Bellarke - Antes dos 100 escrita por Commander


Capítulo 20
A Princesa de volta ao Reino




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Bellamy encarou a garota desmaiada à sua frente. Ela não se parecia nada com a Clarke que ele se acostumou a ver.

Dessa vez, realmente estava muito mais magra, seus braços e pernas estavam mais sujos de sangue que o habitual, e o rosto pálido era marcado por uma cicatriz (julgando pela aparência, ela mesmo que deu os pontos). Clarke usava roupas muito semelhantes as dos terras-firme, seu cabelo loiro estava trançado exatamente como o de Anya e aquilo deixou Bellamy preocupado. Ela é um deles agora?

Ela estava cercada por garotos, amarrada por correntes.

— Quer saber? – Sayer balançou a cabeça. Ele segurou o queixo de Clarke, obrigando-a a ficar perto dele. – Essa daqui não vai ser útil. Eu mesmo mato.

A reação de Bellamy foi imediata. Ele se lançou contra o garoto, o prendendo contra a parede. Segurou na gola de sua camisa, o puxando para perto:

— Eu faço você cuspir seus dentes se encostar nela de novo. – ele ameaçou, ofegante. Apontou para todos que estavam na sala. – Voltem ao trabalho e sumam da minha frente, agora!

Eles correram para o alçapão e desceram as escadas, assustados pela visão de ver Bellamy defender um dos "malditos", como eles chamavam.

— Ah, merda... – ele foi até a Clarke e tirou as correntes de seus pulsos, reparando nas marcas que elas fizeram na pele branca da garota. Bellamy murmurava coisas sem sentido, como se ela pudesse escutar.

— Bellamy, por que você...? – Octavia parou, sem graça. Ela estranhava o irmão fazer tanto barulho por uma terra-firme, vinda de um povo que ele tanto odiava.

— Essa é a Clarke. – ele esclareceu, ainda incapaz de tirar os olhos dela. Ela não parecia ter nada quebrado, nenhum machucado sério, o que fez Bellamy pensar... Como um deles fica vagando pela floresta e volta, quase sem nenhum arranhão? Não faria sentido, a menos que ela tivesse a proteção dos terras-firme.

— Sua namorada é uma terra-firme? Parece que não somos tão diferentes, irmãozinho. – ela cruzou os braços.

— Não temos nada a ver com você e o Lincoln. E também não é hora de discutir isso.

Bellamy levantou a loira do chão, se surpreendendo com sua leveza, e caminhou com ela, rumo à sua tenda. Ele só precisava que ela acordasse, então resolveria.

— Vou deixá-la na minha tenda, dar um jeito de fazer essa febre passar. Você pode arrumar alguma roupa?

Octavia assentiu, liberando seu caminho para a escada:

— Sem problemas. Vou pegar um pouco de água e bandagens, passo lá mais tarde. Mantenha sua namorada na cama.

— Ei, ela não é minha namorada. – ele protestou. Percebeu o quão idiota aquela afirmação parecia quando tinha a garota abraçada em seu colo. – Ok, é... Algo do tipo.

(X)

Bellamy não sabia mais o que fazer para manter Clarke aquecida. Ele a vestiu com sua jaqueta, a embrulhou em um monte de cobertores, e a febre parecia nunca passar.

— Você vai ficar bem. Eu sei que vai. – ele prometeu, percorrendo a mão pelo rosto da loira. – Por favor, acorda...

Ele checou seu pulso novamente, logo em seguida sua respiração. Viva. Por que ela não acordava logo e acabava com aquela tensão?

— Mas que droga, por que você teve que ir embora? Se tivesse ficado... Seria tudo tão mais fácil. – ele bufou, exaltado. Se sentia um completo idiota por falar com alguém que não escutava, mas continuou falando. - Nada fez sentido depois que você saiu. Ainda é muito confuso tentar entender porque você foi, porque nos deixou, porque me deixou. E isso acabou me deixando maluco por um tempo... Estou voltando a ser quem eu era antes, e não quero isso. Eu juro... Juro que estou tentando mudar. Estou tentando ser um cara melhor, mas parece que...

— Ei, Bellamy. – Raven chamou, entrando na tenda. Por que todo mundo sempre entra, sem pedir, afinal? – Posso assumir daqui?

Ele franziu a testa:

— Por que? Nem conhece ela.

— Finn me disse que o nome dela é Clarke. Conheci a mãe dela, Abby me pediu para falar com ela. – especificou, sorrindo.

— Não sei se você lembra... Mas a mãe dela morreu na explosão da nave Exodus. Não vai ser nada bom para ela acordar com essa notícia.

Há mais ou menos quatro dias, Bellamy viu a nave Exodus, na qual a mãe de Clarke deveria estar, explodir entre as montanhas. No dia seguinte, eles foram vasculhar os destroços, identificar corpos, procurar materiais, mas estava tudo muito destruído para qualquer coisa.

— Não sabemos se ela estava na nave. – Raven se sentou na cama, de frente para Clarke. – Agora, cala a boca e me deixa trabalhar.

Ele revirou os olhos, relutante em deixar Clarke sozinha. Mas acabou indo, porque seria inútil discutir com Raven Reyes.

.

(X)

Clarke acordou com a pior dor de cabeça que já sentiu na vida.

Na verdade, tudo nela doía.

Ela não se lembrava de nada das últimas horas. Tudo o que passava pela sua mente eram relances de um homem sentado em sua frente, falando algumas coisas que ela não pôde ouvir, e depois uma garota um pouco menor que ele. Não tinha certeza, mas podia arriscar dizer que eram Bellamy e Octavia.

Sentiu uma dor lancinante na perna, quando tentou se virar. Ela olhou para si mesma e viu que estava melhor do que pensava. Usava apenas uma jaqueta que ficava grande demais em seu corpo e tinha vários cobertores sobre ela. Nenhum ferimento grave sobre a pele era visível, então era o suficiente.

Ela estava em um algum tipo de barraca, que não tinha nada, além da cama onde estava deitada e munição. Inclusive, aquela cama... Aquela cama, a jaqueta, até mesmo a arma, tinham um ar muito familiar.

— Hey. – uma mulher disse, à sua frente.

Clarke ainda tinha sua visão meio turva, por isso não conseguia ver muito bem de quem era aquela voz. Mas, pelo que pôde ver, era uma morena muito bonita.

— Eu sou Raven. Você está no acampamento dos 100, aqueles que foram enviados à Terra e blá-blá-blá... Por acaso se lembra disso?

Clarke tentou se levantar, mas Raven a deitou novamente:

— Por que eu estou com o casaco do Bellamy? Onde ele está?

— Ei, relaxa, Clarke. A Princesa durona passa uns dias na floresta e acha que está pronta para sair voando por aí? – a morena levantou as mãos, sem tirar o sorriso do rosto. Aquilo estava começando a irritar Clarke. – Sempre faz tantas perguntas?

— Eu nem te conheço, como sabe meu nome? – questionou, confusa.

— E lá vai mais uma pergunta... – Raven balançou a cabeça. – Eu conheci a sua mãe. E, antes que pergunte isso também, ela está bem. Consegui consertar o rádio, e a Arca vai descer daqui a alguns dias.

— Isso é... Ótimo.

Clarke assentiu, sem saber o que dizer e sentindo a cabeça doer. Ela olhou novamente para a jaqueta de Bellamy e se perguntou qual teria sido sua reação quando ela chegou. Ele a viu chegando, certo?

— Você tem sorte de ter alguém como Bellamy e Octavia do seu lado. – Raven acrescentou, se sentando na cama. Ela deu uma garrafa de água para Clarke. – Bellamy ficou a noite toda acordado, olhando você dormir.

— Ele fez isso? – Clarke sorriu para si mesma, bebendo um pouco da água. – Achei que estivesse com raiva de mim.

— Por que estaria?

— Hã... Esquece. – ela balançou a cabeça. – Enfim, obrigada, Raven. Mas eu estou melhor agora, quero ver o acampamento.

— Clarke, você só está dormindo há umas horas. Descanse, você merece. – ela insistiu.

A loira não queria ficar na cama durante o dia inteiro. Se tinha uma coisa que ela odiava, era ser inútil e dar trabalho desnecessário aos outros. Ela só queria andar pelo acampamento, se encontrar com Bellamy, finalmente conhecer Octavia...

Mas, assim que seus olhos pesaram e sua cabeça recomeçou a doer, ela caiu no sono novamente.

.

— Eu não acredito nisso... Não dá pra acreditar, que merda. – Bellamy murmurou para si mesmo, percorrendo as mãos pelo cabelo.

O que foi aquilo?! Ele passa dois meses se convencendo que aquela garota, pela qual ele é completamente apaixonado, estava morta e agora ela simplesmente aparece?! Aparece com roupas de terra-firme?

Tudo que passava pela sua cabeça era que ela tinha se encontrado com Lexa novamente. Ele tentava bloquear essa hipótese, realmente tentava, mas ela sempre fazia seu caminho de volta a sua mente problemática.

— Falando sozinho, Bellamy? – Finn perguntou, se aproximando. Ótimo, como se meu dia já não estivesse uma merda, Bellamy pensou. – Clarke está melhor?

— Eu não sei, Raven está com ela agora, mas eu acho que... – ele se deteve, franzindo a testa. Finalmente parou para pensar sobre aquilo. – Espera. Como sabe o nome dela, se quando ela chegou aqui estava desacordada?

Ele franziu a testa:

— Eu encontrei Clarke na floresta, achei que você soubesse. Ela estava doente e com um corte no rosto... Tentei fazê-la voltar, mas ela não queria. Passei dois dias numa clareira com ela. Até que ela desmaiou, e... Eu tive que trazê-la, não tinha a menor ideia do que fazer. Espero que não seja um problema deixar a garota na sua tenda por um tempo.

Bellamy tentou imaginar aquele "passei dois dias com ela" de um outro jeito, mas não conseguiu. Se Finn tivesse dormido com Clarke (de qualquer um dos jeitos), se ele tivesse encostado nela, era um cara morto.

Mas, acredite se quiser, não foi nisso que ele pensou na hora.

— E-Ela não queria voltar? – ele disse, sentindo seu coração pesar.

Finn balançou a cabeça:

— Enfim, acho que isso não é importante agora. Me avise, se ela melhorar.

Então, o garoto acenou e voltou para a sua tenda.

Clarke nunca quis voltar. Apenas veio porque Finn a carregou até aqui. Provavelmente, quando acordasse, ela iria embora de novo. Ia do mesmo jeito que foi, sem parecer se importar com nada. Bellamy ficou sem um caminho fixo por um tempo. Talvez fosse melhor mesmo acreditar que a garota estava morta...

Octavia caminhou até o seu lado, com algumas roupas na mão:

— Ei, Bell. Acha melhor dar à Clarke algum chá?

— Tanto faz. – ele disse, dando de ombros.

E saiu, desviando da irmã.


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