Bellarke - Antes dos 100 escrita por Commander


Capítulo 16
Breve interrogatório.


Notas iniciais do capítulo

:3 :)



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Bellamy torcia para que Clarke não acordasse, antes dele sair.

Ela precisava descansar, isso estava óbvio, e ele precisava caçar, já que não havia comida suficiente para os dois há muito tempo. Parecia uma troca justa.

Ele tinha deixado tudo que ela precisava ali: água, comida, algumas coisas que ela gostava de usar para desenhar. Pelo menos o bastante para mantê-la ocupada por metade do dia.

Ele meio que não queria que ela saísse da casa. Queria que ela ficasse segura. Mas, assim como sempre, isso deu errado também.

— Aonde vai? - Clarke disse, se levantando da cama, ainda com a voz sonolenta.

— Precisamos de comida, estou indo caçar. - ele continuou arrumando sua mochila, tentando não prestar muito atenção à ela.

Ela se levantou rapidamente:

— Eu vou com você.

É claro que ela ia querer. O esporte preferido de Clarke nas horas vagas era tentar se matar, sempre que podia. Algumas vezes parece que ela se arrisca de propósito.

Ele balançou a cabeça:

— Não, não vai. Está muito fraca e vai me atrasar. Aliás, não é hora para a princesa passear na floresta.

Essa foi a pior mentira que ele já disse. Geralmente, Clarke fazia tudo, organizava as estratégias, traçava os caminhos e ditava as coordenadas. De novo, tudo que ele fazia era atirar, e, isso ela também fazia agora.

— Eu estou bem melhor agora. - ela cruzou os braços, na frente dele. - E não me chame de princesa.

— Isso eu não posso fazer, princesa. - ele resmungou, colocando sua pistola na mochila.

— E o que aconteceu com o "faremos o que quisermos"? - ela disse, tentando ser esperta. - Achei que você tinha dito que nós fazíamos as regras aqui embaixo.

Ele estalou os dedos:

— Exatamente o meu ponto. Eu posso te chamar do que eu quiser, e isso inclui "princesa".

— Exatamente o meu ponto. Eu posso ir a qualquer lugar que eu quiser, e isso inclui ir caçar com você. Por favor, eu não vou te atrapalhar e nós nem precisamos ficar juntos... Eu só quero sair daqui.

Bellamy reparou um pouco mais no rosto da garota. Ela parecia mais magra, como se tivesse perdido peso exageradamente, e olheiras se formaram debaixo dos seus olhos. Ela não ia com ele, sem chances.

Clarke ia esticar a mão para pegar sua mochila, mas ele segurou seu pulso:

— Há quanto tempo você não come?

Ela revirou os olhos:

— Três, quatro, dias...E daí? Quem liga?

Ele não ia mais perder tempo discutindo, então apenas apontou para a comida que deixou sobre a mesa e para as coisas que ela usaria para desenhar.

E subiu as escadas, fechando o alçapão e deixando uma loira desapontada.

.

(X)

É claro que Clarke saiu, no meio da noite.

Ela não se sentia fraca, era mais do que capaz de lutar e seu ombro já estava muito melhor...E Bellamy insistia em tratá-la como uma criança indefesa, por quê? Aquilo nunca ia mudar?

Contundo, ela tinha tomado uma decisão. Iria embora.

Precisava ficar um tempo sozinha, pensar sobre tudo o que aconteceu, sobre o que fez, deixar os sentimentos e as sensações para fora do peito... É uma coisa que ela tinha que fazer, ou acabaria perdendo a cabeça.

Ela voltaria, é óbvio, porque agora tinha um motivo para continuar lutando.

Clarke andou por um tempo, até começar a ver pegadas no chão molhado. Pegadas de mais de uma pessoa, talvez umas quatro. Ela continuou andando, agora com mais cautela e tomando cuidado para não fazer barulho com as folhas.

— Onde está a garota? - ela ouviu uma voz grossa, vinda de alguma clareira perto dali. Depois disso, um baque foi ouvido e um gemido rouco.

Ela se pôs atrás de uma árvore, com o coração saltando pela boca. O que estava acontecendo? Clarke colocou sua faca dentro da calça e brandiu a pistola, tentando controlar a respiração. Ela espiou o que se passava na clareira e sentiu o coração parar de vez.

Haviam quatro terras-firme, dois deles estavam segurando Bellamy de joelhos no chão, os outros dois permaneciam de pé. Ela só conseguiu olhar para Bellamy e perceber o quão machucado ele estava. Por quanto tempo ele estava apanhando? Há horas, talvez?

Assim que o terra-firme fez a menção de levantar a espada, em direção à Bellamy, Clarke saiu de onde estava, com a pistola em punho.

— Ninguém precisa se machucar. - ela disse, tendo a cabeça de quem parecia ser o líder do bando na sua mira. - É só deixá-lo ir...e podemos mudar isso.

O homem que estava ao lado de Bellamy colocou sua espada em sua garganta, forçando seu corpo para trás e sorriu:

— E se matarmos o garoto, ao invés disso? - Clarke sentiu tudo dentro dela desmoronar, quando Bellamy lhe lançou um olhar, que parecia ser uma despedida. Ele parecia querer pedir desculpas. O terra-firme disse, pausadamente. - Abaixa a arma.

Ela parou para pensar. Se atirasse, conseguiria acertar o líder e o outro terra-firme. Mas, até que ela soltasse a arma e pegasse a faca, os outros dois já teriam matado Bellamy. E, se ela atirasse no homem que segurava em Bellamy, o líder provavelmente iria arrancar sua cabeça.

Me desculpe, Bellamy.

Clarke colocou a arma no chão, a tempo daquele maldito homem pegar.

Os dois, que até então se mantinham de pé, agora a forçaram de joelhos no chão e começaram a revistá-la, a procura de mais armas.

Talvez fosse os dois caras estavam passando a mão no corpo de Clarke ou que esses mesmos dois caras iam matar os dois em poucos segundos, Bellamy ficou agitado, o que fez o terra-firme apertar mais a espada contra seu pescoço.

Ela reparou, com certa esperança, que a faca ainda estava na calça. Passou despercebida.

— Quanto tempo até os outros virem? - o líder perguntou, parando na frente dela e tampando sua visão de Bellamy.

Clarke permaneceu em silêncio. Ela encarou o rosto do líder, não deixando de reparar na cicatriz que o atravessa desde a boca até a sobrancelha. O homem atrás de Bellamy o acertou com o cabo da espada e isso a fez abrir a boca:

— N-Não! Por favor... - ela cerrou os dentes, fechando os olhos. - Alguns dias, não muitos. Eles não virão em paz, se souberem que nós morremos.

Ele assentiu, satisfeito:

— Quantas pessoas são? E sobre as armas?

Dessa vez, Bellamy respondeu. Ele disse, baixo:

— Pessoas e armas o suficiente para destruir todo o seu povo.

Antes que o líder fosse até ele, já com a espada em punho, Clarke disse ainda mais alto:

— Duas mil trezentas e sete pessoas vivendo na Arca, doze estações em órbita. M-Mas isso não é um segredo, eu falei com Anya, eu lhe disse que...

O líder esboçou um sorriso frio:

— Não seguimos mais Anya. A comandante vai acabar morta por acreditar no povo que veio dos céus.

Clarke fechou os olhos, por um tempo. Se eles não a seguiam mais...Isso significava que eles podiam fazer o que quisessem, certo? Então, o que os impedia de matar os dois naquele momento?

Um barulho estrondoso abalou o chão, chamando a atenção dos homens, o que fez três deles irem descobrir sua origem, deixando o líder olhando os dois.

— Comandante, venha ver isso. Mais uma deles. - um deles chamou, no meio da floresta, de um lugar onde agora saía fumaça. - Perto da ponte.

Mais uma?! A nave dos 100 havia aterrissado? Eles finalmente chegaram?

Ele (que não era o comandante, Clarke tinha certeza disso) andou até Bellamy, bem devagar. Ele colocou um pé nas costas do garoto e puxou seu braço, enquanto ele gritava freneticamente.

Clarke fechou os olhos, sentindo as lágrimas molharem sua bochecha.

— Se tentar sair, se você tentar levantar... A garota vem com a gente. - ele avisou, bem perto do ouvido dele.

Quando ele se afastou, Clarke sussurrou:

— Bellamy, eu...

Ele a interrompeu:

— Acabou, princesa.

— Não, nós não vamos morrer aqui. Não pode acabar assim. - ela disse, sentindo o rosto ficar quente. - Eu tenho uma faca aqui, podemos lutar, você pode...

Ela olhou para ele de novo. Bellamy tinha um olho roxo, sangue por todo o peito e rosto, seu braço aparentava estar quebrado, talvez alguma coisa em sua perna, e parecia quase incapaz de dar um passo sem cair no chão.

— Eu não posso, Clarke. - ele tossiu, olhando para ela de um jeito misericordioso. - Vai agora, eu consigo distraí-los. Você tem que ir atrás da nave, tem que avisar a Octavia, avisar a todos sobre tudo. É a única chance.

Ela balançou a cabeça:

— Eu não vou te deixar.

Clarke tirou a faca da roupa. Não era muito grande, a lâmina não estava muito afiada, mas ia ter que servir. Ela manteve a faca na frente do corpo, quando o líder voltou.

— O que está... - ele perguntou, mas ela não o deixou terminar.

Ele a atacou com a espada, porém ela parou seu golpe, em um reflexo, com sua faca. Aproveitando a situação lhe deu uma joelhada no estômago, ele bufou e cambaleou para trás.

O líder se recompôs com uma rapidez inacreditável e a mandou para o chão, com um corte no rosto, usando o cabo da espada. Olhou para cima, um pouco atordoada, e pôde ver o homem sorrindo enquanto apontava sua espada para a sua garganta.

— O lugar de onde vocês vieram...Nunca te ensinaram a lutar, garota? - ele disse, ainda sorrindo, e foi se aproximou de Bellamy. - Quero que você sinta o que eu senti quando meu irmão foi queimado em Tondc... Quero que você fique viva e sinta essa dor.

Ele se virou para o Blake, se ajoelhando.

Clarke pegou a faca novamente e se levantou silenciosamente, com um pouco de dificuldade. Seu corpo inteiro doía, o rosto sangrava e ela não queria ver como as pernas estavam, elas latejavam de dor. Mas isso não importava. Ela poderia chorar por isso depois.

A loira lançou a faca, uma mira certeira no centro da coluna do líder, o que fez com que ele arqueasse a coluna. Clarke correu até ele e se jogou sobre suas costas, arrancando a faca vagarosamente.

— Do lugar de onde você veio... - ela disse, mantendo a voz calma, por mais que estivesse ofegante. - Não te ensinaram à nunca dar as costas ao inimigo?

A loira cravou a faca em seu pescoço, sentindo o impacto que ela fazia e as camadas que ela atravessava. Soltou a faca, sentindo as mãos trêmulas, e recuperou o revólver.


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