Eu tenho algumas habilidades inúteis que às vezes são muito úteis, como conseguir passar vários dias sem dormir e dormir muito em um só dia. Felizmente, ela me foi útil hoje.

Acordei ás 4 horas. Todos em casa estavam dormindo e minha barriga roncava de fome.
Fui até a cozinha e comi o resto da janta, que por sinal, estava muito boa. Voltei para o quarto e resolvi escrever sobre o casamento de “Mary e John”.

Como sempre acontece, o tempo voa enquanto eu escrevo. Logo eram 7 horas e a Juuh me ligou:

– Já está pronta? Não quero me atrasar de novo.

– Mas hoje nem tem prova.

– Isso é motivo? Vou passar ai em 20 minutos. Se você não estiver no portão, eu corto seu cabelo.

– Vou estar no portão. Com certeza. – E ela desligou.

Me arrumei lentamente e depois de uns 15 minutos fui para o portão. Como eu imaginava, já podia vê-la andando em minha direção.

– Boooom Diiiia Juuuh...

– Bom Dia Lena, resolveu ser pontual hoje?

– Pontual não, adiantada.

– Que raridade. Pensei que eu iria te acordar... Até trouxe a tesoura. Quer ver?

– Não, eu dispenso. Agora vamos, está muuuito frio aqui fora.

– Você sempre reclama do sol, mas bem que um solzinho seria bom agora, não é?

– Érr, talvez. Mas não um muito forte.

Não conversamos muito no caminho e como estávamos adiantadas, nem tivemos pressa para ir. A Juuh parecia estar “brisando” na dela e eu não conseguia pensar em nada além do Noah. Ele disse que morava perto, mas eu nunca tinha visto ele. Ou, será que é por que eu não saiu de casa? Mesmo assim, eu iria reparar em um jovem loiro de olhos claros, bonito e gentil, se eu tivesse passado por ele. Ou talvez não, já que eu sempre fico pensando nas minhas séries.

– Lena?

– Hum?

– Você já se apaixonou alguma vez?

– Não que eu me lembre.

– É, eu já devia ter imaginado.

– E você Juuh? Está apaixonada e precisa de conselhos? HOHOHO, eu posso te ajudar!

– Não, obrigada. Não acho que você, um ser sem 1% de experiência com relacionamentos afetivos, possa me ajudar.

– O-Oque!?!?! Mas eu já namorei de mentirinha!

– Isso não conta. – Ela suspirou.

– É tão problemático assim?

– Sim, é. Mas não quero falar disso.

– Quer que eu faça algo?

– Apenas fique ai, andando quietinha.

– Só isso?

– Sim. Mas não anda muito devagar.

– Se isso for te ajudar, então tá.

Mesmo a Julia sendo minha amiga de infância, eu não sabia como lidar com ela quando ela estava em crise. Eu não entendia como ela pensava. Como amiga, eu queria que ela ficasse bem. Apaixonada ou não, isso deveria passar logo. A Juuh iria encontrar uma solução para suas dúvidas. Porque era isso que ela sempre fazia... Mas mesmo assim, era frustrante não poder ajuda-la...

Chegamos à escola 20 minutos antes do início das aulas e resolvemos sentar em um dos bancos, dentro da escola, para esperar dar a hora. Enquanto ela suspirava a cada 2 minutos, eu fiquei vendo os alunos que chegavam. Para minha surpresa, eu não conhecia a maior parte deles.

– O que eu fiquei fazendo todos esses anos? – Pensei alto.

– O que? – Disse a Juuh.

– Ah, nada não. É só que, eu não conheço mais ninguém dessa escola.

– Mas é claro, já que sempre se isola no mundo “Mary e John”.

– Sério?

– Sim. Na verdade, todo mundo te conhece. Às vezes, um ou outro te cumprimenta, mas a maioria desisti, já que você nunca responde.

– Nunca reparei nisso.

– Mesmo assim, não tem porque se preocupar com isso. Ninguém se destaca nessa escola... Ah, talvez tenha alguém.

– Quem?

– Aquele ali. – aponta para um garoto que tinha acabado de entrar no colégio – Noah Staniecki.

– No...Ah?