Trapaça escrita por Sara Carneles


Capítulo 8
Perdas e Danos


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Primeiramente eu quero agradecer do fundo do coração por todos os comentários de vocês e por continuarem lendo e dando suas opiniões sobre a história. Isso me deixa MUITO feliz, de verdade, e é o que alimenta minha criatividade e minha vontade de continuar escrevendo essa fic. ❤
Esse capítulo tem a introdução de mais um conhecido personagem da série, espero que vocês gostem.



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Ser acordada por um celular tocando é como sentir que algo está sendo roubado de você, e na verdade está.

Foi o que eu senti quando ouvi o toque de chamada do meu celular romper o silêncio majestoso de meu apartamento em um horário muito incomum.

Procurei pelo aparelho com a mão, me recusando a erguer a cabeça ou acender a luz, mas como falhei na tentativa e o barulho do toque estava doendo em meus ouvidos, não tive outra escolha se não levantar a cabeça e acender o abajur. Olhei de relance para a tela do relógio, piscando freneticamente, tentando ajustar meu olhos à claridade enquanto eles ardiam e lutavam para permanecerem fechados. Não foi uma batalha fácil, e o motivo piscava em forma de números.

Eram 4:13 da manhã.

Pego o celular, olho o identificador, mas não reconheço o número, só percebo de relance que é residencial.

– Alô? – falei, totalmente grogue.

– Felicity? – ouço uma voz masculina e a reconheço quase que instantaneamente – Desculpe ligar à essa hora.

Sentei-me na cama.

– Oliver? Algum problema? – perguntei.

O silêncio que antecipou a resposta pareceu tão demorado que eu já estava me perguntando se ele ainda estava do outro lado da linha.

– Na verdade, sim.

***

Ir em um funeral nunca é uma coisa que você planeja fazer em um domingo a tarde. Ir em um funeral de uma pessoa que você nem ao menos conhecia pessoalmente é ainda menos planejado, e com certeza mais estranho.

Mas eu precisava estar lá.

Quando Oliver me ligou às 4:00 da manhã dizendo que seu pai estava morto, muita coisa passou pela minha cabeça, mas nada conseguiu sair. Eu sabia que ele iria precisar de ajuda, já que ele já estava assumindo o cargo de CEO das Indústrias Queen, eu como sua única assistente deveria dar suporte nesse momento.

Trabalhei durante todo o dia. Sara estava lá também e me ajudou com alguns detalhes. Providenciei o comunicado oficial à imprensa e cuidei para que ele fosse divulgado o mais rápido possível, para evitar especulações. Atendi à tantas ligações em meu celular que algumas vezes parecia que estava ouvindo ele tocar, quando na verdade não estava. Cuidei para que a imprensa não atrapalhasse a cerimônia, e com a ajuda milagrosa de Diggle, coloquei alguns fotógrafos – que conseguiram passar pelos seguranças –, para fora dos muros da Mansão Queen.

Também não foi dessa maneira que eu pensei que conheceria Moira e Thea Queen, mas dadas as circunstâncias, ocorreu.

Eu já tinha visto fotos e vídeos circulando pela mídia, da mãe de Oliver, mas ao vivo ela era muito mais bonita do que as câmeras captavam. Era loira e altiva, transbordava refinamento e elegância.

Thea parecia como uma adolescente normal, mas se você parasse por mais de dois segundos para reparar, conseguia ver traços da Senhora Queen na filha.

Após o funeral, houve uma recepção na Mansão. De longe pude ver Thea e Moira recebendo as condolências de incontáveis pessoas. Senti-me desconfortável só de imaginar como deveria ser permanecer ali, recebendo palavras de conforto e sabendo que nenhuma delas jamais chegaria a confortá-las de verdade.

Oliver não quis participar da recepção, aliás, eu mal o vi durante todo o dia, e quando o vi, durante o sepultamento, percebi que ele não olhou uma vez sequer para o caixão do pai, não derramou uma lágrima, não falou uma palavra. Passei o dia me perguntando o por quê, até que enfim me dei conta de que as pessoas lidam com o luto à sua maneira, e que muito provavelmente esta era a maneira de Oliver tentar superar aquilo.

Eram quase 22:00 da noite quando as últimas pessoas deixavam a Mansão Queen. E eu era uma delas.

Antes de ir, prestei mais uma vez meus respeitos à Senhora Queen e à Thea. Estava me dirigindo à saída quando encontrei Oliver observando a noite em uma pequena varanda no térreo que ficava meio escondida atrás de um jogo de cortinas azul-marinho, imaginei que ele propositalmente havia puxado as cortinas para esconder a porta que daria acesso ao local onde ele estava. Mas o vento lá fora o denunciou justamente na hora em que eu passei.

Ele estava de costas para mim, mas de alguma forma sentiu minha presença assim que atravessei a porta, pois seus ombros retesaram-se levemente e ele suspirou.

– Oliver? – chamei-o, mas ele não se virou, então eu me aproximei.

Por alguns segundos segui o seu olhar e observei a noite fria de outubro, o vento era forte e eu sentia meus ossos tremendo, mesmo estando com um casaco que cobria meu vestido.

– Eu... estou indo. – disse à ele – Precisa de alguma coisa antes que eu vá?

Finalmente ele mexeu-se, abaixou a cabeça, mas não me respondeu.

– Oliver... – incitei, mas ele me interrompeu.

– Nós discutimos. – comentou ele, eu sabia que estava falando do pai, não interrompi, apenas o escutei – Quando eu cheguei em casa pela manhã, ele me chamou para uma conversa. Eu pensei que ele ia se desculpar pelo ocorrido na noite anterior, mas ao invés disso ele ficou repetindo coisas sem sentido, dizendo que eu precisava cuidar da empresa, cuidar de Thea e de minha mãe, que não deveria confiar em ninguém...

Tentei acompanhar o que Oliver estava desabafando, mas a verdade é que eu não sabia profundamente qual o motivo da discussão dele com o pai, só conseguia imaginar que tinha algo a ver com a sua doença e a falta de responsabilidade de Oliver.

Minha nossa, quando perguntei se ele precisava de algo mais, não sabia que isso seria o posto de ouvinte.

– E então eu gritei com ele. – Oliver falou – Gritei e disse que não queria ser como ele, um homem que tinha medo de enfrentar seus demônios... Foram as minhas últimas palavras para ele.

Eu não sabia o que dizer, se deveria comentar, se deveria abraçar meu chefe ou o que raios deveria fazer com aquela bomba. Mas então me veio o insight.

Se você tem uma bomba, corte os fios certos.

– Escute, eu poderia ficar aqui o dia todo, aliás, a noite toda, enchendo você com comentários reconfortantes e palavras bondosas e generosas, mas eu vi a sua mãe e a sua irmã passarem por isso durante o dia inteiro, e tenho certeza de que o luto ou a dor delas não diminuiu. E não é que não seja necessário ser gentil e tentar demonstrar que você figurativamente sente o que a outra pessoa está sentindo... – tomei ar e continuei – O fato é que, ficar remoendo algo que não está mais ao seu alcance para ser mudado, chega a ser considerado auto-flagelismo. Então tente não se sentir culpado, porque não há mais nada a ser feito senão aceitar. Passe pelo luto, aceite a dor mas não fique remoendo isso pelo resto da vida, isso pode destruir qualquer um. Entre na água, mas não deixe que ela lhe afogue.

Voltei a respirar depois do discurso, internamente eu ainda estava me perguntando se tudo aquilo fazia sentido, e como algo desse tipo tinha saído de mim... Eu não era a melhor pessoa para se falar sobre expressão de sentimentos.

Oliver estava me encarando com uma expressão meio assustada/impressionada, devia ser um reflexo da minha própria cara no momento.

Depois ele sorriu muito levemente.

– Obrigada, Felicity... – disse ele – acho que já está virando rotina eu ter que te agradecer todo dia. Desculpe te usar como conselheira, é que o meu melhor amigo não pôde ficar muito tempo, e eu não tenho muitas pessoas a quem confiar esse tipo de coisa. Eu agradeço. Você trabalhou muito hoje e eu peço desculpas por ter estragado o seu fim de semana...

– É o meu trabalho, fico feliz em fazê-lo. – disse, e então percebi que era realmente verdade.

– Mesmo assim, para compensar, tire dois dias de folga.

– Não é necessário... – comecei a protestar.

– Isso é uma ordem, Senhorita Smoak. – Oliver sorriu, mas a alegria não chegou a alcançar seus olhos. – Não se preocupe, preciso resolver alguns assuntos pessoais nos próximos dias, então, quando você voltar, prometo que o escritório estará intacto, sem nenhum dano.

Sorri.

– Certo. Então, muito obrigada. – agradeci. – Você precisa de mais alguma coisa?

Oliver negou com a cabeça.

– Muito bem então... Boa noite, Senhor Queen.

– Boa noite, Felicity.

Achei que todas as pessoas já tinham ido embora, mas quando abri a porta da frente para sair, dei de cara com um homem se preparando para entrar.

Ele usava um terno azul muito escuro, quase preto; os sapatos eram brilhantes, e o cabelo era meticulosamente penteado para trás. O que me fez lembrar vagamente de alguém, mas a referência me sumiu quase que no mesmo instante em que chegou.

– Vim prestar meus respeitos. – informou ele, a voz fria e sem emoção.

Eu estava prestes a deixá-lo entrar quando ouvi a voz da Senhora Queen.

– Malcolm? – ouvi-a dizer mais para si mesma do que para qualquer um que estivesse por perto.

O homem passou por mim e entrou, a sensação dele no mesmo ambiente da casa provocou-me um arrepio. Seus olhos azuis eram calculistas, observadores e transmitiam uma sensação de escárnio tão grande que eu praticamente corri porta afora, mas não antes de ouvir um fiapo do início da conversa.

– Como ousa vir até aqui? – perguntou a Senhora Queen, a voz incrédula e baixa, mas carregada de ódio.

E então eu fechei a porta e me afastei. Não sabia qual era o motivo da discussão em sussurros de ambos, mas tinha certeza de que aquele homem tinha o olhar mais ameaçador que eu já vira na vida.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam do capítulo? Eu confesso que acho que esse é o mais sem graça que eu escrevi até agora, porque o final não foi grandes coisas kkkkkkkkkkkkkkkkk mas foi só a introdução de um plot que vai "carregar" a fic, além da parte romântica da história.
Sobre o Tommy não ter aparecido nesse capítulo: eu sei que provavelmente deveria introduzir ele porque ele é o melhor amigo do Oliver, mas eu não quis colocar ele, a Felicity e o Oliver num mesmo local, tenho planos para isso mais pra frente kkkkk
Enfim, o próximo capítulo deve sair na terça-feira. Então até lá! *-*



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