Trapaça escrita por Sara Carneles


Capítulo 24
Fogo e Tempestade


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!
Aqui está mais um capítulo postado, como eu havia prometido. Não vou comentar antecipadamente sobre ele porque algumas coisas interessantes vão acontecer, e eu espero ter feito a escolha certa em colocar isso nesse capítulo.
Anyway... Aproveitem a leitura!



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Foi um pouco difícil voltar à rotina depois que me recuperei, mas eu havia conseguido no final das contas.

Oliver parecia preocupado demais comigo ultimamente. De início pensei que isso passaria depois de alguns dias, no máximo em uma ou duas semanas. Mas já faziam quase dois meses e ele ainda me ligava todas as noites – quando não insistia em me levar para casa ou passar em meu apartamento à noite – só para ter certeza de que eu estaria sã e salva durante toda a noite.

Eu comecei a desconfiar que sua superproteção também tinha a ver com o fato de Barry e eu começarmos a sair em encontros cada vez mais frequentes. Mas depois de três semanas e de percebermos que agíamos mais como amigos do que como possíveis namorados – éramos parecidos demais, e eu não conseguia sentir que aquilo realmente iria para frente –, decidimos manter a amizade e deixar a parte do romance de lado. Ainda nos víamos, conversávamos e saíamos. Ele era uma pessoa muito fácil de gostar e eu fiquei feliz que conseguimos manter as coisas leves mesmo depois do "término" (se é que eu podia chamar uns beijinhos de término).

Mesmo assim, Oliver manteve sua postura preocupada comigo. Eu não sabia bem como reagir à esse novo lado dele, mas no fundo eu percebia que uma parte de mim cedia cada vez mais ao seu olhar protetor a cada ação, por mais insignificante que ela fosse. E isso meio que estava começando a me assustar.

Eu precisava me afastar um pouco dele, daqueles olhos azuis límpidos e desconcertantes e da aproximação evidente que tínhamos cada vez mais. Sem falar que ultimamente estávamos passando boa parte da noite no porão da Verdant, onde eu fazia minhas pesquisas – estávamos avançando cada vez mais – enquanto Diggle e Oliver lutavam. E vê-lo sem camisa fazendo exercícios não fazia bem para a minha sanidade, que dirá para a minha concentração.

Por isso, quando Tommy apareceu na empresa quase no fim do dia, me convidando pra sair, eu aceitei. Por mais que achasse estranho que ele ultimamente vinha muito ali, ele era um cara legal. Oliver e Tommy eram melhores amigos, então eu sabia que Oliver não tinha motivos para não gostar dele como ele não gostava de Barry.

– Você ainda me deve aquele drink. – ele falou, piscando para mim. Oliver estava ao seu lado, despedindo-se dele quando Tommy me convidou para sair.

Eu sorri.

– É justo. – falei.

– Pego você às dez?

– Perfeito.

É claro que eu não iria passar a impressão errada à Tommy. Eu não achava que ele estava afim de mim daquele jeito, mas por via das dúvidas, convidei Sara também, só não dei muitos detalhes sobre onde iríamos, pois nem eu sabia direito.

Saímos das Indústrias Queen juntas, passamos em sua casa e então fomos para a minha, para que pudéssemos nos arrumar juntas.

Eu estava feliz que Sara havia se tornado uma grande amiga. Eu conseguia conversar sobre tudo com ela, sabia até que poderia me abrir sobre as coisas que estavam acontecendo com relação à Oliver; mas no fim das contas não valia a pena estragar o momento, além do mais, tecnicamente não havia nada demais entre nós. Ele não se recordava daquele beijo e eu fingi que também não.

Sara escolheu uma saia preta e uma blusinha de paetês azuis com um decote generoso na frente. Eu acabei optando – à mando de Sara – por um vestido vermelho que ganhei de aniversário de minha mãe e que eu nunca usava porque sempre achei ousado demais para meus padrões. Ele era vermelho e até comportado na frente, mas nas costas, era totalmente aberto até a base de minha coluna, sem falar que ele não era muito comprido também.

– Tem certeza de que não está exagerado demais? – perguntei, olhando-me no espelho.

– Você está linda! – falou ela.

– Você também. – eu sorri para ela, virando-me.

Ela estava realmente linda. Seus cabelos loiros estavam levemente cacheados nas pontas e a maquiagem era leve, dando contraste aos seus olhos. Ela não parecia nem fazer esforço para parecer deslumbrante.

Sara havia feito uma trança lateral solta em mim, e o ponto alto da maquiagem ficou para o batom vermelho. Nos pés, um salto nude.

Estávamos prontas, e às 22h em ponto, Tommy bateu em minha porta.

– Vamos ganhar carona? – Sara perguntou, animada.

Eu assenti e corri para abrir a porta.

– Oi! – eu disse à ele.

– Uau, Felicity... – Tommy sorriu para mim, mas seu sorriso murchou quando ele viu Sara – Hã, oi. – ele falou em um tom estranho.

– Ele é o seu encontro da noite? – Sara perguntou.

Franzi o cenho.

– Não! – falei – Eu já disse. Não é um encontro, é só uma noite entre amigos.

Eu estava com medo de que a reação de Tommy ao descobrir que não seria apenas eu e ele durante a noite não seria boa. Mas a cara de desapontamento que ele fez me dizia que Tommy realmente tinha planos mais íntimos entre nós. Agradeci aos céus por estar estabelecendo limites desde agora.

– Bem, não vamos ficar aqui parados, não é? – falei sorrindo, tentando amenizar a situação estranha.

Sara sorriu também, mas estava claro que a animação dela não era a mesma de antes.

A viagem até a boate foi rápida, graças a Deus, porque o clima dentro do carro era congelante.

Chegamos à Verdant e entramos sem nenhum problema, já que Tommy era o gerente da boate. Sara foi direto para o bar da área vip, eu a segui. Tomamos algumas doses de tequila, depois, Sara me fez experimentar uma tal de bebida da lua, eu não gostei.

Por mais que eu soubesse que a boate era de Oliver, nesta noite eu não precisava me preocupar. Eu sabia que ele estava em um jantar na mansão Queen com alguns ricaços da cidade, então minha folga dele era oficial.

A música era alta e contagiante. Eu estava de divertindo muito – mesmo que só tivesse conseguido isso às custas do álcool –. Quando voltei do banheiro, Sara estava conversando animadamente com um cara alto e bonito, que claramente estava flertando com ela. Tommy bebia um pouco afastado deles enquanto conversava com alguém... Meu coração parou. Eu conhecia aqueles ombros largos, aquela jaqueta de couro preta e aquela postura despojada.

Oliver estava ali.

Aproximei-me com relutância. Eu não podia atrapalhar Sara, e não tinha mais ninguém ali que eu conhecesse além dela e Tommy, então não me restou outra opção a não ser ir até lá e lidar com aquele olhar que provocava nós em meu estômago.

– Aí está minha acompanhante. – Tommy não parecia bêbado, mas estava agindo muito estranho durante toda a noite.

Eu sorri também e me encostei no balcão do bar, ficando ao lado de Tommy e de frente para Oliver, que rapidamente pousou seu olhar em mim.

– Oi. – eu disse, sem muitos rodeios.

Ele sorriu para mim, mas seus olhos não demonstravam alegria genuína.

– Vamos dançar! – Tommy falou.

Eu ia negar quando vi o olhar que Oliver me lançou. Mas então uma mulher ruiva surgiu do nada e se aproximou dele, enganchando seu braço no ombro de Oliver enquanto se aproximava e falava algo em seu ouvido. Senti um bolo se formar em minha garganta.

– Vamos.– eu disse, jogando minha bolsa para Oliver segurar, e deixando que Tommy me puxasse para a pista de dança.

Uma versão remix de Animals, do Marron 5 começou a tocar, e eu me deixei levar pela música e a batida sensual. Coloquei minhas mãos nos ombros de Tommy, dançando bem próxima à ele, suas mãos em minhas costas nuas quando eu me virava contra ele.

Uma pequena parte de mim tinha certeza de que eu morreria de vergonha disso depois. Mas eu estava pouco me lixando para isso no momento.

A música não tinha acabado ainda quando senti um braço me puxando para longe de Tommy. Olhei para o lado, confusa, e vi Oliver. Seu aperto não estava me machucando, mas eu ainda não conseguia entender o que ele estava fazendo.

Oliver me levou para longe de todos, até uma porta escondida nos fundos da boate. Ele digitou a senha na porta e então nós descemos até o porão vazio, onde nosso "QG" estava montado.

Puxei meu braço para me livrar de seu toque, que eu não queria admitir, mas fazia minha pele queimar.

– Mas que merda foi essa? – gritei para ele.

Oliver me encarava tão furioso quanto eu estava.

– Eu é que pergunto! – gritou ele também.

Franzi o cenho.

– Você... o que... – suspirei – Quem te deu o direito de interferir na minha vida desse jeito?

Oliver fervia de raiva, passava as duas mãos por seus cabelos, tentando se acalmar.

– Você não conhece o Tommy como eu, Felicity. – ele falou, a voz tentando soar controlada – Ele é meu melhor amigo, e por isso mesmo é que eu sei o que ele faria com garotas como você.

– Garotas como eu? – eu ri – Você acha que eu sou uma idiota inocente que não sabe o que está fazendo? – disparei para ele – Em primeiro lugar, eu não sou nenhuma garota, eu sou uma mulher, e em segundo, quem disse que o que o Tommy quer não é o mesmo que eu quero?

É claro que eu não estava falando sério. Eu não me sentia atraída pelo Tommy daquela forma, mas raiva estava além de minha razão, não consegui controlar minhas palavras. Eu estava furiosa com ele por se achar no direito de dizer com quem eu podia ou não sair. Mas quando insinuei que podia deixar as coisas com Tommy irem para algo muito mais íntimo, acho que passei dos limites, porque o olhar de Oliver virou fogo. Ele me encarou por um tempo que pareceu eterno, os olhos descrentes. Eu quis retirar o que disse, mas não o fiz.

– Não pode estar falando sério. – ele riu, mas não foi um riso de sarcasmo. Foi um aviso de que ele estava prestes à explodir.

– Qual o seu problema, Oliver? – gritei para ele – Primeiro você age como um completo babaca na Espanha, levando uma qualquer para a cama menos de vinte e quatro horas depois de ter me beijado, depois faz questão de julgar meus encontros com o Barry, e agora você aparece com uma ruiva desconhecida e ainda vem com lições de moral pra cima de mim? Eu não consigo te entender, e eu estou enlouquecendo com essas suas oscilações. Então por favor, me mantenha longe disso!

Voltei à respirar quando terminei meu discurso acalorado. Oliver me encarava atônito, e eu me senti muito mais leve depois de ter dito tudo o que estava preso em minha garganta.

– Você... você lembra. – ele falou para mim, os olhos ainda arregalados – Você lembra do beijo.

Meu sangue virou gelo. Meu coração parou e eu virei pedra.

Não sei o que fazer, não há como voltar atrás. Eu disse, eu disse com todas as letras, eu confessei que me lembrava do beijo.

Mas espere... ele também lembra?

Oliver aproximou-se lentamente de mim, eu ainda não conseguia me mover. Estava presa em minha confissões, estava presa pelo olhar de confusão dele.

– Felicity... – Oliver estava tão perto de mim que o calor de seu corpo estava derretendo o gelo em minhas veias, a voz dele era tão baixa, a raiva não mais presente – O que você está fazendo comigo?

Eu olhei para cima, para sua expressão angustiada enquanto ele erguia uma mão e acariciava minha bochecha. Fechei meus olhos, sentindo o rastro de fogo que sua pele deixou na minha.

Eu não vi acontecer, só senti quando seus lábios pressionaram os meus levemente, um beijo casto que foi o suficiente para meu corpo se acender.

Ergui meus braços até o pescoço de Oliver, as mãos dele foram direto para minha cintura, me puxando para mais perto. Sua língua despertou a minha quando a tocou, e então o beijo não era mais calmo, não era mais doce, não era mais terno.

O beijo era fogo e tempestade, arrepios e tremores, suspiros e gemidos, pele contra pele.

O corpo de Oliver me empurrou para trás, até que eu senti a mesa de metal em minhas costas. Rapidamente Oliver me ergueu e eu sentei na mesa, sentindo o frio do metal contra minha coxas. Abri minhas pernas e as trancei em Oliver, que me puxou para tão perto que eu fiquei na beirada da mesa, senti que meu vestido subia cada vez mais.

Passei minhas mãos por seus ombros até que Oliver tirou a jaqueta de couro. Tudo isso sem afastar sua boca da minha por mais do que poucos segundos, onde ambos tentávamos tomar fôlego.

Eu podia sentir minhas barreiras ruindo entre os lábios dele. Cada momento em que eu me recusei a pensar em nós como algo real voltava à mim e ganhava ainda mais força. Porque agora ambos nos lembraríamos desse beijo, ambos admitiríamos isso. Eu não queria que aquilo acabasse.

Uma das mãos de Oliver desceu até a parte interna de minha coxa, lentamente se arrastando para dentro de meu vestido. Ele beijava a curva de meu pescoço enquanto meu corpo tremia e minhas mãos agarravam sua blusa, puxando-o cada vez mais. Quando seus dedos tocaram-me ainda por cima da minha calcinha, soltei um gemido involuntário e então a boca de Oliver estava de volta à minha.

Eu não conseguia pensar direito, meu cérebro parecia ter derretido, meus sentidos só tinham noção da presença do corpo dele.

Oliver tirou sua mão do meio de minhas pernas e foi até a base de minhas costas, que se arrepiaram com o toque dele, seu toque foi subindo por minha coluna até alcançar meus ombros, onde o vestido voltava a me cobrir pela frente. Ele agarrou o tecido dos dois lados de meus ombros e então começou a puxá-los para a frente. Eu sabia o que aconteceria se ele tirasse meu vestido, e eu queria que acontecesse.

Meu corpo estava pronto para saltar na escuridão das sensações que viriam assim que não houvesse mais tecidos entre nós.

Mas antes que as mãos de Oliver conseguissem puxar a frente de meu vestido mais do que até onde revelava a minha clavícula, meu celular tocou. Alto e estridente, despertando-me do encantamento.

Oliver fez menção de continuar, mas eu peguei minha pequena bolsa antes. Olhei no visor e vi a foto de Sara.

– Não atenda. – ele falou, beijando meu pescoço.

Mas eu o afastei, ainda respirando pesadamente, ajeitei as mangas de meu vestido e desci da mesa, baixando-o em minha coxas também. Pude ouvir o suspiro baixo que Oliver soltou.

– Sara? – falei.

– Cadê você? – a voz dela soou preocupada.

– Eu, hã... estou no banheiro. – respondi, torcendo para que ela não estivesse no banheiro.

– Podemos ir para casa? – perguntou ela.

Franzi o cenho.

– O que aconteceu?

– Eu... nada é só... não estou me sentindo bem.

– Tudo bem. – falei para ela. Eu sabia que algo havia acontecido, mas isso não era algo para se conversar por telefone. – Onde você está?

– Estou aqui fora.

– Certo, estou saindo. – falei e então desliguei.

– O que aconteceu? – Oliver perguntou. Eu sabia que ele estava me encarando, mas eu não tinha coragem de olhar em seus olhos.

– Sara quer ir para casa.

Ele se aproximou e parou à centímetros de mim. Eu continuei sem olhá-lo até que ele colocou um dedo em meu queixo e ergueu meu rosto.

– Posso pedir para levarem ela para casa. – falou ele, um sorriso em seu rosto.

– Não posso. – falei, afastando sua mão – Ela vai dormir na minha casa hoje.

Não era mentira, mas esse não era realmente o motivo pelo qual eu não podia ficar com ele. A racionalidade estava começando à voltar para mim; e se eu ficasse, as coisas iriam até o final. Eu não conseguiria controlar meu corpo, e minha mente precisava processar o que havia acabado de acontecer em cima daquela mesa de metal.

– Tudo bem. – falou ele, dando um passo em minha direção, eu recuei levemente, sorrindo para disfarçar, mas é claro que Oliver notou e franziu a testa, demonstrando sua confusão.

Assenti com a cabeça e então me afastei, subindo as escadas de volta à boate.

Meu coração pulava no peito, feliz com o que havia acabado de acontecer. Mas minha mente estava à mil, se perguntando o que eu deveria fazer depois dessa noite. A única coisa de que eu tinha certeza, era de que tudo havia mudado.

Eu só não sabia se era para melhor, ou pior.


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Notas finais do capítulo

E as coisas esquentaram de novo! hahahahahaha
Queria deixar aqui os créditos pela cena da dança com o Tommy pras meninas do grupo Olicity no whatsapp que deram a ideia e eu não pude deixar de colocar kkkkkk espero que vocês tenham gostado.
Sobre o próximo capítulo, apenas digo à vocês: preparem-se.
É isso, beijinhos e nos vemos no capítulo 25! :D