Trapaça escrita por Sara Carneles


Capítulo 7
Gratidão


Notas iniciais do capítulo

Decidi que esse capítulo seria outro POV do Oliver, mas dessa vez não se preocupem, vai ser a continuação do capítulo anterior hahahahaha
Enfim, espero que gostem. ❤



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Mil britadeiras estavam socando meu cérebro de dentro para fora.

Foi essa a sensação que tive quando acordei pela manhã.

O sol entrava pela janela e parecia mirar em meu olhos, queimando-os e obrigando-me a mover meu corpo, tentando fugir da claridade. Mas não havia escapatória.

– Puta merda.– resmunguei quando me sentei.

Aliás, onde diabos eu estava? Olhei em volta.

Aparentemente no sofá-cama de alguém. E eu ainda estava vestido. Uh, isso não me parecia com uma noite de farra e sexo sem compromisso.

Ouvi o barulho de panelas e o cheiro de café vindo de algum lugar ali perto. Procurei pela porta da cozinha; estava atrás de mim.

Levantei com alguma dificuldade, desviei da quina do sofá que parecia traiçoeiramente esperar que eu me chocasse contra ela, e segui até onde vinham os sinais de vida humana.

Uau, ao menos ela era bonita.

Ela estava de costas para mim, o cabelo solto me pareceu familiar, mas minha cabeça ainda não estava nas melhores condições para raciocinar direito. E eu não conseguia parar de olhar para as pernas da garota, que estavam dentro de um short preto bastante revelador.

Mas então ela se virou e meu choque foi tanto que eu quase caí para trás como um fruto passado do ponto.

– Felicity?? – quase gritei de incredulidade.

– Meu Deus! – Felicity gritou de verdade quando virou-se e me encontrou ali parado. O copo de leite que ela segurava foi ao chão, espalhando o líquido por todos os lados. – Oliver! O que está fazendo aqui?!

Franzi a testa.

– Estou me fazendo essa pergunta.

Ela suspirou.

– Não aqui no meu apartamento, aqui, na cozinha, a essa hora! – ela me repreendeu como se fosse minha mãe – São 7 horas da manhã! Achei que você dormiria por pelo menos o resto da vida. – comentou ela.

Felicity passou por mim como um furacão e desapareceu por um instante, retornou com um pano, abaixou-se e começou a limpar a bagunça.

Mesmo minha cabeça latejando, resolvi ajudá-la.

– Cuidado, tem vidro por toda parte. – avisou ela.

Depois que o pior havia passado, resolvi tirar algumas dúvidas.

– Então... – comecei – Você me sequestrou?

Esperei que Felicity ficasse nervosa como ela geralmente fica quando falo com ela, mas desta vez ela não riu, não ficou nervosa, apenas me observou por um tempo. Não gostei da sensação, me perguntei se era assim que ela se sentia toda vez que eu a olhava.

– Por acaso nós...? – tive que perguntar.

E então ela voltou a ser a Felicity que eu já conhecia parcialmente bem.

– Ah meu Deus... Não, claro que não! Você não... Eu não... Você é meu chefe!
Eu ri, mas no fundo me senti meio rejeitado pela forma como ela negou com tanta veemência que nada havia acontecido entre nós; confirmando meu raciocínio de que ela não se sujeitaria ao que minhas outras assistentes muito facilmente aceitaram. Uma parte de mim ficava extremamente feliz por isso; a parte suja, porém, estava bastante desapontada.

Talvez ela fosse a pessoa certa para ser minha assistente. Mas ela poderia ser um pouquinho menos bonita para facilitar as coisas...

Acho que eu estava encarando-a por tempo demais. Felicity notou que eu não conseguia parar de olhar para o seu corpo e, de uma maneira não tão sutil, correu para o quarto enquanto eu voltava para a sala. Minutos depois ela estava vestindo uma calça jeans para acompanhar sua camiseta já "comportada".

Como se isso impedisse minha imaginação...

– Então, vai me dizer como vim parar aqui ou não? – perguntei enquanto ainda tentava me concentrar no assunto.

Meu cérebro latejava como se estivesse tentando acompanhar a batida de um tambor.

– Você bebeu demais, quase arrumou briga na boate, Diggle e eu trouxemos você para cá. Eu montei o sofá-cama, você apagou nele, acordou na manhã seguinte, me deu um susto dos infernos e quebrou meu copo preferido. Fim da história.

Foi só então que eu me lembrei de meu pai. Da noite anterior, quando eu cheguei em casa e encontrei Thea e minha mãe chorando, contando-me sobre como ele havia piorado durante a tarde, como os exames não conseguiam apontar qual era a causa do mal estar dele e como ele se recusava a fazer qualquer outro teste mais específico e consequentemente encontrar algum tratamento.

Então me veio a discussão que tive com ele, suas palavras ferindo-me de uma maneira que só ele conseguia fazer, dizendo que queria morrer para que eu assumisse alguma responsabilidade, dizendo-me coisas sem nexo como eu ter cuidado, que eu deveria investigar as finanças e que deveria confiar no menor número de pessoas possíveis. Disse-me que estava na hora de eu começar a cuidar de minha mãe e de Thea desde já...

Aquilo ferveu minha racionalidade.

Eu já estava cuidando delas, já estava tentando aprender mais sobre a empresa, já estava assumindo riscos e tomando decisões por outras pessoas... Já estava me tornando alguém como ele.

Senti tanto ódio e repulsa por ele estar desistindo de tentar se curar apenas para que eu assumisse as empresas, que naquele momento a única coisa em que eu conseguia pensar era sair daquele lugar. Então me troquei e fui para a Verdant. Eu não pretendia ir à inauguração da minha própria boate com raiva, mas fui, e acabei descontando minha fúria em muitas doses de uísque puro.

Pigarreei, voltando ao momento. Não queria perguntar, mas tinha que saber se havia revelado coisas demais à Felicity.

– E por que você não me levou para casa? – perguntei, fingindo curiosidade.
Ela franziu o cenho.

– Você me pediu para não levá-lo. Então não me restou escolha. – ela deu de ombros e apontou para a sofá-cama.

– E o meu carro? Onde Diggle entra nessa história? – perguntei.

– Ele só me disse que sua mãe havia mandado buscá-lo. Então quando eu lhe expliquei o que você havia me pedido, ele concordou. Nós colocamos você no Mercedes, eu vim dirigindo o Audi enquanto Diggle me seguia até aqui. Seu carro está lá fora.

Sorri com a imagem de Felicity dirigindo meu carro.

– E Diggle?

– Assim que nós colocamos você no sofá, ele voltou para a sua casa para avisar a sua mãe... e não voltou até agora.

Eu provavelmente deveria me sentir o cara mais intimidado da face da terra ao perceber que minha assistente, que trabalha para mim há apenas dois meses, já me viu bêbado no meu pior nível. Mas na verdade eu só consigo me sentir grato à ela e à parte de mim que se manteve firme e recusou a ideia de demitir Felicity Smoak por sua sinceridade.

– Obrigado. – eu lhe agradeci, tentando colocar o máximo de sinceridade que eu conseguia naquela pequena palavra.

Pude ver suas bochechas ficarem mais rosadas enquanto sorria levemente.

– Então... eu ganhei um aumento? – brincou ela.

Eu ri.

– Definitivamente. – concordei. Eu sabia que ela estava brincando, mas eu não estava. – Bem, acho melhor eu ir...

Levantei-me e comecei a ir em direção à porta, mas parei e voltei à olhar para Felicity quando ela começou a protestar.

– Tem certeza que está bem para dirigir? Talvez seja melhor eu ligar para o Diggle e...

Coloquei minha mão em seu ombro e ela parou de falar. Olhei-a em seus olhos azuis brilhantes, escondidos por trás do par de óculos.

– Eu estou bem. – falei calmamente – Obrigado, de verdade.

Não havia mais o que dizer, ela sabia, eu sabia.

Felicity entregou minhas coisas (celular, carteira, chaves do carro) e me acompanhou até a porta.

– Então... Até segunda-feira, Senhor Queen.

Sorri.

– Até, Senhorita Smoak.

Eu não sabia naquele momento, mas veria Felicity mais cedo do que eu planejava, e em circunstâncias que eu não desejaria à ninguém.


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Notas finais do capítulo

Não esqueçam de deixar seus comentários, gente. Quero saber o que vocês estão pensando, se já estão curiosos, se estão gostando do desenvolvimento deles... Contem-me tudo!
Enfim... Espero que vocês tenham gostado.
Beijos e até domingo!