Trapaça escrita por Sara Carneles


Capítulo 11
Queimando


Notas iniciais do capítulo

Hey! Mais um capítulo hoje gente.
Eu pensei que seria bom escrever com o P.O.V do Oliver mais uma vez, já que todos ficaram se perguntando o motivo de ter acontecido aquilo com ele no final do capítulo anterior. Tentei explicar sem fazer muitas revelações porque quero que vocês comecem a fazer suposições hahahahahaha
Espero que gostem do capítulo.



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Estava sendo muito difícil cumprir a promessa que fiz à minha mãe no início da manhã de não me estressar com nada no trabalho, pelo menos por hoje.

Eram 16:18 da tarde, Felicity ainda estava trabalhando e eu tinha que dispensá-la para que ela pudesse estar pronta para o jantar beneficente de hoje à noite. Eu tinha que admitir para mim mesmo que uma das poucas coisas que realmente me animavam era estar curioso para vê-la fora de sua área de conforto. Mesmo sabendo que já tinha visto-a naquela noite na Verdant, eu não podia contar, pois estava tão bêbado que não conseguia lembrar de nenhum fragmento da noite.
Por semanas eu a vi trabalhar na organização do evento. Até perguntei à ela se não era trabalho demais, mas ela se negou a desacelerar.

O toque do celular me desperta, olho o visor e sorrio.

– Você por acaso usou o número daquela Meghan do Starling Jornal? – Tommy pergunta, sem cerimônias.

– Ahn... eu não lembro. – falei.

– Que novidade. – ele bufou.

– Por quê quer saber?

– Estou sem acompanhante. – falou ele, e depois acrescentou: – Ei, você se importa se eu convidar a Felicity?

Senti um gosto metálico na boca.

– Ela vai estar lá à trabalho. – falei, tentando soar ainda animado com a conversa, mas falhando.

Tommy ri.

– Bem isso não impede nada. – respondeu ele.

– Ela já vai como minha acompanhante. – retruquei sem pensar.

Silêncio.

– Vocês estão saindo? – Tommy perguntou, apreensivo.

Suspirei.

– Não. É só trabalho.

– Mas você bem que queria.

– Cale a boca, Merlyn, ou eu desligo na sua cara. – falei.

Ele riu.

– Certo, certo... vou continuar procurando.

– Tudo bem.

– Ah, e vê se não esquece, hein. – falou ele.

Franzi a testa.

– Do quê?

– De tomar um banho. – riu ele.

– Idiota.– falei, mas ri também.

Assim que desliguei o celular, meus pensamentos se voltaram para a pergunta: por que eu não concordei com Tommy levar Felicity como acompanhante? Eu não planejava levá-la e ele parecia interessado nela há semanas.

A verdade é que eu o conhecia e sabia que apesar do jeito educado e gentil que ele tinha, e apesar de ele ser o meu melhor amigo, Tommy tinha a mesma natureza que eu. Ambos adorávamos festas, bebidas e mulheres, e apesar de eu não estar praticando nada disso nos últimos tempos, ainda era parte de mim, e Felicity simplesmente não se encaixava naquele mundo. Ela não era como as garotas que eu e ele estávamos acostumados à pegar por uma noite e não sentir nenhum remorso. Sem falar que ela era minha funcionária, eu a via todos os dias e depois do ocorrido com meu pai, via-a como uma pessoa confiável, alguém que eu precisava manter por perto, ainda mais depois de tudo o que eu vinha descobrindo nas últimas semanas...

Volto minha atenção para a batida em minha porta. Dou sinal para entrar e Felicity aproxima-se trazendo alguns papéis.

– Felicity, acho melhor você ir para casa. – falei.

Ela arregalou os olhos, assustada.

– Por que? – perguntou ela, lancei-lhe um olhar sarcástico – Ah sim, sim certo, o jantar...

Sorri.

– Certo, então eu vou deixar estes contratos com você e vou ir para casa. – falou ela, entregando-me os papéis.

– Certo. – retruquei – Vou pedir ao Diggle que passe para te buscar. Sete horas está bom, para você?

– Perfeito. – concordou ela.

– Muito bem então, nos vemos lá.

– Até.

Esperei até que ela fosse embora para voltar a analisar os papéis guardados no cofre que eu tinha na sala. Passei semanas lendo os relatórios, conferi três vezes para ter certeza de que não estava errado, mas não restavam dúvidas: haviam segredos nas Indústrias Queen, segredos que meu pai tentou me alertar, segredos que eu estava prestes à desvendar.

***

– Quer ajuda? – minha mãe pergunta enquanto me observa travar uma luta com a gravata.

– Seria bom. – falei.

Ela sorri e se aproxima.

– Como foi no trabalho? Cumpriu o prometido? – perguntou ela enquanto ajeitava a gravata com maestria.

– Foi tudo bem. E sim, eu cumpri.

– Ótimo. – ela sorriu, mas notei que seu tom de voz não era alegre em nenhum nível. – Este vai ser o primeiro evento que vamos sem ele. – comentou ela.

Concordei.

– Ao mesmo tempo em que sinto falta dele, me sinto orgulhosa de saber que vou ver você fazer o discurso hoje.

Tento sorrir, mas não consigo. Minha mãe olha em meus olhos e então eu a abraço.

– Shhh, não chore, vai ser terrível ter que consertar a maquiagem.

Minha piada idiota funciona e ela ri, afasta-se e me observa.

– Acho que estamos prontos.

– Vamos então? – digo e estendo meu braço para que minha mãe me acompanhe, ela o faz.

Descemos as escadas, Thea já está nos esperando.

– E depois são as mulheres que demoram para se arrumar... – comenta ela.

Eu rio e deixo-as seguir na frente.

Quando estou prestes à entrar no carro, meu celular vibra no bolso do paletó. Olho para o visor e percebo que é uma mensagem, sinto um arrepio, o remetente é desconhecido, então eu já sei basicamente qual é o conteúdo do texto.

"Último aviso.

Deixe as coisas do passado onde devem ficar."

– Anda logo, Ollie, nós vamos nos atrasar! – Thea me chama.

Deleto a mensagem e guardo o celular.

– Algum problema? – minha mãe pergunta assim que entro no carro.

– Não, não, nenhum. – digo e sorrio.

***

Há uma quantidade exagerada de fotógrafos quando saímos do carro. Me pergunto como eles conseguem se preocupar com a vida de gente como nós, se há tantos outros problemas e notícias importantes por aí.

Mas esta noite a divulgação é importante e faz parte. Por isso sorrimos para as câmeras, aceitamos o assédio por alguns minutos e depois entramos para o coquetel.

Avisto alguns acionistas da empresa, minha mãe me cutuca e manda que eu vá cumprimentá-los como se eu ainda tivesse 12 anos.

Após alguns minutos de uma conversa nada animadora, eu a avisto.

Felicity parece meio perdida no meio de tantas pessoas, mas eu não presto muita atenção em sua expressão facial e sim no vestido dourado que ela está usando e que favorece muito bem seu corpo.

Os cabelos cacheados estão soltos, caindo em uma cascata loira exuberante. Ela está linda.

Estou prestes à ir em sua direção quando alguém me interrompe.

– Meus parabéns, Oliver. – Malcolm, o pai de Tommy, me cumprimenta. – Pensei que este evento poderia não fazer sucesso, mas parece que as coisas vão muito bem. – ele sorri.

– Obrigado, Malcolm. – falo, apertando sua mão. O toque é frio e desagradável.

Tento sorrir para disfarçar.

– Se me der licença...

– Ah claro, desculpe. – ele sorri.

Eu me afasto.

Sinto-me estranho depois que me afasto de Malcolm, e na verdade não sei o motivo. Não era a primeira vez que nos cumprimentávamos. Ele tinha 10% das ações das Indústrias Queen, e era amigo íntimo da família, assim como Tommy e eu, meu pai e Malcolm eram grandes amigos de infância. Mas naquele momento algo parecia errado, ele parecia errado.

Tentei afastar aqueles pensamentos enquanto procurava por Felicity. Eu a havia perdido de vista, e quando a encontrei, não estava mais sozinha.

– Felicity... – toco em seu braço quando me aproximo, ela está de costas e quase pula de susto ao se dar conta de minha presença, mas eu não ligo muito para isso, pois estou lançando um olhar meio acusador para Tommy. – Você não perde uma não é, Merlyn?

Ele ri e dá de ombros. Volto minha atenção para Felicity, por um segundo não sei o que falar, de perto ela está ainda mais bonita, sem os óculos, seus olhos azuis ficam muito mais em evidência, e eu me perco por um instante neles.

– O jantar já vai começar. – falo, quando me dou conta de que não devo encará-la por muito tempo sem dizer nada. Por sorte ela não parece ter notado o efeito que causou em mim.

Depois de uma breve relutância, Felicity aceita jantar em nossa mesa, como minha acompanhante. Tudo parece muito bem, mas eu sei que a cada minuto estou mais perto de ter que subir naquele palco e fazer o discurso que ela preparou para mim.

Minha nossa, eu ando devendo muito à ela ultimamente.

Quando não há mais como adiar, eu suspiro e me levanto. Subo até o palco com um sorriso e toda a confiança que o nome Queen proporciona na frente de uma platéia.

– Boa noite, senhoras e senhores! – eu os cumprimento – Espero que todos estejam aproveitando esta noite maravilhosa.

Algumas piadas aqui, outras sacadas ali e eu ganhei o público. Na verdade, é até divertido estar ali...

Gritos de pessoas, vidro estilhaçando-se, correria, barulhos, é tudo o que absorvo dos momentos seguintes.

Procuro por minha família no meio da platéia. Não é difícil localizá-las pois estão bem próximas ao palco, meu olhar encontra o de minha mãe, de Thea e então o de Felicity. O olhar de todas estampam o mesmo sentimento que o meu: confusão.

Eu não entendo nada. Até que o grito de minha mãe se sobressai entre as outras vozes.

É o grito que ela dava quando me pegava aprontando alguma bagunça pelos arredores da Mansão, o grito que ela deu quando cheguei em casa com minha carteira de motorista, o mesmo grito que ela deu quando bati meu carro uma semana depois de tê-lo ganhado, o grito que ela deu no meio da multidão de pais e familiares no dia da minha formatura do colegial...

Era o mesmo grito, o mesmo nome, mas o tom de voz desta vez era o mais desesperado que eu já ouvira na vida.

– Oliver!

E então eu senti o impacto, a dor incomparável de algo queimando meu peito, como se uma espada em chamas estivesse atravessando-me.

Mas não era uma espada, era uma bala, e ela não mirava meu peito, seu alvo era mais específico.

Seu alvo era meu coração.


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Notas finais do capítulo

Gostaram? O próximo sai segunda-feira. Já estou escrevendo ele e não se preocupem, pois vai voltar a ser o P.O.V da Felicity kkkkkk
Beijos!