Trapaça escrita por Sara Carneles


Capítulo 19
Mágoa


Notas iniciais do capítulo

Como eu havia dito antes, mais um P.O.V do Oliver!
Vou confessar que eu ri muito da reação de vocês no capítulo anterior kkkkkkkkk espero que esse possa explicar as dúvidas que ficaram.
Boa leitura!



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Acordei e ainda era noite.

Olhei para o relógio ao lado da cama e vi que ainda eram quatro horas da manhã. Fazia apenas uma hora que tínhamos voltado para o hotel. Felicity dormia ao meu lado, a janela da sacada estava aberta e o vento era frio, as luzes do quarto ainda estavam acesas, e eu podia ver a pele dela arrepiar-se com o clima do quarto; mas ela não se moveu.

Levantei-me e constatei que minha cabeça não estava tão mal como previ. Fui até a janela e a fechei, tomando cuidado para não fazer muito barulho, mesmo tendo certeza de que Felicity não moveria um músculo até o amanhecer.

Eu estava desperto, e podia sentir o cheiro de álcool que emanava de mim.

Tomei um banho e vesti uma calça. O aquecedor do quarto estava fazendo seu trabalho muito bem, e eu agradeci, pois só conseguia dormir sem camisa, e o frio lá fora não permitiria que isso acontecesse se não houvesse aquecedor aqui dentro.

Voltei para a cama quase uma hora depois, o sono não vinha, mas eu achei algo para me entreter.

Felicity dormia de bruços, e seu rosto estava virado para mim, de modo que eu podia observar sua expressão tranquila. A lembrança de minha boca consumindo a dela; aquela fome, aquele sentimento de desejo que eu nunca havia sentido em tamanha proporção... Observei-a e fiquei pensando nisso até adormecer novamente.

Minhas mãos procuraram involuntariamente pela pessoa ao meu lado, mas não a encontraram. Eu ainda podia sentir o calor que o corpo dela deixou, então imaginei que ela ainda não tinha conseguido fugir. Abri os olhos lentamente e sorri ao vê-la parada ao lado da cama.

– Hey. – eu falei, ainda tentando acordar.

Foi só depois de alguns segundos sem resposta e de uma segunda olhada para seu rosto que eu notei a pequena ruga de preocupação entre suas sobrancelhas.

– Está tudo bem? – perguntei. A expressão de Felicity foi de preocupada à indignada assim que soltei aquelas três palavras.

– Se está tudo bem? – ela pergunta, com a voz subindo algumas oitavas – Você é louco? Você me arrasta até uma boate, me enche de tequila e me leva pra sua cama e ainda vem me perguntar se está tudo bem? Pois adivinhe, não está!

Por um momento eu apenas absorvo todas as suas acusações. Sei que é verdade, mas o fato de ela pensar que eu seria tão canalha à ponto de me aproveitar dela bêbada para levá-la para a cama, me faz perceber que ela estava vendo o Oliver irresponsável, que adorava bebidas e mulheres e que não dava a mínima para elas. Aquele pensamento me magoou de uma forma que nenhuma mulher jamais conseguiu. Mas eu não deixei transparecer, muito pelo contrário, sorri para ela em deboche, como o antigo Oliver faria.

– Felicity, nós não transamos ontem à noite. – esclareço à ela – Eu posso ser um canalha, mas nunca levei ninguém praticamente em coma alcoólico para a cama. Gosto de mulheres acordadas para se fazer esse tipo de coisa...

Sua expressão tornou-se visivelmente mais leve. Ela soltou um suspiro enquanto olhava para si mesma, só então parecendo perceber que ainda usava o vestido vermelho da noite anterior. Meu orgulho ficou ferido ao notar o quanto ela pareceu aliviada por não termos feito nada naquela cama além de dormir.

Fiquei observando-a por um tempo, ela não pareceu se dar conta de que tinha meus olhos inspecionando-a. A lembrança de minhas mãos em seu corpo e do toque macio de seus lábios vieram à tona.

Levantei-me da cama e fui em busca de água. Eu podia sentir o olhar de Felicity em mim, um sorriso involuntário apareceu em meu rosto quando eu a encarei e vi suas bochechas adquirirem um tom violento de vermelho.

Ela pigarreou e desviou o olhar.

– Como eu vim parar na sua cama? – perguntou ela.

Sorri internamente com a ideia que sua pergunta transmitia.

– Não me lembro bem... – respondi, enquanto terminava de vestir uma camisa – Mas acho que você estava muito bêbada, quase vomitando e eu não conseguia achar as chaves do seu quarto dentro da sua bolsa, então nós entramos no meu. Você correu para o banheiro e depois desmaiou na cama. – eu ri, lembrando-me da forma como ela praticamente desmaiou sob os lençóis – Eu também não estava no meu melhor estado para ir dormir no sofá, então usei o outro lado.

Felicity pareceu se perder em meio à seus pensamentos. Eu ainda não havia perguntado sobre o que ela se recordava da noite anterior, e minhas esperanças eram de que ela se lembrasse do beijo, ao menos isso.

– Você não se lembra de nada? – perguntei por fim.

A espera por sua resposta pareceu ser eterna.

– Não. – respondeu ela, os olhos fixos nos meus, não deixando dúvida de que ela realmente não se lembrava – A última coisa de que me lembro é de você pedindo a conta no restaurante.

Aquilo doeu, claro que doeu. O beijo tinha sido algo que eu queria ter feito há muito tempo, aliás, desde a primeira vez que a vi, mesmo na época eu sendo um babaca, como ela mesmo havia se referido à mim uma vez. Mas com o passar dos meses as coisas foram ficando diferentes, eu mudei de uma forma que nem eu mesmo acreditaria se me dissessem, mas a vontade que eu sentia de beijar aqueles lábios rosados continuou existindo.

Eu sempre fui ótimo com mulheres, mas parecia que com Felicity, o meu timing estava totalmente perdido.

Porém, por um lado era bom que ela não se lembrasse. Felicity provavelmente não ia se sentir confortável depois do incidente, talvez ela até pedisse demissão, e eu sabia que não conseguiria encontrar outra pessoa tão competente e confiável como ela.

Era hora do Oliver responsável tomar as rédeas da situação. Eu não podia ser egoísta e me a arriscar perder uma profissional como ela por causa de meus caprichos de homem. Não, eu precisava pensar na empresa.

Tudo isso rodou em minha cabeça em questão de segundos. Olhei para Felicity e sorri.

– Eu também. – disse à ela – me lembro mais de como chegamos na boate e saímos, o tempo lá dentro é um completo apagão na minha cabeça.

Ela concorda e me lança um sorriso.

– Acho melhor eu ir para o meu quarto. – ela fala enquanto pega suas coisas.

Aceno com a cabeça. Ela já está indo em direção à porta quando vira-se novamente.

– Que horas partiremos? – questiona ela.

Lembro-me que ainda tenho o presente de Thea para comprar e meneio com a cabeça.

– No fim da tarde. – digo à ela – Pode descansar, eu aviso o horário certo depois.

Felicity concorda.

– Tudo bem. Até mais.

Ela sai pela porta antes que eu possa dizer mais alguma coisa.

***

– Está tudo bem, Oliver? – Diggle pergunta.

– O que? – desperto de meus pensamentos – Ah sim, tudo bem, é só a ressaca.

Estávamos no restaurante do hotel. Eu estava tentando me concentrar no almoço, mas minha mente ficava vagando por imagens da noite anterior.

Diggle riu.

– A noite deve ter sido interessante. – comentou ele – Como Felicity está?

– Dormindo. – respondi, vagamente.

– No quarto dela? – pergunta ele, um sorriso malicioso no rosto.

Eu sabia onde ele queria chegar.

– Sim, John, no quarto dela. – disse, não sei porquê me irritei com isso, talvez pelo fato de que na verdade eu queria ter o orgulho de dizer que ela estava em minha cama, cansada depois de uma noite incrível comigo. Mas essa não era a realidade.

Diggle pareceu sentir que eu não estava para muita conversa.

– As peças do leilão devem chegar daqui à uma hora.

O livro. Eu nem havia me lembrado do motivo de estarmos ali. Minha cabeça estava à mil, mas os pensamentos eram todos direcionados à uma pessoa dormindo no quarto ao lado do meu nesse exato momento.

– Sobre isso... – falei – preciso que você receba o livro e o quadro. Vou ter que sair para comprar o presente de Thea.

Ele concordou e então levantou-se da mesa.

– Boa sorte. – falou ele, rindo.

Levantei-me também. Diggle foi em direção aos elevadores enquanto eu fui em direção às ruas de Barcelona.

Havia um shopping perto do hotel, então decidi dispensar o carro e ir à pé até lá.

O sol do meio-dia estava forte, mas o vento que vinha do mar impedia que o clima ficasse abafado. Caminhei tranquilamente até chegar em meu destino. Eu não sabia ao certo o que comprar, então fiquei vagueando pelas lojas, sem vontade de entrar e ouvir todo aquele sermão dos vendedores.

Por fim, acabei optando por uma loja da Cartier fora do shopping. A atendente ajudou-me a escolher a jóia através dos detalhes que dei sobre os gostos de minha irmã; saí de lá com uma pulseira de rubis e ouro branco; aliviado por não precisar mais me preocupar com isso.

Já era passado das três horas quando voltei ao meu quarto. Guardei o presente de Thea na mala e fui até o quarto de Felicity para avisá-la do tempo que ainda tínhamos ali.

Bati quatro vezes antes que ela abrisse.

– Oi. – falou ela com os olhos apertados, indicando que eu havia acordado-a. Mas não era nisso que eu estava reparando.

Felicity usava apenas uma camisola rosa que deixava suas pernas totalmente à mostra. O tecido era fino e revelava que ela não estava usando sutiã.

Ela parecia um anjo, os cabelos loiros como uma coroa em volta de seu rosto de menina, mas em contra partida, seu corpo era espetacular e não deixavam dúvidas de que ela tinha curvas de mulher.

Minha boca salivou com o desejo e as imagens que se infiltraram sem convite. A ideia de agarrá-la aqui e agora era tanta que tive de fechar minhas mãos em punho, colocando-as para trás.

Foi só com a minha nada discreta secada, que Felicity percebeu que estava de camisola. Ela tentou se esconder parcialmente atrás da porta, mas já era tarde demais. A imagem de suas pernas maravilhosas me assombraria por tempo indeterminado.

Sorri para ela, mantendo as mãos para trás.

– Sairemos em uma hora. – falei com os dentes trincados.

– Tudo bem. – respondeu ela, os olhos azuis analisando-me.

Eu não conseguia aguentar aquilo por mais tempo, então não disse mais nada, apenas me retirei.

Passei direto por meu quarto em fui em direção aos elevadores. Não sabia bem para onde estava indo, só sabia que tinha que manter uma distância segura de Felicity antes que meu lado responsável sucumbisse ao desejo.

Acabei indo parar no bar do hotel. Já havia tomado algumas belas doses de uísque quando senti a presença de alguém.

– Posso me sentar? – perguntou a mulher com a voz sedosa.

Virei-me e encarei um par de olhos castanhos. Não fiz questão de ser sutil ao analisá-la dos pés à cabeça.

Ela era gostosa, isso eu não podia negar. Usava um vestido verde e um sapato preto com um salto tão fino que poderia matar alguém se pisasse em cima. Devia ter uns vinte e três anos, a mesma idade de Felicity, porém o olhar dela não tinha a mesma inocência, o brilho deles não me despertava nada, mas ela se esforçava para deixar claro que me desejava. Passou sua mão em minha perna fingindo se apoiar para se sentar ao meu lado no balcão do bar.

Ela sorriu para mim e eu sorri em resposta.

– Está esperando alguém? – perguntou ela.

Neguei com a cabeça.

– Estou hospedado aqui.

– Eu também. – ela riu forçadamente.

O restante da conversa foi um borrão em minha mente. Eu não fiz nenhuma questão de prestar atenção ao que ela dizia, e não tive muita relutância quando a convidei para que subíssemos ao meu quarto.

Eu precisava daquilo. Precisava de um bom sexo casual para ajudar com o desejo que me consumia.

A garota gemia meu nome, embora eu não lembrasse de ter dito à ela.

Tirei seu vestido e a levei para cama. Eu queria que ela parasse de falar, porque cada vez que eu ouvia sua voz, um sentimento de insatisfação se apoderava de mim. Não era essa a voz que eu queria ouvir.

Ela já estava sem sutiã, eu já estava sem camisa, quando algumas batidas na porta interromperam-nos.

Praguejei baixo enquanto ia à passos duros atender a porta.

A curiosidade me fez chamá-la antes que minha racionalidade me mandasse calar a boca. O que ela estava fazendo ali?

– Felicity?

Ela voltou rapidamente, com um sorriso inocente nos lábios. Seus olhos passearam por meu abdômen e suas bochechas ficaram vermelhas. Algo dentro de mim se quebrou naquele momento.

– Oi. – falou ela, timidamente – acho que deixei meu celular no seu quarto, não consigo encontrá-lo...

Senti duas mãos me abraçarem por trás enquanto meus olhos observavam o sorriso de Felicity desaparecer e dar lugar à uma expressão de espanto. Meu corpo estava congelado, eu não sabia o que fazer.

– Quem é essa? – perguntou a garota atrás de mim.

Felicity olhou em meus olhos, um sorriso forçado em seu rosto sempre tão sincero.

– Ninguém. – respondeu ela, dando as costas para mim e voltado para o seu quarto.

Não sei por quanto tempo fiquei ali parado, sem reação alguma. A garota falou alguma coisa, mas eu não ouvi.

– Você precisa ir embora. – eu disse.

– O que? – perguntou ela, indignada. – Mas nós nem...

– Agora! – quase gritei para ela.

A raiva estava me deixando cada vez mais irracional. Mas o pior de tudo é que eu sabia que essa raiva era de mim mesmo.

Pensei em ir até o quarto de Felicity para conversar. Mas sobre o que? Ela já pensava que eu era um cafajeste. Não faria sentido tentar mostrar à ela que eu havia mudado, ainda mais depois dessa última cena.

Além do mais, eu ainda precisava entender porquê eu estava me sentindo culpado. Eu havia beijado minha assistente? Sim, mas ela não se lembrava disso, eu não devia nada à ela, mas a culpa que eu senti quando vi o olhar que Felicity me lançou...

Fiquei pensando nisso por tanto tempo que não me dei conta de que horas já eram.

Eu precisava me vestir, estava quase na hora de irmos para o aeroporto, de volta à Starling City.

A viagem seria longa.


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Notas finais do capítulo

E aí gente, o que estão achando? Não esqueçam de fazer a minha alegria com um comentário. Vocês sabem que todo autor precisa de incentivo. hahahah
Beijos e até o próximo capítulo!