Jason. Como se ninguém se importasse se ele vivesse ou morresse. – Que estão fazendo todo o possível para deter o avanço do câncer e coisas do tipo. Acho que só querem manter as minhas esperanças. – ele desviou o olhar para a parede branca ao seu lado, franzindo o cenho e sussurrando para si mesmo: - como se eu ainda tivesse isso.

- Eu tenho o suficiente para nós dois, Nico. Não se preocupe.

- Admiro sua força, Jason.

Jason se inclinou sobre a cama e tomou o rosto de Nico entre as mãos, virando o rosto do moreno para fitar o seu. Seus olhos escuros como duas esferas perfeitamente polidas de ônix fitando os olhos como lápis-lazúli de Jason.

- Eu te amo, Nico. Mais do que eu pensei que fosse capaz de amar alguém – Jason fez questão de dizer lentamente, dado ênfase em cada palavra. – E não sei se conseguiria viver em um mundo sem você – os olhos de Nico brilhavam à luz branca do quarto. O bipe irritante das maquinas era o único som – desconsiderando o constante e interminável burburinho de vozes que ecoavam por todo o hospital. – Não me abandone à minha própria sorte. Prometa-me que nunca vai desaparecer, e eu nunca vou te deixar ir.

Egoísta? Sim. Jason estava sendo muito egoísta, e tinha todo o conhecimento disso, mas não se importava.

- Eu também te amo, Jason – Nico respondeu enfim, com as lágrimas surgindo no canto de seus olhos, brilhando como diamantes à luz do sol. – Sempre te amei. E prometo. Não vou desaparecer.

- Vamos nos casar.

Nico arregalou os olhos, e sua respiração falhou por um segundo.

- O que? – ele perguntou, com o cenho franzido em confusão.

- Eu disse: vamos nos casar – Jason repetiu, apertando a mão de Nico nas suas, sentindo uma felicidade estranha queimar em seu peito. – Assim que você sair daqui vamos nos casar. Vamos oficializar, sem medo ou vergonha. Vamos mostrar para o mundo inteiro como nos amamos, e como vamos vencer esse maldito câncer juntos.

E novamente Jason o beijou, afogando-se no mar de sensações que os lábios finos e pálidos de Nico o afundavam. Podia se relembrar quando se beijaram novamente quando estavam sóbrios. Em como se deitaram na cama juntos, e se enrolaram sobre os travesseiros. O calor do corpo pequeno de Nico contra o seu, o desejo crescendo mais e mais a cada segundo enquanto suas línguas dançavam freneticamente.

- Vamos, Jason – Nico suspirou quando se afastaram por ar, com o rosto fortemente corado. Jason ficou feliz em ver que ainda havia uma parcela de vida no corpo de Nico. – Vamos nos casar.

Toda a esperança e as expectativas que Jason estava alimentando. Todos os sonhos e desejos.

Tudo foi sugado por um gigantesco e devastador buraco negro de frias e inacreditáveis revelações.

Naquela noite, Jason voltou para o apartamento, e tentou dormir, se sentindo feliz como nunca antes pensou que poderia se sentir desde que Nico dera entrada no hospital.

E durante a madrugada acordou inesperada e desesperadamente, com um grito sufocado na garganta e o suor a lhe encharcar o corpo e a cama, frio.

- Foi só um pesadelo – Jason murmurou a si mesmo enquanto tomava um longo banho gelado. – Foi só um pesadelo.

Mas quando a manhã chegou, e junto dela a hora diária em que Jason tinha a oportunidade de ficar longamente ao lado de Nico antes de seu horário de trabalho se iniciar, o pesadelo se tornou real.

Nico não estava mais deitado sobre aquele leito frio. Estava vazio e perfeitamente arrumado, como se ele nunca sequer tivesse se deitado ali, gemendo de dor durante as madrugadas. Tendo fortes convulsões durante quase todos os dias nesses três meses que estava internado.

O chão sobre os pés de Jason se tornou areia movediça, e parecia o sugar cada vez mais para baixo enquanto ele arrastava seus pés em direção a alguém que pudesse lhe dizer onde estava Nico. Qualquer um. Quando chegou à recepção, seus joelhos pareciam ter se tornado blocos maciços de concreto, e o suor frio deslizava por seu rosto, sem contar o coração que batia dolorosamente contra as costelas.

- Onde ele está? – Jason perguntou numa voz esganiçada. Suas feições distorcidas pelo pensamento desesperador que lhe invadia a mente provavelmente assustara a bela moça de cabelos vermelhos que o fitava. – Onde está o Nico? Onde ele está?

- Q-Quem? – ela balbuciou, afastando um passo para trás.

- O paciente do quarto cento e cinquenta e seis! – Jason gritou, batendo forte contra o tampo de granito escuro do balcão. – Onde ele está?

O semblante da mulher se obscureceu instantaneamente, e seus olhos passaram a fitar o chão, pesarosos.

- Sinto muito pela sua perda. – ela disse, com um sussurro.

Jason começou a andar para trás, com o ar escapando de seus pulmões como se tivesse sido acertado por um soco forte no estômago.

Não ouvia nada. Não sentia nada. O pensamento agora se abateu cruelmente sobre ele, pesado e insensível como a realidade deveria ser.

- Não é possível – ele dizia repetidamente, como se, dizendo isso ele pudesse de alguma forma mudar a dor da verdade. Recostou as costas na parede, com as mãos na cabeça, apertando os fios dourados entre os dedos com força. – Ele estava perfeitamente bem ontem mesmo. Ele não pode ter... – suas costas deslizaram enquanto suas pernas perdiam a força, e ele desabava, tremendo e estarrecido. – Ele não pode ter morrido.

Mas, afinal, como um pesadelo deveria ser ele não terminou quando Jason tentou acordar. A dor que sentia na alma lhe indicava que ele estava acordado, mesmo sua mente estando de alguma forma distante.

Jason identificara o corpo, e fizera a questão de dizer que Nico era seu noivo.

Nico seria cremado, como sua própria exigência. Do nada ao nada, como ele dizia.

Tudo depois disso passou como um borrão diante dos olhos de Jason, que estavam vermelhos e embaçados por causa do choro que irrompiam. Jason apenas se lembrou de ter entrado no carro, ligado a ignição e estar costurando por entre automóveis no meio do trânsito caótico de Nova Iorque. Dirigiu sem rumo durante o dia inteiro, e nem quando o sol começou a se deitar sobre o horizonte Jason quis voltar para o...

Como podia chamar aquilo de lar agora? Como chamar isso de vida?

A imagem do corpo de Nico, nu e coberto apenas por um fino lençol branco, revirou o estômago de Jason. A pele mais pálida e sem vida, os olhos eternamente fechados. Mas ainda belo. Sempre belo.

Porém aquele enjoativo odor de morte martirizava a mente de Jason como um pesado martelo de morbidez.

Nico havia surgido na vida de Jason no pior momento possível, e de alguma forma, o garoto sempre calado e recluso em seu canto, eletrificou por completo a vida do loiro de alegria radiante, algo que Piper nunca antes fora capaz de fazer. Com Nico, Jason se sentia único. Como se eles tivessem queimado numa enorme fogueira todas as almas tristes do mundo, e transformando-as num enorme fogo de pura felicidade, apenas para ambos. Uma pequena conspiração. Doce e inocente como deve ser.

E agora imaginar que sua estrela particular que ele mantinha sempre perto de seu coração, mantendo seu brilho apenas para si, fora ceifada para o distante e frio céu, que apenas seus pensamentos poderiam alcançar.

E a chuva começou a cair do céu como se o universo inteiro conjurasse contra ele, relembrando todos os momentos em que passaram juntos. Da volta do cinema em que foram tomados de surpresa por uma chuva, e de como não se importaram em ficar na calçada em frente ao cinema, abraçados enquanto o céu desabava sobre eles, a água, fria como agulhas. Aquele fora um dos melhores beijos que Nico lhe havia dado.

Jason só queria poder segura-lo novamente em seus braços. Ouvir seu doce riso de felicidade quando estavam juntos. Seu calor e sentir seus corpos conectados.

No céu escuro, uma luz fraca brilhava. Uma solitária estrela iluminando o céu negro.

O grito surgiu do fundo de sua garganta, e Jason rugiu toda a sua dor a plenos pulmões, enquanto os pneus queimavam sobre o asfalto, o carro girando desgovernado em direção ao acostamento – uma profusão de verde e galhos.

Não fora nada grave, apesar de tudo. Jason tinha apenas um corte na testa onde havia batido contra o volante – uma listra rubra que deslizava por seu olho direito, e escorrendo por ele como uma lágrima de sangue.

- Você disse que não iria me abandonar – Jason murmurou, sentindo o gosto de sangue na boca, misturado com o leve gosto salgado das lágrimas. – Mas... – não encontrou as forças que precisaria para terminar.

Apalpando o bolso de sua calça jeans, Jason retirou dali uma pequena e fina aliança de prata. O metal brilhou como uma estrela na ponta dos dedos de Jason quando ele o colocou em seu lugar de direito e estendeu a mão diante do rosto. E sorriu para o brilho das estrelas. Da estrela.

- Queria poder compartilhar esse brilho estrelar com você, Nico. – ele sussurrou. Os soluços se amontoavam em sua garganta, implorando por liberdade. – Vou seguir essa luz, que sempre me lembrará você, até o fim da minha vida.

Quase podia ouvir a voz debochada e normal de Nico dizer em sua mente: não vale a pena. Apenas continue.

Jason recostou a testa contra o couro frio do volante, e deixou as lágrimas fluírem livremente de seus olhos.

Aquele buraco negro no lugar do coração permaneceu. E talvez ele fique ali para sempre.


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Notas finais do capítulo

Por favor, não me batam por causa desse final >.<'
É a vida que está me rodeando de tragédias e mais tragédias.
So, é isso minna-san.
Espero que tenham gostado, de vdd...
Comentem, se quiserem, o que acharam sobre, os xingamentos e as maldições ao autor a seguir.
Kissus do Deny o/