Bellarke - Antes dos 100 escrita por Commander


Capítulo 21
Tempos Difíceis




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Clarke ouviu uma discussão árdua do lado de fora da tenda. Ela estreitou os olhos, percebendo que Raven não estava mais ali. A garota se levantou da cama rapidamente e colocou as roupas, ainda mantendo a jaqueta de Bellamy sobre os ombros.

Assim que ela saiu da tenda, viu a multidão que se formava no acampamento. Os jovens estavam espalhados em um circulo mal feito, tendo Bellamy, Finn e Octavia em seu centro.

— Temos que ir. Agora. Tem um exército pronto para nos atacar, de um jeito que nunca vimos antes. – Finn anunciou, olhando para Bellamy e depois para todos os outros. – Lincoln disse que alguém nos ajudaria, se fôssemos para a praia.

O olhar de Clarke pairou sobre Bellamy, ao que parecia nem notá-la ali. Ele parecia muito concentrado em não concordar com Finn:

— Sempre soubemos que isso iria vir. A bomba na ponte pode atrasá-los por mais uns dias.

Octavia balançou a cabeça:

— Bell, não estamos preparados.

— E eles ainda não chegaram, temos tempo para nos preparar. E, além disso, para onde iríamos? Que lugar seria mais seguro que esse? – ele perguntou, olhando para cada um dos rostos culpados dos delinquentes. – Essa é nossa casa agora. Construímos esse lugar do nada com nossas próprias mãos! — ele se virou, seu olhar cruzou com o de Clarke por um minuto, mas ele logo desviou. – Os terras-firme acham que, porque nós viemos do céu, não pertencemos a esse lugar. Mas eles estão prestes a perceber um fato muito importante: Nós estamos em terra firme agora! E isso significa que... Nós somos terras-firme!

Clarke continuava a olhar para ele, admirada pelo discurso. Bellamy sempre teve mais facilidade de convencer pessoas, era exatamente por isso que ele era mais necessário ali do que ela.

— Terras-firme com armas! – um rapaz gritou, no meio da multidão.

— Exatamente! – Bellamy continuou. – Então, deixem que venham!

Ela sabia que ele estava certo, em um ponto. Mas ela não podia ficar ali, parada, enquanto eles arriscavam perder mais pessoas por apenas hipóteses. Clarke tomou a frente, andando até o meio da multidão:

— Bellamy está certo. Se nós formos embora, podemos nunca mais achar um lugar tão seguro quanto esse. E, nesse mundo, sabemos que podemos encarar alguma coisa pior amanhã. Mas isso não muda o simples fato de: Se ficarmos aqui, vamos morrer! Então, peguem as suas coisas. Só o que puderem carregar. Agora!

Os jovens se espalharam pelo lugar, correndo atrás de armas e munição. Bellamy gritou, fazendo todos eles pararem:

— Não! Não vamos embora.

Clarke olhou para ele, com os olhos arregalados:

— Bellamy, por favor, temos que ir para um lugar seguro.

Os dois ficaram em silêncio por um tempo, recebendo os olhares apreensivos de todos os delinquentes. Clarke pensou por um tempo... Eles não a conheciam, não o suficiente, não como ele, como ela esperava que a seguissem? Tudo que ela podia fazer era tentar convencer Bellamy, e isso era bem difícil também.

Bellamy cruzou os braços e olhou para ela com desprezo, como se ela fosse um dos terrestres:

— Não estou te prendendo. Está livre para ir.

Clarke sentiu aquilo atingi-la como um chute. Então, para ele, tanto faz se ela fosse embora e morresse sozinha? Depois de tudo que Raven disse que ele fez por ela, a garota esperava algo totalmente diferente.

— Não devemos ouvir uma terra-firme! – Sayer disse, apontando para Clarke. Ela não reparou que seu cabelo ainda estava trançado. O garoto se aproximou dela. – Vocês se lembram de como ela chegou aqui!

Bellamy resistiu ao impulso de interromper Sayer e se pôr no meio dos dois. Ela sabe se virar sozinha, não precisa de mim, ele se obrigou a pensar.

— Eu não sou uma terra-firme, seu idiota! – Clarke se defendeu. Ela passou as mãos pelo cabelo, desfazendo o penteado terrestre. – Ao contrário de você, que não faz a menor ideia de como sobreviver fora desses portões, eu tive que arrumar um jeito de andar pela floresta sem chamar atenção. Não faço parte do povo deles, mas não subestimo sua força, e é exatamente por isso que eu quero salvar o nosso.

— Ninguém sai, até eu decidir. – Bellamy concluiu, balançando a cabeça. Ele mantinha as mãos no coldre da arma, como sempre, quando disse. – Voltem ao trabalho.

Aos poucos, a multidão foi se espalhando, o que dificultou a chegada de Clarke até o Blake.

— Bellamy! – Clarke chamou, mas ele não respondeu, apenas continuou caminhando até a floresta.

Sentiu alguém segurar em seu braço. Era uma garota de cabelos castanhos escuros e os olhos verdes expressivos. Clarke demorou um tempo até notar que ela era quem estava em frente a sua cama, falando com ela.

— Tem que deixar o meu irmão esfriar a cabeça. – ela avisou, bufando. – Ele é bem grandinho, mas também é bem idiota, quando quer.

Clarke percorreu as mãos pela calça, secando o suor. Octavia era exatamente do mesmo jeito que Bellamy descrevera. Os irmãos Blake eram iguais, de jeitos completamente diferentes.

— Posso te fazer uma pergunta? – Clarke fez uma pausa. Octavia ergueu as sobrancelhas. – O que aconteceu desde que eu fui embora?

Ela deu de ombros:

— Foram... Tempos difíceis, como todo mundo chamou. O melhor amigo dele morreu por causa da névoa ácida, e houve uma garotinha, Charlotte. Bellamy se apegou à ela muito rápido, está morta agora. Depois disso, os terras-firme atacaram com algum tipo de vírus, quase todos ficaram doentes e a minoria foi morta. Em meses, os 100 se transformaram em 82.

Clarke arregalou os olhos, gaguejando:

— E-Eu não fazia ideia. Realmente eu deveria ter estado aqui.

— Sinceramente, Clarke, para mim não teria feito muita diferença. – ela confessou, . – Mas, para ele, fez muita. Ele te ama e você sabe disso.

— Acho que não mais. Bellamy nem deve querer olhar para mim de novo, depois disso tudo.

Octavia pareceu convencida demais do que dizia. Clarke se pegou pensando se Bellamy não teria dito alguma coisa sobre ela para a irmã. Ela precisava ouvir algo como isso, apenas uma certeza que ela não se perdeu completamente na mente do rapaz.

— Nós duas somos as únicas com quem ele ainda se importa. E, sim, Bellamy meio que te odeia agora por tudo que aconteceu, mas não duvido que ele vá esquecer tudo isso, se você precisar dele. – ela se levantou. – Então, Princesa, não estrague isso para o meu irmão, ou eu vou ter que te socar.

Octavia lhe ofereceu um sorriso simpático e disparou em direção à floresta, provavelmente indo encontrar Lincoln, o cara que Raven havia mencionado.

.

.

(X)

Clarke nunca mais iria esquecer o que viu. Quando estava procurando por Bellamy, foi até a sua tenda. Não encontrou o moreno, mas viu duas garotas saindo do lugar. E só aquilo quase a fez desistir dele.

Como sempre, quase.

— Ei! – Clarke chamou, quando o viu no interior da nave. Ele parecia beber alguma coisa, enquanto calibrava sua arma. Assim que entrou, fechou a porta da nave, para que os dois ficassem a sós. – O que tem de errado com você?

Bellamy se virou, sorrindo:

— Nem tente reclamar sobre aquilo. A decisão está tomada e eu não obedeço suas ordens, Princesa.

— Eu salvei a sua vida, Bellamy, você me deve! – ela disse, alto o suficiente para que aquilo finalmente entrasse na cabeça dele. Clarke tentou tirar a bebida da mão dele, falhando. – Solta a garrafa. Vai acabar morto, por ser tão irresponsável.

Os dois começaram uma coisa que podia ser denominada facilmente de batalha de olhares.

— Vamos estar todos mortos daqui a dois dias. – ele se desvencilhou de seu aperto, resmungando. – Qual é a grande diferença?

— A diferença é que eu conto com você. Octavia conta com você. Todas aquelas pessoas do acampamento estão contando com você. Até as garotas da sua tenda, se quer saber.

A expressão dele se alterou entre choque e culpa, mas ele logo disfarçou isso. Clarke foi mais fundo, provocando:

— O que, por acaso elas são "suas garotas" agora?

— E se forem, algum problema com isso?

Ela sentiu o ódio correr por suas veias, enquanto se controlava para não pegar um daquelas rifles.

— Como pode dizer isso?

Havia três coisas que Clarke odiava mais que qualquer coisa: traição de um dos seus, que questionassem sua liderança, e que contestassem sua inteligência. Bellamy fez as três coisas em menos de cinco minutos.

— Por que está tão surpresa com elas? Você mesma sabe tudo sobre novas amizades, não é? Já que foi você que dormir com o Finn...

Ela arregalou os olhos:

— O que?! Não, eu não... Quer saber? Isso não é importante agora. Temos que ir embora, ou todo o nosso povo vai morrer. Pense neles.

— Pensar neles? – ele começou a rir, de um jeito seco. – Como você fez, quando foi embora?

Clarke se afastou. Ela já desconfiava que esse era o motivo. É claro que ele iria ser muito egoísta, é claro que não faria o mínimo de esforço para compreender porque ela foi embora, ela já devia esperar algo assim dela. A garota mordeu o lábio inferior, com força:

— Eu fiz o que era certo, para nós dois.

— O que era certo ou o que era fácil? Nós poderíamos ter ficado juntos, podíamos ter passado por aquilo, Clarke... – sua voz tinha tomado um tom suave na última frase, mas ela voltou a sua amargura de sempre. – Eu estava aqui por você nas suas piores noites, eu estava aqui quando você tinha pesadelos e eu também ficava do seu lado quando você fazia um monte de coisas idiotas, achando que estava certa. Eu estava aqui por você. Mas onde você estava, quando eu precisei?

Clarke bufou, desviando o olhar:

— Eu não achei que você fosse reagir assim.

— Vai embora.

— Achei que entendesse...

Ele havia mudado tanto nos últimos meses, amadurecido tanto por conta de tudo que eles passaram, e ela esperou tanto por aquilo. Mas, agora... Agora ele só estava sendo aquele idiota que ela conheceu nos primeiros dias aqui.

— Eu mandei você ir!

— Eu não vou a lugar nenhum! Entendo o que está sentindo, mas...

— Você... Entende o que eu estou sentindo? Você sabe como é ver seu melhor amigo implorar pela própria morte, enquanto queima aos poucos? Ou ver a garota que você ama ir embora e fazer você acreditar que estava morta por dois meses e, de repente, volta como se nada tivesse acontecido?! – ele murmurou, e segurou em seu pulso. A voz dele estava cada vez mais alta e arrastada. Eles precisavam fazer silêncio, ou provocariam o pânico do lado de fora. – Não sabe de nada. Nada do que eu tive que passar por sua causa.

— Por minha causa? Como isso pode ser culpa minha? Olha, coisas ruins aconteceram e, sim, eu deveria ter estado do seu lado nessas horas. Mas eu estou aqui agora. – ela concluiu, tentando se afastar, mas ele apertou mais ainda seu pulso.

Ele agarrou o braço dela, praticamente a arrastando até o outro lado do segundo piso da nave:

— Vamos conversar, Princesa

— Não, eu não quero!

— Vamos falar sobre um grupo de cinco pessoas que morreram bem perto do lago, tentando te procurar, na primeira semana em que sumiu? Ou sobre o Jasper, que levou uma facada no peito, mais uma vez procurando por você?

— Para. – ela fechou os olhos, com força. – Não pode me fazer sentir culpada, não agora.

— Um pouco tarde para isso, não acha? – ele continuou.

Ela respirou fundo, ainda de olhos fechados. Provavelmente seu pulso ficaria roxo, devido à força com a qual Bellamy estava segurando. Mas ela não conseguia sentir dor, na verdade, não conseguia sentir nada. Por mais que tivesse razão, ele estava agindo como um imbecil, e ela o odiou por isso.

— Você é um covarde. – ela falou, sem olhar nos olhos dele. – Eu não estava no comando há um mês, você estava! Mas, é óbvio que tudo que quer fazer é brincar de soldado e machucar as pessoas. É só o que sabe fazer, não é?

Ele a segurou perto dele, para que pudesse ouvir tudo com mais clareza:

— Você continua a mesma, Clarke? A mesma garotinha que desceu aqui continua sendo a mesma garota que bombardeou um campo inteiro de terras-firme? Ela ainda esta aí dento?!

— Não. – ela respondeu, calmamente. Sentiu sua voz ecoar nas paredes da nave, como se várias dela falassem ao mesmo tempo. – O mundo mudou, ótimo, mas isso não significa que temos que mudar junto com ele. Você só está sendo um idiota egoísta, usando uma desculpa para poder fazer tudo o que quiser e culpar os outros pelos seus erros, achando que não terá consequências.

Ela sabia que ia desejar não ter dito aquilo, no momento que as palavras saíram de sua boca. Bellamy sempre teve a cabeça quente, nada o impediria de lhe dizer tudo o que pensava ali mesmo, talvez fazê-la se sentir um monstro.

Os olhos dele brilharam de raiva, e ele soltou o pulso da garota:

— Quer saber? Eu sou mesmo um idiota. Um grande idiota por ter achado que você fosse diferente do que realmente é: uma vadia estúpida que acha que sabe tudo sobre todo mundo.

Clarke deu um passo para trás, arregalando os olhos. Estava chocada demais por todas aquelas palavras proferidas por Bellamy. Ela nunca achou que ele pudesse falar algo assim, pelo menos para ela. Nunca pensou que ele seria capaz de fazê-la se sentir tão mal.

O rapaz pareceu voltar à razão, olhando para ela de cima a baixo. Clarke pôde ver o traço de culpa passar gritando por seus olhos, mas isso já não importava agora. Ela se afastou e ele fez a menção de tocar em seu braço, dizendo:

— Não, não... Desculpa, Clarke, eu não queria...

Clarke bloqueou o contato. Ela se virou para ele, as lágrimas começando a descer pelo rosto, e então cuspiu as palavras:

— Fica longe de mim.

Ela sentia seu coração bater dolorosamente no peito, mas continuou firme por fora. Não conseguiu olhar para o rosto de Bellamy de novo, então apenas abriu a porta e saiu da nave.


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