Trapaça escrita por Sara Carneles


Capítulo 21
Palavras-chave


Notas iniciais do capítulo

Hey! Tudo bem com vocês? Espero que sim.
Bom, aqui está mais um capítulo. Tive que dividir os acontecimentos porque vi que ficaria grande demais e eu provavelmente não iria conseguir terminar de escrever tudo e postar ainda hoje. Mas espero que vocês gostem.
Boa leitura!



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/612645/chapter/21

Chegar ao vigésimo segundo andar das Indústrias Queen e não me deparar com Felicity já em sua mesa, pronta para mais um dia de trabalho, me provocou uma sensação estranha.

Imaginei sua reação atrapalhada quando ela chegasse se desculpando e dando seus motivos.

Ao menos eu esperava que ela estivesse em seu humor espontâneo.

Desde o incidente com aquela mulher, não consegui parar de sentir remorso. Não fazia sentido, eu sabia disso; mas algo no olhar de Felicity me deixava inquieto. Era como se ele não fosse o mesmo depois do ocorrido. Eu temia que nosso relacionamento nunca mais voltasse a ser como antes, e isso me assustava de uma maneira que eu também não conseguia entender.

Demorei horas para dormir ontem à noite, mesmo sentindo cada músculo de meu corpo doendo por conta do cansaço. Fiquei imaginando formas de conversar com ela sobre aquela situação, tentar reparar toda a confusão que eu mesmo havia feito na esperança de mantermos a amizade que tínhamos conseguido construir ao longo dos meses.

Por isso eu estava ansioso para que ela chegasse logo na empresa. Eu queria conversar.

Trinta minutos de atraso e nenhum sinal de Felicity. Comecei a imaginar se ela não havia bebido demais na noite anterior, no encontro com o garoto do Departamento de Ciências.

Só de imaginar as coisas que ele podia fazer com ela bêbada, uma raiva crescia dentro de mim.

Respirei fundo e tentei me ater ao trabalho.

Uma hora de atraso. Eu já estava ficando preocupado; Felicity nunca se atrasou menos do que dez minutos.

Diggle estava tentando me acalmar; mas a cada minuto meu nervosismo crescia mais e mais.

O celular dela só dava caixa postal. Usei até o celular de John, pensando que talvez ela não atendesse porque sabia que era eu quem estava ligando. Não funcionou.

Suspirei, me levantando e indo em direção à saída de minha sala.

– Onde vai? – perguntou Diggle, já me seguindo.

Não consegui conter meu olhar ao ver a mesa de Felicity vazia.

– Falar com Sara. Talvez ela saiba onde Felicity está.

Bati na porta apenas por formalidade, pois não esperei resposta, entrei em um rompante.

– Oliver? – Sara pareceu surpresa, o sorriso em seu rosto murchou ao observar minha expressão – O que aconteceu?

– Felicity. – falei – Ela ainda não chegou. Você sabe onde ela pode estar?

Sara franziu o cenho.

– Não... – respondeu ela, minhas esperanças se perdendo com aquela pequena palavra. – Já tentou ligar para ela?

Confirmei. Sara já estava com seu celular em mãos, discando o número de Felicity. Esperei para ver se dessa vez ela atendia, mas a frustração no rosto de Sara respondia minha dúvida.

Saí da pequena sala sem dizer mais nada.

– E agora? – Diggle perguntou, alcançando-me e ficando ao meu lado enquanto eu praticamente corria em direção aos elevadores.

– Preciso que você pegue o carro e vá até a casa dela. – falei – Eu vou ter uma conversinha com aquele garoto.

– Oliver, você precisa se acalmar. Não pode fazer uma cena, as pessoas vão desconfiar do relacionamento de vocês.

Eu sabia que Diggle estava certo, mas no momento eu não dava a mínima.

– Apenas pegue o carro e vá até o apartamento de Felicity, Diggle. – falei, virando-me e o encarando já em frente ao elevador – Eu cuido do resto.

John suspirou. Não havia muito o que discutir; eu não ia mudar de ideia.

Não demorei para encontrar Barry Allen quando parei no décimo quinto andar.

– Senhor Allen. – eu o cumprimentei, juntando todas as minhas forças para não agarrá-lo pela gola do jaleco e o arrastar até uma sala onde eu pudesse ameaçá-lo até ele me contar o que sabia sobre o sumiço de Felicity.

– Senhor Queen?! – falou ele, a expressão confusa.

Vi de relance alguns rostos virarem-se em nossa direção à menção de meu sobrenome.

– Preciso falar com você. – falei, sem muita paciência.

– Claro, claro... por aqui. – ele acenou para uma sala mais à frente. – Algum problema? – perguntou ele assim que entramos.

– Na verdade sim. – falei – Estou ciente de que você e minha assistente são... próximos – falei, franzindo a testa ao dizer aquelas palavras – e ela ainda não chegou para o trabalho hoje, nem atende às minhas ligações. Estava me perguntando se você talvez saiba onde ela está.

Pude ver seu rosto demonstrar surpresa.

– Bem, eu... eu não sei. – falou ele – Não falo com Felicity desde sexta-feira.

Sexta-feira? Como isso era possível?

– Vocês não se encontraram ontem? – perguntei antes que pudesse frear à mim mesmo.

Pude ver uma expressão genuína de confusão no rosto dele.

– Ontem? Não. – respondeu – Ontem eu estava em Central City, visitando minha família.

Suspirei. O garoto aparentava nervosismo, mas apenas isso. Não parecia estar mentindo; eu tinha talento para perceber quando alguém mentia, e esse não era o caso.

Assenti para ele e saí.

Já estava chamando o elevador quando meu celular tocou. Era Diggle.

– Oliver... – chamou ele assim que atendi. Senti meu sangue gelar com o tom de sua voz. – Acho que Felicity foi sequestrada.

***

– Nós precisamos fazer algo! – gritei para Diggle, que tentava manter a voz calma. Isso só me irritava mais.

– Precisamos contatar a polícia. – falou ele.

– Não! – falei – Precisamos resolver isso por nós mesmos.

Estávamos no subsolo de minha boate nos Glades, onde Felicity me resgatou de uma ressaca meses atrás. Eu tinha planejado mostrar o lugar à ela essa noite, cumprindo a ideia que ela mesma teve de termos um local onde pudéssemos guardar todas as pistas, documentos e outros papéis da investigação. Aquela lembrança fez uma dor crescer em mim. Felicity estava correndo perigo, e a culpa era totalmente minha.

– Não há nada que possamos fazer por nós mesmos. – Diggle respondeu – Eu também quero trazê-la de volta, cara. Mas não vejo como conseguiremos fazer isso sem a ajuda da polícia.

Minha mente estava à mil, mas tudo podia se resumir ao olhar inocente de Felicity, a imagem de seus olhos azuis brilhantes carregados de pavor e medo.

Bati com os punhos na mesa de inox em minha frente. Os nós de meus dedos protestaram com a dor, mas eu a ignorei.

De repente algo me veio à mente.

– John, você é militar. – falei – Você sabe como criar táticas.

Diggle sabia onde eu queria chegar, e seu olhar me dizia que ele não iria concordar com aquilo de jeito nenhum.

– Correção. – falou ele, levantando um dedo para mim – Eu sou ex-militar. E você não vai fazer o que eu acho que você vai fazer.

– Preciso da sua ajuda. – pedi – Mas se você não quiser fazer isso, tudo bem; farei sozinho.

– Você vai se matar! – Diggle gritou – Vai se matar e provavelmente vai matá-la também!

Engoli em seco, mas dei de ombros, fingindo indiferença. Dei as costas para ele, indo em direção aos computadores.

– Oliver, onde você acha que vai encontrar armamento para isso? – Perguntou Diggle. Eu sabia que ele estava certo, meu plano não tinha lógica, mas eu já estava muito distante da racionalidade para voltar atrás. – Que merda, Oliver! – Diggle gritou, pude ouvir seus passos duros me seguirem e se aproximarem.

Meu celular tocou. Peguei-o rapidamente. Olhei para o visor, o número não aparecia.

– Senhor Queen. – uma voz de homem falou assim que atendi, pude ouvir o sorriso em seu tom. – Imagino que já esteja ciente de que estamos com sua amiga...

– O que você quer? – o interrompi.

Ele riu.

– Sem muitos rodeios, não é? Tudo bem. – falou ele e então suspirou – Eu quero todos os arquivos e documentos que você tem sobre essa investigação ridícula que vocês três vêm fazendo. E nem tente fazer cópias. Eu vou saber.

Suspirei. Não havia como negar aquilo. A vida de Felicity dependia disso, e era culpa minha que ela estava nessa situação, em primeiro lugar.

– Tempo é vida, senhor Queen. – o homem alertou.

– Tudo bem. – falei por fim – Entregarei tudo. Mas primeiro me deixe falar com ela.

– É justo. – respondeu.

Esperei alguns segundos, até que a voz embargada de Felicity era tudo o que eu conseguia ouvir.

– Oliver... – falou ela, fechei meus olhos, tentando apagar a imagem de Felicity machucada.

– Você está ferida? – perguntei.

– Não, estou bem. – falou ela, a voz trêmula, mas não indicando sinal de choro – Apenas prepare alguns band-aids...

Sua voz se perdeu quando o sequestrador pegou o telefone de volta.

– Ela está viva. – falou ele, os traços de humor desapareceram de sua voz – Leve tudo para o endereço que você receberá na mensagem. E não tente nenhuma gracinha, ou você terá que conviver com a morte de uma pessoa em suas mãos. E eu odiaria ter que matar uma garota tão bonita...

A última coisa que ouvi antes da ligação cair, foi a mistura de uma risada masculina, com um grito que claramente vinha de Felicity.

Senti o ódio tomar conta de meus pensamentos. Tive vontade de jogar o celular o mais longe possível, mas eu não podia.

– Conseguiu? – perguntei à Diggle, que estava sentado em frente ao computador.

Ele assentiu.

– Tem certeza de que quer fazer isso? – perguntou ele.

A voz de John parecia preocupada, mas eu não olhava para ele, meus olhos estavam focados no endereço piscando na tela do computador. O endereço de onde Felicity estava sendo mantida.

Assenti para Diggle.

– Eu nunca mais vou rir dessa ideia de palavras-chave. – falei.

Lembrei-me da noite em que estávamos os três lendo papéis, tentando encontrar alguma pista que nos desse um rumo a seguir, quando Felicity veio com a ideia.

– Nós deveríamos criar palavras-chave. – falou ela, quebrando o silêncio de minha sala. Diggle e eu a observamos sem entender – Sabem, caso algum de nós seja sequestrado... É sério! – enfatizou ela ao ver que nenhum de nós estava convicto da ideia.

– Certo. – eu falei rindo – O que você sugere?

– Não sei. Tem que ser algo que não levante suspeitas...

Olhei para Diggle, ele deu de ombros.

– Parece uma boa ideia.

– Já sei! – falou ela – Me perguntem se eu estou ferida, quer dizer, não perguntem aqui, porque é claro que eu estou bem, eu digo, no caso de eu ser sequestrada, perguntem algo relacionado à isso.

– E o que você vai responder? –Diggle quis saber.

Ela pensou por algum tempo.

– Se eu usar a palavra band-aid, quer dizer que a linha não é criptografada e que pode ser rastreada.

– E se não for...? – perguntei.

– Se não for, usarei a palavra curativo. Então vocês terão que chamar a polícia.

Eu ri. A ideia parecia totalmente sem sentido, Felicity não ficou feliz com minha reação. Eu sabia que não deveria debochar de seu plano, mas na verdade eu estava tentando disfarçar o medo que senti quando imaginei a possibilidade de ela ser sequestrada.

Agora esse medo era real. Ela estava em perigo, eu não a protegi direito como havia prometido quando ela aceitou entrar para essa cruzada.

Respirei fundo, tentando manter a raiva sob controle. Ainda havia esperança; graças à Felicity, tudo acabaria bem.

Por que eu iria resgatá-la.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Será que esse plano mirabolante deles vai funcionar? No próximo capítulo vocês saberão. hahahah
Beijos!