Trapaça escrita por Sara Carneles
Notas iniciais do capítulo
Hey! Tudo bem com vocês? Espero que sim.
Bom, aqui está mais um capítulo. Tive que dividir os acontecimentos porque vi que ficaria grande demais e eu provavelmente não iria conseguir terminar de escrever tudo e postar ainda hoje. Mas espero que vocês gostem.
Boa leitura!
Chegar ao vigésimo segundo andar das Indústrias Queen e não me deparar com Felicity já em sua mesa, pronta para mais um dia de trabalho, me provocou uma sensação estranha.
Imaginei sua reação atrapalhada quando ela chegasse se desculpando e dando seus motivos.
Ao menos eu esperava que ela estivesse em seu humor espontâneo.
Desde o incidente com aquela mulher, não consegui parar de sentir remorso. Não fazia sentido, eu sabia disso; mas algo no olhar de Felicity me deixava inquieto. Era como se ele não fosse o mesmo depois do ocorrido. Eu temia que nosso relacionamento nunca mais voltasse a ser como antes, e isso me assustava de uma maneira que eu também não conseguia entender.
Demorei horas para dormir ontem à noite, mesmo sentindo cada músculo de meu corpo doendo por conta do cansaço. Fiquei imaginando formas de conversar com ela sobre aquela situação, tentar reparar toda a confusão que eu mesmo havia feito na esperança de mantermos a amizade que tínhamos conseguido construir ao longo dos meses.
Por isso eu estava ansioso para que ela chegasse logo na empresa. Eu queria conversar.
Trinta minutos de atraso e nenhum sinal de Felicity. Comecei a imaginar se ela não havia bebido demais na noite anterior, no encontro com o garoto do Departamento de Ciências.
Só de imaginar as coisas que ele podia fazer com ela bêbada, uma raiva crescia dentro de mim.
Respirei fundo e tentei me ater ao trabalho.
Uma hora de atraso. Eu já estava ficando preocupado; Felicity nunca se atrasou menos do que dez minutos.
Diggle estava tentando me acalmar; mas a cada minuto meu nervosismo crescia mais e mais.
O celular dela só dava caixa postal. Usei até o celular de John, pensando que talvez ela não atendesse porque sabia que era eu quem estava ligando. Não funcionou.
Suspirei, me levantando e indo em direção à saída de minha sala.
– Onde vai? – perguntou Diggle, já me seguindo.
Não consegui conter meu olhar ao ver a mesa de Felicity vazia.
– Falar com Sara. Talvez ela saiba onde Felicity está.
Bati na porta apenas por formalidade, pois não esperei resposta, entrei em um rompante.
– Oliver? – Sara pareceu surpresa, o sorriso em seu rosto murchou ao observar minha expressão – O que aconteceu?
– Felicity. – falei – Ela ainda não chegou. Você sabe onde ela pode estar?
Sara franziu o cenho.
– Não... – respondeu ela, minhas esperanças se perdendo com aquela pequena palavra. – Já tentou ligar para ela?
Confirmei. Sara já estava com seu celular em mãos, discando o número de Felicity. Esperei para ver se dessa vez ela atendia, mas a frustração no rosto de Sara respondia minha dúvida.
Saí da pequena sala sem dizer mais nada.
– E agora? – Diggle perguntou, alcançando-me e ficando ao meu lado enquanto eu praticamente corria em direção aos elevadores.
– Preciso que você pegue o carro e vá até a casa dela. – falei – Eu vou ter uma conversinha com aquele garoto.
– Oliver, você precisa se acalmar. Não pode fazer uma cena, as pessoas vão desconfiar do relacionamento de vocês.
Eu sabia que Diggle estava certo, mas no momento eu não dava a mínima.
– Apenas pegue o carro e vá até o apartamento de Felicity, Diggle. – falei, virando-me e o encarando já em frente ao elevador – Eu cuido do resto.
John suspirou. Não havia muito o que discutir; eu não ia mudar de ideia.
Não demorei para encontrar Barry Allen quando parei no décimo quinto andar.
– Senhor Allen. – eu o cumprimentei, juntando todas as minhas forças para não agarrá-lo pela gola do jaleco e o arrastar até uma sala onde eu pudesse ameaçá-lo até ele me contar o que sabia sobre o sumiço de Felicity.
– Senhor Queen?! – falou ele, a expressão confusa.
Vi de relance alguns rostos virarem-se em nossa direção à menção de meu sobrenome.
– Preciso falar com você. – falei, sem muita paciência.
– Claro, claro... por aqui. – ele acenou para uma sala mais à frente. – Algum problema? – perguntou ele assim que entramos.
– Na verdade sim. – falei – Estou ciente de que você e minha assistente são... próximos – falei, franzindo a testa ao dizer aquelas palavras – e ela ainda não chegou para o trabalho hoje, nem atende às minhas ligações. Estava me perguntando se você talvez saiba onde ela está.
Pude ver seu rosto demonstrar surpresa.
– Bem, eu... eu não sei. – falou ele – Não falo com Felicity desde sexta-feira.
Sexta-feira? Como isso era possível?
– Vocês não se encontraram ontem? – perguntei antes que pudesse frear à mim mesmo.
Pude ver uma expressão genuína de confusão no rosto dele.
– Ontem? Não. – respondeu – Ontem eu estava em Central City, visitando minha família.
Suspirei. O garoto aparentava nervosismo, mas apenas isso. Não parecia estar mentindo; eu tinha talento para perceber quando alguém mentia, e esse não era o caso.
Assenti para ele e saí.
Já estava chamando o elevador quando meu celular tocou. Era Diggle.
– Oliver... – chamou ele assim que atendi. Senti meu sangue gelar com o tom de sua voz. – Acho que Felicity foi sequestrada.
***
– Nós precisamos fazer algo! – gritei para Diggle, que tentava manter a voz calma. Isso só me irritava mais.
– Precisamos contatar a polícia. – falou ele.
– Não! – falei – Precisamos resolver isso por nós mesmos.
Estávamos no subsolo de minha boate nos Glades, onde Felicity me resgatou de uma ressaca meses atrás. Eu tinha planejado mostrar o lugar à ela essa noite, cumprindo a ideia que ela mesma teve de termos um local onde pudéssemos guardar todas as pistas, documentos e outros papéis da investigação. Aquela lembrança fez uma dor crescer em mim. Felicity estava correndo perigo, e a culpa era totalmente minha.
– Não há nada que possamos fazer por nós mesmos. – Diggle respondeu – Eu também quero trazê-la de volta, cara. Mas não vejo como conseguiremos fazer isso sem a ajuda da polícia.
Minha mente estava à mil, mas tudo podia se resumir ao olhar inocente de Felicity, a imagem de seus olhos azuis brilhantes carregados de pavor e medo.
Bati com os punhos na mesa de inox em minha frente. Os nós de meus dedos protestaram com a dor, mas eu a ignorei.
De repente algo me veio à mente.
– John, você é militar. – falei – Você sabe como criar táticas.
Diggle sabia onde eu queria chegar, e seu olhar me dizia que ele não iria concordar com aquilo de jeito nenhum.
– Correção. – falou ele, levantando um dedo para mim – Eu sou ex-militar. E você não vai fazer o que eu acho que você vai fazer.
– Preciso da sua ajuda. – pedi – Mas se você não quiser fazer isso, tudo bem; farei sozinho.
– Você vai se matar! – Diggle gritou – Vai se matar e provavelmente vai matá-la também!
Engoli em seco, mas dei de ombros, fingindo indiferença. Dei as costas para ele, indo em direção aos computadores.
– Oliver, onde você acha que vai encontrar armamento para isso? – Perguntou Diggle. Eu sabia que ele estava certo, meu plano não tinha lógica, mas eu já estava muito distante da racionalidade para voltar atrás. – Que merda, Oliver! – Diggle gritou, pude ouvir seus passos duros me seguirem e se aproximarem.
Meu celular tocou. Peguei-o rapidamente. Olhei para o visor, o número não aparecia.
– Senhor Queen. – uma voz de homem falou assim que atendi, pude ouvir o sorriso em seu tom. – Imagino que já esteja ciente de que estamos com sua amiga...
– O que você quer? – o interrompi.
Ele riu.
– Sem muitos rodeios, não é? Tudo bem. – falou ele e então suspirou – Eu quero todos os arquivos e documentos que você tem sobre essa investigação ridícula que vocês três vêm fazendo. E nem tente fazer cópias. Eu vou saber.
Suspirei. Não havia como negar aquilo. A vida de Felicity dependia disso, e era culpa minha que ela estava nessa situação, em primeiro lugar.
– Tempo é vida, senhor Queen. – o homem alertou.
– Tudo bem. – falei por fim – Entregarei tudo. Mas primeiro me deixe falar com ela.
– É justo. – respondeu.
Esperei alguns segundos, até que a voz embargada de Felicity era tudo o que eu conseguia ouvir.
– Oliver... – falou ela, fechei meus olhos, tentando apagar a imagem de Felicity machucada.
– Você está ferida? – perguntei.
– Não, estou bem. – falou ela, a voz trêmula, mas não indicando sinal de choro – Apenas prepare alguns band-aids...
Sua voz se perdeu quando o sequestrador pegou o telefone de volta.
– Ela está viva. – falou ele, os traços de humor desapareceram de sua voz – Leve tudo para o endereço que você receberá na mensagem. E não tente nenhuma gracinha, ou você terá que conviver com a morte de uma pessoa em suas mãos. E eu odiaria ter que matar uma garota tão bonita...
A última coisa que ouvi antes da ligação cair, foi a mistura de uma risada masculina, com um grito que claramente vinha de Felicity.
Senti o ódio tomar conta de meus pensamentos. Tive vontade de jogar o celular o mais longe possível, mas eu não podia.
– Conseguiu? – perguntei à Diggle, que estava sentado em frente ao computador.
Ele assentiu.
– Tem certeza de que quer fazer isso? – perguntou ele.
A voz de John parecia preocupada, mas eu não olhava para ele, meus olhos estavam focados no endereço piscando na tela do computador. O endereço de onde Felicity estava sendo mantida.
Assenti para Diggle.
– Eu nunca mais vou rir dessa ideia de palavras-chave. – falei.
Lembrei-me da noite em que estávamos os três lendo papéis, tentando encontrar alguma pista que nos desse um rumo a seguir, quando Felicity veio com a ideia.
– Nós deveríamos criar palavras-chave. – falou ela, quebrando o silêncio de minha sala. Diggle e eu a observamos sem entender – Sabem, caso algum de nós seja sequestrado... É sério! – enfatizou ela ao ver que nenhum de nós estava convicto da ideia.
– Certo. – eu falei rindo – O que você sugere?
– Não sei. Tem que ser algo que não levante suspeitas...
Olhei para Diggle, ele deu de ombros.
– Parece uma boa ideia.
– Já sei! – falou ela – Me perguntem se eu estou ferida, quer dizer, não perguntem aqui, porque é claro que eu estou bem, eu digo, no caso de eu ser sequestrada, perguntem algo relacionado à isso.
– E o que você vai responder? –Diggle quis saber.
Ela pensou por algum tempo.
– Se eu usar a palavra band-aid, quer dizer que a linha não é criptografada e que pode ser rastreada.
– E se não for...? – perguntei.
– Se não for, usarei a palavra curativo. Então vocês terão que chamar a polícia.
Eu ri. A ideia parecia totalmente sem sentido, Felicity não ficou feliz com minha reação. Eu sabia que não deveria debochar de seu plano, mas na verdade eu estava tentando disfarçar o medo que senti quando imaginei a possibilidade de ela ser sequestrada.
Agora esse medo era real. Ela estava em perigo, eu não a protegi direito como havia prometido quando ela aceitou entrar para essa cruzada.
Respirei fundo, tentando manter a raiva sob controle. Ainda havia esperança; graças à Felicity, tudo acabaria bem.
Por que eu iria resgatá-la.
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Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!Notas finais do capítulo
Será que esse plano mirabolante deles vai funcionar? No próximo capítulo vocês saberão. hahahah
Beijos!